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sábado, 6 de novembro de 2021

O Rei contra os Ditadores * Joel Paviotti

 O Rei contra os Ditadores 

O jogador que encarou os generais argentinos e brasileiros e ajudou a desvendar o maior esquema de tortura da história da América do Sul 

O ano era 1977, e o Atlético Mineiro tinha um time de causar inveja. Em seu elenco, o principal nome era Reinaldo, centroavante muito rápido e goleador, que foi artilheiro daquela edição do Campeonato Brasileiro. 

Reinaldo comemorava gols com o braço levantado em riste, com punhos cerrados. Gesto atribuído ao símbolo internacional de luta por direitos humanos e sociais e incorporado à luta antirracista com os Panteras Negras. 

Durante o ano de 1978, a pressão pela convocação de Reinaldo era reprovada pelos generais brasileiros que, na época, o consideravam de esquerda e subversivo. 


No período, a seleção brasileira tinha em seu quadro de cartolas mais de 50% de membros do Exército. Porém, a pressão foi tão grande que acabaram levando o jogador. 


Durante os últimos jogos da seleção em território nacional, o presidente do Brasil, General Geisel, chamou Reinaldo para uma conversa e "recomendou" que se ele fizesse gol, não se atrevesse a comemorar como sempre fazia, pois aquela comemoração era coisa de comunista.


Malas prontas, desembarque no aeroporto de Buenos Aires, a Copa do Mundo de 1978 começou na Argentina. Assim como o Brasil, o país vivia uma sangrenta Ditadura Militar, comandada pelo General Videla. 

O jogo de estreia do Brasil foi contra a Suécia. Reinaldo e Zico estavam jogando muito. Reinaldo, então, fez um gol e, após segundos de hesitação, soltou o gesto dos Black Panthers. 


O atleta não jogaria mais pela seleção, foi sacado e nunca mais colocado naquela Copa. 


No hotel, Reinaldo recebeu um envelope com um relatório. O documento contava a história da "Operação Condor", uma cooperação entre países sul-americanos para matar e torturar possíveis inimigos do Regime, principalmente políticos. A documentação revelava que políticos importantes chilenos foram mortos pela sanguinária Ditadura de Pinochet e que a morte do ex-presidente JK, no Brasil, foi fruto da operação. 


Como não entendia espanhol direito, e de posse de um documento importante, o que o jogador conseguiu entender já foi suficiente para compreender sua missão. Ele, então, procurou o amigo Gonzaguinha, que tinha contatos com movimentos sociais e instituições ligadas aos direitos humanos e entregou os documentos. Aqueles papéis foram extremamente importantes para aumentar o desgaste na imagem internacional dos generais sul-americanos e também para elucidar crimes contra a humanidade cometidos por eles. 


Por fim, Reinaldo se tornou um dos maiores jogadores da história da América do Sul e não foi só pelo talento e pelo futebol, mas sim por alterar os rumos da história.


Texto - Joel Paviotti

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