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sábado, 6 de agosto de 2022

BAIXAR A GUARDA JAMAIS: FORA BOLSONARO * Reinaldo Azevedo / SP

 BAIXAR A GUARDA JAMAIS: FORA BOLSONARO

BOLSONARO ANUNCIA TRAPAÇA PARA SIMULAR PARTICIPAÇÃO MILITAR EM ATO GOLPISTA


Reinaldo Azevedo / SP


Justamente quando pretende arreganhar os dentes, no que seria uma demonstração inequívoca de poder, é que Jair Bolsonaro, o grande farsante da República, evidencia o seu isolamento — que é crescente também no meio militar. Atenção: ele continua a ser, sim, um elemento perverso e perigoso para a democracia. Por isso a Carta em defesa do estado de direito, que já reúne mais de 500 mil assinaturas, é tão importante. Mas por que afirmo que evidencia fraqueza ao pretender demonstrar robustez? Vamos ver. 


Jair 171:22 – Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. E conhecerão a verdade daqui a 100 anos


Neste sábado, ele participou de um evento político em São Paulo, no Expo Center Norte, que juntou duas convenções partidárias: a Nacional, do Republicanos, e a estadual, do PTB. Assim, somaram-se ao presidente, no mesmo palanque, os cariocas Tarcísio de Freitas e Eduardo Cunha. Um será candidato ao governo do Estado pelo primeiro partido, e o outro, a deputado federal pelo segundo. Na presença de Cunha, o "Mito" teve a ousadia de falar em combate à corrupção... Nota à margem: políticos do Brasil, atenção! Quando o eleitorado do Estado em que nasceram e viveram não lhes der bola, tentem enganar os paulistas. Quem sabe... Vamos à farsa mais recente.


Num discurso em que voltou a contar mentiras sobre a atuação do STF na pandemia, o presidente anunciou que estará presente ao desfile militar do 7 de Setembro em Brasília. É a tradição. Aí, então, ele se referiu ao Rio nos seguintes termos: "Nós queremos, pela primeira vez, inovar no Rio de Janeiro. Sei que vocês queriam [que fosse] aqui [em São Paulo], mas nós queremos inovar no Rio de Janeiro. Às 16 horas do dia 7 de Setembro, pela primeira vez, as nossas Forças Armadas e as nossas irmãs Forças Auxiliares [PM e Corpo de Bombeiros] estarão desfilando na Praia de Copacabana, ao lado de nosso povo, mais do que querer, tem o direito e exige paz, democracia, transparência e liberdade". 


VAMOS ENTENDER A PATUSCADA 


O desfile militar de 7 de Setembro, no Rio, sempre se dá no Centro da cidade, na Avenida Presidente Vargas. Bolsonaro é, segundo a Constituição, comandante supremo das Forças Armadas. Ele pode determinar que o ato aconteça em outro lugar? Pode. 

Segundo diz, está transferindo o evento justamente para Copacabana, mesmo lugar em que deve ocorrer a manifestação golpista da sua turma. Entenderam a jogada? Como ele já percebeu que sua tentativa de atropelar o processo eleitoral ou de ignorar o resultado das urnas está ecoando cada vez menos entre os militares, estão está forçando a amizade: quer mudar o local do desfile para simular uma adesão ao golpismo que hoje é inexistente. 


O bufão está armando uma cena. Seus partidários atacarão o STF e o sistema eleitoral, muito especialmente se as pesquisas continuarem a indicar a possível vitória de Lula, e o desfile dos fardados estaria a evidenciar, então, a adesão dos quartéis à intervenção armada em nome, como é mesmo?, de "paz, democracia, transparência e liberdade". 


Observem que, sem querer, ele acaba denunciando que tentou armar o circo em São Paulo. Mas, tudo indica, encontrou resistência. No Estado, as tais "forças auxiliares" (PM e bombeiros) estão subordinadas à Secretaria de Segurança Pública, que tem como titular o general da reserva João Camilo Pires de Campos, que não pertence ao círculo bolsonariano. Uma das estrelas do evento deste sábado foi, obviamente, Tarcísio de Freitas, que disputa os votos da direita no Estado com Rodrigo Garcia, candidato à reeleição. 


GOLPES NO GOLPISMO 

O golpismo, com as vênias aos que, a exemplo deste escriba, repudiam joguinhos de palavras, andou sofrendo alguns golpes. 


Um dos maiores é a adesão maciça de cidadãos dos mais diversos setores à "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito", que já reúne mais de 500 mil signatários. Os indivíduos sem crachá são a sua força principal, mas o fato de reunir praticamente a totalidade da consciência jurídica do país, além de pesos-pesados do empresariado, intelectuais, jornalistas e artistas, dá uma dimensão da abrangência do apelo em favor do respeito às regras do jogo. O texto tem a grande virtude de evitar a politização barata e de pregar o respeito à Constituição. Quem está na contramão? 


Há mais. A reunião que Bolsonaro promoveu com embaixadores estrangeiros para atacar o sistema eleitoral no Brasil provocou repulsa no alto oficialato. Há um comportamento que, para essa turma, é anátema: políticos que atacam o próprio país em solo estrangeiro ou a uma audiência, como foi o caso, internacional. "Inaceitável" foi o adjetivo mais ameno. 


PODEMOS RELAXAR? 


Não, não podemos relaxar. Mais do que nunca, agora sim, "o preço da liberdade é a eterna vigilância". O isolamento de Bolsonaro em sua sanha golpista só existe porque há mobilização; porque os que estamos empenhados na defesa da democracia fazemos chegar a todo mundo e a todo o mundo as patranhas golpistas do senhor presidente da República. 


Justamente porque não conta com a adesão espontânea — que seria, obviamente, ilegal — à manifestação golpista, Bolsonaro tenta armar a cena, empurrando os militares para participar, de modo forçado, de sua pantomima. 


Estamos diante de mais um crime de responsabilidade, segundo define a Lei 1.079, passível de impeachment. Mas, sabemos, isso dependeria da vontade de Arthur Lira. De resto, não há tempo para tanto. Se realmente criar a trapaça para as Forças Armadas participarem de um ato golpista, o presidente também comete crime comum. Bolsonaro incorre nos Artigos 359-L e 359-N do Código Penal.


Crimes de responsabilidade morrem junto com o fim do exercício do cargo. Os comuns sobrevivem, e Bolsonaro poder ser responsabilizado por eles posteriormente. É por isso que alguns pistoleiros já falam na criação do senador vitalício... 


O anúncio de Bolsonaro, reitero, evidencia seu isolamento. Pessoas com o seu temperamento e com o seu perfil são ainda mais perigosas quando acuadas. 


Não baixemos a guarda jamais.


Comparsas somente não se entendem durante a partilha do produto do roubo ou na disputa pelo tráfico de armas e de drogas.

Estudos revelam que 1 em cada 3 bolsonaristas é tão imbecil quanto os outros 2. 

PILOTIS PELA DEMOCRACIA


Em maio de 1977, os Pilotis da PUC-Rio se tornaram marco de uma importante inflexão na luta pelo reestabelecimento das liberdades democráticas. Com o movimento estudantil à frente, mais de sete mil pessoas ali se reuniram e se manifestaram, desafiando abertamente a repressão. Eram estudantes da PUC e de outras universidades, professores, funcionários, líderes sindicais, familiares de presos, desaparecidos e exilados políticos, além de representantes de diversos segmentos e organizações da sociedade civil. Entre vozes e pautas diversas, sobressaiu a convicção de que ali, no espaço da universidade, se ensaiava uma retomada democrática que haveria de se irradiar para além de seus muros, somando-se aos muitos outros atos e movimentos que se avolumavam pela cidade e pelo país.


Quarenta e cinco anos depois, a memória desses movimentos ressoa no ato que a Associação dos Docentes da PUC-Rio agora convoca, e que novamente reúne estudantes, funcionários e amplos setores da sociedade civil, representados pelas mais de vinte entidades e organizações que participarão do evento. Às 11 horas do dia 11 de agosto de 2022, novamente nos Pilotis da PUC-Rio, leremos a Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito. O momento já não é o de reconquistar a democracia, mas de protegê-la – agora, é preciso reestabelecer as condições e o espaço do diálogo e da concertação, de uma política que não tolera o autoritarismo e jamais autoriza a violência. As pautas e vozes do nosso tempo são ainda mais plurais do que eram em 1977, mas a ampla adesão a esse movimento – que novamente toma o país todo – dá mostras de que é preciso mais uma vez gritar em uníssono: Estado Democrático de Direito sempre! 


Associações participantes:

ABI - Associação Brasileira de Imprensa

SindCT - Sindicato Nacional dos Servidores Públicos Federais na Área de Ciência e Tecnologia do Setor Aeroespacial

ASFOC SN - Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Oswaldo Cruz

ASSIBGE - Sindicato Nacional dos Trabalhadores do IBGE

VIDA & JUSTIÇA - Associação Nacional Vida & Justiça Em Defesa E Apoio Às Vitimas Da Covid 19 - Seccional RJ

FUP - Federação Única dos Petroleiros

IAB NACIONAL – Instituto de Advogados Brasileiros

ALUMNI FND - Associação dos Antigos Alunos de Direito da UFRJ

SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência

ABJD - Associação Brasileira de Juristas pela Democracia

Observatório da Democracia

CEBES – Centro Brasileiro de Estudos da Saúde

ABMMD RJ . Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia

DCE – PUC-Rio – RAUL AMARO

AFPUC – Associação de Funcionários PUC-Rio

MST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra

AJD – Associação Juízes para a Democracia

SENGE-RJ – Sindicato dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro

PPGCI do IBCT/UFRJ – Instituto Brasileiro de Informação, Ciência e Tecnologia

ARCA - Articulação Nacional das Carreiras Públicas para o Desenvolvimento Sustentável

Fonacate - Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado

ADUR-RJ S.SIND – Associação dos Docentes da Universidade Rural

FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais para o Meio-Ambiente e o Desenvolvimento

Coletivo Nuvem Negra 

Coletivo Bastardos da PUC-Rio

Coletivo LGBTQIA+ PUC-Rio 

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