domingo, 3 de outubro de 2021

Pátria madrasta vil * Clarice Zeitel Viana Silva / RJ

PÁTRIA MADRASTA VIL

CLARICE ZEITEL VIANA SILVA / RJ

 *REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA QUE ACABA DE VENCER  CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES* 


Tema:  ” Como vencer a  pobreza e a desigualdade”


Autora: Clarice Zeitel Vianna  Silva


UFRJ -  Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro -  RJ


Leia e entusiasme-se!


“PÁTRIA MADRASTA VIL"


Onde já se viu tanto excesso de falta?

Abundância de inexistência...

Exagero de escassez...

Contraditórios?

Então aí está!

O novo nome do nosso país!

Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.

Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de  caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de  escassez de responsabilidade.

O Brasil nada mais é do que uma  combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de  contradições.

Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe  gentil', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe.

Pela definição que eu conheço de MÃE, o  Brasil,   está mais para madrasta vil.

A minha mãe não  'tapa o sol com a peneira.'

Não me daria, por exemplo, um lugar na  universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.

E mesmo há  200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me  restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe  não iria querer me enganar, iludir.

Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse  efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação +  liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação  pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela  falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa.

A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a  minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade.

Uma segue a outra...

Sem nenhuma contradição!

É disso que o  Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem  esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam  hipócritas, mudanças que transformem!

A mudança que nada muda é  só mais uma contradição.

Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos,  mas não ensinam a pescar.

E a educação libertadora entra aí.

O povo está tão paralisado pela ignorância que  não sabe a que tem direito.

Não aprendeu o que é ser cidadão.

Porém,  ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade:  nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático  do Estado não modificam a estrutura.

As classes média e alta - tão confortavelmente  situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar  (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)...

Mas estão elas preparadas para isso?

Eu  acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de  dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos,  possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.

Afinal, de  que serve um governo que não administra?

De que serve uma mãe que não afaga?

E, finalmente, de que serve um Homem que não se  posiciona?

Talvez o sentido de nossa própria existência esteja  ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um  todo. Sem egoísmo.

Cada um por todos.

Algumas perguntas,  quando auto-indagadas, se tornam elucidativas.

Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil?

Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil?

Ser tratado como cidadão ou excluído?

Como gente... Ou como  bicho?


Premiada pela UNESCO,  Clarice Zeitel Vianna Silva,  26 ,  estudante que termina Faculdade de Direito da UFRJ em julho,  concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar  de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas  para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma  redação sobre  'Como vencer a pobreza e a desigualdade.'  A  redação de Clarice  intitulada  'Pátria Madrasta Vil',foi incluída  num livro, com  outros cem textos selecionados no concurso. A  publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da   UNESCO.

***

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho