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quinta-feira, 23 de setembro de 2021

UMA PAULICEIA NEM TÃO DESVAIRADA ASSIM – Wilson Coêlho / ES

 UMA PAULICEIA NEM TÃO DESVAIRADA ASSIM

Wilson Coêlho / ES

Neste ano de 2021 em que Dom Paulo Evaristo Arns e Paulo Freire fariam 100 anos em setembro, pudemos desfrutar da grande homenagem que o cineasta Carlos Pronzato faz em seu documentário “Dois Paulos na Pauliceia”. Uma obra responsável e de fôlego, além de muito oportuna nos tempos que correm. Carlos Pronzato nos devolve as vozes dos dois Paulos a partir dos testemunhos de Nita Freire, Frei Betto, Luiza Erundina, Juca Kfouri, Ivo Herzog, Paulo Vanucchi, Dom Angélico Sândalo Bernardino, Margarida Genevois, Salvador Pires, Adolfo Perez Esquivel, Maria Ângela Borsoi, entre alguns outros, permeados com imagens que nos transportam para aquele momento em que esses dois defensores da liberdade estavam em ação. Dessa liberdade, no depoimento do padre Júlio Lancellotte ele declara que “Os dois têm uma chave em comum, a autonomia. Dom Paulo, uma pastoral de autonomia e, Paulo Freire, uma pedagogia da autonomia”.


Na verdade, tanto pela competência do cineasta Carlos Pronzato quanto pelo tema que ele aborda, esse filme se basta e nem necessita de uma apresentação, considerando que esses dois grandes mestres, Dom Paulo Evaristo Arns e Paulo Freire, que dedicaram suas vidas à reflexão e ao pensamento crítico a partir de seus compromissos humanistas na organização popular, arautos da esperança na possibilidade de transformar a realidade dos povos oprimidos, são em si mesmos um acontecimento.


Ainda no que diz respeito a essa obra de arte de Carlos Pronzato, também não poderia passar em brancas nuvens a beleza, o lugar e a precisão da música original de Gereba em parceria com Paulinho Pedra Azul e Xico Bizerra, ilustrando essa belíssima homenagem aos dois Paulos imprescindíveis para entender a história do pensamento e da resistência à ditadura no Brasil.


Enfim, quanto intitulo o texto de “Uma Pauliceia nem tão desvairada assim”, trata-se de uma alusão à “Pauliceia Desvairada”, de Mário de Andrade que,

na conferência “O Movimento Modernista”, quando o escritor definiu seu livro como “áspero de insulto, gargalhante de ironia”, para Carlos Pronzato, a Pauliceia significa um apelo à memória desses dois Paulos que dedicaram toda a vida em defesa da democracia que nada têm a ver com a aspereza do insulto ou gargalhante ironia, mas comprometidos com a liberdade dos oprimidos. Contando ainda com a cuidadosa produção de Paulo Pedrini e a precisa edição de Gabriel Figueira, “Dois Paulos na Pauliceia”, mais que um documentário é uma obra de arte viva e que muito pode contribuir para que as novas gerações possam conhecer um pouco da história do ponto de vista dos que resistiram e enfrentaram o autoritarismo em nosso país.

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