Florestan Fernandes e sua trajetória como intelectual orgânico do socialismo
Leonardo Venicius Parreira PROTO – mestrando em História pela UFG – bolsista da CAPES - leoproto@hotmail.com
Prof. Dr. David MACIEL – orientador (Programa de Pós-Graduação em História da UFG)
Palavras-chaves: Intelectual orgânico, autocracia e socialismo.
INTRODUÇÃO
Esse estudo sobre Florestan Fernandes como intelectual orgânico
sustenta- se em termos da História dos Intelectuais a partir dos anos 50 no
Brasil, com o referencial marxista como instrumental de análise e
aprofundamento das pesquisas em torno da história social dos negros em São
Paulo, numa pesquisa patrocinada pela UNESCO, que marcaria sua militância
acadêmica e política em favor dos marginalizados na história do Brasil (KONDER, 2000).
Sua condição de sociólogo marxista foi ampliada à medida de sua
formação acadêmica e atuação em torno das questões sociais do debate nacional a
respeito da condição social dos negros, em defesa da escola pública e no
próprio fazer acadêmico e termos de pensamento social posto a partir da década
de 50 em diante (SOARES, 1997; CANDIDO, 2001).
Para Octávio Ianni (2004), na história da sociologia, o esforço
intelectual de Florestan Fernandes está para consolidar esse campo das ciências
humanas num sistema de saber, desenvolvendo toda uma sistemática de
fundamentação da sociologia brasileira a partir das condições históricas da
sociedade na conjuntura do pós-30 e da institucionalização da universidade
brasileira.
O percurso intelectual de Florestan Fernandes no desenvolvimento do pensamento da história social no Brasil deve ser entendido não somente na singularidade de sua trajetória, mas como parte de um movimento histórico em que situa sua inserção na vida universitária e na consolidação da carreira acadêmica (a partir de 1940), sua aproximação inicial com o trotskismo (entre 1940 e 1950), seu envolvimento na luta contra a ditadura militar e seu exílio (a partir de 1969) e mais ao final sua militância partidária (a partir de 1985) e publicista na coluna que escrevia semanalmente para a Folha de São Paulo, na qual desenvolve os mais variados temas e debates das questões nacionais (a partir de 1983).
Nessa apresentação da trajetória histórica de Florestan Fernandes temos
o intelectual militante, ultrapassando os limites somente teóricos, aplicando o
método da práxis (GRAMSCI, 1995; MARX, 2002) em sua atuação teórica/prática,
sendo um defensor do público quanto ao tratamento das questões sociais nesse
país concentrador de riquezas e marginalizador dos/as trabalhadores/as, enfim,
da maioria da população.
Essa imagem do intelectual envolvido com o debate público traz nessa
pesquisa uma oportunidade para podermos polemizar com o conceito de intelectual
orgânico de Antônio Gramsci (1995)1 o papel do sujeito do mundo das
idéias efetivamente envolvido nas lutas sociais e na reflexão política das
décadas de 50-70 (TOLEDO, 1998).
Para Eliane Veras (1997) a condição intelectual de Florestan Fernandes é que o teria feito atuar como político na organização partidária, desenvolvendo assim uma militância diferenciada no que diz respeito a seu papel político “de natureza intelectual”. Para esta autora, Florestan Fernandes teve uma atuação radical na política no processo da Assembléia Nacional Constituinte (em 1987), com destaque para o aprofundamento dos debates no país acerca da educação, da democracia, do desenvolvimento técnico-científico; além de sua presença atuante como publicista na imprensa nacional debatendo “temas candentes” dos rumos da nação brasileira.
Essa característica de
publicista do socialismo, advinda de sua condição de intelectual orgânico foi
trabalhada por Paulo Silveira (1987) ao definir Florestan Fernandes em seu
marxismo revolucionário. Para este autor, a atuação publicista de Florestan
Fernandes reunia três condições de sua formação e trajetória histórica: a
primeira está em seu conhecimento aprofundado da história estrutural da
sociedade brasileira; a segunda está em sua
intransigência com as formas de manutenção do status quo burguês e a terceira condição situa a luta de classes não somente como desenvolvimento das condições objetivas, mas na relação entre a realidade objetiva e o campo de possibilidades envolvidos na forma expressão subjetiva.
MÉTODO
O estudo desse intelectual da esquerda brasileira se pautará pelas idéias marxistas, de seu método
materialista histórico dialético de análise e da influência de Gramsci no
contexto brasileiro. Esse estudo do marxismo brasileiro deverá levar em conta a
historiografia das idéias na interpretação sócio-histórica do Brasil dos
governos de Jânio Quadros (61), João Goulart
(61-
64) e
todos os governos militares no pós-64, propício para a renovação do ideário das
esquerdas em nosso país.
Em termos teórico-metodológicos, o conceito de intelectual orgânico nos
acompanhará nessa pesquisa como referencial analítico das idéias de Florestan
Fernandes e do desdobramento de suas análises e influências teóricas e
políticas. A respeito desse conceito, a acepção gramsciana do termo refere-se à
questão do intelectual como
Na análise de Macciocchi
(1977), o intelectual orgânico para Gramsci é associado ao proletariado.
Segundo essa autora, “orgânico é o intelectual cuja relação com a classe
revolucionária é fonte de um pensamento comum” (p. 198). Sua atuação
intelectual está diretamente vinculada há um projeto político de engajamento na
luta pela transformação da ação histórica dos sujeitos sociais.
Em nossa metodologia de pesquisa buscaremos destacar na figura de
Florestan a representação do intelectual engajado, assumindo a práxis como projeto
militante-acadêmico, aproximando teoria e prática, mesmo em uma conjuntura
repressiva daquele Estado autoritário. Nos termos da perspectiva marxista, a
partir da década de 50,
MATERIAL
As fontes serão utilizadas
até o final da pesquisa. As mais acessadas são:
Nas referências
bibliográficas do próprio Florestan Fernandes, especificamente o texto
Revolução Burguesa no Brasil e o que é revolução?
Entrevistas:
Encontros/Florestan Fernandes. Org. Amélia Cohn. Rio de Janeiro: Beco do
Azougue, 2008. As entrevistas presentes nessa coletânea são dos seguintes veículos:
Folha de São Paulo
(23/03/1968); Folha de São Paulo (30/03/1968); Revista Trans/form/ação (1975);
Folha de São Paulo (24/06/1977); Jornal Movimento (21/11/1977); Jornal Em Tempo
(agosto/1980); Depoimento realizado no Museu da Imagem e do Som/SP
(26/06/1981); Revista Ciência Hoje (outubro de 1983); Programa Radiofônico
Certas Palavras (maio/1989); Revista Teoria e Debate (30/03/1991); Entrevista
realizada em 1992 e inclusa no DVD do filme Cafundó em (2006);Revista Tempo
Social (outubro de 1995); 17/18 Ensaio. Florestan Fernandes: Constituinte e
Revolução. Entrevista concedida a: J. Chasin, Ricardo Antunes, Antôio Rago
Filh, Paulo Douglas Basrsotti e Maria Dolores Prades (fevereiro/1989).
Programa Roda Viva
da Emissora de Televisão Cultura em 05 de dezembro de 1994 (em DVD e transcrita).
DVD – Programa Intérpretes do Brasil da TV Cultura. Comentado pela socióloga Maria Hermínia Arruda (USP).
CONCLUSÃO
O Estado burguês era nessa visão de Florestan Fernandes uma autocracia
e a democracia dele manifestada tinha características de um sincretismo, pois
“partia do fascismo, passava pelo autoritarismo e chegava à democracia, sem que
o conteúdo autocrático e sincrético do Estado burguês fosse questionado e
colocado em xeque” (MACIEL, 2010, p. 03).
Maciel (2010) enfatiza a importância do sociólogo na leitura sobre o
Brasil e reconhece nele o esforço teórico-metodológico que não teria o mesmo
rigor sem a apropriação do marxismo como recurso heurístico e proposição
política. Sua forma de compreensão e explicitação da realidade histórica
brasileira é
advinda,
segundo este autor, de um profundo conhecimento das categorias da dialética
marxista, o que favoreceu na práxis uma “leitura original do marxismo”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FALCON, Francisco. História das Idéias. In: CARDOSO, Ciro Flamarion e VAINFAS, Ronaldo (Orgs.). Domínios da História: ensaios de teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
FERNANDES, Florestan. Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina. 2 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
. Sociedade de classes e subdesenvolvimento.
3 ed. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1975.
. Mudanças sociais no Brasil. 3 ed. São
Paulo/Rio de Janiero: Difel, 1979.
. A revolução burguesa no Brasil: ensaio de interpretação sociológica. 3 ed. Rio de
Janeiro: Guanabara, 1987.
KONDER, Leandro. História dos intelectuais nos anos 50. In: Historiografia brasileira em perspectiva. 3 ed. São Paulo: Contexto, 2000.
PORTELLI, Hugues. Gramsci e o bloco histórico. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.
MACIEL,
D. . Florestan Fernandes e a questão do transformismo na trasição democrática
brasileira. In: IV Simpósio Lutas Sociais na América Latina, Londrina - PR.
Anais do IV Simpósio Lutas Sociais na América Latina. Londrina
- PR : GEPAL, 2010. v. 1. p. 102-112.
MORAES,
João Quartim (Org.). História do marxismo
no Brasil. Campinas: Editora da Unicamp, v. 3, 1998, p. 201-244.
Grande estudioso. O maior sociólogo do Brasil. O pesquisador que inaugurou uma Escola moderna de estudos sociológicos, com raízes genuinamente nacionais, embora tenha sofrido influência do marxismo e das escolas emergentes francesas de sociologia. O que Touraine representa para a sociologia francesa, Florestan Fernandes representa para o Brasil. Homem de luta.
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