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sexta-feira, 9 de junho de 2023

MILITÂNCIA É COISA SÉRIA! * Wander Florencio.SP

MILITÂNCIA É COISA SÉRIA!
Wander Florencio.SP

"Ainnn, quer dizer que vocês não estão abertos ao diálogo com as pessoas?"

"Ainnn, quer dizer que vocês enquanto movimento social só aceitam quem concorda com vocês?"

Foi isso que você leu!!
Com certeza!!
É assim mesmo!!!

É como a política de inbox no Facebook, de seguir/trocar ideias nas redes sociais ou de falar no WhatsApp, só vem pra trocar figurinha e dar ideia com a gente quem é chegado.

Ninguém chega numa roda de samba, cata um instrumento e inventa de puxar um pagode, partido alto ou seja o estilo de samba que for, só porque o sujeito diz que sabe cantar ou tocar.

Ninguém chega num círculo de militância e se mete a debater daquilo que não tem conhecimento de causa e muito menos vai carregar bandeira ou faixa, puxar um grito de ordem ou usar do microfone do carro de som num ato ou passeata só porque diz que tem n anos de correria na luta ou porque ocupou cargo disso ou daquilo.

Então...

Se não sabemos e reconhecemos quem é que está querendo dar ideia com a gente, não tem opinião. Vai baixar em outro terreiro. Ou vai morrer pra lá. Ou vai pra casa do chapéu ou vai caçar o que fazer.

"Ahhh, mas vocês acham ruim trocar?"

Trocar é com quem tem ideia séria pra trocar sem ficar de enrolação nem com piadinha besta fora de hora.

Na maioria das vezes as pessoas não têm nada e vem propor trocar.

Você quer vir trocar uma nota de 50 reais por duas de dois? A galera vem com 50 centavos de ideia quando você tem mais de 100, 200 ou de 1000 reais pra cima e quer tomar seu tempo, quer fazer aposta? Aqui ninguém é besta, xará!

Tudo bem. Entendemos. Esse povo não tem noção mesmo. Mas a gente tem....

Essa galera parece aquele sujeito bêbado que chega uma hora ele vai no meio da roda de samba e diz que não gostou do samba e que era pra cantar outro. Samba bom pra danar, geral se divertindo e me vem um fia-da-puta todo atravessado berrando: "toca Anitta!"

A galera quer meter opinião onde não é ambientado, quer vir atravessando conversa séria pra caramba e acha o quê? Acha que vai ser bem recebido? Vai pro quinto dos infernos!

Se você entra numa academia de capoeira, mete a mão no atabaque, no berimbau ou no pandeiro, mesmo sai berrando na hora de cantar lá ou mesmo já sai se enfiando na roda sem pedir licença pro mestre ou pra quem for o responsável ali, e pensando que é o bamba da capoeira, perguntando pra Deus e o mundo quem vai te enfrentar, ou é uma ou é outra:

1) a galera acaba com o seu showzinho, tira você de lá no tapa, fora a "comida de rabo" que você vai levar, e não te deixa jogar, ou pior

2) alguém invocado com a tua patifaria vai entrar na roda e te descer a porrada sem dó nem piedade no meio dos teus cornos, te dizendo "cê nunca mais volta aqui porque depois da palhaçada que tu fez envergonhando a capoeira, e se tu voltar a surra vai ser pior" que é pra tu aprender a chegar sem pagar de malandrão e no respeito, pra que tu nunca mais, e nem ninguém que for lá e saiba o que acontece ali, invente de querer se achar o maioral e meter mais esse louco querendo cantar de galo por lá.

Pique é esse.

Por muito tempo, as discussões sérias bem como a luta social, desandam e atrasam porque são abertas a qualquer dito cujo, porque a coisa é pique "microfone aberto", chega qualquer um atravessando o samba e falando coisa que não tem nada que ver com a discussão...Aí já viu, né? Vira baderna!

No Maio de 68 na França, quando os caras ocuparam as universidades, incluindo a Sorbonne, os debates que eles faziam lá dentro eram sobre coisa séria, debater coisa pra fazer acontecer de verdade, não ficar com teoria fajuta mas sim colocar a mão na massa!

E qualquer um que subisse lá no meio deles pra falar do passado, encher linguiça, puxar palavrinha de ordem ou falar asneira era tirado do palco pra fora na porrada, porque os caras não estavam ali pra brincar!

A coisa mais importante pra luta social avançar é acabar com a bagunça.

É banir, parar e inibir quem não tem proceder, quem gosta de pensar que é mais bonitinho do que os outros, pois é por essas e outras que muito movimento sério se perde e fica com má fama na luta!

Quem só atrasa ou gosta de chegar cantando de galo querendo se aparecer não adianta pra nada.

Não tem que andar junto, se não vem pra somar ou vem se achando é favor cair fora! E se o maluco começar com "ai eu vou sair fora, não vou mais participar", a porta da rua é a serventia da casa, pois não é perda, é se livrar de peso morto!

Quer dialogar?
Conquiste o direito ao diálogo.
Quer participar?

Conquiste seu lugar à mesa e saiba ouvir (e principalmente aprender com) quem tá no corre bem antes de você chegar.

Quer falar?

Primeiro temos que saber quem é, de onde veio e se tem garrafinha pra vender mesmo ou se vem achando que aqui é brincadeirinha, ou como diz o Jorge Aragão "por isso, vê lá onde pisa, respeite a camisa que a gente suou/e quando pisar no terreiro procure primeiro saber quem eu sou, respeite quem pôde chegar onde a gente chegou".

Isso aqui é um filtro.

Quando a roda de samba garante que só pega o instrumento quem saiba tocar (e quem vai tocar pro povão curtir, não pra se aparecer), tá garantido a felicidade de todo mundo ali porque tá garantindo também um samba em alto nível.

E quem não sabe?

Não tem problema, vem pra aprender, só não vai tocar. Curte o samba de boa e sem dizer asneira, aproveitando que ele foi mantido em alto nível, bonito e divertido, por aqueles que tiveram o bom senso de não deixar você tocar.

O mesmo serve para os diálogos.

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