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terça-feira, 28 de setembro de 2021

Arrocho da inflação que fez o Plano Cruzado * Apolônio Alves / PB

APOLÔNIO ALVES

nasceu Apolônio Alves dos Santos em Serraria, PB, aos 20 de setembro de 1926. Em seus documentos, no entanto, consta como nascido em Guarabira-PB, cidade para onde foi levado e onde foi criado desde a infância por seus pais, Francisco Alves dos Santos e Antonia Maria da Conceição.Começou a escrever folhetos aos vinte anos. Seu primeiro romance foi Maria Cara de Pau e o Príncipe Gregoriano, que, não podendo publicar, vendeu a José Alves Pontes, lá mesmo em Guarabira. A venda se efetuou em 1948, mas o romance só foi impresso no ano seguinte.
Em 1950, tentando melhorar de vida, foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou na construção civil como pedreiro, ladrilheiro, e, em 1960, foi trabalhar na construção de Brasília, mas sempre escrevendo e vendendo seus folhetos. É dessa época sua obra A construção de Brasília e sua inauguração, que se esgotou pouco tempo depois de publicada. Em 1961, logo após a inauguração de Brasília, voltou ao Rio de Janeiro.
Passou os últimos anos em Guarabira, Paraíba, vindo a falecer em 1998, em Campina Grande. Escreveu cerca de 120 folhetos, sendo os principais : O herói João Canguçu, Façanhas de Lampião. O aventureiro do Norte, Epitácio e Marina, O pau de arara valente, O pistoleiro da vila, Olegário e Albertina entre o crime e o amor e O noivo falso engenheiro.
*
Dele, publicamos este folheto da época do plano cruzado, que fez muito sucesso nos ônibus e trens lotados.
ARROCHO DA INFLAÇÃO
QUE FEZ O PLANO CRUZADO

01
O povo de baixa renda
está faminto e aflito
com o tal cruzado 2
e o seu plano maldito
que entre mil desesperos
deixou todos brasileiros
matando cachorro a grito
02
Para quem ganha o salário
a coisa está muito séria
o pobre trabalhador
enfraquecendo a matéria
a carestia o consome
com o salário de fome
termina tudo em miséria
03
Com este tal de gatilho
todos os meses subindo
trazendo no seu disparo
a inflação denegrindo
ao assalariado
que já vive espoliado
de fome se consumindo
04
O presidente tentou
combater a inflação
mas se viu pressionado
pelo grande tubarão
depois dos congelamentos
dos preços dos mantimentos
da nossa alimentação
05
A opressão foi porque
o presidente ordenou
congelar todos os preços
e a SUNAB mandou
sua administração
fazer fiscalização
e todos preços baixou
06
Com isto os comerciantes
tornaram-se revoltados
e começaram esconder
os gêneros necessitados
para alimentação
de toda população
foram todos sonegados
07
Faltou peixe, frango e ovos
e também carne de gado
um produto essencial
que é o mais procurado
e o povo doido e faminto
corria apertando o cinto
para o supermercado
08
Após a última eleição
conforme o partido quis
ganhou o PMDB
de norte a sul do país
porém ninguém se conforma
pois uma nova reforma
fez todo mundo infeliz
09
- Nova Reforma Econômica
o governo decretou
o plano cruzado 2
quando Sarney assinou
aquele plano frustrado
que estava camuflado
como uma bomba estourou
10
Aí Sarney afrouxou
as rédeas dos tubarões
por se ver pressionado
por grandes sonegadores
desfez os congelamentos
dos preços dos mantimentos
de nossas manutenções
11
Logo nos supermercados
começaram a aparecer
todos aqueles produtos
que estavam a esconder
sem SUNAB nem tabela
mas ninguém abria a guela
pois precisávamos comer
12
Logo carne de primeira
passou a custar oitenta
cruzados, e atualmente
está por cento e cincoenta
e trinta e cinco a sardinha
até o gás de cozinha
já passou para noventa
13
Conforto nem proteção
não há para o operário
o pobre pai de família
num sacrifício diário
saiu de sua residência
encarando a violência
por um mesquinho salário
14
Enquanto o pobre operário
de todas as capitais
ganham salário de fome
os distintos marajás
ganham milhões de cruzados
em suas mansões deitados
comendo finos manjás
15
Por isto que nós estamos
no mato sem ter cachorro
muitos vergados de fome
outros pedindo socorro
sofrendo de dia a dia
sem pão e sem moradia
dependurados no morro
16
Estamos em um país
sem lei, sem democracia
sem regime, sem justiça
sem nada de maestria
só existe sabotagem
maldade e crocodilagem
e muita demagogia
17
O nosso rico país
é todo dos magnatas
estamos todos sujeitos
aos ladrões de gravatas
todo político promete
isto sempre se repete
no fim tudo são cascatas
18
E os colarinhos brancos
de grupos organizados
também os tais marajás
em quase todos estados
com sua opulência
deixam o país em falência
com os seus cofres quebrados
19
O nosso país está
sem ter autoritarismo
sem governo, sem justiça
sem paz e sem mais civismo
sem um domínio perfeito
e todo o povo sujeito
ao grande banditismo
20
Ninguém acredita mais
em nossos governadores
pois eles querem cumprir
a lei com todos rigores
o máximo esforço oferece
porém ninguém obedece
as ordens superiores
21
A inflação vai correndo
em um ritmo galopante
pedimos botar um freio
d'uma forma dominante
não deixar nossa nação
sofrer a exploração
do tubarão inconstante
22
A onda inflacionária
cria e generaliza
a violência e a fome
já portanto alguém precisa
que as providências tome
que o povo morrendo a fome
nada de bom realiza
23
A nossa nação precisa
de um governante forte
dinâmico, herói, destemido
agindo de sul a norte
encarando o despotismo
contra o grande banditismo
em luta de vida ou morte
24
Pois o nosso mundo está
cheio de revolução
greves pra todos os lados
reboliço e confusão
ninguém não tem mais prazer
de neste mundo viver
com tanta rebelião
25
A grande devassidão
o ódio, o crime, a maldade
o sequestro e o estupro
e toda perversidade
findou-se pra nunca mais
o nosso sossego e paz
na nossa comunidade
26
O vício, o tóxico, a desordem
cada é contribuinte
da grande desarmonia
da vileza, o mau requinte
pedimos com mais fervores
luzes para os diretores
da nossa constituinte
27
Rogamos ao poder
Supremo da Divindade
que defenda o nosso mundo
de tanta barbaridade
que mande paz, esperança
mais sossego e mais bonança
para toda humanidade
28
Porque conforme vivemos
neste regime moderno
n'um mundo cheio de horrores
que somente o Pai Eterno
nos livra do terrorismo
do mundo cheio de abismo
já parecendo o inferno
29
Já que não existe mais
justiça nem disciplina
só o poder do dinheiro
ao mundo inteiro domina
se a lei da terra é vulgar
vamos então apelar
para a justiça Divina
30
O que dizem as escrituras
estamos vendo os sinais
quando no mundo acabar-se
sossego, bonança e paz
e houvesse fome e guerra
era prenúncio que a terra
marchava para os finais
31
Realmente estamos vendo
o que dizem as profecias
que o nosso mundo está
já nas últimas agonias
porque nossas invenções
de todas as gerações
estão encurtando os dias
32
Aqui eu peço desculpas
as forças Superiores
livrem-me de algum castigo
vejam os meus dissabores
escrevendo eu desabafo
sem agressão nem sanafo
sensibilizo aos leitores. FIM

MAIO DE 1987

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