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sábado, 8 de abril de 2023

 



ALERTA AOS CANSADOS – Wilson Coêlho

Conforme dizia Bertolt Brecht, “há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis”. A priori, pode parecer um mero axioma, principalmente para os que se recusam a averiguar o que está por detrás dessa afirmação.

 Mas o que é a luta? Para muitos, a palavra luta é reduzida como o esforço feito por duas pessoas ou de um grupo de indivíduos para vencer outras pessoas e até mesmo a ação de duas forças totalmente opostas. Isso acontece muito nos esportes. Para outros tantos, o significado dessa palavra está na ideia de luta pela vida, assim como se dá na natureza onde as espécies estão em permanente peleja para garantir sua sobrevivência.

 Nesse caso, o da natureza, é muito confundido nas interpretações do que diz respeito à sobrevivência, principalmente, porque a base da sociologia como um dos pilares das ciências humanas está nas ciências naturais. Não é por acaso que muitos desavisados insistem em mencionar uma comunidade de abelhas como modelo de perfeição para a organização social. Mas tem um detalhe muito importante: as abelhas não pensam, não elegem a sua rainha. As abelhas são naturais, ou seja, têm uma natureza, ao passo que o ser humano não é natural.

 O ser humano não nasce humano, ele se humaniza a partir de sua cultura. Tanto as abelhas, como os cavalos, as tartarugas e todas as espécies animais já nascem o que são e nem sabem o que são, nós é que as nomeamos e as classificamos como tal. O ser humano, que não nasce humano, mas que se humaniza conforme sua cultura, nasce nada. Ninguém precisa dizer a uma tartaruga que ela sabe nadar, mas ela – mesmo nascendo na areia – vai para o mar sem nenhum problema ou medo.

Os seres humanos não têm uma natureza que já lhes garante lidar com o mundo da forma como nasceram. Todos os animais falam a mesma língua de sua espécie em qualquer lugar do planeta e assim se comunicam. Os seres humanos não falam se não forem ensinados e, conforme já dito, isso é colocado pela cultura. O macaco, o jacaré e tantos outros animais caminham e se movimentam sem que ninguém lhes ensine. Os seres humanos precisam de alguém que lhes ensine a caminhar, caso contrário, podem até rastejar. São inúmeros os exemplos para demonstrar que não devemos confundir as questões humanas, que não têm uma natureza, e as questões naturais que têm as suas próprias leis. Talvez esteja aí o x da questão. Sendo os seres humanos os mais frágeis de todo o planeta, a natureza os dotou da inteligência para criar os mecanismos da sobrevivência. O pior é que, na impossibilidade de usufruir dessa inteligência para construir o sentido da existência, muitos desses seres humanos preferiram se esconder ou se justificar a partir de sua mais dissimulada criação: a religião.

 Mas voltando ao tema da luta, essa palavra tem sua origem no termo em latim “lucta”, derivado do primitivo “LUITA” que significa esforço, luta, dedicação. Assim entendido, não existe como viver e não lutar ao mesmo tempo. Parafraseando Descartes, “luto, logo, existo”. Não existe como viver e não lutar, em nenhum sentido, ou seja, lutar e existir são o mesmo. Mas o mais interessante é entender de que lado estamos na luta. Não existe neutralidade.

É muito comum nos depararmos com pessoas que dizer estarem cansadas de lutar. Essa expressão soa sempre como estúpida ou de má fé. Socialmente falando, os que se dizem cansados da luta, na verdade, nunca estiveram de verdade na luta, exceto, em suas atitudes egóicas, na defesa de seus próprios egos, como parte nuclear de suas personalidades.

 Há os que dizem que estão muito velhos e se cansaram. Primeiro, só existe uma possibilidade de não ficar velho: é morrer jovem. Mas desde o momento em que se ficou velho, tem uma questão de contingência, a luta continua. Faz-se necessário entender de que lado se encontra.

Não como Raul Seixas, em “Eu nasci há dez mil anos atrás”, sobre “um velhinho na calçada com uma cuia de esmola na mão”, lembro de uma história que me foi narrada na adolescência. Dizia de um determinado sujeito que vivia numa encruzilhada e que sempre contava uma história aos transeuntes. Passou um outro e ouviu atentamente sua história, mas – no final – tendo o reconhecido, perguntou:

 - Eu passei aqui, faz 30 anos e você me contou isso. Por que insiste em contar a mesma história de 30 anos atrás?

 - O dia em que eu deixar de contar essa história significa que fui vencido. - respondeu o velhinho.

IMORAL DA HISTÓRIA: O mundo em que vivemos hoje começou a ser construído há pelo menos 8 mil anos. Como é que podemos querer em nossa pouca existência ver os resultados de nossas lutas em tão poucos anos se vivemos no máximo 80 ou 90?

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