O MANIFESTO COMUNISTA EM CORDEL
O escritor cearense Antônio Queiroz de França, anarquista de 67 anos, se dedica a transpor clássicos da literatura mundial à linguagem do brasileiríssimo cordel. Foi assim com o Manifesto Comunista (1847), de Karl Marx e Friedrich Engels. Nos versos, França não só conta do que trata o manifesto como faz um recorrido pela história do socialismo e da luta dos trabalhadores até os dias de hoje. “Escrevi desta forma para facilitar a assimilação por quem é menos politizado”, diz França. “A maior dificuldade foi ser fiel ao original, atendendo à métrica e à rima da Literatura de Cordel. Acho que consegui.”
O cordelista também transformou em cordel o conto Os Três Anciãos, de Leon Tolstói, e fez um apanhado de filosofia em Homem, o Lobo do Homem, inspirado no inglês Thomas Hobbes. “A ideia surgiu da minha preocupação com a falta de informação do povo sobre o que não é interesse do Estado divulgar”, afirma. Ótimo para aplicar em sala de aula, é o tipo de coisa que a gente lê e já escuta a viola acompanhando.
Leia trechos de O Manifesto Comunista em Versos, a seguir.
Pensadores, sociólogos
Cientistas sociais
Preocupam-se com o Homem,
Esse “rei dos animais”,
Que cultiva o egoísmo.
Da ética, não lembra mais.
Devido à desigualdade,
Estudam a economia,
E chegam à conclusão
Que a poucos privilegia.
Sem o mínimo pra ter vida,
Sofre a grande maioria.
Um grande gênio alemão,
E um outro camarada,
Prepararam uma tese,
Da humanidade estudada,
E descobriram a causa
Da fome verificada.
Foi De Karl Marx e Engels
A grande ação humanista,
Quando lançaram ao mundo
O Manifesto Comunista,
Dizendo que nosso grito
Necessita ser conquista.
Em mil e oitocentos e
Quarenta e sete emitiram.
Na Liga dos Comunistas,
Em congresso, decidiram.
O Manifesto dos pobres
Marx e Engels redigiram.
O Manifesto Comunista
Está ainda atual,
Pois a causa da miséria
É aquele antigo mal:
São riquezas concentradas
Em forma de capital.
A atual economia
Tem base na exploração:
Pra que poucos vivam bem,
Muitos passam privação,
Despojados da virtude
Que é a indignação.
Quem repudia injustiça,
Ou defende injustiçado,
A fúria da burguesia
Deixa estigmatizado.
Se for um pobre operário,
Ficará desempregado.
A crise capitalista
Assola o planeta inteiro.
Quanto mais concentra renda,
Menos o povo tem dinheiro,
Isto é, o feitiço volta
Contra o próprio feiticeiro.
Hoje no capitalismo
O patrão é indiferente,
Não quer saber se o operário
Está com fome ou doente,
Se os filhos não têm comida:
“Quem for fraco, se arrebente!”
O valor do Homem é zero,
Menos que outro animal,
São as características
Da economia atual:
O Homem só tem valor
Se possuir capital.
Lamentamos o episódio
Do continente europeu;
A guerra dos bolcheviques,
A velha ordem venceu,
Mas a União Soviética
Um bom exemplo não deu.
Como qualquer outro Estado,
Usou sua autoridade,
Mas onde ela imperar
Não haverá liberdade.
Frustrada a revolução,
Só restou a crueldade.
Preparemos desta vez
A nova revolução
Modificando o conceito
Do que é educação:
“Difundir conhecimentos,
E não domesticação.”
LIVRO: O Manifesto Comunista em Versos
AUTOR: Antonio Queiroz de França
EDITORA: Ensinamento
CONTATO: ensinamento@ensinamentoeditora.com.br
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