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sexta-feira, 19 de novembro de 2021

A consciência negra e o século XXI * Genildo Mateus / RN

 A consciência negra e o século XXI


Genildo Mateus / RN


Foi no Brasil colonial

Onde tudo começou,

O negro como serviçal 

Sua vida desmoronou.

Cruelmente maltratado,

Ferido e dominado

Começa a escravidão 

Com rotina degradante

Exposto em seu semblante

Num rito de mutilação


Trabalhando de sol a sol

Nas lavouras e cafezais,

Guiados pelo arrebol

Fazendo serviços braçais.

Presos nas mãos dos tiranos,

Todos negros africanos

Perdia sua dignidade

E durante três séculos

Quebrando seus vínculos

Com toda sociedade


Vivendo em uma cenzala

Comparado com animal,

A dor no seu peito exala

Por ser tratado muito mal.

Debaixo do preconceito,

Tirando o seu direito

Sofria muita humilhação

Pois tinha ínfimo valor

Propagado por seu senhor

Levado a toda nação


O tronco e seus açoites

Estralava em suas costas,

Acontecia todas noites

As carnes negras expostas.

Com o capitão do Mato,

Continuava sua missão

Batendo até a morte

Esfolando seu consorte

Esperando uma confissão


A tirania prosseguia

Pelas ordens do coronel,

A matança progredia

Sem luz no fim do túnel.

O negro assim se espremia, 

Rezando uma ave Maria

Para escapar com vida

Com olhar de piedade

Sentindo a crueldade

Entre Chagas, e ferida


Os anos foram se passando

E chegou a "liberdade",

O risco foi aumentando

Até a atualidade.

Através da alforria,

Mas com toda ironia

As coisas não avançaram

O preconceito continua

O negro morando na rua

Os pactos se quebraram


Luta por uma consciência

Daquele que lhe rechaça,

Com toda experiência

Perseguido como caça.

Apelando pro bom senso,

Vendo que é um consenso

A sua descriminação

Briga com toda sua  força

Esperando com bonança

Por essa miscigenação


Viveu sempre no castigo

Querendo do branco  perdão,

Pra ficar bem consigo

Tirar o mal do coração.

Mostrando seu real valor,

Experiênciado na dor

Não se fez prisioneiro

Também não se guarda rancor

De quem desprezava sua cor

Pra sair do desespero


Esperando um dia ser igual

Nada mais lhe deixar triste,

Quebrando esse ritual

Que por muito se persiste.

O negro tem consciência,

Pautado na resiliência

Por ter sido um sofredor

Criado num cativeiro

Que da flor sentia o cheiro

Da liberdade e do amor


E com seu punho cerrado

Erguido  como símbolo,

Revivendo o passado

Lembrando do seu ídolo.

Saido do "eu" interior,

Como um bom navegador

Mudou toda sua história

Prosseguida por muitos anos

Em verdades e enganos

Esperando sua glória



Este poema se refere ao novembro da consciência negra. Que todos possam ter essa consciência, que são iguais...


Natal, 08 de novembro de 2021

*

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