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sexta-feira, 8 de julho de 2022

LIXÃO BOLSONARENTO * Dorrit Harazim.BR

 LIXÃO BOLSONARENTO

Por Dorrit Harazim.BR


Bom seria se existisse um GPS capaz de localizar o lixão humano onde o presidente Jair Bolsonaro cata suas pessoas de confiança, de apoio ou de afeição amoral. É que urge desinfetar essa cloaca nacional, de onde a cada dia pipocam novos ou velhos seres acanalhados. Ora é o Nelson Piquet de sempre, vil e requentado, inabilitado a qualquer convívio em sociedade. Ora é o deputado Daniel Silveira, golpista de estimação do Planalto, agraciado com a Ordem do Mérito do Livro da Biblioteca Nacional — Silveira é aquele fortinho que arrebenta tornozeleiras eletrônicas e fica por isso mesmo. Ora é o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, exilado “a pedido” com todo um baú de bíblias e falcatruas aguardando explicações.


No capítulo desta semana, será preciso chafurdar além do protagonista principal. Não que ele seja menor. Desde a primeira infância do governo Bolsonaro, Pedro Guimarães presidiu com cobiça a Caixa Econômica Federal, o maior banco público da América Latina (3.407 agências). Dado o conjunto de sua obra como predador sexual, foi colecionando apelidos junto aos quase 85 mil empregados que comandava, nenhum deles afetuoso. O mais explícito, “Pedro Garagem”, veio a público no arrastão de denúncias que forçaram sua renúncia ao cargo na quarta-feira. 


Explica-se: numa das centenas de viagens oficiais que empreendeu pelo país, Guimarães teria ordenado o aluguel de um carro preto blindado em Teresina (Piauí) e dispensado o motorista, alegando precisar conversar em privado com a funcionária da Caixa que o acompanhava. À distância, o motorista filmou o carro sacolejante, e o resto é o resto. Melhor dizendo, a extensão e a capilaridade do “resto” ainda não foram mapeadas, mas tem tudo para ser sórdido — já se sabe que a cultura da violência na CEF, com assédio moral e sexual por parte do chefão, era conhecida, tolerada e acobertada por seus chefetes. O segundo no comando, Celso Leonardo Barbosa, fazia o tipo fortão MMA. Também já foi denunciado e terá de procurar trabalho alhures.


A fila de demissões, entre coniventes ou omissos, deve se alongar à medida que novas denúncias se amontoam. Uma vez destravado o medo — medo físico, terror psicológico, ameaça de perda do emprego —, as denunciantes iniciais incentivam outras tantas abusadas e humilhadas em público por Pedro Guimarães. Este merece uma menção especial por covardia público-privada. Na manhã de quinta-feira, já defenestrado do poder, participou da apresentação do Plano Safra no Palácio do Planalto escudando-se na própria mulher.


— Quero agradecer a presença da minha esposa, acho que de uma maneira muito clara, são quase 20 anos juntos, duas filhas, uma vida pautada pela ética — discursou.


Quanta baixeza socorrer-se na família em vez de protegê-la.


Agora é a vez de Ministério Público, Justiça do Trabalho e Tribunal de Contas mostrarem espinha dorsal. Até agora, quem honrou essa responsabilidade foi o jornalismo. Coube à cuidadosa apuração de Rodrigo Rangel, com Fabio Leite e Jeniffer Gularte, do portal Metrópoles, revelar ao Brasil o que donos e próximos do poder brasiliense já sabiam, mas fingiam que não era com eles.


— A investigação sigilosa em curso no Ministério Público Federal começou quando nossa apuração já estava bem encaminhada. Eu diria até que essa investigação oficial é consequência da investigação jornalística, porque foi durante a apuração da reportagem que as mulheres se sentiram suficientemente encorajadas a contar também às autoridades o que viveram — conta Rangel.


Ele tem razão. Sem a teimosa atuação da imprensa profissional em tempos bolsonaristas, inóspitos à realidade e avessos à transparência, o pastor Milton Ribeiro ainda estaria ministro; a menina catarinense engravidada por estupro entraria na 32ª semana de pavor gestacional; Pedro Guimarães continuaria às soltas farejando inimigos, imaginando conspirações internas e escolhendo vítimas. Tudo sob a proteção silenciosa do presidente da República. Ah, sim: o GPS aponta para Jair Bolsonaro como epicentro predador da decência nacional. 

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