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terça-feira, 20 de julho de 2021

POESIA E REVOLUÇÃO * Vladimir Maiakovski = Russia

POESIA E REVOLUÇÃO

 Vladimir Vladimirovich Mayakovsky nasceu em 19 de julho de 1893. Para celebrar sua vida e obra, publicamos um de seus mais importantes poemas, onde critica o papel dos escritores na revolução e advoga por uma literatura que fosse para as massas.


Poema extraído de Antologia Poética (1983), com tradução de E. Carrera Guerra.


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Entre escritor

e leitor

posta-se o intermediário,

e o gosto

do intermediário

é bastante intermédio.


Medíocre

mesnada

de medianeiros médios

pulula

na crítica

e nos hebdomadários.


Aonde

galopando

chega teu pensamento,

um deles

considera tudo

sonolento:

– Sou homem

de outra têmpera! Perdão,

lembra-me agora

um verso

de Nadson…

O operário

Não tolera

linhas breves.

E com tal

mediador

ainda se entende Assiéiev


Sinais de pontuação?

São marcas de nascença!

O senhor

corta os versos

toma muitas licenças.


Továrich Maiacóvski,

porque não escreve iambos?

Vinte copeques

por linha

eu lhe garanto, a mais.

E narra

não sei quantas

lendas medievais,

e fala quatro horas

longas como anos.

O mestre lamentável

repete

um só refrão:

– Camponês

e operário

não vos compreenderão.

O peso da consciência

pulveriza

o autor.

Mas voltemos agora

ao conspícuo censor:

Camponês só viu

há tempo

antes da guerra,

na datcha,

ao comprar

mocotós de vitela.


Operários?

Viu menos.

Deu com dois

uma vez

por ocasião da cheia,

dois pontos

numa ponte

contemplando o terreno,

vendo a água subir

e a fusão das geleiras.


Em muitos milhões

para servir de lastro

colheu dois exemplares

o nosso criticastro.

Isto não lhe faz mossa –

é tudo a mesma massa…

Gente – de carne e osso!!


E à hora do chá

expende

sua sentença:

– A classe

operária?

Conheço-a como a palma!

Por trás

do seu silêncio,

posso ler-lhe na alma –

Nem dor

nem decadência.

Que autores

então

há de ler essa classe?

Só Gógol,

só os clássicos.

Camponeses?

Também.

O quadro não se altera.

Lembra-me e agora –

a datcha, a primavera…

Este palrar

de literatos

muitas vezes passa

entre nós

por convívio com a massa.


E impige

modelos

pré-revolucionários

da arte do pincel,

do cinzel,

do vocábulo.


E para a massa

flutuam

dádivas de letrados –

lírios,

delírios,

trinos dulcificados.


Aos pávidos

poetas

aqui vai meu aparte:

Chega

de chuchotar

versos para os pobres.

A classe condutora,

também ela pode

compreender a arte.


Logo:

que se eleve

a cultura do povo!

Uma só,

para todos.

O livro bom

é claro

e necessário

a vós,

a mim,

ao camponês

e ao operário.


SOBRE O AUTOR


Militante comunista,  Vladimir Mayakovsky (1893-1930) foi um poeta, dramaturgo e teórico russo. Conhecido como o "Poeta da Revolução" e considerado um dos maiores poetas do século XX, a poesia e a propaganda revolucionária de Mayakovsky revolucionaram o idioma russo contemporâneo.


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