O assassinato do presidente do Haiti e a América Latina
No país mais pobre da América e um dos mais pobres do mundo, Moise já tinha o mandato terminado, mas não tinha saído do governo.
Ele contou com o apoio de Trump e posteriormente de Biden.
O problema é a brutal desestabilização do Haiti que já dura vários anos. Nos últimos meses, as mobilizações pela saída de Moise tinham recrudescido.
Fora a história policial, o mais importante é entendermos o contexto político em que esse assassinato aconteceu e a serviço de quem aconteceu.
Enquanto Moise foi assassinado, os imperialismos norte-americano e inglês se vêm obrigados a retirar as tropas do Afeganistão, apesar de que buscam deixar tropas especiais para controlar o tráfico do ópio (componente básico da heroína) como um dos mecanismos para sustentar as operações militares e policiais com verbas ilegais.
A isso se lhe soma a pressão que sofrem no Iraque, na Síria e no Iêmen; O imperialismo precisa se fortalecer para ir à guerra.
O imperialismo sofre recorrentes crises por causa do aprofundamento da crise capitalista mundial que é a maior de toda a história.
A economia mundial se encontra em recessão há um ano e meio e ainda há o problema dos volumes obscenos de capitais fictícios/ especulativos que se transformaram em componentes fundamentais da taxa media mundial de lucros.
Toda crise capitalista tem como objetivo queimar os “excessos”, principalmente o capital fictício, para dessa maneira retomar a produção de mercadorias em ritmo ainda superior ao que foi antes. Esta é uma das leis principais do capital, sua reprodução ampliada.
Todas as leis do capitalismo se encontram tensionadas como nunca antes, e piorando.
O controle da crise por meio da “pandemia” faz parte da política para conter a crise que tem fortes componentes militares. Mas ela funciona mais como uma máscara, uma maquiagem.
A verdadeira saída para crise, por parte das potências capitalistas, passa por uma grande guerra que consiga “corrigir os desarranjos”, queimar forças produtivas e redividir o mercado mundial.
Para ir à guerra o imperialismo norte-americano precisa fortalecer-se onde é mais forte, a América Latina.
Somente com a “pax norte-americana” na região é possível tentar derrotar ou neutralizar as demais potências, principalmente a China aliada da Rússia, e manter e (ainda) aumentar o controle do mercado mundial.
O assassinato de Jovenel Moise acontecesse justamente nesse contexto, dos estados de sítio crescentes na região, na militarização dos estados, da entrega total dos recursos nacionais para as grandes empresas, a troco de nada, do rebaixamento das condições de vida das massas, da aprovação de leis ultra repressivas, do rápido fortalecimento da direita, o enfraquecimento da “esquerda” oficial e o chamado “progressismo” com a sua incorporação ao Grupo de Puebla. Esses são todos componentes da estabilização do quintal traseiro do imperialismo norte-americano em preparação para a guerra.
As tarefas colocadas para os revolucionários
Se bem o imperialismo e a burguesia escalaram a agressividade, os mecanismos de contenção têm se fragilizado.
O principal mecanismo de controle dos trabalhadores é a ditadura do capital nas empresas.
O segundo mecanismo são as burocracias oportunistas e mafiosas dos sindicatos, dos partidos da “esquerda oficial” e dos movimentos sociais. Eles quase não têm militantes na base mais, principalmente no movimento operário.
Isso é uma fraqueza do movimento de trabalhadores? Sim, mas ao mesmo tempo é uma fraqueza ainda pior da burguesia porque os trabalhadores devem ser controlados na ponta das baionetas e com o fascismo e as ditaduras militares.
Há uma avenida aberta para a revolução, o que não significa que a avenida esteja sem buracos e pedras no caminho.
A avenida está aberta porque quando um conjunto de revolucionários sérios, com muita clareza política e flexibilidade tática agem, alinhados com o estado de espírito das massas, podem conseguir resultados que seriam impensáveis há 30 anos. Exemplos, as duas greves dos Correios contra Bolsonaro, o levante no Chile ou até ir na porta de uma fábrica. Nos anos de 1980, nas portas das fábricas havia vários grupos políticos distribuindo materiais, e a maioria deles com militantes na base. Hoje praticamente todos desapareceram.
Os revolucionários temos o dever histórico de abandonarmos os “ismos” e o culto às grandes personalidades do passado. Nós temos o dever sim de tomar as experiências do passado para colocarmos em pé políticas que nos permitam organizar a lutas dos trabalhadores e das massas.
Devemos levantar as bandeiras de luta que representam a saída dos trabalhadores para a crise. E em torno delas desenvolver a política para as massas e agrupar os revolucionários.
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho