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domingo, 20 de setembro de 2020

20 DE SETEMBRO: DIA DA RESISTÊNCIA NEGRA E POPULAR * FRT/BR

 20 DE SETEMBRO

DIA DA RESISTÊNCIA NEGRA E POPULAR

-MANIFESTO PORONGOS-

 "Povo que não tem virtude escraviza,

manipula, humilha, não forma, se esquiva,

Da verdadeira história, que os tira da pole e da gloria, 

traidores, com nomes de rua vivendo até hoje com falsa memória

...

Uma história opressora, que não fala a verdade

Todo vinte de setembro, eles escondem a crueldade

...

Mas não basta, abraçar preto, e tirar foto do meu lado

Contem que lá em Porongos, negros foram dizimados..."

(78) RAFUAGI - Manifesto Porongos (Video Oficial) - YouTube

Os negros não entraram na Guerra por causa do preço do charque. 

Pelo contrário, os negros entraram na Guerra para se livrar da escravidão nas charqueadas, cujas condições de trabalho eram desumanas. Assim, foram à luta empunhando apenas lanças e muita coragem, movidos pelo digníssimo sentimento de LIBERDADE.

Comandados por líderes militares, tais como David Canabarro, os Lanceiros Negros foram os pelejadores do front nos combates farroupilhas, e muitos chegaram com vida ao final da Guerra.

Mas, tanto para os Farrapos como para os Imperiais, a Guerra não poderia terminar assim, com um contingente de negros livres e armados.


Quem trabalharia na lida do charque quando os “Heróis” retornassem para suas Estâncias? E se os negros livres resolvessem se “vingar” dos líderes escravocratas? Além disso, se os Farroupilhas assegurassem a liberdade aos Lanceiros, o restante do país poderia se influenciar por essa ideia, contrariando os interesses da elite brasileira cuja produção dependia da mão-de-obra escravizada.


Assim, com medo e sem pretensões de abolir a escravidão e assalariar a população, a alternativa dos líderes Farroupilhas e Imperiais – que ora disputavam poder, ora juntavam-se pelos seus interesses comuns – foi a construção de um acordo, mediado por Duque de Caxias, para assassinar os Lanceiros. O episódio ficou conhecido como o “Massacre” ou “Traição de Porongos”, responsável pela morte de mais de 1000 negros, na região de Pinheiro Machado em 1844.


#lanceirosnegrosvivem


Sirvam nossas façanhas de modelo a toda terra?


20 de setembro de 1835: os intitulados Farrapos tomaram a vila de Porto Alegre e a proclamaram capital da “República Rio-Grandense”. Após a proclamação da “República”, em 1838, se deu a escrita de seu hino, que refere as façanhas que serviriam de modelo a toda terra. Em 20 de setembro de 2020, questionamos: que façanhas seriam estas?


O art. 6 da Constituição Rio-grandense definia como cidadão todos os homens livres nascidos em seu território: negras e negros escravizados não eram considerados cidadãos.


A Guerra dos Farrapos armou-se em razão de disputas econômicas das oligarquias locais: senhores de terra, senhores de gado, senhores de charque. Portanto, a guerra servia à elite econômica, muito embora a força militarizada fossem os Farrapos, e não os comandantes oligarcas (estancieiros): trabalhadores rurais, homens e mulheres escravizados em território gaúcho foram lançados à guerra em nome de interesses econômicos da elite branca local, que não lutou sua própria guerra.


Em 20 de setembro de 2020, importa desvelar as origens dessa guerra: uma guerra da elite local que mobilizou as classes subalternas à guerrearem entre si, derramando o sangue dos trabalhadores, homens e mulheres escravizados e não dos senhores da guerra.


A Guerra dos Farrapos, uma guerra da elite branca, particulariza o racismo no Rio Grande do Sul à época. Na atualidade, se sabe que a tropa dos Lanceiros Negros, composta por homens em condição de escravos, foi traída pela elite e pelos próprios comandantes da guerra (Davi Canabarro e Duque de Caxias) sob a promessa da “liberdade” após o combate: a liberdade não cantou à tropa de Lanceiros Negros, pois ela foi dizimada ao ser deixada por seus traidores brancos, sem armamentos, para lutar uma guerra que não era sua.


Assim, a Frente Estadual pelo Desencarceramento do RS reivindica o 20 de setembro não como marco de orgulho, ao contrário: como marca histórica do racismo e da hierarquização entre ricos e pobres e seus efeitos deletérios ao sul do país. Pois, reivindicar a história é reivindicar o presente.


*Na contemporaneidade, 35,15% das pessoas privadas de liberdade no RS são negras, muito embora a população negra do estado represente somente 16,13%*. Portanto, afirmamos que a luta pelo desencarceramento não está dissociada da luta antirracista, que coaduna com movimentos de reparação histórica à população negra que, no Brasil, é quem atualmente sofre as mais duras sanções do sistema de justiça criminal e em relação aos direitos sociais, se encontra à periferia do direito.


Ainda, sobre o hino riograndense: “povo que não tem virtude acaba por ser escravo?” Reivindicamos a história, afirmando que povo que não tem virtude acaba por escravizar. Povo que não tem virtude, acaba por encarcerar em massa.

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