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terça-feira, 1 de setembro de 2020

Cortejo da Insensatez Fascista * Pedro Cesar Batista / DF

CORTEJO DA INSENSATEZ FASCISTA

Pedro César Batista / DF


O Brasil ultrapassou 120 mil mortos, a quantidade de habitantes de Itabira (MG), a cidade de Carlos Drummond de Andrade, que possui 120.904 habitantes.  É como se Itabira não mais existisse, com toda a sua população vítima fatal da covid-19. 


No planeta morreram, até o momento, 843.586 pessoas. São Bernardo do Campo, cidade industrial paulista, possui 844 483 habitantes. A terra das lutas sindicais, que ajudaram a derrotar os torturadores e assassinos da ditadura, tem a mesma quantidade de vitimas fatais no mundo. 


Seis meses de perdas seguidas. Mães, pais, irmãos, irmãs, tios, tias, amigos, amigas, gente real, com endereço, sonhos e profissão se foram.


Impensável um quadro tão assustador, mas é real. Acompanhamos diariamente as informações, conhecemos alguém que morreu, um conhecido próximo, um parente ou alguém do povo. Mortes seguidas, sem controle.


O quadro fica mais aterrorizante em saber que o Brasil tem um governo que alimenta a morte, a contaminação, sem minimamente cuidar de seu povo, sem orientar, investir ou ser solidário a dor crescente. Afirmou o presidente que não é coveiro. Ainda assim, tem a empatia de parcelas significativas da sociedade, que agem como se vivêssemos em tempos normais. Praias lotadas, bares lotados, música alta, pessoas frias e insensíveis por todos os lados. 


Recordo-me de minha infância, em Paragominas (PA), no início da década de 1970, com meus sete anos de idade. A cidade, nesse tempo, era conhecida como “Paragobala”, entretanto, nos dias de cortejo, não importava a origem do cadáver, a cidade ficava enlutada, consternada. Existia empatia. Poderia até ser apenas um sentimento animal, natural e instintivo, pois qualquer um poderia ser vítima das balas dos sicários da ditadura e dos latifundiários, havia a demonstração de dor, tristeza e solidariedade com a família do finado.


São 120 mil mortos, a população da terra de Drummond, que partiu para o além, foram sepultados na solidão de uma morte contagiosa, que não se sossega e segue matando. Isto tudo não abala a sociedade (sic) brasileira, que segue a marcha da covardia, da insensatez, sem agir para barrar o genocida na Presidência ou derramar uma lágrima pela dor que se espalha feito erva daninha. 


A insensatez e desumanidade mostram a cara sem nenhum pudor. Uma mistura de sadismo com estupidez, a negação de sentimento minimamente humano.

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