MARIGHELLA, PRESENTE!
O filme Marighella de Wagner Moura é um soco no estômago, uma tapa na cara, um gancho no queixo. Você bate, apanha, vai quase a nocaute, levanta, desperta e pensa qual será o próximo movimento físico e metafísico.
O filme prende a respiração, não oferece espaço pra distração, deixando-nos atentos, fortes e mobilizados o tempo todo. E agora.
Marighella é um filme phodda! Põe a gente num ringue. Ou melhor, numa luta. Ao final do último round somos tomados por um impulso no pulso erguido e cerrado em duas palavras de ordem: “Marighella, presente!” Seguido, imediatamente, por um “Fora Bolsonaro!”.
Noutras palavras, Marighella é um filme de ação. Ele nos coloca em estado de luta. Ele nos mobiliza por dentro e por fora no sentido de que outro país mais justo e democrático não é só mais possível e sim, necessário.
O filme de Wagner Moura não é só uma representação histórica ou narrativa cinematográfica de um passado ditatorial civil-militar violento e bem recente na história de nosso país. Como disse Wagner Moura, o filme fala muito mais do Brasil de hoje, deste tempo sombrio que ataca por dentro do próprio governo, o estado democrático de direito.
A exibição do filme Marighela no dia 26 de outubro no Cineteatro São Luiz em Fortaleza, Ceará, foi uma noite memorável e encantadora. Façamos de cada exibição do filme Marighella nas salas de cinema um ato artístico e político pela redemocratização do Brasil. Mas também um ato de amor pelo Brasil, como grita a atriz Maria Marighella, numa das cenas mais emocionantes do filme.
Dentre as várias leituras possíveis, o filme veio para nos tocar e mobilizar pela redemocratização do Brasil. Nossos corações democratas agradecem e se sentem comovidos (comover é mover com) e mais mobilizados pela reconstrução, refundação e regeneração do Brasil. Isso é urgente, enquanto ainda temos tempo. Numa frase de Marighella que capturo do filme, “as pessoas precisam saber que no Brasil tem gente resistindo”. Sim Marighella, sim Wagner, estamos na r(e)xistência. Eles não vencerão. A liberdade é uma luta constante.
No mais, Salve Wagner Moura!
Marighella, presente!
Saudações ternas e (in)tensas
Fabiano dos Santos Piúba
Fortaleza, 27/10/2022
(um texto ainda com a temperatura do filme em mais do que meu corpo)
Quem quis matar a luta
do Martin Luther King?
Por que puseram Gandhi atrás das grades?
Por que mandaram prender Mandela?
Quem mandou matar Marielle?
Quem deu guela
de onde tava o
Marighella?
A prisão do Rafael Braga ainda indaga:
ver o sol nascer quadrado
por portar um Pinho Sol?
E o Malcolm X, então,
precisa dizer
qual foi o X da questão?
E o Chico Mendes? Me diz
E o que devia Angela Davis?
E a Carolina Maria,
que foi presa porque lia?
Lição da Malala:
educação não é balela
E por que mantiveram o homem
que tirou o país da fome
quinhentos e oitenta dias
trancado numa cela?
Rafael de Noronha (São Paulo/SP)
Aos 4 dias do mês de novembro de 1969, em noite de terça-feira, em São Paulo capital, Carlos Marighella, Comandante da Revolução Socialista Brasileira, era brutalmente assassinado pelas forças repressivas da ditadura militar, então instalada no Brasil após o golpe de 1964.
Naquela ocasião, o movimento comunista do Brasil, a tradição combativa de nosso povo, e a luta revolucionária pela Libertação Nacional e pelo Socialismo, enfim, perderiam um homem de pensamento e ação, um militante da teoria e da prática, que perto de completar 58 anos de vida, estava liderando a única resistência possível diante dos idos ditatoriais. O povo brasileiro perderia naquele momento o seu filho mais completo politicamente, a brava gente deste país perderia um verdadeiro herói.
Aqueles que mataram Marighella não conseguem ocupar a memória nem mesmo dos canalhas que tentam ainda hoje defender o indefensável regime facínora militar. Aqueles que mataram Marighella acabaram fuzilados pela História. Aqueles que mataram Marighella, e nisso estão também os que mandaram matar, inclusive o próprio imperialismo ianque e seus títeres da ditadura no Brasil, todos esses, mais cedo ou mais tarde, terão as contas acertadas com o povo explorado do Brasil e de todo o mundo.
O corpo de Marighella descansa em Salvador, a capital baiana onde nasceu o Comandante em 5 de dezembro de 1911. Mas a sua presença nunca parou. Marighella está presente em todas as lutas do povo brasileiro.
Carlos Marighella vive, Carlos Marighella para sempre viverá!
Há 55 anos ele morria por nós, ele morria pelo povo, ele morria pelo Brasil...
Carlos Marighella é um símbolo das lutas pela libertação do povo brasileiro.
Filho de Augusto Marighella, operário metalúrgico imigrante italiano e de Maria Rita do Nascimento, negra descendente dos malês. Fez seus estudos secundários no antigo Ginásio da Bahia, hoje Colégio Central. Em 1932, ingressou na Escola Politécnica da Bahia, onde se torna líder estudantil. Abandona o curso para seguir para o Rio de Janeiro para dirigir o PCB, em 1934.
Preso em 1936, foi torturado pela polícia política de Filinto Muller. Solto, passa a clandestinidade, sendo preso novamente em 1939. Só é solto em 1945, com a anistia aos presos políticos no fim do governo Vargas. É eleito deputado constituinte pelo PCB da Bahia, tendo atuação destacada na Assembleia que redigiu a Carta de 46.
O PCB teve seu registro cassado em 1947, e os deputados comunistas perderam o mandato em 1948. Mais uma vez na clandestinidade, Marighella exerce várias funções na direção do Partido. Nos anos de 1953 e 1954, Marighella viaja pelo mundo socialista, inclusive a China Popular.
Com o golpe de 64 é preso novamente. Resistiu à prisão em um cinema do Rio de Janeiro. Descreveu o episódio no texto Porque Resisti à Prisão. Em seguida, se estabelece em São Paulo, onde assume a direção regional do Partido.
Logo no início da ditadura, Marighella abre divergência com a direção do Partido. Em 1966, comparece ao encontro da OLAS, Organização Latino-Americana de Solidariedade, em Havana. Rompe com a Comissão Executiva do Partido e, em 1967, é expulso. Organiza o Agrupamento Comunista de São Paulo, que viria a nuclear a Ação Libertadora Nacional, fundada em 1968.
A ALN se tornou a mais importante organização armada de luta contra a ditadura. A captura do embaixador estadunidense, em 1969, em conjunto com o MR8, seria uma das ações mais espetaculares da organização.
Marighella foi elevado a inimigo número 1 do regime. Após a prisão dos padres dominicanos que contribuíam com a ALN, armou-se uma operação para assassinar o líder revolucionário. Na noite de 4 de novembro de 1969, Marighella foi assassinado pela equipe comandada pelo delegado Fleury.
Marighella se tornou uma lenda. Não à toa, a extrema-direita ainda hoje o considera o inimigo número 1. Marighella inspira as novas gerações de revolucionários, com a sua coragem e espírito de luta.
Marighella é a expressão de toda uma geração de comunistas em nosso país. Para quem quiser conhecer mais a vida de Carlos Marighella indicamos o livro Marighella: O Guerrilheiro que Incendiou o Mundo, de Mário Magalhães, publicado pela editora Companhia das Letras. Também indicamos a música Mil Faces de um Homem Leal, feita pelos Racionais em 2012 para o documentário Marighella, de Isa Grinspum Ferraz: https://www.youtube.com/watch?v=5Os1zJQALz8
*
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho