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sábado, 15 de abril de 2023

MÍDIA EMPRESARIAL(OU IMPRENSA MARROM?) TEM LADO: SEPULTEM-SE AS ILUSÕES, URGENTE * Emiliano José/Patria Latina

MÍDIA EMPRESARIAL(OU IMPRENSA MARROM?) TEM LADO: SEPULTEM-SE AS ILUSÕES, URGENTE

100 dias é pouco para expressar a cara de um governo. É inegável, no entanto, o muito já feito. Como inegável é a má vontade da mídia empresarial com o novo governo

Não, à mídia não importa as mudanças realizadas pelo governo Lula nesses primeiros 100 dias, e uso o número apenas para seguir a mania. É óbvio: 100 dias é nada, muito pouco para expressar a cara de um governo. Inegável, no entanto, o muito feito. Como inegável a má vontade da mídia empresarial com o novo governo, atitude a revelar continuidade, mesmo procedimento ao longo da história. Tal mídia nunca, nunca teve boa vontade com projetos reformistas, sejam eles de qualquer dimensão ou profundidade. E quando as classes dominantes, da qual ela faz parte, se incomodam, parte para o golpe, sem qualquer constrangimento. É protagonista dos golpes, sem exceção, seja, só para citar alguns, o de 1954, ou o de 1964, ou o de 2016. E nunca apenas prestando continência: participando sempre de corpo e alma.

Houve um ou outro momento, face ao desenvolvimento do governo anterior, de natureza fascista, quando uma ou outra rede concedeu alguma coisa, e passou a atacar, por exemplo, o negacionismo assassino do presidente da República. Nunca, no entanto, deixou de apoiar entusiasticamente a política econômica vigente – afinal sobrevive de tal política. O rentismo é a sobrevivência dela, como de toda a classe dominante brasileira. Nós nunca tivemos uma burguesia nacional, uma classe dominante com os predicados das tradicionais burguesias, capazes de operar transformações significativas na vida dos povos. Hoje, em vez de produzir, preferem deixar o dinheiro rendendo, e a indústria segue esfacelada.

É esse apoio à política neoliberal, desse credo a mídia jamais se afasta, a explicar o combate sem trégua feito ao governo Lula nesses primeiros 100 dias. Não, não importa tenha Lula reiniciado uma nova política de combate à fome, reinstalado o Conselho de Segurança Alimentar, aumentado o salário mínimo, promovido isenção do IR, retomado o “Minha Casa, Minha Vida”, reajustado bolsa de estudos, garantido a proteção ao Yanomamis, suspendido várias privatizações, ter colocado em pé novamente a política de direitos humanos, estar novamente no centro das grandes questões mundiais, não importa tenha aumentado em mais de R$ 110 bilhões os recursos para as políticas públicas da área social, enfraquecidas durante as duas gestões anteriores ou tenha ressuscitado o programa Mais Médicos.

Nada disso importa.

A mídia subestima tudo isso, dando tais iniciativas apenas como volta ao passado. Como se recuperar um país devastado por uma política deliberada de destruição não fosse uma tarefa essencial. Políticas sociais não importam para tal mídia. Logo no início do governo anterior, e face ao dito pelo então presidente sobre a principal tarefa dele, destruir, eu dizia da necessidade de pensarmos, acompanharmos a política de destruição porque isso nos daria a dimensão do nosso desafio quando ganhássemos as eleições, como ganhamos. Não seria simples recuperar um país vítima de tanta destruição, não está sendo simples, como estamos vendo. A mídia empresarial não vê isso. Melhor, não quer ver. Os olhos, sempre voltados para o mundo financeiro, para a garantia de pagamento dos juros dos acionistas, mundo do qual faz parte.

Não olha, não quer olhar para a taxa de juros mais alta do mundo praticada pelo presidente do Banco Central. Lula, arguto, compreendeu: tal taxa de juros estrangula o desenvolvimento do país, impede o crescimento econômico, sufoca os empreendimentos, cria obstáculos intransponíveis aos negócios, estimula desemprego, aumenta a miséria e a fome. Necessário, mas não é simples, uma ampla mobilização popular exigindo juros mais decentes. Sentimento contrário à existência de tais juros, existe, e majoritário. Ir às ruas contra eles, outro papo.

Articulistas os mais variados dedicam-se à miudeza de uma crítica fútil a Lula, às intrigas. E à defesa do rentismo, do neoliberalismo mais radical, e por isso segue apoiando a política de juros, absurda. Não, a mim não surpreende. Seguirão nesse combate, nessa linha. Espera-se do governo Lula o fortalecimento de mídias capazes de praticar jornalismo, de caminhar em busca da verdade, utopia desdenhada pelos homens de negócio da grande mídia, hoje adotando uma política feroz de demissões de antigos jornalistas e à procura de novos repórteres e apresentadores, dispostos a suportar salários equivalentes a um terço, um quarto dos mandados pro olho da rua, a suportar a exploração de uma mais-valia mais feroz, na linha do dito recentemente pelo ator e autor Pedro Cardoso.

Lula sabe das dificuldades da conjuntura, marcada por um quadro internacional complexo, derivado, entre tantos aspectos, da guerra por procuração da Ucrânia. A ida à China pode ser um momento rico, a indicar novas alianças, a intensificar a existência de um mundo multipolarizado, não submetido mais à hegemonia americana. O desafio nacional será o crescimento, nada simples face ao já dito, aos juros estratosféricos. Essencial combater a fome, e Lula nunca abandonou esse objetivo, mas terá de ir além, e ele sabe disso.

Consciência ele tem: em nenhum momento terá a mídia empresarial do lado dele. Ela pode em raros momentos fazer algum movimento favorável, no secundário. Nas questões centrais, aquelas voltadas ao benefício do povo brasileiro, especialmente dos mais pobres, ela sempre se colocará visceralmente contra. Por isso, fortalecer as mídias voltadas ao jornalismo de modo a enfrentar as fake news vindas de tantos lados, inclusive da grande mídia. Refutar, por necessário, as calúnias diárias pretendendo qualquer movimento do governo no sentido de limitar a liberdade de expressão, sempre defendida pelo presidente. Insistir sempre: adeus às ilusões – a grande mídia tem lado, e é sempre o do capital, do grande capital monopolista rentista. As ilusões, nesse caso, são pecado mortal, a fazer arder no fogo do inferno, para os crentes. Para os não-crentes, erro crasso, a nos levar a desastres de bom tamanho.

*Emiliano José
 é jornalista e escritor, autor de Lamarca: O Capitão da Guerrilha com Oldack de Miranda, Carlos Marighella: O Inimigo Número Um da Ditadura Militar, Waldir Pires – Biografia (2 volumes), entre outros.

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