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sexta-feira, 31 de março de 2023

CARTA À GOVERNADORA * César Oliveira.RN

 CARTA À GOVERNADORA

Governadora Fátima Bezerra reunida com a educação

I        

Amiga Fátima Bezerra

Que do piso, é a madrinha 

Sou um simples professor

Que nessa luta caminha

Venho pedir a senhora 

Que leia a minha cartinha

             II

Não serei mal educado 

Na minha carta-cordel

Eu apenas pedirei

Que cumpra com seu papel

Pra que eu não acredite 

Que a senhora é infiel

            III 

Aqui eu venho pedir

Para toda a minha classe

Ficaria agradecido 

Se a senhora não negasse

O que nos foi prometido 

E acabasse esse impasse

              IV

Em momentos de campanha

Mostrando um largo sorriso

Muitas vezes repetiu 

O valor da Lei do piso

Se a senhora esqueceu 

Não tem problema, eu repriso

                 V

Já fui seu admirador 

De acompanhar e aplaudir,

Estou aqui pra cobrar

Tudo que me fez ouvir

Todas as frases de efeito 

Que fez eu me iludir

                VI

Você se lembra do tempo?

Que era nossa companheira

Batendo nos inimigos

Dessa nação brasileira 

Construindo uma Educação

Pra não ficar na poeira 

            VII

Via em você uma guerreira

De coragem e muita ação

Dizendo ser professora

De uma nova educação

Quando chegou no poder

Me encheu de decepção.

            VIII

As perdas salariais

Causam grande sofrimento 

A senhora poderia

Compensá-las com aumento.

Mas as promessas que fez

Caíram no esquecimento.

              IX

Prezada governadora

Pare um pouco pra pensar

Agindo dessa maneira 

Você não tem à ganhar

Melhore sua proposta 

Pra essa GREVE acabar

                  X

Não vá contra seu discurso

Pois disso, tu não precisa

Honre a sua palavra

De forma definitiva 

E peço que não transforme

Nosso piso, numa PISA

                XI

Minha amiga professora 

Seja bem mais moderada

Não PISE na sua classe 

Que um dia foi aliada

E honre essa cadeira 

Que a senhora estar sentada

                   XII

Desculpe se lhe falei

Palavras que tu não gostas

Avise a seus deputados 

Que vamos dar as respostas

Pois a classe foi traída 

Com a punhalada nas costas

                XIII

Esperava da senhora

Um outro comportamento 

Uma proposta ridícula 

Não chegando a 10 por cento.

Com respeito eu lhe pergunto 

temos cara de jumento?

            XIV

Nos momentos de campanha 

Batia em opositores

Apoiando a nossa luta 

Agradando os eleitores

Sempre culpabilizando 

Os outros governadores.

             XV

Não vá pensar que estamos

Cabisbaixos e parados

A luta não terminou 

Nós não fomos derrotados

Pois a vida é dinâmica 

E estamos mobilizados

                 XVI

No passado era a senhora

Que a classe  incentivava

A lutar por reajuste

Que era o que mais faltava

Professora, nesse tempo

Você só nos enganava?

             XVII

Só espero mais respeito 

E seja mais consciente 

Lembre que foi professor

Que lhe deu essa PATENTE 

Reveja sua proposta 

E respeite mais a gente.


César Oliveira.RN

CARTA DA LIBERDADE * Congresso Nacional Africano / CNA

CARTA DA LIBERDADE
Rodolfo Domenico Pizzinga

APRESENTAÇÃO

A Carta da Liberdade foi um documento fundamental da causa antiapartheid, na África do Sul, tendo sido aprovada pelo Congresso Nacional Africano1, com a participação de Nelson Mandela. O texto, de divulgação proibida durante a vigência do durento2 período do Apartheid, foi elaborado em meados da década de 1950 e aprovado pelo Congresso do Povo, reunido em Kliptown, em 26 de junho de 1955.

Apesar de o abominável apartheid (regime político sul-africano segundo o qual os brancos detinham o poder e os povos restantes eram obrigados a viver amesquinhados e separados dos brancos, de acordo com leis e regras absurdas e inumanas que os impediam de ser verdadeiros cidadãos) ter sido abolido por Frederik de Klerk em 1990 e, finalmente, em 1994, eleições livres terem sido realizadas, penso que ler esta Carta será, para quem nunca a leu, por um lado, educativo, por outro, reforçador da convicção de que apartheids, segregações, inquisições, fogueiras, holocaustos, ditaduras, mussolinismos, hitlerismos, milosevicismos et cetera e tal... nunca mais.

Como fui eu que – livremente e, portanto, com algumas edições e adaptações necessárias – traduzi esta Carta, peço desculpas por quaisquer desacordos, inexatidões ou interpretações errôneas do original. Este horrendo e sangrento assunto me estimulou a fazer algumas interpolações e ligeiras colorizações, sem, no entanto, alterar o conteúdo do documento e o número de artigos originais. Por isto, peço desculpas novamente, ainda que acredite que se Mandela ler esta tradução não recriminará.

TEXTO OFICIAL


Nós, o Povo da África do Sul, Declararamos
a Todo o Nosso País e ao Mundo:

• Que a África do Sul pertence a todos os que nela vivem, negros e brancos, e que nenhum Governo pode fazer valer sua autoridade, a menos que esta autoridade tenha emanado do povo e esteja baseada na vontade de todo o povo;

• Que sua terra de nascença, sua liberdade e sua paz foram tirânica e despoticamente usurpadas por uma forma de Governo ancorada na mais profunda injustiça e na mais absurda desigualdade;

• Que o nosso País nunca será próspero e livre até que todo o nosso povo possa viver em fraternidade, e que goze de direitos iguais e de oportunidades iguais;

• Que somente um Estado democrático, baseado na vontade de todo o povo, pode garantir a todos o seu direito de primogenitura, sem qualquer distinção de cor, raça, sexo ou crença;

• Portanto, nós, o povo da África do Sul, negros e brancos, compatriotas e irmãos, decidimos adotar esta Carta da Liberdade;

• Nós nos comprometemos a lutar em conjunto, não poupando nem a força nem a coragem, até que as mudanças democráticas aqui estabelecidas tenham sido implementadas.

O Povo Governará!

• Cada homem e cada mulher têm o direito de votar e de ser votados;

• Todas as pessoas têm o direito de tomar parte na administração do País;

• Os direitos das pessoas serão os mesmos, independentemente de raça, cor ou sexo;

• Todos os órgãos autoritários e segregacionistas de Governo devem ser substituídos por órgãos democráticos.

Todos os Grupos Nacionais
Têm Igualdade de Direitos!

• Haverá status de igualdade nos órgãos do Estado, nos tribunais e nas escolas para todos os grupos nacionais e raciais;

• Todos os povos têm igual direito de utilizar suas próprias línguas e de desenvolver sua própria cultura popular e seus costumes;

• Todos os grupos nacionais devem ser protegidos por lei contra os insultos à sua raça e ao seu sentimento de nacionalidade;

• Os discursos racistas e a discriminação racial são crimes puníveis por lei;

• Todas as leis do apartheid e todas as suas práticas devem ser anuladas.

O Povo Trabalhador
Deve Compartilhar a Riqueza do País!

• A riqueza nacional do nosso País – a herança dos sul-africanos – deve ser devolvida ao povo;

• A posse da riqueza mineral sob o solo, os bancos e o monopólio da indústria devem, como um todo, ser transferidos para o povo;

• A indústria e comércio deverão ser controlados para ajudar o bem-estar do povo;

• Todas as pessoas devem ter direitos iguais no que tange ao comércio, à fabricação, aos seus ofícios e às suas profissões.

A Terra Deve Ser Compartilhada
Entre Aqueles que Nela Trabalham!

• Restrições para a propriedade da terra, tendo por base a raça, devem ser eliminadas, e toda a terra deve ser dividida entre aqueles que nela trabalham, para que possam ser banidas a escassez e a fome;

• O Estado deve ajudar os camponeses com implementos agrícolas, sementes, tratores e represas;

• A liberdade de circulação deve ser garantida a todos os que trabalham na terra;

• Todos têm o direito de ocupar a terra que venham a escolher;

• As pessoas não devem ser privadas de seu gado; prisões agrícolas e trabalhos forçados devem ser abolidos.

Todos São Iguais Perante a Lei!

• Ninguém pode ser limitado em suas ações, preso ou deportado sem um julgamento justo;

• Ninguém pode ser condenado por ordem de um funcionário do Governo;

• Os tribunais devem ser representativos de todo o povo;

• A prisão deve ser apenas para crimes graves contra as pessoas, e deve visar à reeducação, não à vingança;

• A polícia e o exército deverão ser abertos a todos e em igualdade de condições, e devem ser auxiliadores e protetores do povo;

• Todas as leis que discriminam por motivos de raça, de cor ou de crença devem ser revogadas.

Todos Gozam de Igualdade
de Direitos Humanos!

• A lei deve garantir a todos o direito de falar, de se organizar, de se reunir, de publicar, de pronunciar sermões, de adorar e de educar os filhos;

• A privacidade da casa deve ser protegida por lei;

• Todos devem ter liberdade de viajar, sem qualquer restrição, do campo para a cidade, de província para província e da África do Sul para o exterior;

• As leis de passe, licenças e todas as outras leis que restringem as liberdades devem ser abolidas.

Haverá Trabalho e Segurança!

• Todos os que trabalham devem ter liberdade de formar sindicatos, de eleger seus representantes oficiais e de fazer acordos salariais com os empregadores;

• O Estado deve reconhecer o direito e o dever de todos para o trabalho, e deve elaborar um programa de auxílio-desemprego;

• Homens e mulheres, de todas as raças, devem receber salário igual para trabalho igual;

• Haverá, para todos os trabalhadores, quarenta horas semanais de trabalho, um salário-mínimo, férias anuais remuneradas, licença por doença e, para todas as mães que trabalham, licença-maternidade com remuneração integral;

• Os mineiros, trabalhadores domésticos, trabalhadores rurais e funcionários públicos devem ter os mesmos direitos que todos os outros trabalhadores;

• O trabalho infantil e outras formas degradantes de trabalho devem ser abolidos.

As Portas Devem Ser Abertas
Para a Cultura e Para o Aprendizado!

• O Governo deve se empenhar em descobrir, desenvolver e incentivar o talento nacional e intensificar a nossa vida cultural;

• Todos os tesouros culturais da Humanidade devem ser abertos a todos, por livre troca de livros, de idéias e de contatos com outras terras;

• O objetivo da educação é ensinar os jovens a amar o seu povo e a sua cultura, e honrar a fraternidade humana, a liberdade e a paz;

• A educação deve ser gratuita, obrigatória, universal e igual para todos; o ensino superior e a formação técnica serão abertos a todos por meio de subsídios estatais e de bolsas de estudos concedidas com base no mérito;

• O analfabetismo adulto deve ser eliminado pelo Estado através de um plano de ensino de massa;

• Os professores devem ter todos os direitos dos outros cidadãos;

• A barreira da cor na vida cultural, no desporto e na educação deve ser abolida.

Haverá Casas, Segurança e Conforto!

• Todas as pessoas devem ter o direito de viver onde escolherem, de dispor de moradia digna e de constituir suas famílias com conforto e segurança;

• Espaço de habitação não-utilizada deve ser colocado à disposição do povo;

• Rendas e preços devem ser reduzidos; deverá haver comida abundante e ninguém deverá passar fome;

• Um sistema de saúde preventiva deve ser executado pelo Estado;

• Assistência médica gratuita e hospitalização devem ser fornecidas para todos, com atenção especial para as mães e para as crianças jovens;

• As favelas devem ser demolidas e os subúrbios devem ser reconstruídos em um local onde todos tenham transporte, estradas, iluminação, campos de jogos, creches e centros sociais;

• Os idosos, os órfãos, os deficientes e os doentes devem ser tratados e assistidos pelo Estado;

• Descanso, lazer e recreação são direitos de todos;

• Guetos e locais cercados devem ser eliminados, e as leis que fragmentam as famílias devem ser revogadas.

Haverá Paz e Amizade!

• A África do Sul será um Estado totalmente independente que respeitará os direitos e a soberania de todas as nações;

• A África do Sul se esforçará para manter a paz no mundo, e apoiará, pela via da negociação, a solução pacífica de todos os conflitos internacionais; jamais apoiará qualquer guerra;

• A paz e a amizade entre todos os povos serão garantidas pela defesa da igualdade de direitos, pela defesa da igualdade oportunidades e pela defesa do status de todos;

• O povo dos protetorados3 Basutoland, Bechuanaland e Swaziland estará livre para decidir seu próprio futuro;

• O direito de todos os povos da África de serem independentes e de se autogovernarem será reconhecido, e será a base de uma estreita cooperação.

• Ao longo de nossas vidas, por estas liberdades, lado a lado, nós lutaremos, até que conquistemos nossa legítima independência!4
______

Notas:

1. O Congresso Nacional Africano (CNA) é o partido político no poder na África do Sul, desde as primeiras eleições multirraciais naquele País, em 1994. Anteriormente, o CNA foi um dos movimentos que lutou contra o regime do apartheid.

2. Durento = duro + fedorento.

3. Protetorado é um território ou um país que, no Direito Internacional, possui certos atributos de Estado independente, porém, sob outros aspectos, está subordinado a uma potência que decide sua política externa e tem a obrigação de o proteger e, às vezes, controla internamente seu Governo, seu judiciário e suas instituições financeiras. Em suma, um protetorado é quando um Estado está sob a autoridade de outro Estado ou país, e, geralmente, ocorre quando o primeiro, sob todos os aspectos, é muito mais fraco do que o segundo, em especial no tocante à política externa.

CONGRESSO NACIONAL AFRICANO
CNA
Nota editada da fonte:


4. Nelson Rolihlahla Mandela (Mvezo, 18 de julho de 1918) é um advogado que se tornou o principal representante do movimento anti-apartheid. Em 1990, foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz, que foi recebido em 2002. Em 1993, com Frederik de Klerk (Joanesburgo, 18 de março de 1936), recebeu o Nobel da Paz, pelos esforços desenvolvidos no sentido de acabar com a segregação racial. Mandela foi libertado pelo presidente Frederik de Klerk em 1990. Tornou-se, então, líder do Congresso Nacional Africano (CNA), do qual, há muito, se tornara referência. A sua experiência de luta contra o apartheid, a sua postura de moderado no período de transição para uma ordem democrática sem segregação e o claro objetivo de operar a reconciliação nacional, que norteou as suas relações com o Presidente de Klerk, valeram-lhe um inesgotável prestígio no País e no estrangeiro. Mandela é provavelmente o político com maior autoridade moral no continente Africano, o que lhe tem permitido desempenhar o papel de apaziguador de tensões e conflitos. Como Presidente do CNA (de julho de 1995 a dezembro de 1999) e primeiro Presidente negro da África do Sul (de maio de 1991 a junho de 2000), naquelas que foram as primeiras eleições multirraciais do País, Mandela comandou a transição do regime de minoria no comando – o apartheid – ganhando respeito internacional por sua luta em prol da reconciliação interna e externa.
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quinta-feira, 30 de março de 2023

Todos às ruas em 31 de março! * FRENTE ANTIFASCISTA DO DF/FRT BR

Todos às ruas em 31 de março!



Em 31 de março de 2023 fará 59 anos do golpe civil-militar, quando os golpistas ficaram 21 anos do poder. Deixaram um rastro de dor, tornaram pratica oficial a tortura e assassinatos dos opositores, praticada por agentes do Estado, dentro de quarteis e prisões. Outros milhares foram presos ou exilados; até hoje mais de 400 vítimas nem mesmo tiveram seus corpos localizados.

Apoiados diretamente pelos EUA, que estacionou a Quarta Frota no litoral brasileiro, pela burguesia e latifundiários, pelos reacionários que fizeram a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, permaneceram, apesar de tantos crimes, após a Anistia promulgada em 1979, impunes. Não sentaram no banco dos réus, não foram julgados e continuaram praticando seus crimes. Na Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia os generais e seus aliados foram julgados e presos.

Livres e impunes, seguiram mentindo e semeando o fascismo, que levou ao golpe de Dilma Roussef, em 2016, à prisão de Lula, em 2018, e à eleição de um miliciano fascista para a Presidência da República. Isso levou ao fortalecimento de grupos paramilitares, fundamentalistas neopentecostais e outros bandos criminosos nazifascistas que tentaram, mais uma vez, dar outro golpe em 8 de janeiro, ocuparam Brasília, destruíram as sedes dos três poderes da República. Isso após quatro anos de um governo que se sustentou na prática permanente de propagação de mentiras, genocídios, roubos e ataques aos setores mais consequentes da classe trabalhadora. Tudo com o apoio de um parlamento antipovo, majoritariamente fascista e corrupto.

A criação da Frente Antifascista do DF tem a finalidade de forjar a unidade e organização necessária para defender os direitos da classe trabalhadora, golpeada nos 6 anos com Temer e Bolsonaro/Guedes com a imposição de uma política neoliberal.
Construir a unidade para fazer avançar a luta do povo, exigir a punição dos golpistas de 8 de janeiro, para que não se repita a impunidade de 1979.

Ir às ruas é uma necessidade. Somente a organização, consciência e unidade da classe trabalhadora, da juventude, mulheres e de todo o povo poderá retomar a marcha das conquistas sociais e impedir novos retrocessos.

*Compareçam!*
*Dia 31 de março de 2023, sexta-feira, com concentração a partir das 17h, na Praça Zumbi dos Palmares (CONIC).*
*Ditadura nunca mais!*
*Sem anistia!*
*FRENTE ANTIFASCISTA DO DF*

Esquerda Volver - Os militares que resistiram ao Golpe de 1964 * Jair Galvão / CE

Nem todos os militares eram a favor do golpe

Em geral, ao se falar da ditadura no Brasil, imputa-se ao militares a autoria do golpe e a manutenção do estado autoritário. É frequente, por um lado, caracterizar a repressão como se ela fosse unicamente de responsabilidade da categoria militar, esquecendo a participação importante dos civis. Por outro, é comum ignorar que não foram todos os militares que apoiaram o golpe e a instalação da ditadura. Pouco se fala sobre a “resistência dos quartéis” ao golpe de 1964 e sobre a crítica interna aos rumos adotados pelos governos militares.

Fato é que os militares ficaram marcados pelo histórico repressivo e pela interpretação que se tornou hegemônica nos relatos históricos e nas memórias dos civis que resistiram. Mas os militares que não apoiaram as investidas de tomada do poder em 1964 formaram um grupo distinto que sofreu perseguições, punições e torturas.

Contrários ao militares de alta patente que esquadrinhavam os rumos da política e da economia do Brasil, cerca de 7,5 mil membros das Forças Armadas e bombeiros foram presos e torturados ou expulsos de suas corporações por oposição ao que se denominava nos quartéis de “revolução de 1964”. Assim como estudantes, sindicalistas e intelectuais, esses militares – em grande maioria de baixa patente, ou seja, subtenentes, cabos e sargentos – também tiveram um papel importante e necessário na resistência democrática e, proporcionalmente, foram penalizados em maior número que em outras categorias sociais.

Isso não corresponde a afirmar que todos estes militares perseguidos eram de esquerda. Eram de uma oposição fundamentalmente nacionalista, lutavam por questões que historicamente estavam relacionadas à preservação da soberania nacional e dos direitos humanos. De todo modo, a pauta de reivindicações desses militares, ainda antes do golpe de 1964, foi no sentido da ampliar seus direitos civis e políticos, vale lembrar que os chamados “praças” (militares não graduados) eram impedidos de votar.

Havia também, muitos oficiais de alta patente que eram contra o golpe, os chamados “legalistas”, mas que acabaram aderindo na última hora, pelo medo da quebra da hierarquia militar, por causa da movimentação dos cabos e sargentos por mais direitos.

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quarta-feira, 29 de março de 2023

A DUPLA TRAGÉDIA DA PROFESSORA ASSASSINADA EM SP * Márcia Friggi - SP

 A DUPLA TRAGÉDIA DA PROFESSORA ASSASSINADA EM SP


Texto: Márcia Friggi


       Tento escrever neste momento em que a angústia me paralisa e não consigo fazer mais nada a não ser caminhar de um lado a outro da sala como quem busca uma solução, uma solução que não veio, que tanto tarda, que nunca chega!!! Condições para isso, agora, eu não tenho, portanto considerem esta escrita mais como um grito de indignação e revolta do que um texto.


      Hoje, às 7h e 20min, numa escola estadual da zona oeste de São Paulo, quatro professoras e dois alunos foram esfaqueados por um adolescente de treze anos. A Professora Elisabeth Tenreiro não resistiu aos ferimentos e faleceu. Antes que este grito sabote meu discernimento e impeça um mínimo de senso de justiça e gratidão, meu abraço amoroso para a Professora Cíntia que imobilizou o agressor e impediu uma tragédia ainda maior.


     Eu não quero me referir agora a respeito das possíveis causas que levaram o estudante a cometer esse ato, sobre bullyng, segurança nas escolas ou sinais que nós professores percebemos nos alunos, nada desses assuntos sobre os quais “Especialistas em Educação” vão se debruçar nos próximos dias até a exaustão, até que tudo caia mais uma vez no esquecimento. Nós, que estamos no chão da sala de aula todos os dias, conhecemos muito bem essa realidade, caso alguém queira realmente alguma dica de como prevenir e tentar resolver, venha até uma escola, promova uma reunião com os professores e ESCUTE, apenas escute.


   O que me desespera, agonia, engasga e esfola é a dupla tragédia desse caso: Elisabeth Tereiro de SETENTA E UM ANOS, fazia a chamada hoje, às 7h e 20min da manhã, quando foi esfaqueada CINCO vezes e veio a falecer. SETENTA E UM ANOS! Nisso consiste a tragédia dupla: o assassinato e o fato dessa professora ainda estar em sala de aula. Muitos me dirão, “Era por amor, ela amava a profissão!” “Ela tinha o magistério como missão!” Por certo que havia muito amor no seu trabalho, mas posso assegurar que não foi o amor que a colocou naquele lugar, naquela hora, foi a necessidade. A mesma necessidade que levou um professor e diretor aposentado a dirigir um Uber para mim, na semana passada. A mesma necessidade que assassinou um colega meu, jovem professor de história, num acidente de moto quando ia de uma cidade a outra para lecionar. Muitos de nós têm vergonha de assumir essa condição tão humilhante e preferem romantizar o fato de permanecerem na ativa apesar da idade.


       É preciso muito mais que amor para estar em sala de aula de Ensino Fundamental e Médio, é preciso vigor físico, resistência emocional, firmeza na voz que, muitas vezes é abafada pelo ruído e conversa de mais de trinta alunos. É preciso muita, muita saúde mental!!! É necessária a disposição e energia da professora Cíntia que imobilizou o agressor com um mata leão. Os professores de Ensino Fundamental e Médio estão o tempo todo de pé, caminham pela sala entre um aluno e outro, saem de uma sala para outra, de uma escola para outra, carregam livros, materiais diversos e pesados. Eu tenho cinquenta e sete anos e já sinto dificuldade, imagina aos setenta e um.


      Não foi só o aluno que assassinou Elisabeth Tereiro, foi o Estado, foi a sociedade, foi nossa cultura de descaso com a educação, com os educadores, com o conhecimento. Foi esta infame  era de Ode a ignorância!!! Foi o desprezo pelos professores, muitas vezes perseguidos, menosprezados e humilhados por aqueles que deveriam nos proteger e defender. E nem me refiro aquela “suposta cantora insignificante”, me refiro a autoridades. Só em Santa Catarina, de onde escrevo, dois deputados estaduais têm como projeto a perseguição aos professores.


      Muitas mãos seguraram a faca que tirou a vida da Professora Elisabeth. As mesmas mãos que lhe negaram um salário decente, uma aposentadoria digna. As mesmas mãos que ordenam ataques de toda a natureza aos professores quando estão em greve. Essas mãos lhe roubaram o direito sagrado, depois de uma vida inteira de trabalho, de estar em casa ainda dormindo naquela hora. O direito de, aos setenta e um anos, acordar sem o toque do despertador, sem a pressa dos compromissos. O direito de levantar da cama quando o corpo está preparado para despertar. O direito de tomar um café da manhã sem pressa e dedicar o restante do dia aos afazeres que bem lhe aprouvessem. Por mais que, por vergonha ela negasse, foi a carência que lhe foi imposta por tantas e sucessivas mãos que a conduziram até a escola e a colocaram em frente do seu assassino.


     Às outras vítimas, quatro professoras e dois alunos, ficarão as consequências, as sequelas de tanta brutalidade que nunca são poucas e a mesma e contínua vulnerabilidade e desamparo a que continuarão sendo expostos todos os dias. Essas professoras terão de voltar a sala de aula e, certamente o farão sem nenhum apoio, sem nenhuma ajuda, sem nenhum aparo a não ser aquele que elas mesmas conseguirem prover com seus parcos salários!


      Meus sentimentos e mais profunda solidariedade aos parentes, colegas e amigos da professora Elisabeth! Meu carinho e abraço aos sobreviventes. Por vocês toda esta minha dor que não surgiu hoje e que algum dia, de alguma forma, talvez possa ajudar a modificar essa realidade insana dos professores brasileiros.


(Márcia Friggi)

GOLPE DE 1964 COMPLETA 59 ANOS * Frei Betto-SP

GOLPE DE 1964 COMPLETA 59 ANOS

 

-Passeata dos cem mil junho 1968-

Frei Betto

      Na sexta, 31 de março de 2023, o golpe que implantou 21 anos de ditadura militar no Brasil completa 59 anos. Na verdade, ocorreu a 1º de abril. Mas como nesta data se celebra o Dia da Mentira, os militares recuaram a comemoração para 31 de março. 


      A onda bolsonarista suscitou mobilizações favoráveis à volta da ditadura. A maioria dos que se opõem à democracia não têm ideia do que é um regime ditatorial: a censura que escondia da opinião pública as atrocidades praticadas nos porões do sistema repressivo; os reais índices econômicos do país; a corrupção que imperava nos sucessivos governos militares; as obras de arte proibidas; os assassinatos dos que lutavam por democracia.

      Fui preso duas vezes pela ditadura. A primeira, em junho de 1964, pelo “crime” de ser dirigente nacional da Juventude Estudantil Católica. Arrastado ao quartel da Marinha, no Rio, torturaram-me com socos e pontapés. Queriam que eu confessasse ser o Betinho (o mesmo que, mais tarde, liderou a luta contra a fome no Brasil ao criar a Ação da Cidadania), dirigente da Ação Popular, organização de esquerda de origem cristã. Ao se convencerem de que eu não era quem procuravam, queriam que eu denunciasse o paradeiro dele, ignorado por mim. Fiquei 15 dias detido, entre prisão da Ilha das Cobras e domiciliar. Não houve processo. 


      A segunda, que durou quatro anos, em 1969, por dar fuga a perseguidos políticos, atitude sacramentada pela Bíblia. Fiquei dois anos entre presos políticos e mais dois junto  a presos comuns. O STF reduziu minha pena de quatro para dois anos no mês em que eu completava os quatro... Isso se chama: ditadura! Como restituir minha vida nos dois anos que fiquei privado de liberdade? 


      Como disse Churchill, “ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Dizem que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.” 


Correu muito sangue para resgatar a democracia brasileira após 21 de regime militar. Quem tem interesse em se informar, sugiro meus livros “Cartas da prisão” (Companhia das Letras), “Batismo de sangue” e “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (ambos da Rocco). 


      A TV Brasil, canal 2, exibirá, na quinta, 30/3, às 22h, o filme “Batismo de sangue”, dirigido por Helvécio Ratton. Acompanhe toda a programação de filmes da “Semana Ditadura e Democracia” na TV Brasil, de 27/3 a 31/3, sempre às 22h.

      Hoje, nossa frágil democracia é ameaçada pelos terroristas que, fanatizados pelo bolsonarismo, querem impor a lei da força sobre a força da lei. E pelos militares e civis que ainda insistem em negar que houve golpe em 1964 e adotam os eufemismos “revolução” e “movimento”. E, sobretudo, acreditam em fantasmas, pois até na farda do Corpo de Bombeiros enxergam comunismo...


      O governo Lula veio resgatar a democracia brasileira. Acima do partidarismo, somos todos chamados a aprimorá-la e evitar o retrocesso histórico que só beneficiará uma minoria privilegiada. E reinstalará o terror em nosso país.

 

Frei Betto é escritor, autor de “Tom vermelho do verde” (Rocco), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

Assine e receba todos os artigos do autor: mhgpal@gmail.com


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ENTREVISTA 
GUILHERME BALZA - UOL

Frei Betto é sempre lembrado quando o assunto é a controversa relação entre a ditadura militar e a Igreja Católica, que passava por profundas transformações enquanto o país esteve sob o jugo das Forças Armadas. Em entrevista ao UOL, o dominicano descreve os conflitos no interior da igreja durante a ditadura e explica como se operou a mudança de lado da CNBB, que inicialmente celebrou o golpe com agradecimentos a Nossa Senhora Aparecida, mas depois se constituiu como força de resistência ao regime. O religioso revela ainda que a CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) financiou as Marchas da Família com Deus pela Liberdade, manifestações populares que antecederam o golpe m... 

- Veja mais em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/03/20/cia-financiou-igreja-em-marchas-pro-golpe-diz-frei-betto.htm?cmpid=copiaecola


UOL - O que o senhor estava fazendo em 31 de março de 1964? Frei Betto - Na verdade o golpe foi no dia 1º. Essa história de 31 é invenção dos milicos porque tinham vergonha do 1º de abril. O golpe foi oficialmente no dia 1º de abril, quando Jango sai do Brasil e se refugia no Uruguai. Eu estava participando do Congresso Latino-americano de Estudantes em Belém, no Pará.... 

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UOL - Como o senhor recebeu a notícia? Frei Betto - A notícia veio de maneira difusa, confusa, de que havia movimento de tropas, que o Jango tinha passado por Brasília, depois ido a Porto Alegre e de lá saído ao Uruguai, porque estava deposto. O Congresso foi desfeito porque ali participavam estudantes de quase todos os países da América Latina, muitos deles acostumados a golpes militares. Eles sentiram que a coisa ia endurecer. Estava hospedado na casa do arcebispo de Belém dom Alberto Gaudêncio Ramos porque eu era dirigente da Juventude Estudantil Católica (JEC) e da Ação Católica também. Fui pra casa de um militante da JEC chamado Lauro Cordeiro. E ali fiquei, de ouvido colado ... 

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UOL - Como o Vaticano e o papa Paulo 6º se posicionavam? Frei Betto - O papa não se posicionou no início. Mais tarde, o Vaticano veio a censurar a ditadura. Porque com o tempo a repressão se estendeu também à igreja e daí criou-se não só uma divisão na igreja, mas a própria CNBB foi se afastando da ditadura. A partir dos anos 70 a CNBB foi praticamente a grande voz de defesa das vítimas da ditadura. Tanto que o mais importante documento sobre os mais de 20 anos de ditadura foi produzido pelo d. Paulo Evaristo Arns, que é o livro “Brasil Nunca Mais”, que ele fez também com o reverendo Jaime Wright. A igreja e a própria CNBB se tornaram, a partir do AI-5, uma voz contra a ditadura. A... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/03/20/cia-financiou-igreja-em-marchas-pro-golpe-diz-frei-betto.htm?cmpid=copiaecola

DADOS SOBRE FREI BETTO

Frade dominicano e escritor, Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 69, mineiro de Belo Horizonte, era um jovem estudante adepto da Teologia da Libertação quando as tropas derrubaram o presidente João Goulart, em 1964. Foi preso pela primeira vez dois meses após o golpe, permanecendo 15 dias detido. O segundo cárcere foi mais longo, entre 1969 e 73, e mais cruel: o frade foi submetido a sessões torturas nos porões do DOI-Codi, em São Paulo, comandado pelo Coronel Brilhante Ustra. Nos dias posteriores ao golpe, o militante religioso foi testemunha da derrota dos progressistas no embate com conservadores dentro da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), fato que res... - 

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