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quarta-feira, 2 de novembro de 2022

FALA À NAÇÃO * LUIS INÁCIO LULA DA SILVA - SP

FALA À NAÇÃO

LUIS INÁCIO LULA DA SILVA - SP

"Meus amigos.

 

Chegamos ao fim de uma das eleições mais importantes da nossa história. Uma eleição que colocou frente a frente dois projetos de país conflitantes, e que hoje tem um único e grande vencedor: o povo brasileiro.

 

Esta não é uma vitória para mim, nem para o PT, nem para os partidos que me apoiaram nesta campanha. É a vitória de um imenso movimento democrático que se formou, acima de partidos políticos, interesses pessoais e ideologias, para que a democracia pudesse triunfar.

 

Neste histórico 30 de outubro, a maioria do povo brasileiro deixou bem claro que quer mais, e não menos, democracia.

 

Ele quer mais, não menos, inclusão social e oportunidades para todos. Ele quer mais, não menos, respeito e compreensão entre os brasileiros. Em suma, ele quer mais, não menos, liberdade, igualdade e fraternidade em nosso país.

 

O povo brasileiro demonstrou hoje que quer mais do que exercer o direito sagrado de escolher quem vai governar suas vidas. Você deseja participar ativamente das decisões do governo.

 

O povo brasileiro demonstrou hoje que quer mais do que o direito de protestar, que está com fome, que não há trabalho, que seu salário é insuficiente para viver com dignidade, que não tem acesso à saúde e educação, que lhe falta um teto sobre suas cabeças vivem e criam seus filhos em segurança, que não há perspectiva de futuro.

 

O povo brasileiro quer viver bem, comer bem, viver bem. Quer um bom emprego, um salário sempre reajustado acima da inflação, quer ter saúde pública e educação de qualidade.

 

Ele quer liberdade religiosa. Ele quer livros em vez de armas. Você quer ir ao teatro, assistir ao cinema, ter acesso a todos os bens culturais, porque a cultura alimenta nossa alma.

 

O povo brasileiro quer recuperar a esperança.

 

É assim que entendo a democracia. Não apenas como uma bela palavra inscrita na Lei, mas como algo palpável, que sentimos na pele e que podemos construir diariamente.

 

Foi essa democracia, no sentido mais amplo do termo, que o povo brasileiro escolheu hoje nas urnas. Foi com esta democracia - real, concreta - que nos comprometemos ao longo de toda a nossa campanha.

 

E é essa democracia que buscaremos construir a cada dia do nosso governo. Com crescimento econômico compartilhado por toda a população, porque é assim que a economia deve funcionar, como instrumento para melhorar a vida de todos, não para perpetuar as desigualdades.

 

A roda da economia voltará a girar, com a criação de empregos, a reavaliação dos salários e a renegociação da dívida das famílias que perderam o poder de compra.

 

A roda da economia voltará a girar com os pobres como parte do orçamento. Com apoio aos pequenos e médios produtores rurais, responsáveis ​​por 70% dos alimentos que chegam às nossas mesas.

 

Com todos os incentivos possíveis para micro e pequenos empreendedores, para que coloquem seu extraordinário potencial criativo a serviço do desenvolvimento do país.

 

É necessário ir mais longe. Fortalecer as políticas de combate à violência contra as mulheres e garantir que elas ganhem os mesmos salários que os homens na mesma função.

 

Enfrente implacavelmente o racismo, o preconceito e a discriminação, para que brancos, negros e indígenas tenham os mesmos direitos e oportunidades.

 

Só assim poderemos construir um país para todos. Um Brasil igualitário, cuja prioridade são as pessoas que mais precisam.

 

Um Brasil com paz, democracia e oportunidades.

 

Minhas amigas e meus amigos,

 

A partir de 1º de janeiro de 2023, governarei para 215 milhões de brasileiros, não apenas para aqueles que votaram em mim. Não há dois Brasils. Somos um país, um povo, uma grande nação.

 

Ninguém está interessado em viver em uma família onde reina a discórdia. É hora de reunir as famílias, de reconstruir os laços de amizade rompidos pela disseminação criminosa do ódio.

 

Ninguém está interessado em viver em um país dividido, em estado de guerra permanente.

 

Este país precisa de paz e unidade. Essas pessoas não querem mais lutar. Essas pessoas estão cansadas de ver no outro um inimigo a temer ou destruir.

 

É hora de depor as armas que nunca foram feitas para serem empunhadas. Armas matam. E escolhemos a vida.

 

O desafio é imenso. É necessário reconstruir este país em todas as suas dimensões. Na política, na economia, na gestão pública, na harmonia institucional, nas relações internacionais e, sobretudo, no atendimento aos mais necessitados.

 

É necessário reconstruir a própria alma deste país. Recuperar a generosidade, a solidariedade, o respeito pelas diferenças e o amor ao próximo.

 

Trazer de volta a alegria de ser brasileiro e o orgulho que sempre tivemos no verde-amarelo e na bandeira do nosso país. Aquele verde-amarelo e aquela bandeira que não é de ninguém, a não ser do povo brasileiro.

 

Nosso compromisso mais urgente é acabar com a fome novamente. Não podemos aceitar como normal que milhões de homens, mulheres e crianças neste país não tenham o que comer, ou que consumam menos calorias e proteínas do que o necessário.

 

Se somos o terceiro maior produtor de alimentos do mundo e o primeiro em proteína animal, se temos tecnologia e vastas terras cultiváveis, se somos capazes de exportar para todo o mundo, temos o dever de garantir que todo brasileiro possa tomar café da manhã , almoço e jantar todos os dias.

 

Este será, mais uma vez, o compromisso número um do nosso governo.

 

Não podemos aceitar como normal que famílias inteiras sejam obrigadas a dormir na rua, expostas ao frio, à chuva e à violência.

 

Assim, retomaremos o Minha Casa Minha Vida, com prioridade para as famílias de baixa renda, e recuperaremos os programas de inclusão que tiraram 36 milhões de brasileiros da extrema pobreza.

 

O Brasil não pode mais conviver com esse imenso abismo sem fundo, esse muro de cimento e desigualdade que separa o Brasil em partes desiguais que não podem ser reconhecidas. Este país precisa se reconhecer. Você precisa se encontrar novamente.

 

Além de combater a pobreza extrema e a fome, vamos restabelecer o diálogo neste país.

 

É preciso retomar o diálogo com os Poderes Legislativo e Judiciário. Sem tentativas de exorbitar, intervir, controlar, cooptar, mas buscando reconstruir a convivência harmoniosa e republicana entre os três poderes.

A normalidade democrática está consagrada na Constituição. É o que estabelece os direitos e obrigações de cada poder, de cada instituição, das Forças Armadas e de cada um de nós.

 

A Constituição rege nossa existência coletiva, e ninguém, absolutamente ninguém, está acima dela, ninguém tem o direito de ignorá-la ou contestá-la.

 

Também é mais do que urgente retomar o diálogo entre o povo e o governo.

 

Então vamos trazer de volta as conferências nacionais. Para que os interessados ​​escolham suas prioridades e apresentem ao governo sugestões de políticas públicas em cada área: educação, saúde, segurança, direitos da mulher, igualdade racial, juventude, habitação e muitas outras.

 

Vamos retomar o diálogo com os governadores e prefeitos, para definirmos juntos as obras prioritárias para cada população.

 

Não importa a que partido o governador e o prefeito pertençam. Nosso compromisso sempre será melhorar a vida da população de cada estado, de cada município deste país.

 

Também vamos restabelecer o diálogo entre governo, empresários, trabalhadores e sociedade civil organizada, com a volta do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

 

Ou seja, as grandes decisões políticas que impactam a vida de 215 milhões de brasileiros não serão tomadas em segredo, na calada da noite, mas após um amplo diálogo com a sociedade.

 

Acredito que os principais problemas do Brasil, do mundo, do ser humano, podem ser resolvidos com diálogo, e não com força bruta.

 

Que ninguém duvide do poder da palavra quando se trata de buscar o entendimento e o bem comum.

 

Nas minhas viagens internacionais e nos contatos que tenho tido com líderes de diversos países, o que mais ouço é que o mundo sente falta do Brasil.

 

Saudades daquele Brasil soberano, que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos. E isso ao mesmo tempo contribuiu para o desenvolvimento dos países mais pobres.

 

Brasil que apoiou o desenvolvimento dos países africanos por meio de cooperação, investimento e transferência de tecnologia.

 

Que trabalhou pela integração da América do Sul, América Latina e Caribe, que fortaleceu o Mercosul e ajudou a criar o G-20, UnaSul, CELAC e os BRICS.

 

Hoje estamos dizendo ao mundo que o Brasil está de volta. Que o Brasil é grande demais para ser relegado a esse triste papel de pária no mundo.

 

Vamos recuperar a credibilidade, previsibilidade e estabilidade do país, para que os investidores, nacionais e estrangeiros, recuperem a confiança no Brasil. Para que deixem de ver nosso país como fonte de lucro imediato e predatório, e se tornem nossos parceiros na retomada do crescimento econômico com inclusão social e sustentabilidade ambiental.

 

Queremos um comércio internacional mais justo. Retomar nossas parcerias com os Estados Unidos e a União Européia em novas bases. Não nos interessa acordos comerciais que condenam nosso país ao eterno papel de exportador de commodities e matérias-primas.

 

Vamos reindustrializar o Brasil, vamos investir na economia verde e digital, vamos apoiar a criatividade dos nossos empreendedores. Também queremos exportar conhecimento.

 

Voltaremos a lutar por uma nova governança global, com a inclusão de mais países no Conselho de Segurança da ONU e com o fim do direito de veto, que prejudica o equilíbrio entre as nações.

 

Estamos prontos para retomar a luta contra a fome e a desigualdade no mundo e nos esforços para promover a paz entre os povos.

 

O Brasil está pronto para retomar seu papel de liderança no combate à crise climática, protegendo todos os nossos biomas, especialmente a Floresta Amazônica.

 

Em nosso governo conseguimos reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia, reduzindo consideravelmente a emissão de gases causadores do aquecimento global.

 

Agora, vamos lutar pelo desmatamento zero na Amazônia

 

O Brasil e o planeta precisam de uma Amazônia viva. Uma árvore em pé vale mais do que toneladas de madeira derrubada ilegalmente por quem só pensa em lucro fácil, à custa da deterioração da vida na Terra.

 

Um rio de água límpida vale muito mais do que todo o ouro extraído às custas do mercúrio que mata a fauna e põe em risco a vida humana.

 

Quando uma criança indígena é morta pela ganância de predadores ambientais, uma parte da humanidade morre com ela.

 

Portanto, retomaremos o monitoramento e fiscalização da Amazônia e combateremos toda atividade ilegal, seja mineração, mineração, extração de madeira ou ocupação agrícola ilegal.

 

Ao mesmo tempo, promoveremos o desenvolvimento sustentável das comunidades que vivem na região amazônica. Vamos demonstrar mais uma vez que é possível gerar riqueza sem destruir o meio ambiente.

 

Estamos abertos à cooperação internacional para preservar a Amazônia, seja na forma de investimento ou pesquisa científica. Mas sempre sob a liderança do Brasil, sem nunca abrir mão de nossa soberania.

 

Estamos comprometidos com os povos indígenas, outros povos da floresta e a biodiversidade. Queremos a pacificação ambiental.

 

Não estamos interessados ​​em uma guerra pelo meio ambiente, mas estamos prontos para defendê-lo de qualquer ameaça.

 

O novo Brasil que construiremos a partir de 1º de janeiro não interessa apenas ao povo brasileiro, mas a todas as pessoas que trabalham pela paz, solidariedade e fraternidade, em qualquer parte do mundo.

 

Na última quarta-feira, o Papa Francisco enviou uma importante mensagem ao Brasil, rezando para que o povo brasileiro seja livre do ódio, da intolerância e da violência.

 

Quero dizer que queremos a mesma coisa e trabalharemos incansavelmente por um Brasil onde o amor prevaleça sobre o ódio, a verdade vença a mentira e a esperança seja maior que o medo.

 

Todos os dias de minha vida lembro-me do maior ensinamento de Jesus Cristo, que é o amor ao próximo. Portanto, acredito que a virtude mais importante de um bom governante sempre será o amor, por seu país e por seu povo.

 

No que depender de nós, amor não faltará neste país. Cuidaremos muito bem do Brasil e do povo brasileiro. Viveremos um novo tempo. Paz, amor e esperança.

 

Uma época em que o povo brasileiro tem o direito de voltar a sonhar. E as oportunidades de realizar o que você sonha.

 

Para isso, convido todos os brasileiros, independentemente do candidato em que votaram nesta eleição. Mais do que nunca, estamos percorrendo o Brasil juntos, olhando mais para o que nos une do que para nossas diferenças.

 

Conheço a magnitude da missão que a história me reservou, e sei que não poderei realizá-la sozinho. Vou precisar de todos: partidos políticos, trabalhadores, empresários, parlamentares, governadores, prefeitos, pessoas de todas as religiões. Brasileiros que sonham com um Brasil mais desenvolvido, mais justo e mais fraterno.

 

Repito o que disse ao longo da campanha. O que nunca foi uma simples promessa de candidato, mas uma profissão de fé, um compromisso de vida:

 

O Brasil tem um caminho. Todos juntos podemos consertar este país e construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos, com oportunidades para torná-los realidade.

 

Mais uma vez, renovo minha eterna gratidão ao povo brasileiro. Um grande abraço, e que Deus abençoe nossa viagem". 



ANEXOS

Homenagem Revolução Cidadã
Homenagem Guarany Kaiovah
***

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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho