ANÁLISE REFLEXIVA SOBRE O SEGUNDO TURNO
II PARTE
Há alguns resultados na primeira pesquisa data folha do segundo turno que podem ser interpretados de duas maneiras: a primeira apontaria para um cenário bastante ruim para a candidatura Lula / Alckmin.
Falo da expressiva queda nas taxas que alimentam a rejeição de Bolsonaro e o consequente aumento expressivo nas taxas positivas do governo:
1. Parcela da população que julga o governo ruim ou péssimo caiu 4% (44% para 40%) da última pesquisa Data Folha (27 a 29/9, antes do primeiro turno, portanto) para a atual (5 a 7/10).
2. Parcela da população que nunca confia no presidente caiu 5% (51% para 46%) da última pesquisa Data Folha (27 a 29/09) para a atual (05 a 07/10).
3. Parcela da população que considera o governo ótimo/bom subiu 6% (31% para 37%) no mesmo período.
4. Parcela da população que sempre confia no presidente subiu 7% (21% para 28%) no mesmo período.
Esses dados podem ser interpretados como resultado dos efeitos das medidas eleitoreiras e anticonstitucionais que Bolsonaro vem tomando nesse segundo semestre, conforme aludi na primeira reflexão sobre o segundo turno, publicada a semana passada.
Essa interpretação pode ser sustentada por uma outra hipótese sobre dados comparativos das duas últimas pesquisas, quais sejam: a última pesquisa realizada (Data Folha 5 a 7/10), no seu método de coleta de dados, trabalha com uma amostragem por classe social que considera 50% ganhando até dois salários mínimos. Nessa pesquisa Lula venceria Bolsonaro por 49% a 44% dos votos totais (diferença de 5 pontos) e por 53% a 47% dos votos válidos (diferença de 6 pontos).
Se compararmos com a pesquisa anterior (QUAEST 3 a 5/10) que considera apenas 37% ganhando até dois salários mínimos e que apresentava uma diferença de 7 pontos a favor de Lula nos votos totais (48% a 41%) e de 8 pontos nos votos válidos (54% a 46%), abstraindo que a variação entre as duas pesquisas se dá dentro da margem de erro e considerando essa comparação correlacionada com as variações nas taxas de confiança/aprovação e desconfiança/reprovação do governo (expressas acima), podemos conjecturar que a votação de Bolsonaro está crescendo entre os mais pobres – quando se aumenta a amostragem dos mais pobres (Data Folha), a diferença entre Bolsonaro e Lula diminui.
Se essa for a realidade, com o aumento do efeito das medidas eleitoreiras e anticonstitucionais e com a adoção descarada de novas medidas, a dinâmica é de aumento progressivo dos votos de Bolsonaro e teremos uma apuração apertadíssima, com uma tendência por ora difícil de prever. Como diria o locutor esportivo: vai ter emoção até o fim.
Jogariam a favor de Bolsonaro, nesse cenário, as três semanas que ainda faltam para o pleito. Jogaria contra o grande percentual de votos que se dizem consolidados.
A outra hipótese é que esse movimento abrupto nas taxas de confiança/desconfiança de Bolsonaro reflitam o movimento de migração dos votos Ciro e Tebet no dia do pleito do primeiro turno e, depois, da migração de uma parte menor na abertura do segundo turno e tenda a se estancar.
Nessa hipótese trabalho com um referencial de natureza psico-social que se explicaria da seguinte forma: no primeiro turno, essas taxas não eram captadas pelas pesquisas porque os eleitores antipetistas de Ciro e Tebet que migraram no dia do pleito para o presidente justificavam sua opção política pela terceira via negando tanto Lula quanto Bolsonaro.
Após essa migração que se somou aos novos migrados após o primeiro turno, esses eleitores passam a justificar seu voto pró-Bolsonaro, abandonando sua rejeição absoluta e aumentando sua aprovação absoluta ou relativa.
Se essa hipótese for a que melhor espelha a realidade, a diferença da distância entre Lula e Bolsonaro observadas na comparação entre as pesquisas Genial/Quaest e Data Folha ocorreriam por conta da margem de erro e não espelhariam uma dinâmica em curso entre os mais pobres.
Nesse cenário, ceteri paribus, a distância entre Lula e Bolsonaro, apontada nas primeiras pesquisas (IPEC, QUAEST e DATA FOLHA), tende a se manter, com as oscilações se restringindo aquelas provenientes das campanhas de rua, dos debates e das propagandas eleitorais.
E claro que a propaganda eleitoral (muito melhor a de Bolsonaro nos dois primeiros dias) e os debates terão alguma influência no resultado final.
As próximas pesquisas, sem dúvida, apontarão novas conclusões e novas hipóteses.
De todas as formas, reitero o que manifestei na primeira reflexão sobre o segundo turno:
1. Em qualquer dos dois casos, a campanha Lula / Alckmin tem a necessidade de tomar as ruas ee explicar pacientemente nas regiões de periferia e nos locais de trabalho que as medidas atuais tem prazo de validade até as eleições e que a verdadeira política econômica de Bolsonaro para os pobres é manda-los trabalhar como burro-de-carga sem nenhum direito assegurado – que ele tenta enganar chamando de liberdade – você não tem patrão, mas também não tem salário garantido, não tem férias, não pode ficar doente, não tem 13º. Ou seja, você é livre para viver pessimamente. Esse é o debate principal: as condições materiais de vida do povo trabalhador.
2. Junto com isso, no trabalho de base, temos que estabelecer a discussão de que com Lula, pelo menos, poderemos avançar em nossa organização para lutar pelo que precisamos. Não podemos esperar que um futuro governo Lula-Alckmin vá atender nossas reivindicações se não lutarmos. Mas pelo menos poderemos nos organizar para lutar. Não só contra o governo pela nossa pauta de reivindicações que inclui emprego, salário, moradia, terra, saúde e educação, mas também contra os bolsonaristas fascistas que vierem se meter com nossa luta e nossa organização.
*
I PARTE
Parece que já há um consenso sobre a onda bolsonarista do primeiro turno que fez com que alguns quisessem questionar os cálculos estatísticos das pesquisas científicas, principalmente considerando os resultados de Rio de Janeiro e São Paulo. Alguns falam também em Minas, embora em Minas o vetor direção tenha se mostrado no sentido correto.
O consenso aponta que houve uma onda pró-Bolsonaro nas últimas horas que antecederam a eleição presidencial e que se espelhou no resultado final da eleição. Para ele teriam migrado parte dos votos de Ciro Gomes que desidratou em dois pontos percentuais em relação à última pesquisa Data Folha (de 5% para 3 %) e 3 pontos percentuais em relação à última pesquisa IPEC (de 6% para 3%); teriam migrado também parcela dos votos de Simone Tebet que, de acordo com o Data Folha, caiu 1,8% em relação à pesquisa realizada entre 27 e 29 de setembro (de 6% para 4,2%) e, de acordo com o IPEC, caiu 0,8% (de 5% para 4,2%). Também teria contribuído para a subida não detectada de Bolsonaro uma parcela de eleitores até então indecisos que, no caso particular de Rio e São Paulo correspondiam a um percentual importante dos eleitores. A votação de Lula ficou dentro da margem de erro de 2% do Data Folha (50% para 48,4%) e um pouco abaixo da margem de erro de também 2% considerada pelo IPEC (51% para 48,4%).
O que o “consenso” não explica é por que isso ocorreu. A depender da resposta a esse “por que” poderemos ter uma ou outra realidade configurada no segundo turno das eleições.
Há duas hipóteses que, a meu juízo podem explicar o fenômeno de crescimento extemporâneo de Bolsonaro no primeiro turno. Cada uma delas aponta para um desfecho diferente. Vos digo que não tenho clareza científica para me inclinar por uma delas, sendo obrigado a permanecer na incômoda posição do “palpite”.
A primeira, e a que mais me agrada, é que houve uma antecipação do voto útil do segundo para o primeiro turno. Nesse sentido, aqueles eleitores antilulistas que optariam por um voto ideológico em Ciro Gomes ou em Simone Tebet, sob a pressão do risco de vitória de Lula no primeiro turno, anteciparam o voto em Bolsonaro para o primeiro turno. Se isso é verdade, a parcela qualitativa de votos antipetistas que estavam com Ciro Gomes e com Simone Tebet JÁ MIGRARAM NO PRIMEIRO TURNO PARA BOLSONARO, sobrando nos votos que esses dois candidatos obtiveram a parcela antibolsonarista, suscetível, portanto, de votar em Lula no segundo turno.
Nessa realidade, ceteri paribus, o grande contigente de votos em Lula no primeiro turno tende a se repetir, configurando a derrota eleitoral de Bolsonaro.
A segunda hipótese é mais dramática e se refere aquilo que em estatística chamamos de tendência ou comportamento tendencial. Nesse caso uma inversão de tendência. Refiro-me ao pacote de medidas eleitoreiras e anticonstitucionais aprovadas às vésperas das eleições pelo conluio entre a presidência da república (Jair Bolsonaro) e a presidência da câmara dos deputados (Arthur Lira). Nesse cenário, as medidas eleitoreiras (queda no preço do combustível e da energia elétrica, auxílio de 600,00, deflação, etc) teriam começado a fazer efeito e uma parcela do eleitorado teria começado um movimento no sentido de manutenção do atual governo. Essa é uma aposta feita há algum tempo pela área econômica da campanha de Bolsonaro.
Nessa realidade, o tempo é o pior inimigo da campanha Lula-Alckmin, pois se estamos diante de uma tendência conjuntural, enquanto durar essa conjuntura mais eleitores migram para a campanha de Bolsonaro.
As próximas pesquisas de intenção de voto ajudarão a revelar qual o quadro real diante do qual estamos.
Em qualquer dos dois casos, a campanha Lula / Alckmin tem a necessidade de explicar pacientemente que as medidas atuais tem prazo de validade até as eleições e que a verdadeira política econômica de Bolsonaro para os pobres é manda-los trabalhar como burro-de-carga sem nenhum direito assegurado – que ele tenta enganar chamando de liberdade – você não tem patrão, mas também não tem salário garantido, não tem férias, não pode ficar doente, não tem 13º. Ou seja, você é livre para viver pessimamente.
Junto com isso, no trabalho de base, temos que estabelecer a discussão de que com Lula, pelo menos, poderemos avançar em nossa organização para lutar pelo que precisamos. Não podemos esperar que um futuro governo Lula-Alckmin vá atender nossas reivindicações se não lutarmos. Mas pelo menos poderemos nos organizar para lutar. Não só contra o governo pela nossa pauta de reivindicações que inclui emprego, salário, moradia, terra, saúde e educação, mas também contra os bolsonaristas fascistas que vierem se meter com nossa luta e nossa organização.
Júlio Santos
Atuário, aposentado e membro do Conselho Diretor do Centro Cultural Octavio Brandão (CCOB)
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho