sábado, 31 de dezembro de 2022

VIAJANDO PARA BRASÍLIA Carlos Eduardo Pestana Magalhães - SP

 VIAJANDO PARA BRASÍLIA

I

Carlos Eduardo Pestana Magalhães - SP

Hoje cedo, quando peguei a estrada pra chegar em Brasília e ver a posse do Cara, confesso que fiquei um pouco apreensivo. Explico. Para chegar à capital, viaja-se mil quilômetros em terra inimiga, um pântano, areia movediça, campo minado. Pela Bandeirantes-Anhanguera e pela BR 050 que levam à Brasília, passa-se pelos domínios do OGROnegócio, com suas camionetes enormes, cheias de adesivos do genocida, bandeira nacional e aquela arrogância bem conhecida dos OGROboys. 


No estado de São Paulo, o gado bolsonarista já aparece em Jundiaí, Campinas, Americana, Limeira, Pirassununga, Ribeirão Preto, Franca, Batatais etc. tudo ao longo da rodovia Bandeirantes-Anhanguera (aliás, é um roubo os pedágios, são doze praças para pouco mais de 400 km, ao custo de 120 reais pra ir e 120 reais pra voltar). No lado mineiro, pela BR 050, passando por Uberaba e Uberlândia, outro rincão pavoroso dos OGROboys. 


Depois passa-se por Araguari, ainda em Minas. Ai vem Catalão (onde tô dormindo pra seguir viagem amanhã), Cristalina, Luziânia, no estado de Goiás, e finalmente a capital federal, tudo pela BR 050. Juntando o interior do estado de São Paulo, o triângulo mineiro e Goiás, o OGROnegócio domina totalmente, bem terra do gado bolsonarista. 


Nas vezes em parei na estrada para descansar, fazer xixi, tomar café, com o carro adesivado na vidro traseiro, usando uma máscara branca escrito LULA em vermelho, um broche antifascista e um TREZE enorme grudado na camiseta, juro que achava que não sobreviveria. Se olhar matasse, nossa! E no campo dos OGROboys!


Na estrada, quando vejo uma camionete se aproximando (elas andam a toda velocidade como se não houvesse limite nas estradas, são donos do pedaço) sinto que fico estressado. Bom, foi assim no início desta jornada. Quando cheguei no Graal de Ribeirão Preto e vi aquela gente simples do MST de Santa Maria, do RS, a maioria de vermelho, chapéus, camisetas, na boa, sorrindo, um monte de gente em sete ônibus alugados, felizes porque estarão na posse do Lula e participando da festa, relaxei. 


Sabe duma coisa, pensei com meus botões, que se phodam, vamu que vamu. Voltei pra estrada com outro pique, um carro me ultrapassou, uma mulher colocou o braço para fora e fez um L. Viram meu carro adesivado e me cumprimentaram. Tá valendo a pena, ainda mais nos domínios dos OGROboys. Inté mais..

II

EM BRASÍLIA PARA A POSSE


Tô em Brasília e a capital já parece uma grande festa. Gente chegando de vários cantos, andando nas ruas e avenidas cantando com bandeiras, camisetas, chapéus/bonés vermelhos, muitos do MST. Fui almoçar na feirinha da Torre de Televisão com meu sobrinho que mora na cidade e mais dois casais. É um dos lugares clássicos da cidade, uma espécie de feirinha hippie como em quase todos os lugares do mundo. Tem duas praças de alimentação bem grandes e nelas centenas de vermelhos festejavam a posse, a vitória, a esperança, todos sem medo de ser feliz, mais uma vez...


A Esplanada dos Três Poderes está fechada para veículos, só a pé se quiser ver os palcos prontos ou quase prontos para a posse e para a festa. Aliás, a festa promete mesmo, deverá acontecer por volta das 18 horas, caso tudo ande de acordo com o figurino (posse do Lula no Congresso, andar no carro aberto, receber a faixa, ainda não se sabe de quem, aposta-se muito na Dilma, mas...). Também não se sabe a hora de terminar, pelo jeito. A expectativa para amanhã é muito grande, o clima já tomou conta da capital, pouco importa se para os bolsonaristas ou não. Quem ficar na cidade, será atingido pela festança, não tem como...


Cheguei à cidade por volta do meio dia vindo de Catalão, onde passei a noite. De lá até a capital federal são pouco mais de 300 km, passando primeiro por Cristalina e Luziânia. A paisagem entre Catalão e Cristalina é muito louca. A distância entre as duas cidades é de pouco mais de 180 km onde predomina imensas planícies só de soja, nenhuma mata, apenas uns tuchos de árvores aqui ou ali. O OGROnegócio impera nestas paragens. 


Catalão cresceu muito nestas últimas duas décadas, especialmente depois que a Mitsubishi construiu uma fábrica de carros. Mesmo assim, é o OGRO quem manda e impera na cidade e na região. Tenho alguns amigos por aqui, pretendo entrar em contato para ver se fazemos alguma coisa nesta passagem do ano, visto que estou tão longe de casa. É isso, amanhã tem mais.


Inté...

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O PAPEL TRANSVERSAL DA CULTURA * Jom Tob Azulay*/Le Monde Diplomatique

O PAPEL TRANSVERSAL DA CULTURA

Por Jom Tob Azulay*/Le Monde Diplomatique

Rememorando, em sessão histórica do plenário multilateral da Unesco em Paris, em 25 de outubro de 2005, cuja delegação do Brasil era chefiada pelo ministro Gilberto Gil.
(Imagem: Ricardo Stuckert)

No momento em que iniciamos o novo governo, é única a oportunidade para que a rica e plural cultura brasileira desempenhe por meio de políticas públicas, articuladas a nível internacional, seu papel como expressão da Diversidade Cultural, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável do país


Na revisão das políticas públicas que vem sendo executada pelo Grupo de Transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, cumpre que nas novas diretrizes das políticas da Cultura sejam levadas em conta as concepções constantes da Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, conhecida como Convenção da Unesco sobre Diversidade Cultural.

Rememorando, em sessão histórica do plenário multilateral da Unesco em Paris, em 25 de outubro de 2005, cuja delegação do Brasil era chefiada pelo ministro Gilberto Gil e da qual fazia parte o acadêmico Eduardo Portella, a Convenção da Diversidade Cultural foi aprovada por uma maioria de 148 votos a favor, dois contra (Estados Unidos e Israel) e quatro abstenções (Austrália, Honduras, Nicarágua e Libéria). Destinada a representar no século XXI o que a Carta de São Francisco de 1945 significara para a consolidação da paz internacional ao fim da Segunda Guerra Mundial, pela primeira vez equiparava-se a cultura à economia para fins da conquista dos objetivos de paz e de desenvolvimento, os quais, desde então, se tornaram faces da mesma moeda.

Consagrando a diversidade cultural como “patrimônio comum da humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de todos” e como tal fator de democracia, desenvolvimento econômico, paz internacional, defesa do meio-ambiente e bem-estar social individual e coletivo, a Convenção da Unesco materializa a transversalidade da Cultura para a formulação e realização das políticas públicas.

Não obstante, desde 2005, quando a Convenção da Unesco foi incorporada ao ordenamento jurídico constitucional brasileiro, pouco se viu frutificar de suas disposições nas legislações de apoio à cultura no Brasil. Faltou-nos o essencial, isto é, o reconhecimento de que “as atividades, bens e serviços culturais possuem dupla natureza, tanto econômica quanto cultural, uma vez que são portadores de identidades, valores e significados, não devendo, portanto, ser tratados como se tivessem valor meramente comercial”, conforme prega o preâmbulo da Convenção.

A “dupla natureza” do produto cultural implica a elaboração de legislações específicas para a regulação da produção cultural que levem necessariamente em conta essa ambivalência da obra cultural. Caso nossas políticas culturais se inspirassem no que preconiza a Convenção da Unesco sobre Diversidade Cultural, muito se pouparia nos desgastantes procedimentos burocráticos relativos à legislação sobre a produção das obras de arte, tratadas restritivamente como bens econômicos de natureza estritamente material, segundo os mesmos critérios e procedimentos da lei das licitações públicas. Só o contábil vale, nada do que caracteriza o produto cultural além do seu custo econômico é levado em conta na aferição de sua adimplência e finalidade.

No momento em que iniciamos o novo governo, é única a oportunidade para que a rica e plural cultura brasileira desempenhe por meio de políticas públicas, articuladas a nível internacional, seu papel como expressão da Diversidade Cultural, contribuindo assim para o desenvolvimento sustentável do país. É, porém, necessário recuperar o tempo perdido pois nosso descompasso em relação ao que se evoluiu no resto do mundo na questão é flagrante. Em 4 de novembro de 2020, paralelamente à reunião do G20, que teve lugar em Riad, na Arábia Saudita, os ministros da Cultura do G20 realizaram uma reunião conjunta sobre “A ascensão da economia cultural: um novo paradigma”. Pela primeira vez as discussões políticas do G20 reconheceram a crescente contribuição da cultura para a economia global. Em uma mudança de paradigma acelerada pela pandemia de Covid-19, o G20 reconheceu a contribuição potencial da cultura em todo o espectro de políticas públicas para forjar sociedades e economias mais sustentáveis, nas quais a cultura é colocada no centro da discussão como um componente chave da recuperação econômica e social. “Repensar o futuro da cultura significa vê-la como muito mais do que um setor econômico. É uma necessidade abrangente, subjacente a todos os aspectos das nossas sociedades. Não é um custo, é um propósito. A cultura não deve ficar à margem dos esforços de recuperação, ela deve ser central para eles”, afirmou na ocasião Audrey Azoulay, diretora-geral da Unesco.

De certa forma tinha razão a delegada dos Estados Unidos na reunião de 2005 da Unesco, ao justificar seu voto contrário à Convenção da Diversidade Cultural afirmando que esta “tratava de comércio em lugar de cultura”. Sim, a diversidade cultural volta-se para a economia, mas também para o meio-ambiente, os direitos humanos, a educação, a cidadania e o bem-estar individual e coletivo de todos os seres humanos por intermédio do poder (soft power) intangível e imaterial da cultura, relegando a segundo plano “a ganância grotesca” do poder econômico ou bélico (hard power), parodiando recente declaração do secretário-geral da ONU António Guterres. Por essa razão, a Diversidade Cultural foi nomeada “a última das utopias do Ocidente”, na medida em que sintetiza a quintessência das ideologias que marcaram a história. O Estado brasileiro, em reconhecimento à extraordinária vocação para o desenvolvimento da diversidade cultural de nosso país, necessita atualizar-se em relação ao tratado que dezessete anos atrás, subscreveu.

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sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

MEU ÚNICO REI É PELÉ * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

MEU ÚNICO REI É PELÉ

*Vai com Deus rei Pelé, o futebol lhe agradece*
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Sem Pelé no campo a bola
Está sendo maltratada
Dão bicudo em sua cara
Segue o jogo mal passada
A bola que foi redonda
Depois do rei é quadrada.

Na cadeira de Pelé
Sua saudade é quem senta
Um sucessor para o rei
O futebol não inventa
E o reinado sem ter príncipe
A coroa se aposenta.

*Charles Sant’Ana*

DUKE - QUADRINISTA
*
PELEZINHO - MAURÍCIO DE SOUZA

*
UM QUE CHEGOU LÁ

Pelé e outros poucos brasileiros da negritude e vindos da classe popular, alcançando ápice do sucesso, da fama, foram o álibi construído pela classe dominante histórica brasileira para dar continuidade ao racismo, à opressão, às violências contra pobres, negros e opositores do regime militar fascista de 64. Enquanto um ou outro se destaca em alguma área - negro, negra e pobre assalariado - o sarrafo é descido no lombo de milhares; casas de favelas invadidas e gente sequestrada e morta, sem ter direito a cumprir pena por delito cometido - "paga" com a vida.

A genialidade inconteste de Pelé no futebol mostrou ao mundo a capacidade de ginga brasileira que não é só no futebol é também na arte e daí o frevo, o samba, o forró.

Mas Pelé foi usado como falsa propaganda de Democracia Racial... Falsa porquê era pra poucos , então não era democracia...

Pelé "chegou lá", alcançou ápice da fama e do sucesso com maestria de seu talento. E isto foi argumento para a lógica brasileira reproduzir a ilusão que "basta querer e se esforçar que você também consegue" e milhares e milhares de "meninos Pelés" acreditaram nisso - em vão, óbvio. Que Pelé foi usado como peça de marketing da Ditadura militar, da legitimação da segunda maior desigualdade de renda do mundo, o Brasil, da matança indiscriminada de gente preta e pobre do Brasil.
Mas o talento de Pelé não tem nada a ver com a maldade que faziam com a negritude brasileira enquanto pousavam em fotos e abraços com ele...

A questão é que ele nunca se pronunciou sobre nada disso. E por isso, só lhe rezo um Pai Nosso e uma Ave Maria por sua passagem, sem nenhuma recomendação de gente extraordinária. Seu talento dos pés, do corpo, da mente fotebolistica, ficou feio com seu silêncio às questões sociais históricas mais graves do Brasil, fruto de 380 anos de escravatura.

Walter Eudes
29/12/2022



Lincoln De Abreu Penna


 Há um mês escrevi uma pequena crônica sobre Pelé, que nos deixou hoje. Naquela oportunidade reverenciava a importância do Rei, única majestade que reconheço no mundo sendo eu um republicano radical.


 Nessa crônica me referi a três momentos em que direta ou indiretamente Pelé me proporcionou instantes de emoção, misturada ao encantamento e a estima de uma personalidade muito especial. Em uma delas ele, sem o saber, me livrara de uma situação embaraçosa. Juntara esta a outras duas situações e daí o título que dera então, Três vezes Pelé. Mas, o que pude descrever outras tantas pessoas no mundo poderiam fazê-lo dada a força de uma personalidade verdadeiramente internacional, que só dá orgulho aos brasileiros.


 Hoje ao tomar conhecimento de sua morte fiquei a pensar se deveria acrescentar alguma coisa ao que havia dito quando soube de sua situação de saúde que já era considerada preocupante. De início imaginei que ele pudesse driblar como sempre o fez em campo diante de adversários poderosos e assim partir para o gol, isto é, para a glória da superação.


 Não foi assim dessa vez e ao término desse ano de tantas perdas e dissabores provocados por atitudes tão grotescas e grosseiras na vida pública do país, seu falecimento só pode trazer tristeza, porém também renovar a autoestima que precisamos cultivar como brasileiro. Afinal, Edson Arantes do Nascimento foi quem nos fez brilhar os dons mágicos e magistrais de nosso povo, que também dribla as adversidades para superar-se todo o dia.

 Com dezesseis anos Pelé surgiu para o futebol brasileiro em pleno Maracanã vindo de Bauru e já senhor da titularidade no fabuloso elenco do Santos Futebol Clube. Eu com os meus quatorze anos tive a oportunidade de vê-lo na partida em que ele participara num misto do Santos-Vasco da Gama. E a partir daí sua carreira se agigantou e poucos meses depois já estava convocado para disputar a Copa de 1958 na Suécia onde se tornaria o grande ídolo de nosso primeiro título.


 Antes mesmo do fim do século XX era ele coroado, agora como o Atleta do Século. Tricampeão do mundo marcou sua trajetória em dois momentos. O primeiro, ao fazer detonar finalmente o soccer, o futebol nos EUA, até então um esporte amador e praticamente desconhecido.


 O outro lance não menos importante foi quando ministro dos Esporte do presidente Fernando Henrique Cardoso implantou o fim do passe, que prendia o atleta ao clube como uma nova e moderna forma de escravidão ou servidão, como queiram. Assim, através da Lei 9.615, a chamada com justiça Lei Pelé, os jogadores ao fim do contrato está livre para negociar com qualquer entidade esportiva.


 Pelé nunca foi de se pronunciar politicamente. No entanto, fez mais do que muitos que ao se manifestarem nem sempre são coerentes em suas vidas. Teve erros, sem dúvida, como todo mundo os têm. Mas, é um dos poucos, senão raros, que serão lembrados nos próximos séculos, pois sua glória eternizou-se sem exagero algum. E mais do que um reconhecimento individual elevou com sua arte o valor de uma nação plural, miscigenada, sofrida, mas rica em habilidades e potencialidades.

Lincoln Penna


https://www.facebook.com/groups/1704109646498824/permalink/3310762379166868/

*Rei Pelé*


Pelé e Garrincha, dois reis no campo.
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MELHORES MOMENTOS DO REI DO FUTEBOL MUNDIAL

Pelé: quando o Rei bateu de frente com o regime militar e enfrentou o racismo
Estadão Conteúdo | 29/12/2022 às 17:25

Quando deixou a seleção brasileira, em 1971, Pelé precisou mostrar uma nova face. Para cumprir sua decisão, ele bateu de frente com diversos políticos do regime militar do País, enfrentou ainda poderosos dirigentes esportivos, como João Havelange, e ainda teve de lidar com racismo de parte da opinião pública. A aposentadoria da seleção aconteceu após a conquista do tricampeonato mundial em 1970, no México. Pelé tinha 30 anos na época e vivia seu melhor momento da carreira. Sua intenção era continuar jogando pelo Santos, com quem tinha contrato até 1974, mas também queria se arriscar como empresário e ganhar dinheiro com a imagem de melhor jogador do mundo.

“Era um capital simbólico que ele tinha como campeão. Mas a pressão foi muito forte. Imagina o maior jogador de futebol se despedir da seleção brasileira no auge sem qualquer homenagem do governo? Foi isso que aconteceu”, relembra o historiador José Paulo Florenzano, que publicou pesquisa sobre o assunto analisando os jornais da época.

Era um período em que o regime militar tentava atrelar as grandes apresentações da seleção, especialmente na Copa de 1970, à imagem do governo: “vamos todos juntos, pra frente Brasil, salve a seleção”. Mas, para Pelé, o assunto estava encerrado e ninguém o faria voltar atrás.

A abertura de um texto do Estadão de 7 de julho de 1971 deixa claro o que estava acontecendo. “Pelé ficou surpreso e ameaçou um sorriso quando soube que alguns setores do governo consideraram a sua saída da seleção um ato de indisciplina esportiva. No início, Pelé simplesmente não acreditou que fosse possível. Ele havia acabado de chegar a Bragança para continuar filmando ‘A Marcha'”.

Pelé tinha outras prioridades, como a reportagem mostra. O governo não aceitava sua saída e, por isso, não quis prestar qualquer homenagem ao jogador nas partidas de despedida. O ministro Jarbas Passarinho disse ao Estadão em 8 de julho de 1971 que “só a sua despedida definitiva é que governo e o povo lhe prestarão a consagração que o encerramento de sua atividade justificará.”

João Havelange, então presidente da CBD (antigo nome da CBF), tentava ganhar prestígio no mundo esportivo em busca do cargo de presidente da Fifa. Para tentar manter Pelé na seleção, ele invocou um decreto-lei de número 5.199 que lhe outorgava o direito de “requisitar qualquer jogador” sujeito a “ser suspenso e sofrer outras punições legais, dentro da legislação” em caso de recusa. “O Pelé peitou o Havelange nessa ocasião e em outras. Ele chegou às últimas consequências dizendo que se fosse pressionado, encerrava a carreira no futebol. O Estadão foi o principal jornal que saiu em defesa da decisão de Pelé”, lembrou Florenzano.

PRESSÃO MILITAR

No dia 10 de julho, véspera do primeiro jogo de despedida, o jornal publicou um editorial com o título: “Episódio esportivo passa a ser político”. O primeiro parágrafo: “O inábil e irritado recuo do governo, cancelando as homenagens oficiais na despedida de Pelé da seleção brasileira imprimiu um colorido político a um episódio que deveria esgotar-se no plano esportivo, e criou para o esquema publicitário governamental uma situação que não pode deixar de ser reconhecida como altamente desconfortável.”

Foram dois jogos de despedida. O primeiro em 11 de julho de 1971, no Morumbi, contra a Áustria. Havia mais de 110 mil torcedores gritando “fica”. Pelé marcou o gol do Brasil no empate por 1 a 1, seu último gol pela seleção brasileira. Sete dias depois houve o duelo com a Iugoslávia no Maracanã, com 140 mil torcedores clamando “fica”, que terminou no empate por 2 a 2.

A pressão não parou por aí. Em janeiro de 1972, o Estadão destacou: “Pelé não aceitou, ontem à tarde em Brasília, o último e mais importante apelo de quantos lhe foram feitos para voltar à seleção brasileira e participar da Minicopa: do presidente Garrastazu Médici, que o apresentou ‘na condição de representante da torcida brasileira’, durante audiência concedida no Palácio do Planalto ao jogador e à diretoria do Santos Futebol Clube.”

O “não” foi um golpe também em Havelange, que tentava organizar um torneio com as principais seleções do mundo em 1972. Era parte de sua campanha para assumir a presidência da Fifa, que viria a ser bem-sucedida. Mas o torneio não foi. Além de Pelé, Alemanha, Itália e Inglaterra também não quiseram participar.

RACISMO

A pressão em cima do Rei do Futebol continuava sem dar trégua. Parte da opinião pública tomou as dores do governo militar e passou a tentar apresentar Pelé como uma pessoa gananciosa, que havia deixado a seleção para ganhar dinheiro. Pelé, obviamente, era bastante requisitado para comerciais e filmes.

O jornal Cidade de Santos publicou uma série de charges contra Pelé, assinadas por J.C. Lôbo, algumas preconceituosas, apresentando o Rei do Futebol como vendedor de refrigerante no estádio, por exemplo. “Foram muitas charges e comentários racistas. O Pelé querer contribuir para a sociedade como empresário, no fundo, a interpretação é essa: o lugar do Pelé é no campo jogando bola, uma maneira de designar o lugar do negro na sociedade”, opinou Florenzano.

Em fevereiro de 1974, a Copa do Mundo se aproximando, Pelé enviou carta ao então editor de Esportes do Estadão, Luís Carlos Ramos, para reafirmar que não voltaria a vestir a camisa do Brasil. “Finalmente alguém conseguiu sintetizar em um só artigo toda a minha consciente decisão de não mais jogar pela seleção brasileira e os problemas que com ela estão criando, tentando, através de motivações absurdas, jogar a opinião pública contra a minha pessoa”, escreveu Pelé.

Dois dias depois, Florenzano recorda que Pelé recebeu uma carta de João Havelange pedindo mais uma vez que repensasse. “Minha esperança cresce ao recordar suas provas de amor, como cidadão e tricampeão mundial de futebol, aos anseios em que palpita a presença do Brasil”, escreveu o mandatário. Pelé rebateu com agradecimentos: “É chegado o momento de mostrar aos brasileiros que posso ser útil ao País em outros campos de atividades, com a mesma dedicação, honestidade e motivação com que sempre defendi a nossa Seleção. Contando com a compreensão de V.Sas., cordialmente.”

Os militares ainda não se deram por satisfeitos. Em abril, Pelé foi recebido por dois ministros em Brasília e precisou manter mais uma vez a decisão. O Estadão conta que na ocasião o Rei do Futebol chegou a comentar com amigos que cogitava antecipar sua aposentadoria em abril e não em outubro, como previa. Quando notaram que não teria como fazê-lo participar da Copa da Alemanha, em 1974, Pelé se tornou para muitos um inimigo do Brasil. Durante os jogos do Mundial, motivados também pelas fracas atuações da equipe nacional, familiares de Pelé em Santos chegaram a ser ameaçados.

Pouco depois da viagem de Pelé para Europa, onde estava assistindo a Copa do Mundo, uma nova ameaça contra o jogador começou a surgir nos comentários que se ouviam pelas ruas de Santos: caso o Brasil perdesse os primeiros jogos e saísse do campeonato, a sua casa no canal 6, bairro da Ponta da Praia, seria apedrejada. Pelé não se rendeu.


Homenagem da cidade do RIO DE JANEIRO ao Rei do Futebol mundial
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CHICO BUARQUE E PELÉ

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"Eu acho que o Brasil tem pouca representatividade negra no congresso. Por felicidade, por respeito ou por tudo o que eu fiz, eu sou um dos negros que têm um cargo alto no governo. Eu acho que eu sou um grande exemplo. Acho que o negro tem que se unir e tem que votar em negro para termos mais representatividade no governo."

A fala do parágrafo acima saiu da boca de Pelé, então ministro do Esporte, em entrevista ao apresentador Jô Soares. A entrevista, em 1995, contradiz um dos muitos lugares-comuns sobre o ex-jogador: de que ele evita se posicionar politicamente.

O jornalista esportivo Paulo Cesar Vasconcellos, comentarista dos canais SporTV, é enfático ao afirmar que "Pelé sempre foi vítima de racismo".

"Eu sou um negro, um homem negro, que cresceu tendo Pelé como ídolo. Acho que ele teve um papel, se não foi do ponto de vista discursivo, se não foi do ponto de vista oral, foi do ponto de vista corporal extremamente afirmativo para pretos e pretas", disse ele em entrevista ao Brasil de Fato.

Vasconcellos citou outro momento em que o ídolo deixou clara sua postura democrática. Em 1984, ele vestiu camisa da Seleção Brasileira com mensagem de apoio ao movimento "Diretas Já". A imagem estampou a capa da revista Placar, maior publicação esportiva do país na época.

Pelé veste camisa em defesa do movimento "Diretas Já" em foto que estampou a capa da revista Placar em 1984 / Reprodução

Para o jornalista, a foto icônica, tirada pelo fotógrafo Ronaldo Kotscho, é bem menos lembrada do que deveria. Nas últimas semanas, com o ídolo internado para o tratamento de câncer em São Paulo, o clique passou a ser bastante compartilhado nas redes sociais.

Vasconcellos afirma que o craque brasileiro foi cobrado para que tivesse, por exemplo, postura semelhante à do boxeador estadounidense Muhammad Ali, que foi contemporâneo do Pelé e se tornou protagonista da luta antirracista nos Estados Unidos a partir da década de 1960. Ele morreu em 2016.


"O preconceito nos Estados Unidos sempre foi algo muito debatido e muito explícito, e o Brasil sempre foi muito cínico. Então são formações distintas, não cabe comparação entre um e outro", pondera.

Outro especialista no tema, o diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, afirma que Pelé é muito mais criticado que pessoas brancas. Ele cita como exemplo a postura pouco combativa do jogador perante à ditadura militar que governou o país entre 1964 e 1985.

"Parece que a gente sempre olha para uma figura negra e acha que ela tem que ser completa, né? Não basta ter seus talentos na sua área específica. Também precisa ter um posicionamento político, uma índole correta, não pode errar. É muito pesado esse fardo que a gente coloca nas costas das pessoas negras", destaca.

A filha

Um episódio que marcou a vida do ex-jogador, já depois de aposentado, foi a relação com a filha Sandra Regina, que precisou enfrentar uma batalha judicial no início dos anos 1990 para ter o reconhecimento da paternidade. O caso ainda é muito lembrado por críticos de Pelé. Para Carvalho, a questão racial tem um importante componente nessas críticas.

"Eu não vou 'passar pano' para a questão da filha dele, mas a gente vai diminuir o tamanho que o Pelé foi por conta disso? Será que isso é o ponto que não deixa Pelé ser um homem 100% venerado? É algo muito mais racial que de fato o problema que ele teve com a filha", diz. Sandra morreu em 2006, vítima de câncer.

"O Pelé sempre foi vítima de racismo, e tudo o que o Pelé fazia e dizia, por ser ele um homem negro, sempre foi levado num outro sentido, de desqualificação do que ele estava dizendo", complementa Paulo Cesar Vasconcellos.

O jornalista cita, por exemplo, o famoso discurso do jogador instantes após marcar seu gol de número 1.000, em 1969: "Pelo amor de Deus, o povo brasileiro não pode esquecer das crianças, as crianças necessitadas, as casas de caridade. Vamos pensar nisso", afirmou a jornalistas que invadiram o campo.

"Pois bem, aquela afirmação à época só foi ironizada, só foi depreciada. O que nós temos no Brasil de hoje? Os netos daquelas crianças que estavam no sinal, nas ruas, pedindo dinheiro, estão agora pedindo dinheiro. Se tivesse sido pensado e elaborado de outra forma, será que não poderia ter contribuído? Sempre que o Pelé abriu a boca houve uma questão de desqualificar o que ele dizia", afirma.

Mesmo com todo o sucesso dentro de campo - fez mais de 1.200 gols na carreira, conquistou três Copas do Mundo e dezenas de títulos com o Santos - Pelé demorou a conquistar aceitação, segundo o jornalista.

"Para muitas pessoas, dentro do modelo do racismo brasileiro, o Pelé deixou de ser um homem negro para ser 'O Pelé'. Ele não era um homem negro, ele era 'O Pelé'. E com isso ele foi sendo aceito por que não havia como não aceitá-lo", avalia Vasconcellos.

Marcelo Carvalho concorda, e lembra que até atingir o status de maior jogador da história do futebol, o ex-jogador foi chamado por diversos apelidos que remetiam à cor da pele. Porém, mesmo após ser eleito o Atleta do Século por jornalistas de todo o mundo, ainda carece de reconhecimento dentro do próprio país.

"Agora a gente viu isso na Copa do Mundo: o quanto os outros países veneram seus jogadores, seus ídolos. E quanto o Brasil não faz isso. Basta ver, por exemplo, o tanto de bandeirão que tinha da Argentina, dos torcedores levando Diego Maradona para o estádio, e colocando Messi no mesmo patamar, e a gente nunca viu algo nem perto disso com o Pelé", aponta.

Para o diretor executivo do Observatório da Discriminação Racial, Pelé é mais reconhecido no exterior que no Brasil, e de tempos em tempos são lançados novos nomes que, quem sabe, poderão desbancá-lo no futebol do país - como Zico, Ronaldo, Ronaldinho. Nenhum deles conseguiu, e é provável que nenhum consiga.

"A cada vez que esses outros jogadores aparecem, e não conseguem chegar nesse tamanho que o Pelé foi, a gente vai reconhecendo que ele é acima de todos esses. Ninguém chegou perto do Pelé, olhando para o futebol brasileiro. E aí que eu acho que a gente não dá o devido valor. O brasileiro não dá o devido valor para o Pelé", conclui.

Edição: Rodrigo Durão Coelho
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A NATUREZA DAS FORÇAS ARMADAS BRAZILEIRAS, ESPECIALMENTE O EXÉRCITO * Carlos Eduardo Pestana Magalhães - SP

A NATUREZA DAS FORÇAS ARMADAS BRAZILEIRAS, ESPECIALMENTE O EXÉRCITO
Carlos Eduardo Pestana Magalhães - SP

As forças armadas brazileiras, especialmente o exército, só tem uma função neste país que nunca foi uma nação, mas sempre uma grande propriedade rural baseada na eterna escravidão. Dar golpes de estado para proteger os proprietários, os latifundiários, a casa grande, as oligarquias, o OGROnegócio e os bancos. O resto é conversa pra boi dormir...

Para isso, tendo o controle das armas, verdadeiros brinquedinhos para matar, os militares desenvolveram ao longo das décadas as mais variadas técnicas de repressão, de torturas, de assassinatos, de desaparecimento dos corpos, tudo isso de forma violenta, desumana e cruel. Nunca existiu povo brasileiro para os militares. Só o inimigo interno a ser destruído, controlado, uma terra ocupada militarmente por quem deveria proteger o país e sua população.

Para os militares só existem os ricos, os brancos, as classes dominantes e suas elites. Nunca existiu defesa da soberania, das fronteiras, da bandeira, da constituição - por sinal, ela foi e continua sendo estuprada continuamente durante todo este tempo de existência do exército. Representam uma casta à parte dos demais brasileiros. São a modernização dos jagunços, dos capitães-do-mato na eterna função de perseguir, prender, torturar e matar os escravos de sempre.

São brazileiros mercenários que vivem às custas do trabalho, dos impostos, se consideram superiores a todos, criaram uma imagem de defensores da moral e dos bons costumes, coisas que não tem e nunca tiveram desde a criação. Só respeitam a corporação militar, nada mais. Claro que existem militares que não aceitam essa característica, mas são poucos...

Não tem e nunca tiveram nenhum respeito pela democracia, ao contrário são por essência e excelência, profundamente antidemocráticos, totalmente proto fascistas, só se sentem bem nas ditaduras. E quanto mais cruel e sanguinária, melhor para eles. As escolas militares do exército, da marinha e da aeronáutica se incumbem de criar na mentalidade dos oficiais essa fantasia de serem seres especiais, de estarem em eterno combate contra o comunismo, mas principalmente de terem direito quase divino de serem os guardiões do país, um espécie de poder moderador da república, poder este inexistente em qualquer república democrática pelo mundo. Na verdade, esses milicos aprendem desde cedo que a corporação militar só existe para controlar o Estado.

É uma espécie de partido político formado para tomar governos, basicamente por meio de golpes. É a grande marca das forças armadas, do exército em especial, no Brazil. Vale sempre lembrar, que a proclamação da república (15 de novembro de 1889) se deu por meio de um golpe militar e desde então, esta prática continua até hoje...

Portanto, os grupos que se reuniram em frente dos quartéis querendo a volta da ditadura militar são sim grupos dispostos a fazerem qualquer terrorismo, qualquer atentado. Foram e continuam sendo estimulados, preparados, armados pelos militares que em nenhum momento aceitaram o resultado das urnas. Se não puderem fazer nada agora, o que não quer dizer que não tentarão fazer alguma coisa (as duas bombas em Brasília é apenas um indício), terão todo o governo do Lula ou parte dele, para darem algum tipo de golpe.

Como na história do escorpião e do sapo, as forças armadas brazileiras, especialmente o exército, não podem nunca irem contra a sua natureza golpista, mercenária, destrutiva, antidemocrática, torturadora, assassina, corrupta, estupradora etc. Jamais. O resto é história pra boi dormir... e morrer...
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quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

LULA E A EDUCAÇÃO POLÍTICA * Frei Betto

 LULA E A EDUCAÇÃO POLÍTICA 


Frei Betto

Assessor de movimentos populares e autor de “Por uma educação crítica e participativa” (Rocco)

 

      Escreveu Onelio Cardoso que o ser humano tem duas grandes fomes, a de pão e a de beleza. A primeira é saciável; a segunda, infindável.


      O que, em última instância, sacia a alma humana é preencher a fome de beleza, o sentido que se imprime à existência, ainda que exija sacrifícios. É o que explica indígenas aldeados se recusarem a trocar sua vida na selva pelos confortos da cidade ou missionários religiosos abandonarem a comodidade de suas famílias ricas para se dedicarem a comunidades duramente afetadas por pobreza e doenças.


      Eis a razão do crescimento exponencial das Igrejas evangélicas: resgate da dignidade humana. O catador de material reciclável e a faxineira “invisíveis” para a sociedade, são reconhecidamente filhos e filhas de Deus no culto que reforça vínculos de solidariedade frente às dificuldades da vida.


      No projeto original do Programa Fome Zero, em 2003, incluímos a perspectiva de associar a resposta à fome de pão à da fome de beleza. Cada família beneficiária passaria por um processo de educação cidadã. A garantia de cesta básica se somaria aos recursos pedagógicos capazes de “transformar a consciência ingênua em consciência crítica” (Paulo Freire, 1982).

      A proposta não avançou porque o Fome Zero, de caráter emancipatório, deu lugar ao Bolsa Família, compensatório. Ainda assim, criou-se na esfera federal a Recid (Rede de Educação Cidadã), mobilizando cerca de 800 educadores populares.


Infelizmente a Recid não mereceu o devido apoio do governo que tirou o Brasil do Mapa da Fome, mas não dessa cultura necrófila que naturaliza a desigualdade social e tantos preconceitos e discriminações.


      Considero os governos do PT os melhores de nossa história republicana, os que mais asseguraram ao povo brasileiro os três principais direitos humanos: alimentação, saúde e educação. Faltou, no entanto, a educação política, a formação à cidadania, a mobilização em prol do protagonismo social. O abismo entre povo e governo não foi encurtado.


      Nosso povo ainda não se deu conta de que ele é o ator político principal, e que governo não é uma gigantesca vaca com uma teta para cada boca. O resultado todos conhecemos: a incapacidade de o Planalto captar o caráter das manifestações populares de junho de 2013; a passividade da população frente ao golpe de Estado armado por Temer e antipetistas em 2016; e a eleição de Bolsonaro em 2018.


      Lula inicia seu terceiro mandato. Sabe que não pode decepcionar e tem a responsabilidade de deixar um legado que impeça a nação de voltar a ser governada por negacionistas, belicistas e terraplanistas. Para isso, não basta destacar suas prioridades: o combate à fome e à insegurança alimentar; a proteção socioambiental; e a redução da desigualdade social. É preciso incluir a educação política, cidadã e participativa da população. Porque da deseducação cuida a cultura neoliberal revestida de religiosidade alienante.


      Como escreveu Paulo Freire (1981), “seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de maneira crítica.” Não há verdadeira democracia sem participação popular, fruto de conscientização, organização e mobilização do povo brasileiro.


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OS TRILHOS DO ABSURDO DIÁRIO * Carlos Santana - RJ

OS TRILHOS DO ABSURDO DIÁRIO

Rio de Janeiro, dezembro 2022


Não há outra forma de iniciar esse texto que não seja dizendo o quanto é impossível não ficar extremamente indignado ao ver a situação pela qual passam os usuários dos trens urbanos do RJ. É a expressão máxima do ataque direto à dignidade e cidadania do cidadão e da cidadã carioca e fluminense.


Parecem notícias repetidas, mas não são: todos os dias os jornais locais mostram que os serviços prestados pela concessionária Supervia humilham centenas de milhares de pessoas que dependem dos trens para virem das localidades mais distantes do Centro da cidade do Rio de Janeiro para iniciar sua rotina de trabalho nos primeiros horários. Trens sucateados, trilhos defasados, cabos que constantemente são roubados e horários que não se cumprem são as formas que a empresa tem de assaltar o trabalhador, levando sua saúde física e psicológica.


O problema se acentua quando temos uma agência reguladora que na maior parte do tempo come na mão dos empresários e acionistas, pouco se importando com a população. E mais: uma imprensa que pouco destaque dá à CPI que finalizou seus trabalhos de investigação sobre os problemas do serviço ferroviário de passageiros com seu relatório aprovado complementa o caos ao qual estão entregues as vidas de homens e mulheres das zonas norte e oeste da capital e também da Baixada Fluminense. Absurdo total!


A concessionária Supervia conseguiu dos cofres públicos que, até o fim de 2022, fossem oferecidos mais de R$ 250 milhões para, segundo ela, cobrir seus prejuízos decorrentes da baixa de usuários durante a pandemia, ameaçando deixar de ofertar o serviço por falta de verba. De praxe, a extorsão dos poder público vindo de grandes empresas concessionárias faz do Estado fonte de recursos a serem sugados quando existem os prejuízos, sem a contrapartida correta de boa prestação de atividade e manutenção de sua qualidade.


Com argumento de que a iniciativa privada supostamente é mais eficiente do que a administração pública, serviços essenciais são sucateados em um processo degradante de suas estruturas para que possam ser vendidos a preço de banana. Caso emblemático e recente, a Cedae virou alvo desse processo e sua venda passou a ser utilizada também como capital eleitoral, de diversas formas. Outro processo de entrega das estruturas públicas à iniciativa privada é o caso do metrô de Belo Horizonte, arrematado por quase R$ 26 milhões por uma única empresa.


É preciso dar um basta nesse vilipêndio, que se inicia com os preços absurdos das passagens dos trens e chega no péssimo serviço prestado, a ponto de a população se revoltar e ser tratada como vândala por querer dignidade. É necessário igualmente que o Estado deixe de ser refém de grandes empresas que usam querem usufruir das estruturas construídas com dinheiro público, mas não querer arcar com os prejuízos das manutenções e com o cumprimento de contratos


Nesse meio, a população é violentada de todas as formas, em seu corpo, sua mente e seu bolso. Cobramos de forma insistente posicionamento enérgico dos deputados e deputadas que participaram da CPI dos trens do RJ, para que cumpram seu dever e, se necessário, lutem até as últimas consequências pela encampação de nossos trens.


A violência diária pela qual passa o trabalhador e a trabalhadora precisa ter fim!  


Carlos Santana 

Ex-deputado federal por cinco mandatos pelo PT-RJ; Presidente do Sindicato dos Ferroviários da Central do Brasil; Presidente estadual da CUT-RJ; Professor universitário; Doutor em História pela UFRJ e Bacharel em Direito. 

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

PISTOLEIROS ATACAM ALDEIA PATAXÓ * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

PISTOLEIROS ATACAM ALDEIA PATAXÓ
Comunidade Pataxó é atacada por Pistoleiros
Extremo Sul da Bahia
27/12/2022

Lideranças Pataxó da aldeia “Quero Ver” do território Barra Velha, denunciam atos de violência física e psicológica, praticadas por um grupo de homens fortemente armados com fuzis, tendo esta ação começado nas primeiras horas de hoje (27) ,o grupo informou aos indígenas que são policiais, mas não apresentaram documentação comprobatória, os mesmos buscam a todo momento expulsar as famílias Pataxó da área de retomada.

Esta área fica localizada no distrito de Corumbau, município de Prado, no extremo sul da Bahia, esta região é bastante cobiçada por grupos de empresários do ramo de turismo e empreendimentos imobiliários, que buscam avançar na terra indígena, na tentativa do lucro e exploração da terra dos Pataxó.

As lideranças informaram que já solicitaram pedido de socorro a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social, mas não receberam nenhum retorno por parte das autoridades do estado da Bahia para solucionar o conflito na região, deixando as famílias Pataxó em situação de vulnerabilidade, as mulheres e crianças, estão apreensivas com os atos de violência que vem ocorrendo na localidade.

Os indígenas ocupam a área em disputa desde 08/01/2021, a Justiça Federal com sede em Teixeira de Freitas, já se manifestou favorável a reivindicação dos Pataxó, quando expediu parecer de suspenção de ação de reintegração de posse em desfavor da comunidade indígena. A resistência dos Pataxó nesta localidade é para defender o seu território sagrado, das agressões das forças econômicas que buscam de todas as formas invadir a terra indígena, já delimitada pelo estado brasileiro.

TERRORES DO NAZISMO * Frente Revolucionária dos Trabalhadores / FRT

TERRORES DO NAZISMO
ROCHA MIRANDA . RIO DE JANEIRO

Um professor de História, em uma escola no Rio de Janeiro, foi dar aula sobre nazismo.

Ele mostrou para seus alunos a suástica e disse que aquele era o símbolo dos nazistas.

Uma aluna levantou a mão e disse que já viu no sítio da sua família um tijolo com aquele mesmo símbolo.

Isso despertou a curiosidade do professor, que procurou saber mais sobre o assunto.

Aquele tijolo pertencia a uma construção demolida no sítio que era um casebre.

Sidney Aguilar (o professor) não sabia que em sua pesquisa iria descobrir uma história tão bizarra que iria se transformar no documentário chamado "Menino 23".


Esse sítio pertence a família Rocha Miranda, uma das famílias mais importantes da História do Rio de Janeiro de origem escravocrata.

Em sua pesquisa, Sidney descobriu que a família Rocha Miranda tinha um integrante que era MEMBRO do partido nazista aqui no Brasil, que era o MAIOR partido nazista fora da Alemanha e que outras pessoas da família eram ligados ao Partido Integralista Brasileiro, que era um "fascismo tupiniquim".

Tá achando bizarro? Calma que vai ficar ainda mais.

Em sua pesquisa, Sidney descobriu que a família Rocha Miranda adotou 50 crianças de um orfanato para escraviza-las e todas elas eram NEGRAS.

No documentário, um homem conhecido como Seu Aloísio, que foi uma das vítimas, disse que as crianças não eram chamadas por nomes, mas sim por números e o seu era 23.

Os meninos só foram libertados do cárcere quando o governo Vargas rompeu de vez as relações com o Eixo.

Daí, os nazistas, assim como o Partido Integralista, foram perseguidos e a família Rocha Miranda perdeu o status que tinha.

Hoje isso parece algo extremamente absurdo, mas para época não era.

Segue uma frase de um Deputado Federal chamado Alfredo da Matta em discurso no ano de 1933: "A eugenia, senhor presidente, visa a aplicação de conhecimentos úteis e indispensáveis para reprodução e melhoria da raça."

No tempo que os garotos foram feitos de escravos, o Brasil vivia o ápice da política de superioridade racial e de "branqueamento", impulsionadas pelo darwinismo social.

Isso não faz 200 ou 100 anos: isso faz apenas 89 anos.

Como que em tão pouco tempo o nosso país deixou de ser racista?

Aos que dizem que o Brasil não é um país racista: será mesmo?

Hoje, o nome da família Rocha Miranda carrega o nome de um importante bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro.

Segundo a pesquisadora Adriana Abreu Magalhães Dias, antropóloga da Unicamp, o Brasil tem mais de 300 células nazistas em funcionamento.

Em suas pesquisas especializadas na ascensão da extrema direita, Adriana também identificou mais de 6.500 endereços eletrônicos de organizações nazistas somente em língua portuguesa e dezenas de milhares de neonazistas brasileiros em fóruns internacionais.

OBS: esse documentário INCRÍVEL foi realizado pela Produtora Giros Interativa LTDA com o grande apoio da ANCINE (que correu sério risco de ser extinta no governo Bolsonaro) e está disponível no Youtube.

O MENINO 23 - INFÂNCIAS PERDIDAS
ANEXO