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segunda-feira, 5 de setembro de 2022

GRITO DOS EXCLUÍDOS ÀS RUAS 7 DE SETEMBRO 200 ANOS DA INDEPENDÊNCIA * BRASIL DE FATO / MST

GRITO DOS EXCLUÍDOS ÀS RUAS
7 DE SETEMBRO 200 ANOS DA INDEPENDÊNCIA


No próximo 7 de setembro se completam 200 anos da proclamação formal da Independência do Brasil, às margens do rio Ipiranga. Dois séculos depois, o dia parece condensar a tensão política no país às vésperas de um pleito atípico. A comemoração conta com a chegada do coração de Dom Pedro I, trazido de Portugal e exposto em Brasília; ato de tom golpista convocado por Bolsonaro no Rio de Janeiro; e manifestações de movimentos populares pelo Brasil.

Engrossando o caldo, a data é marcada pela 28ª edição dos atos do Grito dos Excluídos e das Excluídas, sob o eixo "Brasil: 200 anos de (In)dependência. Para quem?".

O objetivo é reverberar a voz dos que não foram incorporados a esse Brasil considerado independente. Com o tema permanente "Vida em primeiro lugar", o Grito tem marchas previstas em todo o país (confira a lista ao final desta matéria).

Desde 1995, a manifestação faz do 7 de setembro uma data de luta, exatamente pelo avesso do orgulho nacionalista que a versão militar e institucional busca emplacar. A ideia de fazer um contraponto ao "Grito do Ipiranga" surgiu há 28 anos durante 2ª Semana Social Brasileira, evento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), cujo lema era "a fraternidade e os excluídos".

Momento crítico

"É simbólico que a gente esteja realizando o Grito no momento mais grave que o país vive desde a sua redemocratização. Questionar e refletir sobre as bases fundantes da nação brasileira tem muito a ver com o que a gente está vivendo", avalia Ângela Guimarães, presidenta da União de Negras e Negros pela Igualdade – UNEGRO e integrante da Coalizão Negra por Direitos.


Em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (1), Ângela afirmou que "a luta por liberdade e por independência nunca se completou. A construção da nossa soberania é um projeto em disputa na sociedade".

Para Dom José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sócio Transformadora da CNBB, o bicentenário da Independência faz refletir sobre "a situação que estamos enfrentando".

"Estou pensando na situação dos povos negros, dos quilombolas, dos que estão na periferia e que ao longo da nossa história foram sempre deixados de lado", diz. "Por outro lado eu vejo o Grito dos Excluídos como um momento importante de retomarmos nossos compromissos, sobretudo com a justiça e os direitos."

"Hoje o nosso grito não vem de alguém montado num cavalo às margens do rio", atesta o bispo maranhense. "O nosso grito é também o grito do rio que está sendo aterrado e envenenado, é o grito das florestas sendo derrubadas e de tantos irmãos e irmãs que lutam por vida com dignidade."

"O nosso grito vem do nosso coração. Que está no nosso corpo. E não, com todo o respeito, de um coração que vai passando de mão em mão", completa Dom José.

"Que esse grito ecoe"

Márcia Mura, do povo Mura, de Baixo Madeira (RO) e integrante do grupo Wayrakuna, formado por mulheres indígenas, também participou da coletiva. "Nós lutamos para continuarmos livres e independentes desde a chegada das caravelas", recordou.

A indígena Mura mencionou dois projetos de empreendimentos que estão, nesse momento, ameaçando o território das comunidades tradicionais em Rondônia: o de uma hidrelétrica binacional entre Brasil e Bolívia no rio Mamoré e a hidrelétrica de Tabajara, prevista para barrar o rio Machado.

"Todos que estão nesse ato podem tomar conhecimento do que está acontecendo e lutar junto contra esses projetos que são ditos desenvolvimentistas, mas que só nos trazem morte", defende Márcia. "Porque independente de esquerda ou direita, enquanto houver a política neoliberal como prioridade, nós - povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, de periferia - vamos ser o alvo", afirma.

"A gente quer que esse grito ecoe pelo mundo inteiro. Não porque a gente não sabe lutar ou defender nosso território. A gente faz isso há 522 anos", salienta a Márcia Mura: "Mas essa luta precisa ser do mundo inteiro porque ao defender nossos territórios, defende-se a vida do planeta".

Confira a lista preliminar de atos no 7 de setembro:

Boa Vista (RR) às 15h na Igreja São Raimundo Nonato.

Fortaleza (CE), às 9h no Terminal da Lagoa, no bairro de Parangaba.

Maceió (AL), às 8h, Vergel/Lagoas, próximo à Igreja Virgem dos Pobres.

Teresina (PI), às 9h, embaixo da ponte Frei Serafim.

Belo Horizonte (MG) às 9h na praça Vaz de Melo.

Montes Claros (MG), às 8h30, na praça do bairro Maracanã.

Rio de Janeiro (RJ), às 15h, grupo Brilho do Samba no bar Pingo de Ouro, na Cinelândia.

Nova Friburgo (RJ), às 15h na praça do Paissandu.

São Paulo (SP), às 9h, na Praça da Sé.

Itupeva (SP), às 9h na Paróquia São Sebastião.

Piracicaba (SP), às 8h na praça José Bonifácio.

Vitória (ES), às 8h, na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), campus de Goiabeiras.

Porto Alegre (RS), às 9h, na frente da Igreja São José do Murialdo, no bairro Partenon.
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CARTA DO MST AO POVO BRASILEIROS

Neste 7 de Setembro de 2022, completam-se 200 anos da Independência política do Brasil em relação à Portugal. 

Nosso país jamais conquistou plenamente sua Soberania Nacional e Popular. 

Desde a chegada da colonização europeia, em 1500, o modelo de desenvolvimento econômico foi feito à custa de quatro séculos de escravização. Foi estruturado para atender os interesses externos e para a promoção da desigualdade social, desde a sua origem.

Uma economia forte no cenário internacional, que gera a pobreza do seu povo e destruição ambiental em seu território.

Um país privilegiado por suas riquezas naturais extraordinárias e um povo valoroso, dirigido por uma elite, ainda hoje, antinacional, antissocial e antidemocrática. Uma elite que se contenta em ser o capitão do mato do capital internacional, para assegurar o saque das riquezas do nosso país.

Para assegurar a existência desse modelo, as classes dominantes não hesitaram em recorrer, sucessivas vezes, a golpes de Estado, ditaduras e a institucionalização da violência contra o povo brasileiro.

O resultado desse modelo é o país que temos hoje: totalmente servil aos interesses do capital internacional, com uma economia situada entre as maiores do planeta, às custas da exploração do nosso povo, de nossas terras e riquezas naturais. Um modelo econômico que promove e se alimenta da gigantesca desigualdade econômica e social existente em nosso país.

A burguesia jamais se dispôs a construir uma Nação. Quando os povos indígenas, negros e pobres, em geral, ousaram lutar pela Liberdade e Igualdade, foram vilmente reprimidos em seu próprio país. 

A perpetuação de verdadeiras mazelas estruturais, como a concentração de terras, da riqueza e renda, servem tanto para aumentar a desigualdade social quanto para as classes dominantes exercerem seu domínio sobre as classes subalternas. Cercaram tudo: a educação, o conhecimento, a cultura, a comunicação e a informação, como se fossem privilégios exclusivos das classes dominantes. 

Não! O Brasil é dos brasileiros e das brasileiras e não de suas elites. Essa terra tem dono, já gritava Sepé Tiarajú!

Chegamos a uma situação de subordinação extrema aos interesses internacionais. Temos um Presidente da República que, sob a conivência dos militares que se enriquecem em seu governo, batem continência à bandeira dos Estados Unidos para manifestar o quanto é servil ao império. Nossa bandeira jamais será a dos EUA!

Um presidente que hipocritamente usa a bandeira nacional nos ombros; promove negociatas das nossas riquezas naturais e de empresas estatais em benefício ao capital internacional; servil às corporações transnacionais das sementes transgênicas, dos agrotóxicos e da mineração, e incentiva a violência contra os territórios dos povos indígenas, tradicionais e quilombolas.

Não há democracia quando o patrimônio do povo brasileiro, como a Petrobras ou a Eletrobrás, está subordinado aos interesses e ganância do mercado internacional.

Não se constrói uma Nação tendo um governo que ataca as instituições do Estado e desrespeita os processos eleitorais. Apropria-se das cores e símbolos nacionais para promover o fascismo e o ódio entre as pessoas. Exalta torturadores, ditaduras e golpes de Estado.

Não se fortalece a democracia tendo um governo que adota políticas que promovem a fome e a pobreza; facilita a aquisição de armas que acabam nas mãos do crime organizado e das milícias; incentiva a destruição ambiental e as queimadas, destrói todos os biomas, principalmente do Cerrado e o Amazônico.

É um governo que, com suas políticas e ações, aprofunda a dependência e se afasta cada vez mais da Soberania Nacional e Popular. Assim, inexistem motivos para comemorarmos os 200 anos de Independência. 

Só é possível ser um país soberano se conduzirmos nosso destino em direção ao bem-estar de todo povo brasileiro, garantindo acesso igualitário à educação, à saúde, ao trabalho, à renda e à cultura.

Um projeto de país onde os bens da natureza são considerados bens sociais, destinados a atender os interesses da população e não os do mercado. 

Um projeto de desenvolvimento econômico que promova a distribuição da riqueza e renda produzida, fortaleça as cadeias produtivas nacionais, a ciência e a tecnologia.

Um projeto que radicalize a democracia, democratizando o Estado e assegurando a participação popular na definição dos rumos do nosso País. 

Um projeto Popular que garanta as igualdades, as diversidades e os direitos, combatendo todas as formas de preconceitos e violências. Que democratize o acesso à terra, fazendo Reforma Agrária Popular para produzir alimentos saudáveis. E que amplie a oferta de serviços públicos universais, assegurando vida digna ao povo brasileiro.

Um projeto Popular de integração com os povos latino-americanos e do continente africano. Jamais saldaremos a dívida que temos com esses povos, mas podemos revertê-la em ações de solidariedade e generosidade, exigindo que nosso governo se submeta a esse desejo de reparação histórica e projeto de futuro. 

Agora, urgentemente, precisamos realizar uma grande mobilização nacional para derrotar, nas urnas e nas ruas, o neofascismo, o racismo, o machismo, a LGBTQIA+fobia e a violência pregada por Bolsonaro.

A organização popular é a nossa principal força. Precisamos, desde já, construir Comitês Populares, em todos os espaços e no maior número possível de municípios, para que o povo brasileiro seja o protagonista das transformações estruturais necessárias.  

Só seremos independentes se construirmos um Projeto Popular e Soberano em nosso país.

Viva o Povo Brasileiro!

Viva o Brasil!


Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

7 de Setembro de 2022

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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho