O surto do Policial na Bahia e o avanço da fascistização no Brasil:
bolsonarismo nos quartéis expressa doutrinação terrorista dos Militares brasileiros
O soldado da Policia Militar baiana Wesley Góes, foi morto ontem (28/3) pelo BOPE (Batalhão de Operações Especiais), após disparar contra a guarnição deste Batalhão nas imediações do Farol da Barra em Salvador. Wesley era bolsonarista e contrário às medidas de restrição para o combate a covid, implementadas pelo governador do estado Rui Costa (PT) até o dia 5 de abril; em claro surto psicótico, fardado, armado de fuzil e pistola e com o rosto pintado de verde e amarelo, o PM passou a fazer disparos ao redor, inclusive contra o grupo policial chamado a conter a situação.
Logo após a confirmação da morte do policial, parlamentares “cachorros loucos” do bolsonarismo, como Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicaram mensagens demagógicas sobre o ocorrido, culpando o governador Rui Costa e as medidas de isolamento pela morte de Wesley. O filho “02” do presidente genocida Jair Bolsonaro, Eduardo, aproveitou inclusive para fazer ameaças golpistas: “aos vocacionados em combater o crime, prender trabalhador é a maior punição”. “Esse sistema ditatorial vai mudar. Estão brincando de democracia achando que o povo é otário. Que Deus conforte os familiares”(Correio Braziliense).
Nesta segunda feira (29), um grupo bolsonarista composto por comerciantes e um policial militar, organizaram pequeno ato na Barra em protesto contra a morte do PM e o isolamento social, gritando palavras de ordem abertamente fascistas. Além disso, segundo site Bahia Notícias, um grupo de policiais estavam convocando uma greve no estado, numa clara conspiração contra o governador Rui Costa. Importante notar que, a “bolsonarização” das tropas das PMs no Brasil é algo que tem crescido de forma exponencial, graças ao proselitismo de tipo corporativista e ideológico que Jair Bolsonaro ao longo de décadas como parlamentar, tem levado adiante no interior dos quartéis.
No entanto, o fenômeno do bolsonarismo no interior das PMs é apenas a superfície de um problema mais profundo, que é a estrutura das Policias Militares no Brasil herdadas da ditadura militar e da guerra fria, que permite atuarem como se fossem tropas de ocupação estrangeira e combatendo um “inimigo interno”, ou seja, o próprio povo desarmado; os policiais envoltos em tal cultura e doutrinados ideologicamente nesta perspectiva de guerra interna permanente contra os cidadãos, tornam-se suscetíveis aos mais baixos e bestiais apelos por parte de demagogos baratos do jornalismo policial, de figuras patéticas e sinistras como Bolsonaro, da propaganda nazifascista, etc.
A morte do policial na Bahia tem todo um valor pedagógico para entendermos como a situação política e social no Brasil está caminhando para uma espiral potencialmente explosiva e fora de controle, seguindo a trilha da decomposição econômica e sanitária do país. Por outro lado, a atual conjuntura histórica dramática, deixa bem claro o caráter escravagista, parasitário e homicida da burguesia brasileira, que perpetua através de seus capatazes civis ou de farda, um morticínio bárbaro e sem precedentes contra o povo brasileiro.
O esgotamento da República burguesa e a ascensão do fascismo dependente no Brasil
A potencialização das contradições estruturais e da crise profunda que atinge o Brasil, tem levado os capitalistas a buscarem alternativas radicais para implementar um “novo” padrão de acumulação no país. A crise brasileira é mesmo a expressão do esgotamento da chamada industrialização por substituição de importações e da própria formação econômica pelo qual o país passa: dai o crônico desmantelamento do parque industrial brasileiro desde os anos 1980, se intensificando nas décadas neoliberais seguintes de 1990, 2000 e 2010, até chegarmos na atual fase de agravamento geral da crise, onde a burguesia busca solidificar as bases de uma economia agrário-exportadora-comercial-rentistica, tendo como maior expressão disso, a chamada “Ponte para o Futuro”, implementada pelos capitalistas após o golpe contra Dilma Rousseff em 2016.
O lumpen barato Jair Bolsonaro foi chamado neste caso, para pôr fim de uma vez, a um período que se abriu desde 1930 com a industrialização getulista, dai a entrega criminosa de grandes empresas estatais como Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, Casa da Moeda a preço de banana; eliminação de todas as conquistas sociais, trabalhistas e do que ainda existe de “Estado social”, etc. Desnecessário dizer os efeitos sociais nefastos de tal opção por parte da burguesia brasileira, que recua o país 100 anos em suas forças produtivas e no padrão de acumulação, ficando claro o caráter cada vez mais parasitário e improdutivo dos capitalistas brasileiros.
É fácil imaginar que, tal desestruturação aprofundará de forma radical a miséria das massas populares, as inquietações sociais e o potencial explosivo das lutas de classes no país. Um tal redesenho de nossa estruturação econômica somente pode se assentar num patamar elevadíssimo da superexploração sobre os trabalhadores e do desemprego histórico em nossa sociedade, ou seja, numa relação insustentável socialmente.
Nessas condições, a burguesia brasileira busca uma forma política e jurídica, ou seja, uma superestrutura que corresponda a esse novo padrão de acumulação de tipo neocolonial que está sendo estabelecido. Em suma, os capitalistas brasileiros e estrangeiros buscam saídas extremas e um Estado ainda mais forte que permita garantir as condições de reprodução do capital em bases cada vez mais insustentáveis e que permita um nível de repressão muito mais selvagem contra a classe trabalhadora.
Na américa Latina tradicionalmente os militares são chamados como tropa de choque das oligarquias burguesas. Adestrados pelas ideologias de segurança nacional fabricadas nos colégios militares estadunidenses, os fardados brasileiros estão absolutamente comprometidos com os interesses do grande capital, sobretudo o imperialista made in usa e são massa de manobra das classes dirigentes.
Segundo Florestan Fernandes em seu clássico livro “A Revolução Burguesa no Brasil”, a burguesia brasileira estabeleceu um padrão autocrático de dominação de classe, uma democracia restrita às classes dirigentes e setores da pequena burguesia, junto de uma ditadura de classe preventiva contra as massas trabalhadoras. Dessa forma, Florestan nos mostra a estrutura de Estado baseado numa guerra permanente da burguesia contra as massas no Brasil, ou seja, uma contra-revolução preventiva.
A sociedade brasileira vive atualmente um florescimento e incremento de uma militarização extremada. Se fortalece também uma ideologia militarista e claramente fascista, inclusive e sobretudo no interior do aparelho de Estado; correspondente a isso, vemos crescer um movimento de massa conservador religioso, messiânico de extrema direita, que encontra eco não só na classe média, mas também em setores populares, base das igrejas neopentecostais que tem crescido há mais de 30 anos nas periferias das grandes cidades em conexão direta com o crime organizado que também se agiganta como produto da desestruturação da sociedade brasileira.
Outro importante fator a se levar em conta, é a hipertrofia militarista das PMs amparada numa ideologia profundamente reacionária em seu interior. Essa corporação que cresce a cada ano em número de homens armados, treinados cotidianamente na repressão mais extrema das massas, são base também de agrupamentos milicianos paramilitares, esquadrões da morte, sustentados pelos aparelhos superestruturais do Estado brasileiro e devido a isso, se expandem para todo o território nacional, se revelando uma ameaça direta como elementos de terrorismo de Estado, fenômeno semelhante ao que tem ocorrido há décadas na Colômbia.
Essa amalgama reacionária tem formado nos últimos anos, um ambiente irracionalista e militarista, colorido com um anticomunismo e antipetismo tosco, bestial, que ganha contornos perigosos, pois a história mostrou que o fascismo assentou-se em tais bases de massa, abençoados pelo grande capital. Acrescentamos a isso o fato de que, nas últimas décadas os movimentos operário e popular brasileiro terem sido controlados com mãos de ferro pelo oportunismo lulista e uma burocracia gangster, que devido a sua politica de conciliação com a burguesia, desmobilizou e desmoralizou permanentemente as massas, quebrando seu potencial de resistência na atualidade, enfraquecendo e fragmentando a luta popular, elemento da maior importância e que tem sido responsável pela apatia da classe enquanto o inimigo ganha corpo.
As lutas de classes, sobretudo nos momentos de crises agudas generalizadas não conhecem meio termo: quem não avança é esmagado pelo inimigo. E o que presenciamos no Brasil é de fato um massacre da burguesia contra os trabalhadores, ante a mais completa paralisia e covardia das direções populares.
Não obstante, a burguesia avança para um regime de força, com flagrantes elementos de fascismo e de um Estado policial terrorista, que sobretudo se antecipe a um potencial avanço da luta popular, e se constrói como avalista do padrão de acumulação neocolonial que está sendo imposto no país, baseado num grau escândalo da dependência e do subdesenvolvimento. Ou seja, para um tal tipo de estrutura econômica e social, somente um Estado militarista, policial e fascistizante para manter sufocado o protesto de massas e a insurreição.
Rearticular uma vanguarda revolucionária no país
Diante de tal conjuntura imensamente desfavorável aos trabalhadores, a tarefa da construção de uma vanguarda política que aglutine todas as forças revolucionárias de nossa sociedade torna-se urgente. As alas do oportunismo acreditam inocentemente que poderão, a partir de 2022 voltar a gerenciar em paz o Estado capitalista para a burguesia. Não percebem que na atual etapa vivemos a crise estrutural e decomposição de um padrão de acumulação no país e da própria República burguesa.
A burguesia brasileira, submetida inteiramente a atual divisão mundial do trabalho não pode mais buscar uma etapa desenvolvimentista industrializante, que garanta certas concessões reformistas às massas. Isso deixa claro que, uma saída reformista está barrada para os trabalhadores e que não existe mais bases para o oportunismo lulista atuar acendendo uma vela para deus e outra para o diabo.
Na atual fase da sociedade burguesa tardia, não cabem mais ilusões reformistas e muito menos na democracia dos ricos. A construção de um polo revolucionário que se enraíze e mobilize as massas com base num programa revolucionário de grande envergadura é tarefa central, única política realista para o movimento de massas no Brasil.
Em tal conjuntura, é preciso que as organizações dos trabalhadores construam as bases de uma frente nacional de mobilizações, com comitês de autodefesa e um programa popular para enfrentar a crise e os ataques da burguesia, que passem pela luta do não pagamento da dívida pública; redução imediata da jornada de trabalho; congelamento dos preços de produtos de consumo dos trabalhadores e escala móvel dos salários.
É preciso articular e fortalecer no país, um movimento pela ocupação de fábricas, pela greve geral, com apoio dos caminhoneiros; contra as privatizações, por um plano nacional de vacinação e quebra das patentes das vacinas contra a covid; por renda básica de um salário mínimo aos trabalhadores desempregados e informais; garantia de auxílio estatal aos pequenos empresários e comerciantes; e reversão imediata de todas as medidas neoliberais tomadas desde o golpista Michel temer contra o povo brasileiro e derrubar o governo genocida de Bolsonaro.
Em suma, precisamos construir um poderoso movimento de mobilização nacional dos trabalhadores que possa criar as bases de um movimento revolucionário de vanguarda pela revolução socialista no Brasil, que reconstrua o país sobre novas bases racionais, voltadas para a satisfação das necessidades de nosso povo.
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