domingo, 31 de julho de 2022

O QUE É SER DE ESQUERDA * Professora Alba Valéria da Silva.GO

 O QUE É SER DE ESQUERDA


Ser de esquerda não é votar 

Nem no João nem no Mário

E sim pensar no salário

Que João e Mário não têm.

É votar no ideal

De inclusão social

Sem discriminar ninguém.


Eu não sou contra o empresário

Sou contra o baixo salário

Imposto ao trabalhador

Que  vive sem ter valor

E sou contra o opressor

Que vive de exploração

Contra a direita elitista

Corrupta e egoísta

Que vive de enganação.


Eu não sou contra a família

Que é tradicional

Mas o homossexual

Forma família também

No entanto é discriminado

Mesmo fazendo o bem

Dando lar a uma criança

Que já perdeu a esperança

E que vive sem ninguém. 


A esquerda não deseja

E nem vive na peleja

Pra seu filho ser um gay.

Porém eu aqui cheguei

Para exigir seu direito 

Pois mesmo que vc não queira

O  gay merece respeito.


Eu nunca fui contra os ricos

Sou contra esses esquisitos

Que pensam que são melhores

Do que as pessoas pobres

Que só vivem na labuta

Que nunca fogem da luta

Estão sempre a trabalhar

E que guerra nunca quis

Só quer ver o seu país

Voltando a  prosperar


Eu não sou contra a fartura

Sou contra a amargura

Que faz pai e mãe chorar

Sangrando o coração

Quando um pedaço de pão

Ao filhos não têm pra dar.


Eu não defendo bandido

Defendo o povo sofrido

Que vive sob opressão

De um governo sem noção

Sem ver direitos humanos

Com líderes muito tiranos

Que trazem destruição. 


Eu não sou contra mansões

Eu sou contra os casebres

Onde os pobres são jogados

Por esse bando de hereges

Que pensam que o deus dinheiro

A tudo pode comprar

Se esquecendo que um dia

Essa conta vai chegar.


Ninguém me viu criticando

Esse tal capitalismo

Eu critico o fascismo

Critico a desigualdade

Que traz infelicidade

A quem já vive sofrido

A quem já vive oprimido

Pária da sociedade.


Não sou contra o consumismo

Sou contra a destruição

Que os poderosos estão

Fazendo ao meio ambiente

Oprime, escraviza, mente

Ao índio, dono do chão

Que vê a terra, a nação

Sofrendo com as queimadas

Árvores sendo derrubadas

Para virarem carvão. 


Não sou contra o porte de armas

Sou contra a deseducação

E a falta de consciência

De quem se diz valentão

Quero me livrar de armas

E de livros me armar

Levando o conhecimento

Aonde eu possa chegar. 


Eu não sou contra a igreja

Sou contra os discursos de ódio

Estamos num episódio

Vendo o ódio se espalhar

Vamos falar só verdade

Alertar a sociedade

Para o amor fomentar.


Ser de esquerda é lutar

Por igualdade material. 

É lutar pelo direito

De quem sofre sob o mal

 Pelo direito dos negros.

 Da mulher, do quilombola

Quer do Brasil, quer de Angola

 Defender o trabalhador. 

Com o mal não me misturo

Quero respirar ar puro

Me ajude, por favor 


Ninguém vai ficar estático

Porque só é democrático

Quem vai pra rua lutar

Pelos direitos do outro

E garantir seu lugar

Por isso ergo a voz

Contra esse governo atroz

Que em breve há de acabar


Ser de esquerda nunca foi

Uma opinião política. 

É muito mais que uma crítica

A um governo genocida

É mais que uma condição

É defender a nação

É FILOSOFIA DE VIDA!!


Professora Alba Valéria da Silva.GO

(poetisa do entorno)

*
ANEXO

Trabalhadores tratados como animais: é essa a realidade dos motoristas de ônibus do Rio de Janeiro. Jornadas de 7h, se tornaram jornadas de até 14h de trabalho diário. Além de acumular funções de motorista, segurança e trocador, alguns trabalhadores relatam que caso haja problemas mecânicos nos veículos, ou assaltos, eles são obrigados a pagar o prejuízo. Pra piorar, a classe também descobriu que a empresa responsável não pagou o total de direitos básicos como FGTS e INSS. 

 Se você também se indigna com histórias como essas, você faz parte da CUT! 
Brigadas Digitais Da CUT 

sábado, 30 de julho de 2022

GREVE GERAL ENFRENTA A DITADURA! * Ernesto Germano Parés / RJ

 GREVE GERAL ENFRENTA A DITADURA!

Ernesto Germano Parés


37 anos o Brasil vivia um importante momento histórico. Em plena ditadura militar, três milhões de trabalhadores foram às ruas! A greve teve a adesão de 35 entidades sindicais e de associações de funcionários públicos. O destaque da época é que entidades da sociedade civil que hoje estão caladas diante do fascismo imposto participaram e deram apoio ao movimento: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e outras se solidarizaram com os trabalhadores e divulgaram notas e apoio público às manifestações.
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O país tinha o general João Batista de Figueiredo como presidente e o chamado “milagre econômico” dos militares já tinha naufragado. A economia arrasada, inflação descontrolada (chegando a 100% ao ano), a crise da dívida externa e o desemprego em massa.
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Em 1981, como já relatamos e ilustramos em um texto anterior, havia sido criada a “Comissão Nacional Pró-CUT”, durante o encontro que foi conhecido como Conclat. E foi a “Comissão Pró-CUT” que conclamou os trabalhadores para a 1ª greve geral no país depois do golpe militar de 1964.
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“Foi a primeira grande luta nacional que unificou os trabalhadores, após as greves de 1978, 1979, e obteve muita repercussão, contribuindo para termos um forte movimento pelas Diretas Já, alguns meses depois. Sem dúvida, foi um marco fundamental da resistência à ditadura, que já se encontrava em forte declínio, tanto que conseguimos derrotar um dos seus decretos na votação da Câmara”, lembrou em um depoimento o ex-deputado federal José Genoíno (PT-SP).
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Atendendo às determinações do FMI, o governo aumentava os juros para conter a inflação e cortava despesas, chegando ao ponto de baixar em maio o Decreto-Lei 2.025, que extinguia todos os benefícios dos empregados das empresas estatais. A reação dos trabalhadores foi imediata. No dia 16 de junho, 35 entidades sindicais e associações de funcionários públicos aprovam o estado de greve, em protesto contra o decreto.
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Metalúrgicos, petroleiros, bancários, professores e outras categorias assumiram aquela bandeira e mostraram que os trabalhadores já não suportavam o arrocho e a violência.
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O governo recuou, mas no dia 29 de junho Figueiredo assinou um novo decreto, o 2.036, atacando diretamente os direitos dos funcionários das estatais acabou com o abono de férias, as promoções, os auxílios alimentação e transporte, o salário adicional anual e a participação nos lucros, só para citar alguns. Em todo o país o exército entra em prontidão!
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“Fora Daqui o FMI” foi o grito que explodiu com toda a força por tanto tempo represada. E a Greve Geral de 24 horas em todo o país se tornou uma realidade. Setores reformistas da esquerda não acreditavam na greve, não aconselhavam a greve, não desejavam a greve, mas tiveram que engolir também os trabalhadores nas ruas gritando que não suportavam mais.
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Importante destacar que aquela greve impactou profundamente mais 40 milhões de pessoas e foi o caminho encontrado pelo conjunto de mais de cem entidades sindicais para a luta em defesa dos direitos dos trabalhadores.
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Pouco mais de um mês depois, no dia 28 de agosto de 1983, em um Congresso de Trabalhadores era fundada a Central Única dos Trabalhadores!
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VIVA A GREVE GERAL DE 1983!
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VIVA A LUTA DA CLASSE TRABALHADORA!
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A GREVE É UM DIREITO LEGÍTIMO DOS TRABALHADORES.
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sexta-feira, 29 de julho de 2022

EDUCAÇÃO POPULAR E A FORMAÇÃO POLÍTICA DA CLASSE TRABALHADORA * VÁRIOS AUTORES

EDUCAÇÃO POPULAR E A FORMAÇÃO POLÍTICA DA CLASSE TRABALHADORA

LANÇAMENTO

“Educação Popular e a Formação Política da Classe Trabalhadora - Centenário do Patrono da Educação Brasileira: Paulo Freire”

Organizado por Marcelino de Oliveira Fonteles, Maria José da Costa Sales e Elmo de Sousa Lima, o livro tem a pretensão de se somar às várias atividades de formação política das classes trabalhadoras.

Os ensaios e artigos abrangem diversas áreas sobre a formação do trabalho de base: sindical, partidária, dos movimentos populares e sociais, das comunidades de base, da educação, da cultura, da questão ambiental e urbana, da promoção da igualdade racial, sobre a concepção de mundo de Paulo Freire e do PT, dentre outras áreas.

Foram escritos por nomes reconhecidos nacionalmente como Moacir Gadotti e Pedro Pontual, Teresa Leitão, Lier Pires e Afrânio Silva, Carlos Lopes, Nelson Nery, Francisco Farias, Francisca Barros e Adriana Coutinho, Maria Dalva, Masilene Rocha, Maria do Rosário, vários doutores e doutoras, professoras titulares, mestres, lideranças políticas, populares e sindicais. Agora é adquirir e boa leitura!

É um livro de 404 páginas. O exemplar custa R$ 50,00. Você pode encontrá-lo na Livraria Entrelivros: https://www.livrariaentrelivros.com.br/produtos/educacao-popular-e-a-formacao-politica-da-classe-trabalhadora/

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BOZONAZI CONTRA AS MULHERES * Instituto Datafolha / SP

BOZONAZI CONTRA AS MULHERES

PM BOLSONARISTA

 O Instituto Datafolha apurou que cerca de 17 milhões de mulheres sofreram violência física ou psicológica em 2021 – um aumento de 42% para 48,8% das agressões ocorridas dentro de casa. E mesmo assim o governo Bolsonaro gastou apenas R$ 36,5 milhões em ações voltadas para mulheres. O valor investido em políticas públicas para mulheres diminuiu 74% entre 2015 e 2020. A título de comparação, no último ano da gestão da ex-presidenta Dilma Rousseff, foram investidos R$ 139,4 milhões.

As mudanças no Estatuto do Desarmamento também colocam a vida das mulheres brasileiras em risco. No Brasil, foram registrados oficialmente 1338 homicídios de mulheres por condição de gênero em 2020. A maioria desses assassinatos foi praticada por companheiros e ex-companheiros. Especialistas afirmam haver indicativos de aumento do risco às mulheres na pandemia, além do impacto negativo das políticas de afrouxamento das regras de controle de armas e munição patrocinadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

Nesse cenário desolador, seria fundamental o apoio do governo, mas Bolsonaro cortou em mais de 50% a verba federal para políticas públicas voltadas para as mulheres. Segundo levantamento feito pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), os recursos orçamentários autorizados em 2021 sofreram corte de 51,8% em relação a 2020.

Em 2020, ano em que já se sofria com o aumento da violação de direitos humanos em decorrência da pandemia da covid-19 e das diferentes crises que o Brasil vem atravessando desde 2016, o Ministério da Família e Direitos Humanos, de Damares, deixou de executar 70% do orçamento da pasta, segundo dados do Inesc. Estudos inéditos mostram que a verba para combate à violência contra as mulheres é a menor em 4 anos.

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Biblioteca Barca das Letras lança livro no Fórum Social Panamazônico * Fórum Social Panamazônico/PA

Biblioteca Barca das Letras lança livro no Fórum Social Panamazônico

A comissão executiva do X Fórum Social Pan-Amazônico, que tem se reunido para organizar o evento, divulgou a lista das tendas pré-aprovadas, ou seja, que se inscreveram no prazo e já realizaram o depósito do valor estipulado. As tendas são destinadas a organizações que desejam compartilhar suas historias, experiências e visões do mundo. Confira abaixo: […]


Livro de memórias afetivas traz a trajetória da Biblioteca Barca das Letras nestes 14 anos, contada pelos leitores, doadores, voluntários e apoiadores.

Durante o Fórum Social Panamazônico, 28 a 31 de julho, ocorrerá o lançamento do livro “Barca das Letras – Cartas de navegação e utopias”, que registra 14 anos de atividades da biblioteca itinerante, que distribuiu aproximadamente 90 mil livros para jovens e crianças em mais de 300 encontros em aldeias indígenas, quilombos e comunidades ribeirinhas da região amazônica, outros Estados e na Bolívia. No Pará, já passou por 17 municípios.

A Biblioteca itinerante Barca das Letras, criada pelo amapaense Jonas Banhos, com origens no Quilombo Conceição do Macacoari, por todos esses anos tem desenvolvido intenso trabalho coletando doações de livros infantojuvenis, principalmente em Brasília, os quais são distribuídos em encontros lúdicos, composto de rodas de leitura, contação de histórias, saraus e atividades circenses, além da entrega de livros. São 14 anos de ações, em que diversos arte-educadores(voluntários) têm aplicado a pedagogia de Paulo Freire em lugares que sofrem o abandono do Estado e a ausência de políticas públicas destinadas à leitura, literatura, livro e bibliotecas.

O livro que conta a trajetória da Barca das Letras, também reúne mais de 30 depoimentos de pessoas que estiveram juntas ao longo dessa jornada, traz informações sobre os locais por onde esteve, fotos das ações, premiações conquistadas, a metodologia aplicada e o resultado alcançado, que vai além dos números, mas principalmente expresso nas próprias palavras de quem viveu este ousado e envolvente projeto.

“Barca das Letras – Cartas de navegação e utopias” foi escrito por Jonas Banhos e Pedro César Batista, editado pela Cromos, editora de Belém. Os recursos de sua venda serão revertidos para o pagamento da impressão e a distribuição dos livros aos jovens e crianças das localidades onde a Barca das Letras desenvolve suas atividades.

Durante o Fórum Social Panamazônico será instalada a Tenda Barca da Letras, local que estará recebendo doação de livros para o projeto, realizará atividades culturais e terá o lançamento do livro. É a primeira ação da biblioteca no Pará, após o advento da pandemia Covid-19.

Serviço:

Lançamento do livro “Barca das Letras – Cartas de navegação e utopias”
Dia 29.7(sexta-feira) e 30.7(sábado), de 14h às 16h
Local: Tenda Barca das Letras – Fórum Social Panamazônico(UFPA)
Publicação – Cromos Editora
Valor: R$ 50,00

Contatos:
61 983557232 - Jonas Banhos
@barcadasletras(insta/face)
Pix: barcadasletras@gmail.com
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quarta-feira, 27 de julho de 2022

1962 O ANO DO SAQUE * Thais Carrança / BBC BRASIL

1962 O ANO DO SAQUE

 Thais Carrança São Paulo | BBC News Brasil


Há 200 anos, o Brasil se tornava independente. Há 100, assistia à Semana de Arte Moderna. Mas um outro acontecimento histórico, menos conhecido, completa 60 anos em 2022.

Trata-se da maior onda de saques da história do país, que teve início em Duque de Caxias e se espalhou por toda a Baixada Fluminense.


Em meio à inflação, à fome e a uma greve geral, o quebra-quebra aos gritos de "Queremos comer" e "Saque" deixou ao menos 42 mortos, 700 feridos e mais de 2.000 estabelecimentos atingidos, muitos dos quais nunca se recuperaram.


'Grande saque' de 1962 em Duque de Caxias resultou em 42 mortos, 700 feridos e mais de 2.000 estabelecimentos atingidos. Segundo estudiosos, episódio marcou o surgimento de uma polícia paga para proteger o comércio, origem das milícias na região - Reprodução Fatos & Fotos


"A respeito dos distúrbios, o então prefeito Adolfo David declararia ao Jornal do Brasil que tinha assistido a uma verdadeira batalha, onde mulheres, homens e crianças gritavam que preferiam morrer lutando, a morrer de fome", relatam Rogério Torres e Newton Menezes, no livro "Sonegação, Fome, Saque" (1987), que relata os acontecimentos de 5 de julho de 1962.


Em resposta ao episódio, comerciantes da Baixada Fluminense passaram a patrocinar grupos armados para proteger suas lojas. Segundo pesquisadores, os grupos conhecidos como Brigada de Defesa da Família Caxiense e Turma do Esculacho marcam a origem das milícias na região.


Em 2019, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro estimava que as milícias atuavam em 14 cidades do Estado do Rio e em 26 bairros da capital, com mais de 2 milhões de pessoas vivendo sob o jugo de paramilitares.


O que estava acontecendo no Brasil em 1962


E agosto de 1961, com apenas sete meses de mandato, Jânio Quadros renunciou à presidência da República em meio a uma crise política, numa tentativa de voltar nos braços do povo, com mais poderes. O tiro saiu pela culatra, e a renúncia foi prontamente aceita pelo Congresso.


O vice-presidente João Goulart estava na China, numa missão oficial armada por Jânio, e militares tentaram impedir a posse dele como presidente. O governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, liderou o movimento pela legalidade, conseguindo impedir o golpe.


Mas o Congresso apenas permitiu a posse de Jango, em setembro daquele ano, sob um regime parlamentarista, tendo Tancredo Neves como primeiro-ministro. Foi uma forma de limitar os poderes do político percebido pelos militares e setores da sociedade civil como "subversivo" e "comunista".

"João Goulart assume, mas a estrutura social, econômica e política do país estava numa crise profunda. O próprio Jango expressava todo um movimento crítico a essa realidade. Ele pregava grandes mudanças, com uma base política vinda do trabalhismo e com apoio de movimentos sociais e sindicais, que cresciam muito nessa época", lembra José Cláudio Souza Alves, professor da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e autor do livro "Dos barões ao extermínio: Uma história de violência na Baixada Fluminense" (2020), em entrevista à BBC News Brasil.


Naquele início dos anos 1960, uma série de fatores contribuíam para uma crise econômica profunda. Entre eles: um endividamento externo crescente, herdado das políticas desenvolvimentistas do governo Juscelino Kubitschek (1956-61); elevados déficits comerciais e redução da capacidade de importação do país; e um aumento da inflação que se agravava desde o final dos anos 1950.


Em 1960, a inflação acumulada foi de 25,4%; no ano seguinte, de 34,7%. Em 1962, o ano do grande saque, a alta de preços chegaria a 50,1% e a 78,4% em 1963.


Mesmo antes de 5 de julho, episódios de violência devido à inflação e à fome já explodiam no país. Na manchete do jornal Última Hora de 3 de julho de 1962, saques em Niterói (RJ) - Reprodução Última Hora


"Há uma inflação galopante, um aumento acelerado de preços das mercadorias da cesta básica", afirma Marlúcia Santos de Souza, coordenadora geral no CRPH/DC (Centro de Referência Patrimonial e Histórico de Duque de Caxias).


"Começa então uma pressão dos movimentos feministas no Brasil inteiro, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro. Os movimentos de mulheres 'Panela Vazia', contra o custo de vida, contra a carestia vão pressionar o governo no sentido de controlar os preços dos alimentos."


Com preços tabelados pela Cofap (Comissão Federal de Abastecimento e Preços), comerciantes retiravam mercadoria das prateleiras, para vendê-las a preços mais altos no mercado paralelo.


"Faltava arroz, pão, feijão, enfim, raro foi o dia em que um ou mais produtos não entraram no 'index' dos sonegadores. Parecia que o país vivia em clima de racionamento de guerra. Como sempre, mais uma vez o governo Jango era responsabilizado pela carestia e pela falta de gêneros", escrevem Torres e Menezes.


Em meio à pressão crescente da sociedade civil, o primeiro-ministro Tancredo Neves renuncia e João Goulart indica San Tiago Dantas para substituí-lo. Dantas tinha o apoio da esquerda do Congresso e do movimento sindical, mas sua indicação foi vetada pelos setores conservadores.


Em resposta ao veto e à indicação para o cargo do conservador Auro de Moura Andrade, o movimento sindical convocou uma greve geral para o dia 5 de julho.


5 de julho de 1962: da greve ao saque


"Frente à fome e à crise econômica que se abatia sobre a Baixada e temerosos de perderem seus empregos, os trabalhadores saíam de madrugada dos bairros mais distantes de Duque de Caxias e se aglomeravam próximos à Praça do Pacificador, no centro do município", escreve José Cláudio Souza Alves, em seu livro, baseado em tese de doutorado defendida no Departamento de Sociologia da USP (Universidade de São Paulo).


Frustradas pela impossibilidade de chegar ao trabalho, cerca de 20 mil pessoas se concentravam nos arredores da praça por volta das 4h30 da manhã.


Foi quando correu a notícia de que, em uma casa comercial próxima, havia feijão, produto que naquele momento tinha praticamente sumido da mesa das famílias.


"Imediatamente após o saque da Casa da Banha, localizada na antiga estrada Rio-Petrópolis, quase ao lado da Galeria Baltazar, foi a vez dos demais estabelecimentos que estavam próximos: Armazém Dragão, Supermercado São Vicente, Mercadinho Nacional", relatam Torres e Menezes.


Cerca de 20 mil pessoas se concentravam nos arredores da Praça do Pacificador, no centro de Caxias, quando correu a notícia de que, em uma casa comercial próxima, havia feijão. Assim, começaram os saques - Reprodução Fatos & Fotos


"A população carregava tudo que encontrava e, dos armazéns, passou aos açougues e padarias. Pelas ruas, homens, mulheres, crianças e velhos transportavam da maneira que podiam os mais diversos artigos: latas de biscoitos, sacos de arroz, feijão, mantas de carne-seca e até mesmo peças inteiras de carne", completam os autores.


Do centro de Caxias, a revolta se espalha por outros municípios da Baixada, como São João do Meriti e Nova Iguaçu. Ao meio-dia, praticamente todo o comércio de alimentos já havia sido saqueado, sendo poupados apenas estabelecimentos que estenderam na fachada a bandeira do Brasil, com faixas de apoio "à legalidade democrática".


Saqueadores saqueados, linchamentos e mortes


Numa padaria na Av. Presidente Vargas, dezenas de pessoas que saíam com produtos saqueados foram atacadas por outras que esperavam do lado de fora.


O dono de uma loja de materiais de construção que, armado, tentou defender uma padaria vizinha, foi morto com um paralelepípedo. Um comerciante português atingiu um menor de idade ao atirar contra a multidão, sendo posteriormente linchado.

Após um jovem de 14 anos ser ferido durante tiroteio, o dono de uma boate foi atacado a pedradas e todos os móveis do estabelecimento empilhados na rua e incendiados.


Capa do jornal Luta Democrática relata os episódios de violência durante o 5 de julho de 1962 - Reprodução Luta Democrática


"Nós ouvimos a quantidade de pessoas que vinham na frente, gritando 'Quebra! Quebra!', e os outros que vinham atrás já saqueando tudo, quebrando todas as portas", recordou a aposentada Maria Concebida, em entrevista sobre suas memórias daquele 5 de julho, ao documentário "1962: O Ano do Saque" (2014), de Rodrigo Dutra e Victor Ferreira.


"Onde tivesse uma porta fechada que fosse de comércio, quebrava. E carregava de tudo. Então meu marido [falou]: 'Eu vou entrar, porque nós vamos passar fome'", contou Concebida.

"Nós levamos arroz, feijão e farinha. Era a única coisa mais fácil para carregar. Não roubava as coisas de dentro das casas, não. Era só alimento. No fim, os bebuns começaram a carregar as outras coisas: cachaça, bebida, tudo."


A greve geral e a onda de saques sem precedentes estamparam as capas e páginas internas de todos os jornais na sexta-feira, 6 de julho de 1962.


Sob a manchete "Explosão popular no Estado do Rio: 700 vítimas e dano de 1 bilhão", o Jornal do Brasil reportava: "O Palácio do Ingá [então sede do Governo Fluminense] informou ontem à noite que 42 pessoas morreram, e 700 foram feridas em quatro Municípios do Estado do Rio, onde a população se revoltou e, ganhando as ruas, invadiu um a um todos os armazéns, empórios e mercadinhos, num saque sistemático que causou prejuízos de Cr$ 1 bilhão [1 bilhão de cruzeiros]. (...) A manifestação foi a maior dessa espécie já verificada no País."


Como onda de saques por fome deu origem à milícia em município do RJ - Reprodução Jornal do Brasil


As consequências da revolta popular


José Cláudio, da UFFRJ, conta que muitos estabelecimentos comerciais da Baixada nunca se recuperaram desse episódio.

Num relatório interno, a Associação Comercial e Industrial de Duque de Caxias concluiu que 30% dos comerciantes saqueados não se restabeleceram, 50% voltaram em condições precárias e apenas 20% retornaram em condições normais, cita o professor, em seu livro.


"Os processos de indenização eram complexos, pois eram necessárias regularizações e documentações para acessar. Então os comerciantes mais dinâmicos, mais organizados, mais poderosos conseguiram obter recursos volumosos e reestruturam seus mercados. É quando surgem supermercados como Sendas e Casa da Banha", diz Marlúcia, do CRPH/DC, sobre o processo de concentração do varejo em grandes redes, após a onda de depredação.


Outra consequência do levante popular de 5 de julho foi um reforço na segurança por parte dos comerciantes através de grupos armados.


"O delegado convocou voluntários para o policiamento da cidade. Estes, em grupo de 12, formariam a Brigada de Defesa da Família Caxiense. Surgia assim uma força paramilitar da qual faziam parte muitos jovens que pertenciam a famílias abastadas da cidade", escreve José Cláudio.


Eronides Batista, presidente da Associação Comercial, assim justificou a criação da milícia, em reportagem da revista Fatos & Fotos, de 21 de julho de 1962:

"Milícia é forma de expressão. Não há comando militar. Eles apenas procuram evitar novos saques e perturbações; e até hoje não houve incidentes entre eles e o povo. Nós não somos favoráveis, é evidente, à fome. Mas não somos responsáveis por ela", defendeu Batista.


As milícias de Duque de Caxias foram tema de reportagem da revista Fatos & Fotos, de 21 de julho de 1962 - Reprodução Fatos & Fotos


O professor da UFFRJ avalia que essa milícia nascente é diferente por exemplo, do grupo de Tenório Cavalcanti, político de Caxias conhecido como o "Homem da Capa Preta", vestimenta que usava para esconder a submetralhadora que sempre carregava, chamada Lurdinha.


"Cavalcanti tinha um grupo de capangas, mas de âmbito privado, pessoal. O que acontece em 1962, que é a indicação de algo diferenciado, é a formação de grupos de vigilantes, homens que vão pegar em armas para proteger o comércio, muitos deles ligados à classe média, como a Turma do Esculacho", cita José Cláudio.


Ele destaca que muitos desses "playboys armados" se projetam politicamente a partir de sua ação nas milícias, caso, por exemplo de Hydekel de Freitas, genro de Tenório Cavalcanti, que depois se tornaria prefeito de Duque de Caxias e deputado federal.


"Surge daí a ideia da formação de uma estrutura de segurança contra uma ameaça que são os próprios populares da cidade, ao passarem necessidade e fome. É o embrião de uma estrutura apoiada pelo Estado, financiada pelos comerciantes e tendo por trás um apoio político que a mantém", diz o pesquisador, sobre os paralelos com a milícia atual.


Mas os resultados da greve geral não foram apenas negativos. Foi dessa mobilização da classe trabalhadora que nasceram conquistas como o 13º salário.


De 1962 a 2022


Para José Claudio, passados 60 anos, as desigualdades sociais do país se intensificaram, com um fator inédito: a pandemia, que penalizou mais as camadas vulneráveis. Ele cita ainda a volta da inflação e da fome, como elementos que permitem um paralelo entre agora e então.


"Mas, naquela época, havia um movimento popular e grupos sindicais muito fortes, que queriam modificações na sociedade. Esses grupos estavam se organizando e se movimentando. Hoje, não há um movimento forte por parte das camadas populares para sanar as desigualdades sociais e uma organização política desses grupos dentro do campo da esquerda", avalia o sociólogo.

"Ao contrário, há um crescimento de grupos de extrema direita. Movimentos que querem manter essa população controlada a partir de discursos conservadores, moralistas e que apoiam o extermínio, como 'bandido bom é bandido morto'."


Para José Cláudio Souza Alves, da UFFRJ, inflação e fome são pontos comuns entre 1962 e 2022, mas contexto político é bastante diferente - Reprodução Fatos & Fotos


O pesquisador observa que as milícias e os grupos de extermínio se mantiveram ao longo da ditadura militar, aprofundando suas relações políticas, econômicas e territoriais.


Eles começam a se eleger nos anos 1990, como vereadores, prefeitos e deputados estaduais nessa região da Baixada. Até que, a partir de meados dos anos 1990, as milícias vão se configurar como são hoje, uma estrutura mais ampla, com vários mercados de bens e serviços que eles vão monopolizar nas áreas que controlam", diz o professor.


"O poder desses grupos hoje é muito mais expressivo do que aquele grupo da Turma do Esculacho, que pegava em armas. Hoje já superamos isso em muito: são mais de 2 milhões de habitantes atingidos pela milícia somente no Rio de Janeiro, 14 municípios com presença maciça de milicianos, um território de 348 metros quadrados onde eles estão atuando e, na cidade do Rio, 57% do território ocupado por grupos criminais está na mão de milícias. Então isso mudou muito e, a meu ver, piorou muito, daquele momento para o atual." 

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