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terça-feira, 31 de janeiro de 2023

O ESPÍRITO DA FLORESTA * BRUCE ALBERT / DAVI COPENAWA - CIA DAS LETRAS

O ESPÍRITO DA FLORESTA
BRUCE ALBERT / DAVI COPENAWA

SOS YANOMAMI

Nos últimos dias, o Brasil tomou conhecimento do violento descaso com a vida Yanomami durante o governo de Jair Bolsonaro. O resultado de tamanha negligência estatal para a comunidade indígena — e, portanto, para o povo brasileiro — é devastador e inadmissível.

Diante dessa alarmante situação, a Companhia das Letras e a Hutukara — associação presidida por Davi Kopenawa e que atua há mais de 18 anos na garantia de direitos do povo Yanomami — pedem seu apoio:

Na compra do livro "O espírito da floresta", de Davi Kopenawa e Bruce Albert, todo o lucro obtido será direcionado ao fundo emergencial de apoio aos Yanomami. Com desconto de 30% e frete grátis, a ação acontecerá apenas no site da Companhia, entre 30/01/2023 e 15/02/2023 (ou até acabar o estoque). O título será enviado aos leitores a partir de 24/03/2023, data de seu lançamento nacional.

Dos mesmos autores de "A queda do céu", o volume reúne reflexões e diálogos que, a partir do saber xamânico dos Yanomami, evocam, sob diversas perspectivas, as imagens e os sons da floresta, a complexidade de sua biodiversidade e as implicações trágicas de sua destruição.

Caso queira contribuir com a Hutukara de qualquer outra maneira, basta acessar
Pessoal esse livro vai direcionar todo o lucro pra um fundo dos povos Yanomamis, além disso está com frete grátis e 30% de desconto.

Campanha valida até dia 15/02

EDUCAÇÃO UNIVERSAL JÁ! * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

EDUCAÇÃO UNIVERSAL JÁ!


 "L11645

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.


O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:


Art. 1o  O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:


“Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.


§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.


§ 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR)


Art. 2o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.


Brasília,  10  de  março  de 2008; 187o da Independência e 120o da República.


LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Fernando Haddad


Este texto não substitui o publicado no DOU de 11.3.2008.

 https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm 

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domingo, 29 de janeiro de 2023

Janeiro de 2023: as Forças Armadas e o enfrentamento da crise * Maria Carlota Souza-Paula / Brasil

Janeiro de 2023: as Forças Armadas e o enfrentamento da crise 

Maria Carlota Souza-Paula


Após os execráveis fatos do dia 8 de janeiro, a alguns amigos expressei a opinião que “enquanto não soubermos com clareza a posição de segmentos importantes das Forças Armadas não poderemos estar tranquilos”.

Um amigo me pediu que esclarecesse um pouco mais essa opinião. É importante lembrar que se trata de um jovem, com vivência política pós redemocratização. Embora muito bem formado e informado, com grande interesse nos assuntos políticos, seu período de experiência coincide com o que poderíamos considerar como um tempo em que as Forças Armadas no Brasil estavam preponderantemente atuantes nos campos de suas atribuições constitucionais, sem claramente expressar preferências partidárias e ideológicas. Exceto, claro, nos últimos 4 anos, quando isso mudou radicalmente e houve uma fortíssima militarização do governo e envolvimento político dos militares.

Outros amigos, atuantes na política, estudiosos e analistas das questões militares e de estruturas de poder no Brasil, ou das áreas de ciências políticas e sociais, entre outras, podem achar as opiniões abaixo muito óbvias ou muito pouco elaboradas. No entanto, o objetivo aqui não é fazer um ensaio, mas apenas colocar algumas questões que me parecem importantes para esclarecer minha opinião inicial ou mesmo para iniciar um debate. Nesse sentido, sintam-se livres todos que quiserem adicionar elementos, contestar as opiniões aqui expressadas, enfim, refletir um pouco sobre o tema.

Voltando então à minha opinião inicial, de que não podemos estar tranquilos sem conhecer a posição de importantes segmentos das Forças Armadas, preciso colocar dois elementos preliminares de aclaração:

∙ Primeiro, minhas opiniões são baseadas exclusivamente em conhecimentos anteriores e reflexões pessoais sobre os fatos do momento, sem base de pesquisa sobre a situação atual. Não tenho estudado o tema há muito tempo;

∙ segundo, quando falo de “apoio” de segmentos das Forças Armadas, não digo que devemos esperar militares “lulistas” … não creio que existam. Falo sim de militares que se colocam pela “legalidade”, que reconhecem e respeitam o resultado das eleições, enfim, aqueles que jogam no time de que militares não devem agir politicamente, militares não golpistas. Saber hoje se estes existem, quais são e qual sua força e influência sobre as instituições e estamentos

militares é o que considero importante. Mas nem isso sabemos. E creio que as informações mais recentes (particularmente as falas do Lula e do Dino sobre o dia 8), dias depois que eu já dera minha opinião inicial, deixam ainda mais dúvidas sobre o quadro atual e sobre os problemas a serem enfrentados pelo atual governo para manter-se estável e conseguir governar.

Assim posto, considero alguns fatos da história do Brasil que embasam minha opinião:

∙ Neste país, nenhum governo se sustentou sem o apoio de militares) e creio e em nenhum país que não tenha sistema democrático consolidado); seguem-se apenas alguns exemplos:

o a própria Proclamação da República foi um golpe, seguido de governo militar; a “era Vargas” se inicia e termina como golpe; é longa a lista de golpes no Brasil, bem sucedidos ou não. E não apenas golpes militares, mas, na maioria das vezes, articulados com forças políticas civis (1930, 1955, 1964, 2016);

o vários militares, antes da ditadura 1964-85, já presidiram o Brasil; até o governo considerado por alguns como o primeiro período democrático no Brasil e no qual se promulgou a Constituição de 1946 foi um militar, o Presidente Dutra, marechal do exército.

o mostra bem a importância dos militares na política brasileira o fato de que os dois principais candidatos à Presidência após a queda de Vargas, em 1945, eram militares: pelo PSD, Eurico Gaspar Dutra, marechal do exército, e Eduardo Gomes, Brigadeiro da Aeronáutica, pela UDN! Ou seja, os dois principais partidos políticos não tinham candidatos civis;

o JK, figura lembrada por sua grande popularidade e realizações, pertencente a partido conservador –mas que enfrentava forte oposição de outro-, só se manteve no poder graças às FA, até para garantir a sua posse. E para enfrentar outras tentativas de golpes como Jacareacanga e Aragarças. Tão forte era o vínculo que o seu candidato a sucede-lo foi o então ministro da Guerra, Marechal Henrique Lot (que perdeu para Jânio Quadros).

o o golpe de 1964 e os 31 anos de ditadura culminam, assim, décadas e décadas de golpismo no país. Deste longo triste período são bem conhecidos os fatos e consequências.

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o Portanto, as cúpulas militares no Brasil quase sempre se posicionaram politicamente apesar da máxima de que a corporação, teoricamente, não poderia ser politizada;

o Nessa situação, em que parte das FA se politizam, automaticamente, sobretudo em situação polarizada, como a atual, a parte que se mantém fiel à posição de não intervenção política e defesa constitucional também acaba sendo considerada como política, na medida em que se está opondo àqueles que se posicionaram expressa e voluntariamente contra o governo estabelecido. É o que acontece agora …

Durante o período de 1985 a 2017/18, antes da primeira candidatura de Bolsonaro à Presidência, as FA se mantiveram relativamente afastadas da política e conviveram com os presidentes civis, aparentemente sem grandes conflitos, ou conseguindo uma convivência pacífica. Foi o período mais longo de governo democrático, sem tentativas de golpe, até o governo de Dilma Roussef. Desde então, a militarização vem crescendo a olhos vistos, embora de forma diversa de épocas anteriores.

A principal diferença é que essa militarização se constituiu em um governo legítimo, eleito em 2018. Neste sentido, não se pode falar de “golpe”. A militarização foi promovida por aquele governo e se deu pela forte participação nos organismos do poder executivo e, nesta condição, com poder decisório sobre orçamentos e questões fundamentais do Estado, fazendo e executando políticas públicas, inclusive em áreas muito alheias às funções e atuações anteriores das FA, como a saúde. Todos conhecemos esse filme.

A principal diferença é que essa militarização se deu por meio de um governo civil legítimo, eleito em 2018. Neste sentido, não se pode falar de “golpe”. A militarização foi promovida por aquele governo e se deu pela forte participação nos organismos do poder executivo e, nesta condição, com poder decisório sobre orçamentos e questões fundamentais do Estado, fazendo e executando políticas públicas, inclusive em áreas muito alheias às funções e atuações anteriores das FA, como a saúde. Todos conhecemos esse filme.

Ao mesmo tempo, como parte do mesmo processo, cresceu a polarização que já se mostrava forte com o anti-lulismo/anti-petismo, elemento definidor das eleições de 2018. No governo Bolsonaro, foram se acirrando as posições de “defesa” da Pátria, da família e dos bons costumes, com traços de fundamentalismo. Como analisam muitos, os evangélicos, sua luta pelo poder, suas crenças e preconceitos, apoiados e

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promovidos pelo governo foram uma força importante nesse processo de radicalização conservadora. Mas não foram os únicos! A sociedade brasileira, em grande parte, independente da religião, é conservadora, preconceituosa e elitista. Repete-se então o apoio dado ao golpe de 1964, em defesa desses valores e dos privilégios. Antipetismo, busca de poder por grupos religiosos e defesa de tudo que representa esse conservadorismo, instigados e apoiados pelo governo Bolsonaro, culminaram na maior polarização política vista até então no Brasil. Outros fatores certamente contribuíram - contexto internacional, crescimento forte das correntes de direita radical em vários países, inclusive nos EUA, esvaziamento e fragilidade dos partidos no Brasil, recusa de segmentos políticos em aceitar os resultados da segunda eleição da Dilma, entre outros, também contribuíram-, mas não é o caso de analisar isso aqui. Apenas estou lembrando a polarização política, forte o suficiente para abalar até mesmo relações pessoais e familiares.

As Forças Armadas, principalmente pela inserção efetiva nas atividades de governo, tomou posição, fortaleceu o processo e permitiu que a politização entrasse de forma importante nos quartéis. E se fortaleceu como força política efetiva, passando a serem vistas como as guardiãs dos valores defendidos pelos radicais, contra a oposição política e contra, principalmente, o poder judiciário, em especial o STF, de onde ainda vinha alguma força que dificultava investidas anticonstitucionais durante o último governo. Significativamente, depois das eleições, os acampamentos se organizaram em frente aos quartéis, com clara conivência das respectivas forças militares. Em nenhum momento do governo Bolsonaro ouviu-se alguma voz de dentro das FA contra investidas inconstitucionais; nenhum deles se manifestou após as eleições para defender os resultados legítimos; nenhuma de suas vozes se levantou contra o a tentativa de golpe e o vandalismo do dia 8 de janeiro; na verdade, pelas informações mais recentes, até pelas manifestações do próprio Presidente Lula, segmentos das FA facilitaram a invasão dos poderes na Praça dos Três Poderes e podem mesmo ter participado do planejamento desses fatos. Ou seja, se há militares defensores dos poderes legalmente constituídos, eles estão calados.

Frente a isso, ficam perguntas: quais seriam esses militares “legalistas”? Que força têm eles dentro das FA? Que influência têm eles sobre as patentes subordinadas?

Considerando o papel que as FA têm tido na história brasileira, o papel que exerceram no governo Bolsonaro, a participação nos eventos do dia 8 e o comportamento “arisco”, para dizer o mínimo, como confiar? Em quem confiar?

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Pode-se argumentar que a importância das FA já não é a mesma de outros tempos, que há muitos fatores e condições no Brasil atual que podem servir de anteparo à democracia e de freio a intentos golpistas, mesmo de origem ou com apoio militar. É verdade. Mas as FA ainda são importantes atores e, agora, com segmentos associados aos ultraconservadores e mesmo aos golpistas. Para estes, elas servem de escudo e lhes dá o sentimento de ter “a força” a seu lado. O mesmo ainda não pode dizer o governo Lula.

É claro que têm de ser consideradas diferenças importantes na situação atual e em outros momentos de golpes no Brasil, em especial quando se teme por um novo golpe como o de 1964. São diferentes momentos históricos, diferentes composições de forças políticas e sociais, uma sociedade civil mais forte – mas também polarizada -, e um outro contexto internacional, com fortes movimentos de crescimento da ultradireita, em que o papel do Brasil vinha modificando-se radicalmente nas décadas pós redemocratização até o governo Bolsonaro. Quero desenvolver mais minhas colocações sobre essas diferenças, como sequência a este texto inicial.

No entanto, um elemento fundamental permanece como pano de fundo desses golpes e do apoio que recebem de segmentos da população:

∙ o argumento (arcaico) contra o “socialismo” e o “comunismo”, com concepções equivocadas sobre o que significam e apesar de esses sistemas terem sofrido fortes revezes no contexto internacional e, efetivamente, não se visualizar chance alguma de os implantar no Brasil; mas continuam sendo apresentados como “a ameaça” à sociedade brasileira ... irão confiscar seus bens, tomar seu dinheiro, proibir as religiões, coisas do gênero, sem qualquer base de sustentação. Incrivelmente, parece o mesmo filme anterior a 1964, sugerindo que as camadas cooptadas (agora em muito maior número) são igualmente desprovidas de qualquer capacidade de observação e análise dos processos políticos e sociais. Prevalecem os preconceitos, a desinformação, o “cabresto”;

∙ frente às supostas “ameaças”, grupos golpistas se colocam como “defensores da Pátria, da liberdade, da família, dos valores tradicionais”. Lembremos da “Marcha com Deus pela Família e pela Liberdade”, quando segmentos da sociedade civil - naquele momento, em geral da elite, que até doaram suas joias para a “causa” -, saíram às ruas para apoiar os militares golpistas.

Nesse processo, creio que há muitas diferenças fundamentais que precisam ser mais bem debulhadas, pois há muitas nuanças que tornam as situações mais complexas e difíceis de compreender. Menciono quatro delas que me parecem mais evidentes:

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∙ hoje vemos o apoio de numerosas e diversificadas camadas populares ao bolsonarismo, à direita radical e aos golpistas. Não se pode esquecer o vulto dos eleitores de Bolsonaro, ainda que uma parte tenha sido pelo antipetismo. Na ditadura militar esse apoio não se expressava tanto, exceto em partes da elite. A participação política da população era muito menor, nos períodos anteriores ainda predominava o voto de “cabresto”, ditado pelos grandes caciques políticos – que se aliaram aos militares, pelo menos para o golpe. No funcionalismo, nos trabalhadores, na população em geral, os fortes elementos de dominação foram a força e o medo. Hoje, os segmentos populares bolsonaristas, golpistas, veem os militares (FA e polícias) como seus aliados;

∙ uma segunda diferença importante é o apoio incondicional dado ao golpe de 1964 pelos caciques políticos da época, em especial dos governadores dos principais estados do país. Sem Magalhães Pinto (MG), Carlos Lacerda (GB) e Adhemar de Barros, a história teria sido outra, mesmo que caísse Jango;

∙ em terceiro lugar, está o governo estabelecido no momento do golpe ou tentativa de. Jango não tinha a força nem a legitimidade do governo Lula. Jango e Jânio eram de partidos acirradamente contrários; Jango tomou posse após a crise da renúncia de Jânio (que também não estava “agradando” aos interesses daqueles que o elegeram e por isso nem se moveram para o sustentar); havia naquele momento demandas de segmentos sociais que eram quase inéditas no país e soavam como ameaças aos interesses dominantes; enfim, Jango não tinha o governo em suas mãos e não tinha apoio de importantes segmentos sejam civis ou militares. Lula foi eleito, sua eleição e a garantia dos resultados teve o apoio de instituições hoje muito mais fortes que naquele outro momento – como a justiça eleitoral, o próprio STF e, mesmo no Legislativo, apesar das posições contrárias, não houve contestação das eleições. A legitimidade do governo eleito não foi questionada por segmentos importantes;

∙ Além disso, o contexto internacional era de Guerra Fria, Revolução Cubana, a China de Mao, etc., ameaças aos grandes interesses ocidentais. Nesse contexto, o golpe no Brasil – e em outros países – teve apoio incondicional, político e estratégico, dos EUA e o novo governo militar brasileiro foi rapidamente reconhecido internacionalmente. No caso atual, não apenas os EUA mas inúmeros outros importantes países se manifestaram em apoio a Lula, ao respeito às urnas e contra os atentados de janeiro ou um possível golpe.

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Esses são alguns fatores que fazem a situação atual muito diferenciada de 1964. Mas nem todo golpe tem a mesma natureza e as mesmas composições. Como vimos acima, houve tentativas de golpe se iniciaram ou foram fortemente apoiadas por forças civis internas, como as FA no papel de tentativa ou execução do golpe, considerando suas funções como força militar.

Assim, certamente as condições são outras, o atual governo está estabelecido, reagiu de forma efetiva aos atentados de dezembro e janeiro (muito embora, na minha opinião, tenha havido uma avaliação equivocada sobre a possível magnitude do ataque de 8 de janeiro). As ações que estão sendo praticadas –

identificação de responsáveis, prisão de alguns comandos, intervenção na segurança do DF, entre outras – têm mostrado que o governo está atento, atuante e, aparentemente, sem muitas oposições a essas medidas.

Mas, o próprio governo já disse claramente das suspeitas de envolvimento de segmentos militares; e a identificação de participantes mostra militares que lá estavam; o governo Lula, com toda razão, está tomando medidas para desmilitarizar a administração pública, o que deixará milhares de militares sem os rendimentos extras que estavam recebendo no governo Bolsonaro.

E, muito significativamente, nenhuma palavra se ouviu de representante algum das Forças Armadas (nem dos ministérios militares!!!). Nem de apoio ao governo Lula, nem de repúdio às tentativas de terrorismo – bombas, queima de carros em 12 de dezembro – ou ao terrorismo e tentativa de golpe de 8 de janeiro.

Há algum segmento das FA comprometidos com as garantias democráticas, com o governo de Lula, legitimamente eleito? Precisamos saber!

Isso é ainda mais importante quando consideramos que os apoiadores do Bolsonaro colocaram suas esperanças nas FA. Não à toa, os acampamentos foram armados em frente aos quartéis e por eles garantidos, até mesmo contra ordens judiciais de desmantelamento.

MCSPaula
Janeiro 2023

sábado, 28 de janeiro de 2023

ROTEIRO DO HOLOCAUSTO BOLSONARO * LIRA NETO / JORGE PONTES . BR

ROTEIRO DO HOLOCAUSTO BOLSONARO











BOLSONARIM GRILEIRO
SONIA BRIDI

Bolsonarismo é a raiz da tragédia ianomâmi


A tragédia humanitária que atingiu comunidades indígenas que fazem parte da Reserva Yanomami não foi um desastre, mas um projeto - e um projeto com as digitais de Jair Bolsonaro e de seus generais palacianos.


Para entendermos como o ex-presidente está imbricado nesta crise, temos de considerar que os teóricos do bolsonarismo ainda professam doutrinas e objetivos absurdamente anacrônicos e equivocados - do período do governo militar - quando o general Golbery do Couto e Silva, segundo suas próprias palavras, preconizava “inundar de civilização a hileia amazônica, a coberto dos nódulos fronteiriços, partindo de uma base avançada constituída no Centro-Oeste, em ação coordenada com a progressão Leste-Oeste segundo o eixo grande rio”.


Ora, simplesmente “inundar de civilização” a Amazônia não nos parece medida que harmonize com os modernos ideais de equilíbrio, conservação e sustentabilidade, e tampouco respeita a necessidade de preservação da biodiversidade da região.


A complacência e, até certo ponto, a permissividade com que esse pensamento, nos dias atuais, não apenas aceita como incentiva algumas atividades econômicas extremamente destrutivas para a Amazônia, como garimpos, lavra de arrozeiros e madeireiros, talvez seja um resquício dessa visão de Golbery, na qual “inundar a região de gente" era o que mais importava, sem se levar em conta o grande número de pessoas que explorariam atividades não sustentáveis e extremamente danosas ao meio ambiente.


E, coincidentemente, há uma outra obsessão, também presente na "doutrina" bolsonarista: a defasada ideia fixa da cobiça internacional sobre a Amazônia. É aí que entra exatamente a questão da Reserva Indígena Yanomami, onde o ideário do ex-capitão a enxerga, em delírio, por conta de suas dimensões e da contiguidade com o território venezuelano, como um grande perigo para a nossa soberania.


A par da expressiva quantidade de militares - da reserva e da ativa - que apoiaram (e ainda apoiam) Jair Bolsonaro, nos parece que tais idéias e premissas defasadas ainda seriam compartilhadas nas fileiras, e até nas escolas de formação e aperfeiçoamento, do nosso Exército.


De volta aos dias atuais, lembramos que os yanomami enfrentam essa crise sanitária e humanitária sem precedentes, exatamente devido ao avanço do garimpo ilegal na região. Só na última semana quase mil indígenas foram socorridos em estado de saúde gravíssimo.


E essa percepção em relação à tolerância do pensamento militar com algumas atividades que degradam o meio ambiente infelizmente vem se sedimentando aos olhos da sociedade. Exemplos não faltaram ao longo do tempo: da crise dos arrozeiros em Roraima nos idos de 2008, até a tragédia do meio ambiente do governo de Bolsonaro, cuja administração ambiental foi inundada de policiais militares e oficiais do Exército, sem qualquer ligação direta com temas ambientais.


Um exemplo - recente - dessa situação foram as sete autorizações concedidas, em dezembro de 2021, pelo general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), para projetos de mineração de ouro em uma das regiões mais preservadas do país, em São Gabriel da Cachoeira, na Cabeça do Cachorro, extremo noroeste do Amazonas, fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela.


Nessa área encontram-se o Parque Nacional do Pico da Neblina e algumas terras indígenas. Segundo matéria da Folha de São Paulo, em 5 de dezembro de 2021, a região onde as permissões de pesquisas foram concedidas abrigam 23 etnias indígenas. Esses projetos na região de São Gabriel da Cachoeira representam uma área de 12,7 mil hectares, e seis desses empreendimentos ocorrem em “terras da União”.


O general Heleno, que claramente extrapolou ao expedir essas concessões de pesquisa, foi um dos principais conselheiros de Bolsonaro, e foi também secretário-executivo do Conselho de Defesa, órgão consultivo do presidente da República em temas de soberania e defesa.


Infelizmente, podemos estar testemunhando o início do processo de degradação de uma das áreas mais protegidas e intocadas da nossa floresta, e, por consequência, a ocorrência de outras crises humanitárias, tendo como vítimas as respectivas populações indígenas que habitam aquela região.


Com esse derrame de autorizações, Augusto Heleno provavelmente tenha atuado conforme a velha e retrógrada cartilha de Golbery.


Por oportuno, é chegada finalmente a hora do atual governo promover uma revisão nos currículos, doutrinas e conceitos ministrados nas escolas de formação das nossas forças terrestres, visando atualizá-los. Nada mais importante para o nosso Exército do que se descolar do trágico ideário bolsonarista.


E, finalmente, o ex-presidente Jair Bolsonaro e, principalmente, o seu vice-presidente, Hamilton Mourão, que era coordenador do Conselho Nacional da Amazônia Legal, deverão ser formalmente questionados sobre as medidas que tomaram - e deixaram de tomar - para evitar a tragédia que atingiu o povo ianomâmi.


https://veja.abril.com.br/coluna/jorge-pontes/bolsonarismo-e-a-raiz-da-tragedia-ianomami/ 

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sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

O CAPITÓLIO TUPINIQUIM * Joãozinho Ribeiro / MA

O CAPITÓLIO TUPINIQUIM

A quem interessar possa / A história embora seja / Coisa escrita no presente / Sempre vasculha o passado / E traça o futuro da gente.

Quando afirmo que o futuro é pra ontem, é porque pelo passado recente nem teríamos direito ao amanhã. O tempo que se nos apresenta é de reconstrução e construção das relações humanas. A mudança é um processo permanente. A única coisa perene em todo o sempre do Universo em desalinho.

Implacável e contínua, a marcha dos acontecimentos convoca os sujeitos e os objetos da história para os atos, cujas digitais ficarão para os anais dos feitos das suas (des)humanidades. Uns cometerão canções e versos; outros, crimes e genocídios, que serão lembrados pelas vindouras gerações. A História continuará sendo o tribunal do mundo. Dela, não escaparão os ratos, ainda que abandonem as embarcações e retornem aos esgotos, ou que intentem dissimulados discursos, com auras de um intelectualismo reacionário e defensor do silêncio dos culpados.

Uma linha no horizonte / Um ponto no firmamento / A humanidade do Planeta / Despenca a todo momento.

Devemos ser, cada vez mais, criteriosos e seletivos para escolher os confrontos e conflitos pelos quais valha a pena lutar. A nossa passagem por esta estação terrena é breve e única. Precisamos valorizar as coisas aparentemente pequenas e insignificantes, que valem e justificam o milagre da existência.

A paz e o reencantamento do mundo retornam como bandeiras necessárias para serem içadas nos pavilhões das nossas esperanças. Sem a pieguice contemplativa das omissões, nem o açodamento das ações destemperadas, inoculadas nos discursos de ódio e na pregação da violência, como meios e fins de resolução da peleja da sobrevivência.

Quem sabe, o recado de Modigliani ainda esteja bastante vivo e adequado para o momento: “O dever de todo artista é salvar o sonho!”. Quem se habilita e se credencia para esta tarefa coletiva e urgente? Qual parte caberá aos ditos intelectuais e acadêmicos nesta contenda de enfrentamento da barbárie e do obscurantismo?

Tormenta, degredo, tragédia / Silêncio que se alimenta / Do roteiro da comédia / Desumana e tão sangrenta.

Trago comigo algumas respostas, sem nem mesmo conseguir formular as perguntas correlatas. Talvez estas nem existam, porém é importante não negar a possibilidade de suas existências, assim como se dizia das bruxas, em tempos de cumplicidades e pensamentos medievalescos, para justificar a inquisição e a queima dos corpos das mulheres, condenadas sem o mínimo direito de presunção de suas inocências.

Labaredas da vida / Acendendo as razões / E o Planeta girando / Em muitas revoluções.

Quem sabe precisemos retornar ao dilema de Galileu, diante do Tribunal do Santo Ofício, com todas as controvérsias das narrativas, e afirmar com todas as letras: “E pur si mueve!”

Navegar é preciso, Pessoa! Mais do que antes, por mares nunca e sempre navegados! Ou não! Valendo o risco que toda descoberta oferece! Os rios nos cios, as águas vão rolar, apesar daqueles contrários aos seus movimentos! A Terra gira, o mundo gira, o planeta respira, a natureza conspira! A poesia inspira!

A barca da existência / Navega sua leveza / Flertando com a natureza / Nas águas da paciência / Mergulho na finitude / Desejo e delicadeza / Deságuam na correnteza / Da fonte da juventude.

Hora da arte mostrar que existe porque já não basta a vida; e que esta, sem dignidade e respeito, não merece assim ser denominada. Vida e sonhos não são excludentes. Não precisamos importar caricaturas deformadas de atos que glorificam a barbárie e a incivilidade, com seus negacionismos baratos e dantescos. Prefiro finalizar o presente com uma preciosa exaltação da existência, do escritor angolano que nos visita, José Eduardo Agualusa: “A vida não é menos incoerente do que os sonhos; é apenas mais insistente.”

(*) Joãozinho Ribeiro (poeta e compositor, membro da ALL)

quinta-feira, 26 de janeiro de 2023

CABANAGEM 188 ANOS: CELEBRANDO A RESISTÊNCIA CULTURAL * Instituto Imersão Latina / BR

CABANAGEM 188 ANOS: CELEBRANDO A RESISTÊNCIA CULTURAL
INSTITUTO IMESÃO LATINA

Em 2009 o Instituto Imersão Latina realizou durante o Fórum Social Mundial Panamazônico a roda de conversa: Vozes da Cabanagem. Nela reunimos pesquisadores, historiadores, comunicadores e estudantes empenhados em celebrar esta memória e os aprendizados do movimento cabano. 


Quer saber mais sobre a Cabanagem e de o que ela tem a ver com os movimentos sociais que ainda estão latentes? 


Assista a live gratuita com professores e pesquisadores, mediada pela jornalista Brenda Marques Pena, que foi transmitida pelo canal do Imersão Latina youtube.com/imersaolatina  

facebook.com/imersaolatina

youtube.com/brendamarquespena

MAIS CABANAGEM
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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

MEMÓRIA PARA USO DIÁRIO. UMA PROPOSTA PARA UM MARÇO DE 2023 * Prof Romero Venâncio - SE

MEMÓRIA PARA USO DIÁRIO. UMA PROPOSTA PARA UM MARÇO DE 2023

Nós brasileiros e brasileiras vivemos em tempos recentes uma verdadeira tragédia governamental que nos agrediu diariamente entre 2018-2022 e ainda mantem sua força na porta (e dentro) de quarteis, na arrogância de generais golpistas, na tentativa terrorista de golpe, no incentivo de fundamentalismos religiosos, no genocídio Yanomami e no rastro de fome de um enorme contingente da população pobre deste país. Vivemos um transe infernal.

A vitória de Lula e a montagem de sua equipe de trabalho foi um alívio apesar dos pesares de um governo de ampla aliança. Não estamos mais em 2013, em 2016, em 2018. Os tempos podem e devem ser outros. A tarefa é imensa. Na educação, na saúde, na economia, na cultura. Não é tarefa unicamente de um governo, mas deverá envolver um setor considerável da sociedade civil brasileira que aposta em democracia com todos os seus limites institucionais. Não podemos ficar refém da caneta de ministro do STF (mesmo reconhecendo a importância histórica do ministro Alexandre de Moraes... Mas o pau que bate em Chico pode bater em Francisco!!!)

Existe neste Brasil uma tradição historiográfica que elaborou pesquisas importantes e reveladoras sobre o significado de 1964, o golpe e a ditadura que se seguiu até 1985. Mas tudo que foi pesquisado sobre a ditadura, prisões arbitrárias, exílios, tortura, desaparecimentos e sufocamento das instituições democráticas ainda precisa ser mais divulgado, estudado e incorporado pelas gerações contemporâneas. Não pode ser admissível que um jovem de 20 anos defenda intervenção militar sem saber nada sobre as consequências de 1964 só porque viu a gororoba ideológica de coisas como “brasil paralelo” (e bota paralelo nisto!) ou os delírios performáticos de Olavo de Carvalho e seu séquito. Isto não pode ser normalizado.

Como bem disse o filósofo Paulo Arantes: “O fato é que ainda não acusamos suficientemente o golpe de 1964”. Acrescentaríamos: não acusamos suficientemente todos os golpes deste país que teima em não ser democrático e baixar a cabeça para um bando de generais parasitas e bizarros na sua ignorância histórica. Temos comprovadamente as “acusações ao golpe de 64” para além do bom trabalho de uma série de historiadoras/historiadores. Temos um cinema que tematizou a ditadura desde 1965 até os dias atuais. Precisamos ver e divulgar estes filmes. Temos uma literatura que se engajou nas denúncias do golpe de 64 e da ditadura. Antonio Callado, Lygia Fagundes Teles, Caio Fernando Abreu, Hilda Hilst, Inácio de Loyola Brandão, Gregório Bezerra, Herbert Daniel, Cacaso, Renato Tapajós, Lélia Gonzalez e tantos escritos que ficaram como registro de tempos nefastos e que precisam ser recuperados.

A memória que está em filmes e livros, também é possível ser aprendida e apreendida na história de organizações da sociedade civil que resistiram aos ditadores: movimento de homossexuais, movimento de mulheres, movimento negro, as lutas camponesas, a teologia da libertação, a resistência dos comunistas. Não podemos esquecer!!!

*PROPONHO AO ATUAL MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS DO GOVERNO FEDERAL:*

- Liderar e promover uma campanha no mês de março de 2013 sobre 1964 e suas consequência na vida social brasileira até os dias atuais

- Incentivar e sugerir que escolas, universidades, sindicatos, movimentos sociais, youtubers, grupos em redes sociais façam do mês de março o mês da “Memória para uso diário”

- Exibição de filmes, leituras dramáticas, atos de rua, colagens, panfletagens de material sobre o golpe de 1964 e a ditadura que se seguiu

- Não aceitar em hipótese alguma a maldita “comemoração” nos quarteis ou fora dele de 31 de março de 1964. Não se comemora ditadura, tortura, exílios, desaparecimento de corpos. O Brasil que merece o nome e a grandeza precisa romper com esta coisa abjeta que celebrar esta data. Chega.

- O ministério dos direitos poderia convidar formalmente: Leandro Fortes (DCM), Cecília Coimbra (UFF- Grupo Tortura Nunca Mais-Rio); João Cezar de Castro Rocha (UERJ), Yeda Leal (MNU) e José Paulo Netto (UFRJ) para compor uma comissão estratégica para agilizar uma campanha nacional

- É preciso uma campanha nacional e coordenada em que acusemos os golpes de 1964 para cá. Que alimentemos a memória dos mais jovens com uma cultura democrática.

Atentemos enquanto é tempo. E o tempo clama. Já dizia um velho e atual sábio: “Eu digo a vocês, respondeu ele; se eles se calarem, as pedras clamarão”.

Romero Venâncio (UFS)

A origem do Estado capitalista é o crime organizado
PAULO ARANTES
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terça-feira, 24 de janeiro de 2023

CIVILIZAÇÃO VEM DE CIVIL * Rosa Freire d'Aguiar - SP

CIVILIZAÇÃO VEM DE CIVIL
Rosa Freire d'Aguiar - SP

- Militares, poder e ditaduras: longe da tentação!

Nos anos em que cobri a redemocratização da Espanha, desde a morte de Franco em 1975 até a eleição do socialista Felipe González, em 82, a questão militar era um tema onipresente. A ditadura de Franco durou 40 anos, as Forças Armadas -- especialmente o Exército -- estavam coalhadas de oficiais de alta patente, medularmente franquistas e de ultradireita. Os dois primeiros governos pós-Franco fizeram grandes reformas, votaram a nova Constituição, mas não conseguiram avançar no front militar. Resultado: em fevereiro de 1981 um alucinado tenente-coronel da Guardia Civil (este aí abaixo) invadiu o Parlamento, de arma em punho, tendo a seu lado 150 soldados, e pôs todos os parlamentares no chão, literalmente, exigindo, para soltar os reféns, que o Exército tomasse o poder.

Cheguei a Madri na manhã seguinte ao golpe e tremi ao conversar com um grupo de velhos exilados que, já de passaporte no bolso, e diante do Parlamento, temiam que os militares voltassem ao poder, obrigando-os a mais um exílio. O receio não era infundado: desde a morte de Franco tinha havido uma dúzia de estados de alerta e sedições potenciais nos quartéis, finalmente abafados.

Tudo isso mudou a partir de 1982, quando Felipe González foi eleito. Seu ministro da Defesa, o economista Narcis Serra, promoveu uma profunda reforma militar que, em poucos anos, afastou de vez a tentação golpista dos militares.

A ideia de González era formar um Exército mais moderno, mais reduzido e mais operacional. A reciclagem deu certo.

A reforma teve três eixos principais:

(1) enterrar de vez a noção de "inimigo interno", que identificava as correntes de esquerda em todos os seus matizes. Dentro da pátria não há inimigos; inimigos são os que estão más allá de la frontera, e podem ameaçar a pátria; sai o conceito de "inimigo interno", entra o de "defesa nacional". Eram essas as diretrizes.

(2) rever de alto abaixo o ensino militar. Multiplicaram-se os contatos entre alunos e professores militares e civis. Lançaram-se programas para levar professores universitários às academias e, inversamente, jovens cadetes às aulas de história e ciências sociais nas universidades. O currículo das academias, que era elaborado apenas por chefes do Estado-maior, passou a ser definido em acordo com o Ministério da Defesa. Simbolicamnte, aboliu-se a disciplina "Guerra civil: cruzada contra o comunismo".

(3) remover das chefias os militares franquistas. Este foi sem dúvida o eixo mais difícil e o mais caro da reforma, pois o governo teve de bancar, com polpudas indenizações, o afastamento de centenas de oficiais superiores. Sob Franco não havia reforma compulsória, e a Espanha tinha 1300 generais , número maior do que o de todos os exércitos da Europa ocidental. A reforma reduziu pela metade o total de generais, e diminuiu de 250 mil para 90 mil os efetivos do Exército. As promoções passaram a obedecer a critérios profissionais e não apenas de antiguidade.

A reforma ainda incluiu mudanças profundas na Justiça Militar, na disciplina dos quarteis etc.

A reciclagem deu certo. Muito hábil e prudente, Felipe González neutralizou o antagonismo de um Exército que ainda era dado a espasmos golpistas.

Gonzalez era desses que afirmavam, com razão, que com militares ou se manda ou se obedece. (sub-texto: nada de contemporização).

E lembro de um grande intelectual espanhol que repetia à exaustão: Civilização vem de civil.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

Novos tempos para o sindicalismo brasileiro * Carlos Santana - RJ

Novos tempos para o sindicalismo brasileiro
Carlos Santana - RJ
Rio de Janeiro, 23 de janeiro de 2023


Ouvimos neste último dia 18 a proposta do presidente Lula sobre uma nova estrutura sindical. Em reunião com a presença do ministro do Trabalho e representantes sindicalistas, nosso presidente prometeu mudanças na economia e no Imposto de Renda, além de receber demandas de setores sindicais sobre o salário mínimo. Tendo parte de minha vida dedicada à luta sindical, posso afirmar que recebi com muita esperança esses sinais de que estamos diante de novos tempos para os sindicatos de nosso país.

O período entre 2013 e 2022 é de suma importância para entendermos a necessidade de estarmos atentos às propostas de reestruturação no mundo do trabalho e seus movimentos de defesa aos direitos trabalhistas adquiridos ao longo de décadas de lutas dos trabalhadores organizados. Dentro desta década, passamos por um processo de intensos ataques ao Estado nacional através da criminalização da política e dos partidos de esquerda. Através das fissuras causadas no tecido social nestes tempos, passamos a conviver com a ascensão da extrema-direita e suas investidas sobre as pautas sociais. Destaco neste processo o evidente conluio entre grandes corporações empresariais e a grande mídia nacional, reunidas para fortalecer a Operação Lava Jato, o impeachment da presidente Dilma Rousseff e as propostas reformistas, que destruíram os alicerces sindicais de nosso país.

É importante falarmos o quanto a vitória de Jair Bolsonaro em 2018 é produto direto e final de toda a caminhada de desestabilização social e política nessa década arrasadora para a nossa história. Entretanto, passados os episódios de embate de narrativas, derrotamos Bolsonaro nas urnas, mas a ideia ainda continua viva. É de suma importância, com isso, sabermos guiar os rumos deste novo e promissor momento para nossos sindicatos.

Façamos um exercício estratégico ancorado nesta nossa nova realidade mundial. Assim como o mundo do trabalho exige que façamos a constante autocrítica sobre nossos posicionamentos, o movimento sindical precisa estar atento aos avanços de outros movimentos sociais e apostar em um amplo diálogo. Não podemos ignorar, por exemplo, avanços nas pautas dos movimentos negros, femininos, de juventude, de gênero e outros mais. Além disso, é urgente estarmos atentos às novas tecnologias de comunicação e interação; o mundo digital já é mais do que uma realidade em nossos dias. Como vamos nos posicionar diante deste fato social, o qual nossas vidas passam também pelos aplicativos de celulares?

Com o avançar dessas novas ideias intimamente ligadas às realidades digitais, avançou sobre o corpo social os discursos do empreendedorismo que abraçaram a realidade de muitos trabalhadores e trabalhadoras que se viram desamparadas diante do desmonte causado pelas reformas neoliberais. A ideia de que o Estado e os movimentos organizados em nada contribuíram ou contribuem para manutenção de direitos e do bem-estar foi amplamente vendida para a grande massa de compatriotas que se lançaram às incertezas de trabalhos que antes deveriam ser paliativos, mas se tornaram rotineiros, passando a ser o único sustento de famílias.

O estrago causado pela ideologia do “faça você mesmo” nos levou à “uberização” do trabalho. Quantos jovens sequer conhecem os benefícios dados pela legislação trabalhista e que repetem discursos negativos sobre o Fundo de Garantia e a previdência?

Estejamos alertas para nossa nova realidade! É necessário não perdermos o bonde da História! Avançamos alguns passos quando, por exemplo, voltamos a ter um Ministério do Trabalho, instituição histórica nesta luta dos trabalhadores. Agora, não podemos deixar de ampliar nossas frentes junto aos movimentos que estão, passo a passo, fazendo avanços e recuos, ganhando e cedendo espaços para contar vitórias expressivas nesta conjuntura que se desenha sobre esperanças para os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil.

Vamos juntos e juntas, companheiros e companheiras, caminhar sobre as estradas desses novos tempos para o sindicalismo brasileiro!

Carlos Santana

Ex-deputado federal por cinco mandatos pelo PT-RJ; Presidente do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil; Presidente estadual da CUT-RJ; Professor universitário; Doutor em História pela UFRJ e Bacharel em Direito.
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domingo, 22 de janeiro de 2023

USTRINHA: NEPOTISMO DE PORÃO * Leandro Fortes/FSP

USTRINHA: NEPOTISMO DE PORÃO
Marcelo Ustra 
é tenente-coronel do Exército e está curtindo a vida, em Orlando, Flórida, ao lado do chefe e ídolo fascista Jair Messias Bolsonaro.


Foi incluído na lista de 28 servidores da corte de inúteis que Bolsonaro levou para os Estados Unidos quando fugiu, antes de concluir o mandato de presidente. O militar é primo de segundo grau do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, único torturador condenado da ditadura militar, que chefiava o Doi-Codi, em São Paulo, centro de tortura onde mulheres eram estupradas e tinha ratos enfiados na vagina pelo próprio.

Pois bem, via redes sociais, Ustrinha desejou que o primo ressuscitasse para, após uma noite de conversa com Alexandre de Moraes, no Doi-Codi, fazer o ministro do STF voltar às fraldas.

O que se tem registrado é um oficial superior do Exército Brasileiro fazendo apologia a tortura com base no conhecimento existente sobre as sevícias praticadas pelo primo famoso, o coronel Brilhante Ustra, com presos políticos pendurados em paus-de-arara.

Ustrinha deve ter ouvido, nos animados almoços dominicais da família, que a sequência de eletrochoques, pancadas com pedaços de ferro e introdução de fios e cabos no ânus, na vagina e na uretra provocam, ao cabo das sessões de tortura, perda das funções da bexiga e do esfíncter dos torturados.

É sobre isso que essa besta-fera, de férias em Orlando, bancado por dinheiro público, está fazendo piada, ao lado de um delinquente moral, genocida, foragido da nação.

Por isso, repito: se não tratarmos da questão militar, agora, da próxima vez que tiver uma chance, um outro Ustra estará de volta aos porões, pronto para honrar o legado assassino da família.
CAGÃO

CONHECEM?