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domingo, 5 de fevereiro de 2023

REAL VERSUS VIRTUAL * Crônicas Anônimas

REAL VERSUS VIRTUAL


Entrei apressado e com fome no restaurante.

Escolhi uma mesa bem afastada, pois queria aproveitar os poucos minutos de que dispunha para comer.

Abri meu notebook e levei um susto com aquela voz baixinha atrás  de mim:

- Tio, dá um trocado

- Não tenho menino.

- Só uma moeda para eu comprar pão...

- Está bem, compro um para você.

Para variar, minha caixa de entradas estava lotada. Fico distraído vendo poesias, e dando risadas com as piadas malucas.

- Tio, pode por margarina e queijo também?

Percebo que o menino tinha ficado ali.

- Ok, mas depois me deixe trabalhar.

Chega a minha refeição. Faço o pedido do menino e o garçom me pergunta se quero que mande o garoto sair. 

Minha consciência me impede de dizer sim. Digo que está tudo bem.

Deixe-o ficar, traga pão e mais uma refeição decente para ele.

Então o menino se senta à minha frente e pergunta:

- Tio o que está fazendo?

- Estou lendo uns e-mails

- O que são e-mails?

São mensagens eletrônicas mandadas por pessoas via internet, é como se fosse uma carta, só que via internet.

- Tio, você tem internet?

- Tenho sim, é essencial no mundo de hoje.

- O que é internet?

É um local no computador onde podemos ver e ouvir muitas coisas, notícias, músicas, ler, escrever, sonhar, trabalhar, aprender. 

Tem tudo no mundo virtual.

- O que é virtual tio?

Dou uma explicação simples, certo de que ele pouco vai entender, e  vou poder comer sem culpas.

- Virtual é um local que imaginamos algo que não podemos pegar, tocar. É lá que criamos um monte de coisas que gostaríamos de fazer, criamos nossas fantasias, transformamos o mundo em quase como queríamos que fosse.

- Legal isso, gostei.

- Mocinho, você entendeu o que é virtual?

- Sim tio, eu também vivo neste mundo virtual.

- Você tem computador?

- Não, mas meu mundo também é desse jeito. Minha mãe fica todo dia fora, só chega muito tarde, quase não a vejo. Eu fico cuidando do meu irmão pequeno que vive chorando de fome, e eu dou água para ele pensar que é sopa. 

Minha irmã mais velha sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas não entendo, ela sempre volta com o corpo dela.

Meu pai está na cadeia há muito tempo, mas sempre imagino nossa família toda junta em casa, muita comida, muitos brinquedos de natal e eu indo para a escola para virar médico um dia. Isso não é virtual tio?

Fechei meu notebook, não antes que as lágrimas viessem aos olhos.

Esperei que o menino terminasse de literalmente "devorar" o prato dele, paguei a conta e dei o troco para o garoto, que me retribuiu com um dos mais belos e sincero sorriso que eu já recebi na vida, e com um "brigado tio, você é legal".


Ali naquele instante, tive a maior prova do virtualíssimo insensato em que vivemos todos os dias, enquanto a realidade cruel rodeia de verdade, e fazemos de conta que não percebemos!


Vamos sair do virtual e ter ações e atitudes concretas.

Participar da vida dos nossos irmãos, da nossa Comunidade e da nossa Família.

domingo, 5 de junho de 2022

EIS O SEU FUTURO * Poranduba Brasiliensis

  EIS O SEU FUTURO


*S E N S A C I O N A L.*


– Alô, é da pizzaria Gordon?

– Não, senhor, é da pizzaria Google. 

– Desculpe, devo ter ligado para o número errado.

– Não o número está correto, o Google comprou a pizzaria. 

– Ah, entendi. Pode anotar o meu pedido?

– Claro, o senhor quer a pizza de sempre?

– Como assim, você já trabalhava aí, me conhece?

– É que de acordo com nossos sistemas, nas últimas 12 vezes o senhor pediu pizza de salame com queijo, massa grossa e bordas recheadas.

– Isso, pode fazer essa mesma.

– No lugar dessa posso tomar a liberdade de sugerir uma de massa fina, farinha integral, de ricota e rúcula com tomate seco? 

– Não, eu odeio vegetais!

– Mas o seu colesterol está muito alto.

– Quem te disse isso? Como você sabe?

– Nós acompanhamos os exames laboratoriais de nossos clientes e temos todos os seus resultados dos últimos 7 anos. 

– Entendi, mas quero a pizza de sempre, eu tomo remédios para controlar o colesterol.

– O senhor não está tomando regularmente, porque nos últimos 4 meses só comprou uma caixa com 30 comprimidos, na farmácia do seu bairro. 

– Comprei mais em outra farmácia.

– No seu cartão de crédito não aparece. 

– Eu paguei em dinheiro.

– Mas de acordo com seu extrato bancário o senhor não fez saque no caixa automático nesse período. 

– Eu tenho outra fonte de renda.

– Isso não está constando na sua Declaração de Imposto de Renda, a menos que seja uma fonte pagadora não declarada. 

– Mas que inferno! Estou cansado de ter minha vida vigiada e vasculhada pelo Google, Facebook, Twitter, WhatsApp, essas porcarias todas! Vou mudar para uma ilha sem internet e sem telefone celular, onde ninguém possa me espionar.

– A decisão é sua, senhor, mas quero lhe avisar que seu passaporte venceu há 5 semanas...


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