FELIPE QUISPE
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Ontem, 21/01/21, foi sepultado, com grandes manifestações de apreço e comoção popular, umas das figuras mais extraordinárias mas também menos conhecidas da história recente da América Latina. Felipe Quispe morreu na terça-feira aos 79 anos na enorme periferia de El Alto, bastião da luta indígena e popular na Bolívia.
Quispe, indígena aymara, nasceu numa pequena cidade próxima a La Paz e logo se envolveu nas lutas do país. Foi fundador em 1978 do Movimiento Indígena Túpac Katari, no qual se formaram vários combatentes do Ejército Guerrillero Túpac Katari (criado em 1986), e do qual fez parte inclusive o ex-vice-presidente de Evo Morales, Álvaro García Linera. Quispe teve que se exilar depois do violento golpe de Estado do general narcotraficante García Meza em 1980, e passou por diversos países latino-americanos, tendo atuado inclusive nas guerrilhas da Frente Farabundo Martí em El Salvador e do Ejército Guerrillero de los Pobres na Guatemala. De volta à Bolívia em 1983, passou a defender abertamente a luta armada como caminho de luta para indígenas, camponeses e trabalhadores, ao mesmo tempo que atuava nas grandes organizações sindicais do país, como a Confederación Sindical Única de Trabajadores Campesinos de Bolivia (CSUTCB), a principal organização dos povos indígenas bolivianos na época.
Foi preso em 1988 e depois em 1992, e mesmo na prisão formou-se historiador pela Universidad Mayor de San Andrés. Ao ser libertado em 1998, foi eleito secretário executivo da CSUTCB e passou a ser conhecido como “El Mallku”, um título de liderança máxima entre os aymaras. Destacou-se nas grandes mobilizações indígenas e populares do final dos anos 1990 e início dos 2000, inclusive nas célebres Guerras da Água e do Gás. Sua figura combativa estava sempre presente nos bloqueios e barricadas.
Em 2000 fundou o Movimiento Indígena Pachakuti, um partido político pelo qual concorreu à presidência da república por duas vezes (2002 e 2005, nas quais também participou Evo Morales, sendo eleito na segunda), mas seu desempenho eleitoral nem chegou perto de sua importância nas lutas populares, nunca atingiu mais de 7% dos votos. Foi oposição à esquerda a Morales e Linera, mas esteve novamente à frente nos protestos de rua contra o golpe de Estado dos militares e da presidente fantoche Jeanine Áñez em 2019.
Felipe Quispe, presente!
Texto de Maurício Campos dos Santos/RJ
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