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sábado, 2 de setembro de 2023

A crise atual e as tarefas da esquerda revolucionária * Alejandro Acosta - SP

A crise atual e as tarefas da esquerda revolucionária
Alejandro Acosta - SP

A crise atual é a maior crise mundial de todos os tempos, que é continuidade da crise de 2008 que ainda não se fechou, com volumes obscenos de capitais fictícios que não encontram lugar na produção.

O impacto é mundial. A China também está sendo engolfada na crise, com bolhas financeiras enormes além das contradições capitalistas ficando cada vez mais tensionadas, como por exemplo o aumento da automatização da economia, o desemprego entre a juventude ou o retorno de uma boa parte dos trabalhadores ao campo.

A maior potência mundial, o imperialismo norte-americano, se debate para manter a sua hegemonia. Enquanto enfrenta problemas em todos os lugares, busca fortalecer-se apertando com crescente virulência o seu quintal traseiro, a América Latina.

As recentes eleições presidenciais no Equador e na Guatemala mostram que o imperialismo não está para brincadeiras e que a “democracia” não passa de uma brutal ditadura com uma maquiagem de “democracia” que a cada dia fica mais leve.

Devemos reforçar que a estabilidade do Brasil se relaciona com as taxas ultra usurárias pagas aos capitais ultra especulativos, que, inflação descontada, somam 10%. 

O paraíso do rentismo aprova todo tipo de leis para favorecer o saque financeiro parasitário do Brasil, como o Arcabouço Fiscal ou a Reforma Tributária. 

No que realmente importa, que é a política econômica, podemos até dizer que este governo é um governo FHC 3.0, o mais reacionário e entreguista desde o governo FHC.

Independentemente das boas intenções de Lula, o que temos é que de conjunto é o governo da “frente amplíssima”, que inclui até setores do que era o Bolsonarismo, com a direita dando as cartas, controlado integralmente pelo governo Biden.

A situação do povo brasileiro é muito grave hoje. Tudo está caríssimo e o salário raquítico. O subemprego e o desemprego atingem volumes assustadores.

A burguesia imperialista aposta na guerra, nas ditaduras e no fascismo como saída à sua crise. 

Os trabalhadores e os povos estão entrando em movimento rumo a grandes revoltas e revoluções.

Na Europa, a brutal escalada da crise provocada pela guerra na Ucrânia tem levado às maiores greves e protestas em 40 anos.

Na América Latina, as enormes manifestações populares no Peru que estouraram em dezembro de 2022 não somente não se fecharam, mas estão se articulando a partir de 700 organizações em contra do governo genocida encabeçado por Dina Boluarte, e voltando com força.

Na África Ocidental e Central têm surgido governos nacionalistas e anti-neocolonialistas a partir da média e baixa oficialidade dos exércitos treinados e financiados pelo próprio imperialismo para proteger seus interesses, com amplo apoio popular.

A “esquerda” e a esquerda hoje

A “esquerda” institucional encontra-se num estado lastimável. Tão integrada aos esquemas impostos pelo imperialismo que fica até difícil diferenciá-la da direita.

As principais direções sindicais e dos movimentos sociais fazem parte desse esquema e quase não têm base de massas.

Os mecanismos de contenção social, que junto com a ditadura do capital e do estado burguês, fazem parte da proteção da atual ordem de coisas e estão muito fracos. Estão ficando cada vez mais frente a frente os trabalhadores e os povos oprimidos de um lado e a burguesia mundial.

Os grupos de esquerda atuais no geral são muito pequenos, sem inserção no movimento de massas. Até porque apesar das 558 greves que  segundo o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) aconteceram no primeiro semestre deste ano, o movimento operário tem sido controlado ainda pelos mecanismos oficiais e sem impacto importante na sociedade.

Além de pequenos, no Brasil, a esquerda no geral está muito contaminada com a paralisia e a acomodação pelos 40 anos do chamado “neoliberalismo” e porque ainda não é uma esquerda revolucionária de trabalhadores.

As definições serão colocadas de maneira clara na luta efetiva no ascenso de massas em primeiro lugar, que é quando a margem para a enrolação acaba ficando muito reduzida.

Muito se fala da crise da esquerda e pouco se fala da maior crise do sistema capitalista mundial no seu conjunto.

A capitulação à propaganda burguesa, que tem se transformado abertamente em parte das PsyOps, as operações psicológicas de guerra, é gigantesca.

Este é o momento mais favorável para a luta em contra do capital em escala mundial devido à debilidade estrutural do capitalismo, o que não implica em que esteja menos agressivo, muito pelo contrário.

As tarefas e os desafios da esquerda revolucionária

É preciso marcar um caminho no sentido de deslindar os campos com os inimigos dos trabalhadores e do povo brasileiro que agem como agentes do imperialismo.

Essa visão precisa ainda materializar-se na luta política concreta em contra dos seus inimigos e a favor do campo de luta e revolucionário.

Algumas atividades em oposições sindicais são positivas, mas evidentemente insuficientes considerando os altíssimos níveis de corrupção generalizada das direções sindicais que têm transformado os sindicatos em cartórios corruptos, muito parecido ao que havia na Ditadura.

Obviamente essa situação pode mudar rapidamente numa situação de ascenso, que conforme a crise continua desenvolvendo-se passa a ficar à ordem do dia. Isso vimos, por exemplo, no Equador e no Chile em 2019, na França em várias ocasiões, e agora no Peru ou na África Ocidental e Central.

Como exercício político vale perguntar-nos o que nós faríamos nessas situações recentes e atuais? Até porque um revolucionário tem o dever de ser um internacionalista.

É preciso reforçar a propaganda e a agitação política, principalmente em contra do massacre que está sendo imposto.

E principalmente é preciso aglutinar um grupo de lutadores sociais e revolucionários que aspirem a converter-se num fator de direção política no próximo período de ascenso, construindo-se a partir de hoje.

Com esta perspectiva é que chamamos os lutadores sociais e revolucionários a fortalecermos este polo com os métodos de luta real. Com discussões, mas sem diletância. Com convicções mas sem dogmatismo, por exemplo, ficar repetindo as receitas de bolo do passado sem uma profunda análise da realidade.

Sem oportunismo nem sectarismo. Buscando em primeiro lugar as convergências para poder avançar e ir discutindo as principais divergências para aumentar a coesão.

Essa é a tarefa que os trabalhadores e o povo brasileiro nos impõem, porque precisam de políticas para a ação concreta hoje. E é isso o que nós precisamos entregar com energia e na prática. E o reforçamos considerando que recentemente foi o Dia do Preso Político e do Desaparecido em vários países da América Latina, em homenagem aos mártires que caíram na luta em contra da opressão.
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