sábado, 30 de dezembro de 2023

NAZISSIONISMO ATACA BRENO ALTMAN * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

NAZISSIONISMO ATACA BRENO ALTMAN
"INQUÉRITO CONTRA BRENO ALTMAN É INTIMIDAÇÃO!

A Associação Brasileira de Imprensa, por sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos, manifesta publicamente sua surpresa com a informação de que o Ministério Público Federal determinou à Delegacia de Direitos Humanos e Defesa Institucional da Polícia Federal, da Superintendência Regional do DPF em São Paulo, a abertura de Inquérito Policial para investigar o jornalista Breno Altman, editor do site Opera Mundi.

Pelas informações veiculadas na manhã deste sábado no site Brasil 247 o inquérito é resultado de reclamação descabida da Confederação Israelita do Brasil, que de forma enviesada e conveniente rotula as críticas de Altman ao sionismo como antissemitismo.

A ABI lembra que a Constituição de 1988 garante a todo e qualquer cidadão a liberdade de expressão. Da mesma forma, respaldado nesse princípio constitucional, o Supremo Tribunal Federal tem garantido por inúmeras decisões a liberdade de imprensa, assegurando a todos os jornalistas o direito à crítica.

Confundir as posições antissionistas de Altman – cidadão judeu – com crime de antissemitismo é fazer o jogo dos que defendem o genocídio que o governo de Israel comete na Palestina, ao provocar milhares de assassinatos, inclusive de inocentes crianças.

Para a ABI essa investigação soa como evidente assédio a um jornalista crítico. Uma tentativa de calá-lo com ameaça de um processo criminal, o que é inconcebível no estado democrático de direito, que todos nós jornalistas sempre nos empenhamos em defender, notadamente nos últimos anos.

Nesse sentido, entende que o próprio MPF ou a Justiça Federal, respeitando o estado democrático de direito e a Constituição Cidadã, devem providenciar o trancamento desse inquérito.

Certos de que a democracia que saiu vitoriosa no 8 de janeiro de 2023 prevalecerá e será respeitada, a ABI aguarda providências dos responsáveis por tal situação para dar um fim à campanha intimidatória que Altman vem sofrendo.

Aproveitamos o ensejo para desejar a todos um próspero 2024, no qual a democracia, a liberdade de expressão e de imprensa prevaleçam. Rio de Janeiro, 30 de dezembro de 2023 

COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DOS DIREITOS HUMANOS DA "

+SOLIDARIEDADE A BRENO ALTMAN
*

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

UM ANO DE IMPUNIDASDE DAS CÚPULAS MILITARES * Jeferson Miola

UM ANO DE IMPUNIDASDE DAS CÚPULAS MILITARES

Charge satiriza a Lei da Anistia, de 1979. Ilustração: Carlos Latuff
Publicado originalmente no blog do autor

O 8 de janeiro de 2023 foi uma espécie de 31 de março de 1964 que, todavia, não deu certo.

Foi um ataque violentíssimo e impetuoso aos poderes da República e à democracia que fracassou no objetivo de promover ruptura institucional e destruir o Estado de Direito.

Diferentemente de 1964, em 2023 os golpistas não contaram com o apoio dos EUA. E por isso não puderam avançar outra vez a empreitada antidemocrática.

Além disso, os “exageros” da barbárie fascista-militar assustaram certos setores da oligarquia dominante que preferiram desembarcar da escalada golpista à qual tinham se associado organicamente na fraude eleitoral de 2018 armada pelo judiciário lavajatizado.

O 8 de janeiro tem parentesco com outros atentados antidemocráticos perpetrados pelas oligarquias golpistas na história recente do país – como o 17 de abril e o 31 de agosto de 2016, dois momentos-chave do impeachment fraudulento da presidente Dilma; e como o 3 de abril de 2018, data em que o Alto Comando do Exército obrigou o STF a prender ilegalmente o presidente Lula para impedi-lo de disputar e vencer a eleição daquele ano.

A rememoração do 1º aniversário do 8 de janeiro de 2023 programada pelo governo será incompleta e insuficiente, porque fortemente permeada pelo “vício” do Brasil em contemporização e impunidade.

Se bem é verdade que cerca de 1.200 criminosos da extrema-direita bolsonarista e lavajatista tenham sido presos na ocasião, o fato lastimável é que nenhum –absolutamente nenhum– líder central, planejador ou arquiteto intelectual da intentona do 8 de janeiro foi processado e preso.

Todas as pessoas presas ou que respondem a processos criminais são cidadãos e cidadãs civis de relevância e responsabilidade terciárias na cadeia geral de planejamento e execução dos atentados.

Não foram processados e presos nem mesmo aqueles oficiais militares e membros da família militar que durante meses acamparam nas áreas dos quartéis e inclusive ajudaram nos preparativos dos atos terroristas de 12 e 24 de dezembro em Brasília.

A justiça militar, essa excrescência jurisdicional herdada da ditadura, julgou e condenou a um mês e 18 dias de prisão e em regime aberto um único militar criminoso, o coronel bolsonarista Adriano Camargo Testoni.

O incrível, porém, é que este delinquente fardado que participou ativamente da devastação no 8 de janeiro não foi condenado pela participação nos eventos, mas porque xingou seus superiores, chamando-os de “frouxos e ‘fdp’” porque não posicionaram, como prometido, as tropas nas sedes dos três Poderes então tomadas pela horda fascista.

Que se saiba, o próprio Bolsonaro ainda não responde a nenhum inquérito criminal sobre o 8 de janeiro. De igual maneira não foram responsabilizados os comandantes militares e oficiais de alta patente da ativa e da reserva que durante quatro anos ameaçaram a ordem institucional e até o último minuto de 2022 tramavam a virada de mesa porque não aceitavam o resultado da eleição.

O ministro bolsonarista do TCU Augusto Nardes, que distribuiu áudio a apoiadores relatando “um movimento muito forte nas casernas que terá um desenlace bastante forte na Nação”, continua impune e recebendo cerca de R$ 45 mil por mês no Tribunal.

É até possível que Bolsonaro e “seus” generais, almirantes, brigadeiros, coronéis, capitães e outros delinquentes civis e fardados venham a ser investigados em razão do relatório da CPMI dos atos golpistas, mas isso só acontecerá se for revertido o acordão firmado para livrar a cara deles.

Do mesmo modo que os agentes de terror da ditadura de 1964, os golpistas de 2023 também ficarão outra vez impunes. As cúpulas fardadas novamente conseguiram impor ao poder político e à sociedade civil a anistia para militares que perpetram crimes contra a democracia.

Os militares exigiram e ganharam uma nova anistia. Ainda que não seja na forma de uma nova Lei da Anistia, é uma anistia tácita.

Isso é sinal não só de que os militares estão conseguindo se reposicionar depois da tentativa fracassada de golpe, mas que estão absolutamente fortalecidos, fortes e rearticulando seu projeto próprio de poder fardado.

Assim como a impunidade depois da ditadura encorajou a dinâmica golpista do último período, a impunidade em relação ao 8 de janeiro encorajará – e num futuro menos distante que se imagina– novas investidas de militares golpistas contra a democracia e o Estado de Direito.

A rememoração do 8 de janeiro só terá eficácia democrática real se produzir um grande esforço do Congresso, do governo federal, do judiciário e das instituições da República para punir aqueles que representam, historicamente, uma ameaça à democracia.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

CATÓLICOS CONTRA A FRATERNIDADE * Glícia Gripp/Revista Eclesiástica Brasileira/REB

CATÓLICOS CONTRA A FRATERNIDADE
Glícia Gripp*

CATHOLICS AGAINST FRATERNITY

Síntese: Este artigo examina os ataques contra as Campanhas da Fra ternidade, protagonizados por grupos católicos laicos da nova extrema direita ou neointegristas. A partir do enfoque da sociologia da cultura, qualitativo, coletou-se os dados das redes sociais das lideranças e dos ativistas dos grupos. A interpretação dos dados foi realizada com a me todologia de análise de conteúdo, na identificação de padrões na comu nicação. Na conclusão, observa-se que os grupos estudados produzem e reproduzem um conjunto de pressupostos, tomados como certos, que guiam, intuitivamente, a ação de seus membros, a partir de uma compreensão da fraternidade restrita àqueles que possuem os mesmos pressupostos.

Palavras-chave: Fraternidade; Campanha da Fraternidade; Extrema di reita católica; Integrismo; Sociologia da cultura.

Abstract: This article examines the attacks against the Fraternity Cam paigns, carried out by Right-wing Catholic extremists. Based on the sociology of culture approach, data were collected from the social net works of its leaders and activists. Content analysis was used in data pro cessing, identification of patterns in communication on social networ ks. In conclusion, it is observed that the studied groups produce and reproduce a set of assumptions, taken for granted, that intuitively guide the action of their members, based on an understanding of fraternity restricted to those who have the same assumptions.

Keywords: Fraternity; Fraternity Campaigns; Right-wing catholic ex tremists; Integrism; Sociology of culture.

* Mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais. Doutorado em Ciências Humanas – Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais. Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Ouro Preto. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em sociologia da cultura, sociologia do conhecimento, sociologia da educação e sociologia da religião, atuando principalmente nos seguintes temas: desigualdades sociais, profissões, conhecimento, políticas educacionais, catolicismo. E-mail: <glicia@ufop.edu.br>.

760 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

Introdução

Em 1989, o sociólogo Michael W. Cuneo publicou um livro com um título sugestivo, Catholics Against the Church, no qual analisa protestos contra o aborto liderado pelo catolicismo no Canadá entre 1969 e 1985. Encontrou um grau inesperadamente elevado de conflitos e partidaris

mos dentro do movimento antiaborto e concluiu que este era o ponto simbólico da fratura de uma ampla dicotomia ideológica dentro do cato licismo canadense. Descobriu um forte antagonismo entre os militantes do movimento e a Igreja institucional. Assim, Cuneo descreve três gru pos principais: os ativistas dos direitos humanos (reformadores sociais, liberais), ativistas do patrimônio familiar (católicos tradicionais e con servadores protestantes) e o que ele caracteriza como “ativistas católicos revivalistas” (críticos da liberalização do Catolicismo). O ativismo deste último grupo não se realiza apenas contra o aborto, mas também contra

os “demônios da modernidade dentro do Catolicismo canadense”. Du Cleuziou volta-se ao estudo dos subgrupos constituintes do ca tolicismo francês no polo mais conservador no livro publicado em 2019, Une contre-révolution catholique. Aux origines de La Manif pour tous. Na introdução, o autor descreve o comportamento de alguns católicos em uma missa realizada em 13 de agosto de 2017: no momento da comu nhão, a maioria dos fiéis apresenta as mãos para receber a hóstia, mas uma minoria prefere que o padre a coloque diretamente na boca. As duas possibilidades, segundo o autor, não são distribuídas de maneira aleatória. Comungam na boca algumas senhoras idosas, um peregrino de Compostela de mais ou menos 60 anos e a quase totalidade dos jo vens de menos de 30 anos. Entre esses, alguns se distinguem por receber a hóstia de joelhos. A cena descrita pelo autor não é desconhecida nas igrejas católicas brasileiras.

Du Cleuziou classifica esses jovens em um movimento católico apegado a uma concepção integrista e intransigente da fé católica, com pouco pudor em intervir na política ou para assumir o caráter divisio nista do magistério sobre a vida. Ele não considera esse movimento de jovens leigos católicos como um remanescente do passado, condenado a desaparecer a longo prazo, ao contrário, seria um movimento inte grista contemporâneo.

Gaël Brustier, em um artigo publicado em 2017, denomina os mesmos grupos de “tradismáticos”, pois teriam sido forjados no entrecruzamento

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de duas correntes do catolicismo contemporâneo: os tradicionalistas e os carismáticos. A maioria dos jovens que compõem esses grupos são con vertidos ao catolicismo, ou filhos de convertidos, da geração “João Paulo II” e das Jornadas Mundiais da Juventude, apegados à fé católica e à sole nidade litúrgica, muitas vezes à missa tridentina (forma extraordinária do rito romano), mas não são atraídos pela Fraternidade São Pio X, fundada por Marcel Lefebvre. Frequentam novas comunidades católicas e encon tros carismáticos, onde encontram inspiração evangelizadora e a tudo isso acrescentam uma forte consciência política e um sentido militante.

O jornalista, também francês, Henri Tincq classifica esses mesmos grupos como um desvio identitário e reacionário entre os fiéis católicos, no livro publicado em 2018, La Grande Peur des Catholiques de France. Para o autor, há um despertar da mobilização dos católicos de direita contra os projetos de lei progressistas. Ele identifica as manifestações contra o casamento homossexual, em 2012 e 2013, na França, como um marco do ativismo do catolicismo identitário e reacionário. Mais que contra o casamento homossexual, diz Tincq, a revolta é fundada sobre um sentimento de hegemonia cultural da esquerda liberal e liber tária, com a convicção de que esta esquerda cultural e moral provoca a derrota dos valores cristãos. Eles se afastam da Fraternidade São Pio X, fundada por Marcel Lefebvre, não colocam em causa o Concílio Vatica

no II, mas sua visão de mundo, sua concepção de liturgia, as missas em latim, o uso da batina e, nesse sentido, a formação tradicional, tornam a fronteira com os integristas mais fluida. Não são anticonciliares, mas sua noção do Concílio não tem perspectiva histórica. Para eles, o que constitui a Igreja são as prostrações, as procissões, a adoração ao Santís

simo Sacramento, a adoração de relíquias.

Os autores concordam em alguns pontos: os grupos são constituídos por jovens, a maioria convertidos; há uma relação entre catolicismo e a política da extrema direita; se denominam conservadores e tradicio nalistas; possuem uma fé bastante individualizada e, de certa forma, entram em conflito com a Igreja institucional. Concordam também que não se trata de uma sobrevivência ou ressurgimento do integrismo do passado, mas que se trata de um fenômeno contemporâneo.

Grupos com características semelhantes existem no Brasil, mas pa reciam minoritários e não despertaram curiosidade intelectual. Há pou cos trabalhos sobre essa nova extrema direita católica e podemos citar

762 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

os trabalhos de Portella (2014), Silveira (2015, 2018, 2019), Caldeira; Silveira (2021), Py (2021) e Wink (2023).

Grupos extremistas no polo conservador católico sempre existiram no Brasil e alhures, embora minoritários. Contudo, os estudados para este artigo surgem a partir da primeira década deste século. O que pare ce ocorrer é uma maior visibilidade com a adesão à militância virtual, na internet, uma nova forma de organização, rizomática, que os leva à co bertura do território nacional, a aliança com evangélicos fundamenta listas na defesa de algumas pautas comuns, e a chegada ao poder de uma direita populista, entre 2018 e 2022, que levou membros dos grupos a ocuparem postos em ministérios. Eles partilharam a mesma estrutura de difusão da direita populista1, partilhando inclusive os mesmos ativistas e influenciadores, como Bernardo Küster, Sara Winter e Allan dos Santos. Além disso, encontraram acolhida na Canção Nova – um movimento da Renovação Carismática Católica –, que tem uma estrutura de comu nicação social poderosa.

São agremiações relativamente pequenas, mas barulhentas e se ali nham aos revivalistas canadenses, aos tradismáticos ou identitários cató licos franceses que se opõem não apenas ao aborto, mas à liberalização da sociedade e da Igreja. São grupos católicos, usando a expressão de Cuneo (1989), contra a Igreja. O Papa Francisco, em seu discurso nas Jornadas Mundiais da Juventude, em 2013, no Rio de Janeiro, identifica formas contemporâneas de ideologização da mensagem evangélica. Entre as pro postas contemporâneas existentes na América Latina, ele inclui

A proposta pelagiana. Aparece fundamentalmente sob a forma de res tauração. Perante os males da Igreja, busca-se uma solução apenas disci plinar, na restauração de condutas e formas superadas que nem mesmo culturalmente têm capacidade de ser significativas. Na América Lati na, verifica-se em pequenos grupos, em algumas novas Congregações Religiosas, em tendências exageradas para a “segurança” doutrinal ou disciplinar. Fundamentalmente é estática, embora possa prometer uma dinâmica ad intra: regride. Procura “recuperar” o passado perdido (Papa Francisco, 2013).

Neste artigo, trataremos de grupos católicos que parecem se situar na proposta indicada pelo Papa Francisco de ideologização da mensagem evangélica, a proposta pelagiana, compostos principalmente por leigos,

1. Sobre a definição de direita populista, ver, por exemplo, Lynch; Cassimiro (2022).

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embora com liderança de alguns padres. Estes grupos se denominam “tradicionalistas” e “verdadeiros católicos” – contra os supostos falsos católicos que, por representarem ameaça aos valores cristãos, segundo eles, precisariam ser combatidos e eliminados – e se valem principal

mente das redes sociais para sua militância. Além da militância na in ternet, estão espalhados pelo país, em centros católicos fundados a par tir de 2017, infiltrados nas paróquias e em grupos católicos de jovens. Importante frisar que não são grupos institucionais, não pertencem estruturalmente à Igreja Católica institucional e, assim, não devem obe diência aos bispos, mas configuram uma espécie de Igreja paralela, que compete com a Igreja oficial, com a CNBB, com algumas congregações religiosas – como a Congregação Salesiana, a Congregação do Santís simo Redentor, entre outras. Dentro dessa competição, encontramos o combate à CNBB – que eles imaginam que deve deixar de existir – e às Campanhas da Fraternidade.

Dentro da miríade de eventos protagonizados por esses grupos, es colhemos um deles: o combate à Campanha da Fraternidade, em três momentos, 2011, 2021 e 2023. A escolha deste evento vem da inspi ração de um artigo de Nagamini, Silva e Gerardi (2023) sobre as lutas em torno da Campanha da Fraternidade de 2023 e pretende estabelecer um diálogo com ele.

Quem são os católicos que atacam a

Campanha da Fraternidade?

Durkheim (1898, p. 4) nos lembra que a sociologia da religião tra ta de fatos religiosos e, assim, ela deve começar por lhes definir. São fatos religiosos que nos interessam e não a religião. Esta definição só pode delimitar o círculo dos fatos sobre os quais versa a pesquisa, indi car quais os signos que distinguem de outros com os quais possam ser confundidos.

O fato religioso que nos interessa e sobre o qual trataremos neste artigo é o surgimento de grupos religiosos de extrema direita católica que têm por objeto atacar as estruturas institucionais da Igreja Católica, especialmente a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), as teologias progressistas, especialmente a Teologia da Libertação, as instituições sociais, especialmente a educação, mas também a arte, a imprensa. Quando se voltam contra a própria Igreja Católica, usam o

764 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

argumento de que esta, no Brasil, se corrompeu e já não representa a Igreja Católica de Jesus Cristo.

Os dados utilizados neste artigo foram coletados nas redes sociais – Facebook, Twitter e YouTube – dos grupos e dos membros de um mo vimento católico ultraconservador, em uma pesquisa durante os anos de 2019 a 2023. Coletamos as postagens, os vídeos, os textos, as ima gens. Comparamos e analisamos os conteúdos comuns como repre sentativos dos grupos de extrema direita católica. A interpretação dos dados foi feita a partir da análise temática e da análise de conteúdo. Buscamos, também, fazer o desenho da rede de relações e da estrutura organizacional do movimento, bem como indicar as lideranças e os influenciadores.

Os grupos estudados giram em torno de um sacerdote católico, Pa dre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior,2 que possui uma estrutura de cria ção de conteúdos católicos que classificamos como um think tank3 de extrema direita católica, nos moldes dos think tanks de extrema direita que proliferam no país desde os anos de 1990.4

Os ataques contra a Campanha da Fraternidade começaram há mais de dez anos, inicialmente pelo Padre Paulo Ricardo de Azevedo Júnior, em 2011,5 e posteriormente retomado pelo Centro Dom Bosco e, re centemente, também por Bernardo Küster, um ativista político e reli gioso, bem conhecido por divulgar teorias da conspiração e Fake News, e que faz parte de uma investigação do Supremo Tribunal Federal.6

2. Sobre o Padre Paulo Ricardo, ver Silveira (2015; 2018) e Py (2021).

3. Um think tank é uma organização voltada à criação e à disseminação de conhecimentos sobre diversos temas, como: política, economia, entre outros. Existe de forma paralela às universidades, pois são, muitas vezes, grupos de interesse e grupos políticos que possuem o objetivo explícito de influenciar a política, as políticas públicas e a sociedade, e não possuem, necessariamente, o objetivo de perseguir a verdade, mas difundem, por vezes, ideologias e crenças. Assim, consideramos que o Padre Paulo Ri

cardo e sua equipe mantêm um think tank de difusão de ideias de ultradireita católica, paralelo à igreja Católica institucional (não há vínculos de pertencimento).

4. Embora a expressão think tank remeta a organizações dedicadas à política e à influência em polí ticas públicas, HIMES (2019) trata de think tanks católicos nos Estados Unidos. BORGES (2016) con sidera o Centro Dom Vital, fundado em 1922, em Olinda, Pernambuco, como um think tank católico.

5. Encontramos referências a ataques anteriores a 2011, mas os vídeos foram apagados na internet.

6. Ver: <https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2020/05/27/bernardo-kupster-di retor-olavo-carvalho-buscas-policia-federal-fake-news.htm>. Acesso em: 26 ago. 2023. Ver, também, sobre a condenação de Küster por divulgar fake news sobre Leonardo Boff: <https://www1.folha.uol. com.br/colunas/monicabergamo/2021/08/bernardo-kuster-e-condenado-a-pagar-r-110-mil-por-fake- -news-contra-leonardo-boff.shtml>. Acesso em: 26 ago. 2023.

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O Centro Dom Bosco é um grupo de leigos católicos criado em 2016, que divulga as ideias da nova extrema direita católica. É uma espécie de acelerador de divulgação dos conteúdos. Faz parte de uma rede de grupos e centros religiosos compostos por leigos, a “Liga Cristo Rei”, criada em 2017. Identificamos 49 grupos e centros católicos ali

nhados à Liga, espalhados no território brasileiro, durante a pesquisa. Com base nas citações e postagens de mensagens, imagens, fotos e vídeos em cada perfil dos centros católicos que se relacionam com a Liga Cristo Rei, no Facebook, encontramos os perfis das pessoas mais citadas – os “influenciadores” - e os conteúdos mais reproduzidos. Observou-se a influência dos perfis pessoais do Padre Paulo Ricardo (não segue nenhum outro perfil nas suas redes sociais), da deputada Chris Tonietto, dos ativistas Bernardo Küster e Allan dos Santos,7 que não interagem com os seus seguidores, ou seja, são perfis de divulga

ção de conteúdo, para influência sobre a clientela desejada. Sobre os centros católicos, Chris Tonietto sugere que é uma das fundadoras e afirma, segundo post no Facebook de um dos grupos, Confraria São Thomas More:8 “Me perguntaram: ‘vocês não vão pa rar de criar centros católicos?’. Respondi: Vamos sim, quando todos os hereges se converterem”. Infere-se do comentário que aquele que não é católico é herege. Por isso, colocam-se radicalmente contra o ecumenismo.

Na página do Facebook do Centro Dom Bosco, observamos a ideologia total e a relação do Centro com a política de extrema direita: “Seja nos livros, nas aulas ou na política, trabalharemos incansavel mente até que tudo esteja ordenado a Cristo Rei”, lemos no post, que acompanha uma foto da Deputada Chris Tonietto com o ex-presiden te Bolsonaro.9

Denominamos o conjunto desses grupos de nova extrema direita católica, por estar intimamente relacionado com o movimento polí tico de extrema direita e defender os mesmos princípios. Poderíamos

7. Sobre esse ativista, ver: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2023/08/07/trf-1-recebe-denun cia-e-torna-reu-blogueiro-allan-dos-santos-por-ameaca-a-barroso.ghtml>. Acesso em: 26 ago. 2023.

8. Fonte: <https://www.facebook.com/517635668754697/photos/a.517641812087416/62753537 4431392/>. Acesso em: 15 nov. 2023.

9. Fonte: <https://www.facebook.com/cdbosco/photos/pb.100064454061772.-2207520000./ 1969080226721614/?type=3>. Acesso em: 09 jul. 2023.

766 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

chamá-los de neointegristas, como o faz o brasilianista Georg Wink (2023). Suas características se aproximam da análise de Yves Congar (1950) do integrismo, na primeira metade do século XX:

a) Difundem um sistema total que pretende modelar ou determinar todos os domínios da vida a partir do elemento católico.

b) Caracterizam-se por uma desconfiança a respeito do sujeito, do ho mem e uma propensão a acentuar a determinação das coisas pela via da autoridade.

c) Insistem sobre a corrupção da natureza, sobre o pecado original. Condenam coisas em si inofensivas, como o fato de usar bermudas ou calças compridas para mulheres.

d) Possuem propensão para o castigo, inclusive físico, como método de autoridade; opções correspondentes em educação.

e) Apegam-se à escolástica, dentro da filosofia cristã, restaurada por Leão XIII, na qual apenas São Tomás de Aquino é retido. Os modernos são suspeitos, na verdade são considerados como “teologia da liberta ção”, e suspeitos de terem ignorado tudo, desviado tudo e de nada te rem fornecido de valioso.10

f) Na doutrina da Igreja ou nas diretivas práticas, enfatizam o aspecto autoritário e rígido.

g) A Igreja é considerada como mistério da graça e aspectos da vida mís tica são afirmados de forma sólida. Consideração positiva da vida espiri tual e do trabalho de Deus nas almas. Mas, tudo isso está confinado na ordem da vida pessoal, individual. A expressão da doutrina eclesiológica se faz em um sentido autoritário, exterior ao sujeito religioso.

h) Adeptos ao formalismo e inclinados a pensar que tudo é uma questão de moral.

Congar (1950, p. 614) situa o integrismo em sua ancoragem políti ca de direita e, mesmo de extrema direita. Antes de se exprimir no plano da doutrina, mostra, de início, um espírito partidário.

Cabe salientar que esses grupos produzem militantes portadores de um projeto de transformação, não só da Igreja, mas também da

10. Sobre essa questão, ver a interpretação feita pelo padre José Eduardo sobre as origens da Teo logia da Libertação, no site Brasil Paralelo: <https://www.brasilparalelo.com.br/noticias/padre-jose-e duardo-explica-a-teologia-da-libertacao-e-sua-relacao-com-o-comunismo>. Acesso em: 08 jul. 2023.

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sociedade. E funcionam a partir do think tank liderado pelo Padre Pau lo Ricardo e de perfis de influenciadores que servem como aceleradores de disseminação de conteúdo da extrema direita católica e de frente de recrutamento.

Católicos contra a Campanha da Fraternidade:

2011, 2021 e 2023

Escolhemos três ataques contra a Campanha da Fraternidade, em 2011, em 2021 e em 2023. Em 2011, o Padre Paulo Ricardo critica a Campanha da Fraternidade11 com o tema “Fraternidade e vida no pla neta”. Diz Padre Paulo Ricardo no referido vídeo:

Existe uma forma, católica, cristã, de fazer uma reflexão sobre o tema da ecologia, e existe uma forma revolucionária, completamente não cristã. E é aqui que eu gostaria de contribuir para que você soubesse que, infelizmente, tem gente se aproveitando da Igreja Católica para, nesse tema, ecologia e meio-ambiente, colocar uma agenda que não é católica. Ou seja, fazer com que os católicos de alguma forma percam a sensibilidade de sua fé em Deus. Como isso acontece? É a proposta de um neopaganismo. (...) Existe uma diferença muito grande quando nós, cristãos, respeitamos a criação, e quando os pagãos idolatram a natureza. Começa sempre por aí, uma linguagem. Nós cristãos sempre temos uma tendência a falar “a criação”. Por quê? Porque criação é um criador, existe um criador que é Deus. Já os pagãos que não querem lembrar do criador, falam de natureza e começam a tratar a natureza como se ela fosse uma potência superior a nós, ou seja, é mãe. A “mãe natureza”’, a mãe terra. Ora, a mãe terra, a mãe natureza é uma divinda de pagã. É Gaia. É uma deusa. (...) Então, uma visão cristã do mundo, o homem está no centro do universo. Não tem sentido nenhum agora nós cristãos ficarmos repetindo que a terra é a criatura mais perfeita. Não é verdade. Simplesmente não é verdade. Se você pegar o relato da criação, no primeiro capítulo do Gênesis, você verá que Deus fez uma coisa no primeiro dia, viu que era bom. Outra coisa, viu que era bom. Quando no sexto dia, Deus faz o homem e a mulher, ele faz o homem e a mulher como o ápice da criação e diz “E Deus viu que era muito bom”. Portanto, a criatura humana que tem dignidade maior e não a mãe terra, como se ela estivesse acima de nós.

11. Fonte: <https://www.gloria.tv/post/4zFJd18HVGY4AkAVtwaqmsfwH#75>. Acesso em: 08 jul. 2023.

768 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

Depois de receber críticas pela sua posição, o padre divulgou novo vídeo,12 para se explicar, no qual afirma ainda mais suas divergências com a CNBB e a Campanha da Fraternidade. Inicia dizendo que há muita gente que quer calá-lo, porque ele diz a verdade. Afirma que nem sempre se expressa de forma adequada por causa do formato em vídeo, e que critica ideias e não pessoas. Afirma também que quer ser um serviço para a Igreja, em comunhão com o Papa e com os bispos. O vídeo sobre a Campanha da Fraternidade teria sido feito para expressar as ideias do Papa Bento XVI, e alertava para o fato de que as ideias boas poderiam ser utilizadas por pessoas mal-intencionadas e que os católicos poderiam resvalar para o neopaganismo. Afirma várias vezes que não está conde nando pessoas, mas atitudes e ideias e diz, mantendo a mesma posição do primeiro vídeo:

Nós não podemos colocar o Papa Bento XVI no índice dos livros proi bidos. Mas, infelizmente, é o que está acontecendo na prática no Brasil. Onde é que estão os livros do Papa? Onde é que estão os livros do Papa publicados, divulgados, no meio do povo católico? Sim, nós precisamos condenar alguma coisa e é esse neopaganismo que está abundante, in felizmente, dentro da Igreja Católica no Brasil. Veja, por exemplo, en quanto não se publicam os livros do Papa, nós temos inúmeros livros de teólogos liberais que, nem se sabe bem se a gente ainda pode considerar católicos, sendo publicados. Por exemplo, Hans Küng e Leonardo Boff publicaram uma pletora de livros a respeito de ecologia.

Em 2018, o Padre Paulo Ricardo precisou se retratar13 por críticas feitas à CNBB e a bispos brasileiros. Desde então, não falou mais sobre o tema. As críticas e difamações foram terceirizadas para os grupos de leigos da Liga Cristo Rei, do Centro Dom Bosco, e para a militância católica leiga da internet. Essa estratégia foi, recentemente, explicitada por Küster em um vídeo com o título provocador: “Bispos vão censurar leigos na internet?!”14

Em 2021, a Campanha da Fraternidade sofreu mais um forte ata que, iniciado pelo Centro Dom Bosco: #boicotacf2021.15 Vídeos com

12. Ver <https://www.youtube.com/watch?v=VwxrmIGczBg>. Acesso em: 26 ago. 2023.

13. <Pronunciamento do Padre Paulo Ricardo a respeito das polêmicas envolvendo a CNBB - YouTube>. Acesso em: 08 jul. 2023.

14. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=kf2afJjim3Q>; vídeo divulgado em 16 ago. 2023. Acesso em: 22 ago. 2023.

15. Ver: <https://www.youtube.com/watch?v=SXlFS3_rLF4> Acesso em: 08 jul. 2023.

REB, Petrópolis, volume 83, número 326, p. 759-787, Set./Dez. 2023 769

denúncias de supostas heresias foram divulgados nas redes sociais. Há, em um site na internet de um grupo católico, a divulgação de um cartaz sobre a Campanha da Fraternidade de 2021, com os dizeres: “Amanhã não doe para a Campanha da Fraternidade!”16

Em 09 de fevereiro de 2021, o Centro Dom Bosco divulgou um vídeo com o título “Para onde vai o dinheiro da Campanha da Frater nidade?”. Segundo Álvaro Mendes, então vice-presidente do referido centro, os recursos das Campanhas são direcionados a

(...) instituições que vão aplicar aquele dinheiro para problematizar, apresentar questões de cunho social com uma ótica revolucionária. Em nenhum momento, nós vamos ver alusões a questões de doutrina, fé e moral católica. É só revolução pela revolução. Então, meus amigos, para terminar, para concluirmos, renovamos o nosso pedido do vídeo anterior. No Domingo de Ramos, a acontecer neste ano no dia 28 de março, nós conclamamos a todas as pessoas que nos assistem aqui, não entreguem o seu dinheiro na coleta da Fraternidade na missa a ocorrer nesse dia 28 de março. Pelo contrário, pegue esse dinheiro que vocês doariam e entregue nas mãos do seu pároco, entreguem em uma coleta em outro dia, ou, então, doem de forma específica para organizações que, aí sim, vão olhar para o próximo com o amor17.

No dia 18 de março de 2021, Bernardo Küster divulgou outro vídeo sobre a Campanha da Fraternidade, com o mesmo discurso, a mesma argumentação e as mesmas distorções dos vídeos anteriores, “CNBB – Conheça a ideologia (oculta) na Campanha da Fraternidade de 2021”. Inicia o vídeo da seguinte forma:

Se nós não cuidarmos da nossa geração, não rechaçarmos isto agora, as próximas gerações vão beber isso. Porque a teologia da libertação começou assim. Não é apenas citar Mariele Franco para lacrar, esse é um projeto estratégico para subversão da Igreja. E acharam que eu iria ficar longe da Campanha da Fraternidade deste ano da CNBB, que eu não iria falar nada.18

Em vídeo do dia 17 de março de 2021, o Centro Dom Bosco con clamou os católicos a não doarem dinheiro para a Campanha da Frater nidade. Na introdução do vídeo, encontra-se o resumo:

16. Fonte: <https://fratresinunum.com/tag/campanha-da-fraternidade/>. Acesso em: 08 jul. 2023. 17. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=ha5d83eMVh4>. Acesso em: 16 jul. 2023. 18. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=NtjJ5fyBYWs>. Acesso em: 16 jul. 2023.

770 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

Revolucionários infiltrados no CONIC e na cúpula da atual gestão da CNBB incluíram a ideologia de gênero e demais pautas extremistas iden titárias no texto-base. O objetivo é claro: usar a Campanha como instru mento para ideologizar todas as dioceses do Brasil. Mas a aliança CONI C-CNBB não parou por aí. Eles criaram um material específico para per verter as almas das nossas crianças. Conheça o Kit Gay da Campanha da Fraternidade e resista. Compartilhe este vídeo para barrarmos a implanta ção da ideologia de gênero nas catequeses de nosso país. Viva Cristo Rei!19

No dia 26 de fevereiro de 2021, o Centro Dom Bosco divulgou ou tro vídeo, “Saiba quem é o bispo aliado da pastora na CNBB”, no qual o mesmo vice-presidente do centro afirma:

Esse texto [texto-base da Campanha da Fraternidade] não é um proble ma isolado, mas ele faz parte de um contexto muito maior que tem a ver com a introdução de uma ideologia revolucionária dentro do ambiente da santa Igreja Católica.20

O Centro Dom Bosco divulgou 17 vídeos contra a Campanha da Fraternidade em 2021. Vale a pena observar os títulos dos vídeos e o grande número de visualizações, pois são dados importantes para a compreensão do fenômeno desta nova extrema direita católica:



Data

Título

Visualizações


05/02/2021

Saiba quem está por trás da Campanha da Fraternidade

692.156


07/02/2021

Bispo: A Igreja assistiu a morte de todos os seus inimigos!

36.809


09/02/2021

Para onde vai o dinheiro da Campanha da Fraternidade?

103.407


11/02/2021

Pedido filial para a Presidência da CNBB sobre a CF 2021

58.102


12/02/2021

A Ideologia de Gênero na Campanha da Fraternidade!

44.000


16/02/2021

CF 2021: Convide um protestante para tomar um chopp!

73.631




19. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=dVeSI5jAxWc>. Acesso em: 16 jul. 2023. 20. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=e63TwZLFlNk>. Acesso em: 16 jul. 2023.

REB, Petrópolis, volume 83, número 326, p. 759-787, Set./Dez. 2023 771



16/02/2021

Padre enterra de vez a Campanha da Fraternidade!

1.351.322


17/02/2021

Macabeus e o combate da fé

17.277


19/02/2021

Padre Juarez erra ao defender a Campanha da Fraternidade

287.249


25/02/2021

Urgente: Áudio vazado após a live do CONIC

46.000


25/02/2021

Padre sobre a CFE-2021: Não dê um centavo no Domingo de Ramos!

116.849


26/02/2021

Saiba quem é o bispo aliado da pastora na CNBB

222.826


07/03/2021

A TL treme! Mais um bispo se levanta em defesa da Santa Igreja!

98.227


08/03/2021

Dom Joel e Romi Bencke saem em defesa da Campanha da Fraternidade!

45.992


09/03/2021

Já decidimos para quem vamos doar!

13.223


17/03/2021

Conheça o Kit Gay da Campanha da Fraternidade!

206.811


26/03/2021

Unidade e divisão na Santa Igreja Católica

59.567

Tabela 1: vídeos do Centro Dom Bosco contra a Campanha da Fraternidade 2021.21

Os argumentos, as teorias conspiratórias, a estratégia de gerar pâni co moral – “ideologia revolucionária, vão destruir a Igreja, vão destruir a família, vão implantar o comunismo” – se repetem. O centro da crítica no ano de 2021 foi colocado no Conic – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil –, pois naquele tivemos uma Campanha da Fraterni dade Ecumênica. O Conic é constituído pelas Igrejas Católica Apos tólica Romana, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil, Presbiteriana Unida, Sirian Ortodoxa de Antioquia e a Aliança de Batistas do Brasil. Um dos alvos das críticas foi a secre tária geral do Conic, a pastora luterana Romi Bencke, por ela ser uma

21. Fonte: <https://www.youtube.com/results?search_query=centro+dom+bosco>. Acesso em: 16 jul. 2023.

772 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

pastora, por ser a favor da descriminalização do aborto.22 Em um dos vídeos,23 Felipe Aquino, teólogo, um dos influenciadores dos grupos católicos de direita, que comanda um programa na TV Canção Nova, “Escola da Fé”, afirma que não consegue compreender como a Campa

nha da Fraternidade pode ser elaborada pelo Conic, um conselho das Igrejas cristãs:

“Primeiro, que o Papa Bento XVI só chama de Igreja a Igreja Católica e a Ortodoxa, as que têm sucessão apostólica, as outras ele não chama de Igreja. (...) Nem o catecismo chama de Igreja. Eu não sei como criaram um conselho nacional de Igrejas cristãs, envolvendo uma porção de co

munidades eclesiais, ele não chama de Igrejas”.

Assim, eles não reconhecem nenhuma outra Igreja, se colocam contrários ao ecumenismo. A referência é o Papa Bento XVI e não o Papa Francisco. Se lembrarmos que, para o Papa Francisco, o diálogo inter-religioso inclui relações fraternas entre todas as religiões, e, in

clusive, consta no documento assinado pelo Papa e pelo imã Ahmed Al-Tayeb, em um encontro em 2019,24 os grupos de extrema direita católica se opõem, assim, também, ao Papa, e à ideia de convivência fraterna.

Em 2023, acontece um novo ataque à Campanha da Fraternida de, com o tema “Cuidar de quem tem fome”. Também neste ano, encontramos cartazes nas redes sociais, e um deles, divulgado pelo influenciador Bernardo Küster, reproduzido pelos diversos centros ca tólicos, mostra uma foto de uma armadilha para ursos, com serrilha do, aberta e dentro da armadilha um pão. O cartaz é uma forma de difamar não apenas a Campanha da Fraternidade, mas a própria ideia de fraternidade.25

Em 2023, Bernardo Küster divulga diversos vídeos contra a Cam panha da Fraternidade, no YouTube, como se observa na tabela 2.

22. Ver o vídeo de Felipe Aquino, “Felipe Aquino responde Polêmica campanha da fraternida de 2021”, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=tgYIJMBXQX4>. Acesso em: 16 nov. 2023. Ver, também o vídeo “Conheça o Kit Gay da Campanha da Fraternidade!”, do Centro Dom Bosco, disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=dVeSI5jAxWc>. Acesso em 16 nov. 2023.

23. Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=_adhlywh1E4>. Acesso em: 16 nov. 2023.

24. Fonte: <https://www.vaticannews.va/pt/papa/news/2021-02/papa-francisco-fraternidade-hu mana-irmaos-respeito-culturas.html>. Acesso em: 16 nov. 2023.

25. Fonte: Perfil de Bernardo Kuster no Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/ bernardopiresk/>. Acesso em: 09 jul. 2023.

REB, Petrópolis, volume 83, número 326, p. 759-787, Set./Dez. 2023 773

Data

Título do vídeo

Visualizações

Canal


06/10/2021

CNBB abre consulta sobre a Campanha de 2023!

80.634

Centro Dom Bosco


18/01/2022

Saiu o Tema da Campanha da Fraternidade de 2023!

215.008

Centro Dom Bosco


10/02/2023

A Campanha da

Fraternidade mais

PERIGOSA de TODAS

138.194

Bernardo

Küster


17/02/2023

Campanha da Fraternidade 2023: ERROS GRAVES de Interpretação Bíblica

84.983

Bernardo

Küster


24/02/2023

URGENTE: Ministro Petista na Campanha da Fraternidade 2023

88.332

Bernardo

Küster


27/02/2023

Campanha da Fraternidade 2023: AGENDA 2030?

49.836

Bernardo

Küster


01/03/2023

Bernardo Küster: ‘CNBB usa estatísticas mentirosas sobre a fome no Brasil26’

42.298

Bernardo

Küster


06/03/2023

Politização marxista na Campanha da Fraternidade 2023

75.597

Bernardo

Küster


07/03/2023

Teologia da Libertação nos EUA

47.865

Bernardo

Küster (com Ana Paula

Henkel)


07/03/2023

Armadilha fraterna

1.237

Bernardo

Küster


08/03/2023

Manipulação Política na Campanha da Fraternidade

27.380

Bernardo

Küster

(com Rafael Brodbeck)

26. Este vídeo específico está no Canal do Youtube da Revista Oeste; é uma entrevista feita pela revista com Bernardo Küster, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=lFrEobK6LFw>. Acesso em: 16 jul. 2023.

774 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade



08/03/2023

Saiba tudo sobre a

Campanha da Fraternidade de 2023!

118.764

Centro Dom Bosco


09/03/2023

Manipulação da linguagem na Campanha da

Fraternidade

39.732

Bernardo

Küster (com Rodrigo

Gurgel)


10/03/2023

Como viver a Quaresma SEM Campanha da

Fraternidade

22.881

Bernardo

Küster (com o Padre Gian Ruzzi)


11/03/2023

A CNBB como agente político da Esquerda

21.728

Bernardo

Küster (com Thomas

Giuliano)


13/03/2023

Como desmobilizar a

Campanha da Fraternidade na sua paróquia

30.000

Bernardo

Küster

(com Tiba

Camargos)


27/03/2023

O que é a Campanha da Fraternidade?

19.367

Bernardo

Küster


30/03/2023

Devo DOAR para

a Campanha da

Fraternidade?

20.081

Bernardo

Küster




Tabela 2: Vídeos contra a Campanha da Fraternidade 2023.27

No centro das críticas há um argumento simples: a CNBB está in filtrada pela Teologia da Libertação, que é associada com o que eles chamam de “comunismo” e as Campanhas da Fraternidade servem para divulgar ideologia marxista e fazer doutrinação. No centro dessa ideolo gia marxista ou “marxismo cultural”, como chamam às vezes, estaria o suposto projeto de destruição do catolicismo.

27. Fonte: <https://www.youtube.com/@starkerbar>; <https://www.youtube.com/@centrodom bosco>. Acesso em: 18 jul. 2023.

REB, Petrópolis, volume 83, número 326, p. 759-787, Set./Dez. 2023 775

Observa-se que a nova extrema direita católica possui um argumen to baseado no “perigo da doutrinação”, mas também um roteiro polí tico que tenta censurar, apoiando-se em pressuposto semelhante. Além disso, como se observa nas várias críticas a diversas Campanhas da Fra ternidade, sua estratégia principal é a tentativa de censura do conteúdo e se relaciona a vetar questões relacionadas ao feminismo, a problemá ticas como a violência de gênero, à desigualdade social das mulheres, à homofobia e ao racismo. Esta tentativa de censura é, também, tentativa de interdição do debate público, do fechamento do universo do discur so, não apenas dentro da Igreja Católica, mas na sociedade.

Apesar de insistir em uma suposta doutrinação por parte dos grupos progressistas da Igreja, a nova extrema direita católica se dedica a tentar frear ou censurar a informação frente a problemáticas e temáticas rela cionadas aos direitos humanos. No caso dos católicos da nova extrema direita, isso é feito baseado em uma “verdade” contida na doutrina ca tólica – e no magistério da Igreja –, mas uma doutrina interpretada lite ralmente, como se observa na interpretação literal do Gênesis na crítica à Campanha da Fraternidade de 2011, feita pelo Padre Paulo Ricardo, citada anteriormente.

Nesta crítica à campanha da Fraternidade, o que está em jogo é a questão hermenêutica que, para efeitos políticos internos à Igreja Cató lica e externos, junto à comunidade laica, é relacionada à questão de ser de esquerda e da infiltração marxista na Igreja. A questão hermenêutica se volta a uma interpretação literal dos textos sagrados feita pelos grupos estudados, própria de grupos fundamentalistas, como os próprios docu mentos oficiais da Igreja Católica demonstram.

Um dos problemas de base da leitura fundamentalista, literal, da Bíblia, segundo o texto da Pontifícia Comissão Bíblica, de 1993, “A interpretação da Bíblia na Igreja”, é a questão do caráter histórico da revelação bíblica. O fundamentalismo

(...) tende a tratar o texto bíblico como se ele tivesse sido ditado pala vra por palavra pelo Espírito e não chega a reconhecer que a Palavra de Deus foi formulada em uma linguagem e uma fraseologia con dicionadas por uma ou outra época. Ele não dá nenhuma atenção às formas literárias e às maneiras humanas de pensar presentes nos textos bíblicos, muitos dos quais são fruto de uma elaboração que se estendeu por longos períodos de tempo e leva a marca de situações históricas muito diversas.

776 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

O texto é taxativo em relação a este tipo de interpretação da Bíblia: A abordagem fundamentalista é perigosa, pois ela é atraente para as pessoas que procuram respostas bíblicas para seus problemas da vida. Ela pode enganá-las oferecendo-lhes interpretações piedosas, mas ilu sórias, ao invés de lhes dizer que a Bíblia não contém necessariamente uma resposta imediata a cada um desses problemas. O fundamentalis mo convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio do pensamento. Ele coloca na vida uma falsa certeza, pois ele confunde inconscientemente as limitações humanas da mensagem bíblica com a substância divina dessa mensagem.

Nesses episódios de ataque às Campanhas da Fraternidade, obser vamos, além da questão hermenêutica, uma questão epistemológica que aponta para uma crise epistemológica, na definição dada por Ma cIntyre (1977). O autor nos mostra que o que constitui uma tradição – que a extrema direita católica reivindica, inclusive no uso da batina e na defesa do rito tridentino – é um conflito de interpretações da tradição, um conflito que tem, ele mesmo, uma história suscetível de interpretações rivais. A tradição do catolicismo é parcialmente consti tuída por um argumento contínuo sobre o que significa ser um católi co. A tradição religiosa, assim como a política e a intelectual, envolve um debate epistemológico como uma característica necessária de seu conflito. Isso significa não apenas que os diferentes participantes em uma tradição discordam, mas eles discordam também sobre como ca racterizar suas discordâncias e sobre como resolvê-las. Também discor dam sobre o que constitui um raciocínio apropriado, uma evidência decisiva e uma prova conclusiva. A tradição, assim, não compreende apenas a narrativa de um argumento, mas é apenas recoberta por uma releitura argumentativa daquela narrativa que estará, ela própria, em conflito com outras releituras argumentativas.

Os ataques contra as Campanhas da Fraternidade marcam uma po sição social específica dentro do campo católico, que se distingue - e se opõe de forma bastante vigorosa - das outras posições, especialmente dos grupos e movimentos progressistas e da própria Igreja oficial. Por um lado, eles atuam concretamente para enfraquecer a ação dos seus oponentes – convencendo os católicos a não financiar as Campanhas -, por outro lado, fornecem as motivações de suas ações, baseadas em valo res. Mas, a análise dos dados explicita que, embora valores estejam pre sentes nos discursos dos grupos, eles servem mais como justificação do

REB, Petrópolis, volume 83, número 326, p. 759-787, Set./Dez. 2023 777

que propriamente motivação para o comportamento. Estes resultados vão de encontro a um enfoque da sociologia da cultura inaugurado por Mills (1940), ao questionar o poder motivacional dos valores culturais, e continuada por Swidler (1986), que critica os valores como “o motor imóvel na teoria da ação”. Em sua discussão sobre casamento na classe média norte-americana, a mesma autora encontra que as pessoas ten

dem a “ajustar a sua filosofia para se adequar aos seus compromissos de ação” (Swidler, 2001:148). Isso não quer dizer que se nega o papel causal aos significados culturais na modelagem da ação. Compreende-se, como Swidler, a motivação como algo fundamentado na identidade – “quem as pessoas já pensam que são” (p.87). Os valores, no caso em estudo, servem, também, como motivação, na medida em que modelam uma identidade católica distinta. Servem, também, como ferramentas de in clusão e exclusão social.

Para concluir esta seção, os resultados do estudo remetem a algumas questões fundamentais da contemporaneidade:

a) A um processo que Hannah Arendt (1992) descreveu: uma di minuição, ou mesmo desaparecimento, da autoridade no mundo mo derno. Processo este que parece ser um dos fatores da existência mesma desses grupos e que, ao mesmo tempo, eles fomentam com os ataques à Igreja Católica institucional, especialmente aos bispos.

b) A um processo descrito por Dubet (2002) como o declínio das instituições, das instituições republicanas voltadas ao trabalho sobre o outro – e ele se refere às atividades assalariadas e profissionais que visam explicitamente a transformar o outro, ou o conjunto de atividades pro

fissionais que participam da socialização dos indivíduos, na educação, na saúde, no trabalho social, mas também nas religiões. A esse processo em curso, agrega-se a internet e as redes sociais – os meios principais de militância dos grupos de extrema direita católica. Tricou (2015), ao tratar da atuação dos católicos ultraconservadores nas redes sociais, na França, pergunta quais os tipos de autoridade que suscitam os algorit

mos das redes sociais. E conclui, provisoriamente, que os blogueiros católicos laicos se constituem em novas “autoridades” religiosas de fato, e não de direito, fora das vias clássicas de legitimação religiosa. O cato licismo que é ensinado por esses grupos de extrema direita católica, no Brasil, é ensinado via blogueiros que se transformaram em autoridades religiosas fora das vias de legitimação religiosa oficial. E eles desafiam

778 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

as autoridades legitimamente constituídas, como no já citado vídeo de Bernardo Küster para os bispos: “vocês não podem me censurar”. c) Como bem mostra Cuneo (1999), o surgimento e a existência de grupos extremistas de direita católica, além de não serem novidades, são resultado dos documentos do Concílio Vaticano II, especialmente o Apostolicam Actuositatem, o decreto sobre o apostolado dos leigos, de 1965. O Decreto, ao aumentar e realçar o papel dos leigos na vida da Igreja, forneceu uma abertura ao ativismo, seja ele progressista ou con servador. Os leigos que se preocupavam sobre uma crise espiritual foram provocados por padres, bispos e freiras e se consideraram eles mesmos empoderados pelo referido Concílio para trabalhar pela restauração da Igreja das antigas espiritualidades e força moral. O próprio Concílio foi, ironicamente, o catalisador da oposição. Estes grupos e movimentos são constituídos principalmente por leigos, instigados por padres, freiras e bispos, como os grupos que foram objeto de estudo neste artigo.

Notas sobre a compaixão e a fraternidade

O título do artigo, Católicos contra a fraternidade, evoca a ideia de que nos ataques às Campanhas da Fraternidade, a própria concepção do que é fraternidade está em disputa. A fraternidade é um conceito complexo e tratar das transformações de seu significado ultrapassa os objetivos desse artigo. Pascal Texier (2016) nos oferece uma questão importante para nossa reflexão, pois ele busca as origens da ideia de fra

ternidade. Nos próximos parágrafos, seguiremos de perto o raciocínio deste autor.

Segundo Texier (2016), historicamente, o campo lexical da fraterni dade é, principalmente, o da teologia cristã. Na história bíblica de Adão, todos os seres humanos ali se apresentam como irmãos na humanidade. A vinda de Cristo acrescenta a esta fraternidade original uma parcela de divino e, consequentemente, um aumento da dignidade. O primeiro uso da palavra “fraternidade” aparece nas Epístolas de São Pedro para designar a Igreja. O texto, diz o autor, usa a palavra grega adelphotès e utiliza philadelphia para designar o amor dos irmãos. A língua grega separa a fraternidade comunitária da fraternidade virtude, mas, nas tra

dições latinas, os dois significados são unidos em um único substantivo. Assim, a “fraternidade” tem dois significados: a) aquele que reúne ele mentos relativos ao indivíduo, e b) outro que trata da questão no nível

REB, Petrópolis, volume 83, número 326, p. 759-787, Set./Dez. 2023 779

coletivo. Esses dois significados não são opostos, observa Texier, mas são complementares: o primeiro é o da virtude individual que encontra sua realização coletiva na comunidade, de alguma forma, induzido pela identidade de origem; o segundo tende à realização de um projeto de vida coletiva.

Na história de Caim e Abel e do assassinato de Abel, observa-se que não basta ter o mesmo pai para existir fraternidade. Ao lado dessa fraternidade, que o autor qualifica como natural, e que não se relaciona à vontade do indivíduo, há outros tipos de fraternidades, nas quais a criação de laços fraternos é o resultado da ação voluntária dos parceiros. Diversificadas em forma e função, esses tipos de fraternidades têm em comum serem construídas em torno de um projeto.

Assim que a fraternidade deixa de ser o resultado de uma situação natural, ela aparece frequentemente como um imperativo a ser cum prido. Não se trata mais de deduzir as consequências presentes de cir cunstâncias antigas, mas de construir o presente de tal forma que possa surgir um projeto desejado. Este é um dos elementos pelos quais a fra ternidade se distingue da fratria. Encontra-se, nos mostra Texier, esta disjunção com o biológico nas fraternidades monásticas.

Aqui, o vínculo não se baseia em uma relação natural, dada, mas em uma relação espiritual desejada ou aceita. Mas, diz Texier (2016), uma coisa é chamar o outro de irmão, outra é qualificar o conjunto de “fraternidade”. A fraternitas não se limita à criação de uma esfera de parentesco escolhida, nem à criação de um círculo de indivíduos unidos pela amizade. Ela permite aproveitar as vantagens materiais e espirituais da comunidade.

Todavia, mostra o autor, os mecanismos ligados à fraternidade con têm, em si, características que desafiam a harmonia interna da comu nidade. Além disso, a realização do projeto fraterno coloca o problema da relação entre os membros da comunidade e aqueles de fora. Assim, o objetivo de manutenção da coesão do grupo provoca o surgimento de mecanismos coercitivos que não encontram seu ponto de equilíbrio apenas com o uso da virtude cristã, por excelência, que é a caridade.

Pouco a pouco, esse modelo de associação ou sociedade fraterna mi grou do direito canônico para o direito privado em direção à organiza ção social e política, continua Texier (2016). Quando a Revolução de 1789 na França derrubou a antiga sociedade, fundada na desigualdade,

780 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

e surgiu um corpo social estabelecido na igualdade jurídica de seus membros, a questão da fraternidade migrou do mundo das ideias para o mundo da ação. Entretanto, a fraternidade não está integrada enquanto tal no aparelho normativo do novo Estado. Para os utópicos e os filó

sofos dos séculos anteriores, liberdade e igualdade foram os meios pelos quais se tornou possível restaurar uma fraternidade concebida como ori ginal. A fraternidade, ao contrário, aparece como o objetivo atribuído à união da liberdade e da igualdade.

Se a igualdade e a liberdade são suficientemente essencializadas para serem decompostas em direitos subjetivos, o mesmo não ocorre com a fraternidade, que cumpre sobretudo o papel de valor de referência, diz o autor. Permite avaliar ou orientar as ações – age-se com fraternidade –, mas é difícil reivindicar para si o benefício. No entanto, em termos funcionais, completa utilmente os dois primeiros elementos da tríade republicana, enraizados em um enfoque individualista. A fraternidade obriga-nos a passar do indivíduo às relações entre os indivíduos. Esta preocupação é particularmente importante quando as exigências de li berdade ou igualdade, expressas por um indivíduo, se tornam excessivas aos olhos dos outros. E, parece ser com essa passagem do indivíduo ao coletivo que os grupos de extrema direita católica têm dificuldade, já que demonstram aversão a tudo que é coletivo e social.

Atualmente, na Igreja Católica, a fraternidade tornou-se um concei to central e uma injunção para a ação. Desde o início de seu pontificado, Francisco colocou uma grande ênfase – na palavra e na ação – sobre a fraternidade humana. Fraternidade e solidariedade são temas recorren tes em seus escritos, desde Evangelii Gaudium, de 24 de novembro de 2013, e há a encíclica voltada exclusivamente à fraternidade, a Fratelli Tutti, de 03 de outubro de 2020.

O Papa Francisco assina a encíclica Fratelli Tutti em Assis, na Itália, “junto ao túmulo de São Francisco, na véspera da Memória litúrgica do referido santo, 3 de outubro do ano 2020, oitavo do meu pontificado”. A primeira inspiração do Papa é a espiritualidade franciscana. A base do princípio franciscano de fraternidade é o acolhimento incondicio

nal e o respeito à pessoa concreta, que é mais amplo que o princípio de solidariedade (Núñez, 2022). Uma sociedade pode ser solidária sem ser fraterna. A solidariedade visa a igualdade e a justiça entre todos, mas pode existir separada da gratuidade do amor e, nesse caso, se reduz

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à filantropia, ao paternalismo ou à assistência. Ajuda-se os necessita dos, mas esses não são reconhecidos como irmãos, respeitados em suas singularidades.

Na Fratelli Tutti, o Papa Francisco afirma que a pessoa humana é, por sua natureza, aberta a vínculos com os outros e convida a reen contrar o respeito em todos os níveis, inclusive no domínio público. A chave de leitura da encíclica, nos mostra Núñez (2022), é a parábola do bom Samaritano: ser capaz de recobrar a gentileza e a compaixão do bom Samaritano, essa é a proposta de ação do Papa. A fraternidade é posta em ação a partir da compaixão.

A encíclica termina com um apelo, em nome de Deus, da alma humana inocente, dos pobres, dos miseráveis, dos necessitados e dos marginalizados, dos órfãos, das viúvas, dos refugiados, dos exilados, de todas as vítimas das guerras, perseguições e injustiças, dos fracos, dos que vivem no medo, dos prisioneiros de guerra, dos torturados, em qualquer parte do mundo, sem distinção alguma, e “Em nome da “fraternidade humana”, que abraça todos os homens, une-os e torna-os iguais”. O apelo é pela adoção da “cultura do diálogo como caminho, a colaboração comum como conduta; o conhecimento mútuo como método e critério”.

A fraternidade, para o Papa Francisco, fraternidade universal, é compreendida de maneira dinâmica, como um processo integral que inclui Deus, o indivíduo, os outros, mas também todas as criaturas, a natureza, pois a fraternidade se estende a todas as criaturas e ao meio ambiente. O seu ideal de fraternidade é um convite também para os grupos dissidentes. Na Encíclica Fratelli Tutti, ele escreve:

Sem ignorar as dificuldades e perigos, São Francisco foi ao encontro do Sultão com a mesma atitude que pedia aos seus discípulos: sem negar a própria identidade, quando estiverdes “entre sarracenos e outros infiéis (...), não façais litígios nem contendas, mas sede submissos a toda a cria

tura humana por amor de Deus”. No contexto de então, era um pedido extraordinário. É impressionante que, há oitocentos anos, Francisco re comende evitar toda a forma de agressão ou contenda e também viver uma “submissão” humilde e fraterna, mesmo com quem não partilhasse a sua fé. (Papa Francisco, 2020).28

28. Fonte: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-frances co_20201003_enciclica-fratelli-tutti.html>. Acesso em: 28 ago. 2023.

782 G. Gripp – Católicos contra a fraternidade

A nova extrema direita católica, nosso sujeito da pesquisa, opta pela filantropia e pela assistência, mas apenas como obra de caridade, para a salvação daquele que doa. Não encontramos em nossa pesquisa, nas redes sociais das lideranças, ativistas e grupos de extrema direita católi

ca, nenhuma outra referência aos pobres, por exemplo, além de serem objetos para salvação daqueles que lhes dão esmolas.

A nova extrema direita católica pratica, claramente, uma divisão entre o “nós” – os católicos verdadeiros – e o “eles” – todos os outros, hereges, que devem ser eliminados, tanto internamente, da estrutura organizacional da Igreja Católica, quanto externamente, na sociedade. O conceito de fraternidade é, se existir, a fraternidade exclusivista, ori

ginal, da fratria, que não se furta de excluir, “matar” simbolicamente, todos aqueles que não comungam do seu conceito de “católico”. A com paixão, quando existente, se orienta por simpatia, ideologia e interesse. Tudo o que se refere à justiça, aos direitos humanos e à diminuição das desigualdades é combatido com furor.

Fraternidade e compaixão são conceitos interrelacionados que desig nam atitudes e sentimentos, mas também raciocínio, como notado por Nussbaum (1996). Ou seja, envolvem, por um lado, a ação, a prática, e, por outro, a cognição. Nos sites da Igreja Católica observa-se a relação entre elas. Dom Orlando Brandes (2020) escreve:

A compaixão não se orienta pelos critérios da simpatia, do parentesco, das ideologias, dos interesses e dos caprichos. Pelo contrário, compaixão é compromisso com a justiça, com os direitos e a dignidade dos outros. Os gestos concretos da compaixão são as obras de misericórdia. A com

paixão se concretiza também na profecia, na indignação, na conscien tização, na coragem em favor da justiça. Todavia, vai além da justiça e se manifesta no abraço do perdão, nas atitudes de reconciliação, no amor ao inimigo, na justiça restaurativa. Justiça e caridade são comple mentares e, assim, acontece o amor social, a caridade pastoral, a justiça samaritana. O que não devem coexistir é a justiça com iniquidade.

Nussbaum (1996) investiga o papel social da compaixão. A autora observa que algumas teorias morais modernas, em especial as teorias morais liberais e individualistas, tratam a compaixão como uma força irracional nos assuntos humanos, que provavelmente nos enganará ou nos distrairá quando se pensar sobre a política social. Além disso, a opo

sição entre emoção e razão também foi invocada por críticos comunitá rios do liberalismo, que sugeriram que, se quisermos abrir espaço para

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sentimentos como a compaixão, isso significará basear o julgamento político em uma força que é afetiva em vez de cognitiva, instintiva em vez de relacionada ao julgamento e ao pensamento.

Entretanto, continua Nussbaum, a compaixão é racional, no sen tido descritivo, pois envolve pensamento ou crença, embora nem toda compaixão seja racional no sentido normativo, baseado em crenças ver dadeiras e bem fundamentadas. Ela seria, para a filósofa, uma emoção social básica e estaria no centro da relação entre o indivíduo e a comu nidade. Ela é concebida como a maneira da nossa espécie vincular os interesses dos outros aos nossos próprios bens pessoais. A compaixão, mostra Nussbaum, é um tipo de pensamento sobre o bem-estar dos outros. E ela pode ser incorporada às teorias morais, principalmente aquelas comprometidas com os pensadores iluministas que não dão um papel central àquela emoção, pois não alteraria em substância essas teo rias. Pode-se ter uma comunidade compassiva sem sacrificar o compro misso iluminista com a razão e a reflexão.

A título de conclusão

A partir do estudo sociológico dos conteúdos divulgados nas redes sociais de lideranças, influenciadores, ativistas e dos perfis dos grupos que localizamos no polo radical da direita católica – postagens, textos, vídeos, fotos – podemos resumir alguns princípios. Os ataques às Cam

panhas da Fraternidade, promovidas pela CNBB, estão fundamentados, pelos próprios atores (indivíduos e grupos), em algumas proposições, que já foram tratadas anteriormente e que podemos classificar em qua tro conjuntos distintos.

No primeiro conjunto de proposições, agrupamos as questões refe rentes à forma ideal da quaresma para a extrema direita católica. Para os influenciadores da extrema direita católica, a quaresma deveria ser vivi da apenas na oração, no jejum e nos atos de caridade, individualmente e nas liturgias na paróquia. A Campanha da Fraternidade, concluem, distrai os fiéis do verdadeiro sentido da quaresma.

No segundo conjunto de proposições, está a questão institucional e organizacional da Igreja. A extrema direita católica considera que a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – é uma organiza ção que tende a centralizar diversas ações e essa centralização seria algo negativo. Consideram também que a CNBB possui um grande poder

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que não deveria ter. As paróquias deveriam ter seu poder aumentado em relação à CNBB.

O terceiro conjunto agrega proposições referentes à hermenêutica, à interpretação dos textos bíblicos. Para os componentes da extrema direita católica, a CNBB divulga materiais com erros de interpretação bíblica.

Por fim, no quarto conjunto de proposições, agrupamos as críticas negativas aos grupos progressistas da Igreja, à Teologia da Libertação, e aos movimentos sociais como o movimento LGBT, o movimento das mulheres. Neste conjunto acrescentamos as difamações da CNBB e dos Bispos, considerados “comunistas” pela extrema direita católica. As Campanhas da Fraternidade seriam um espaço privilegiado e um pal

co para a radicalização de esquerda, da suposta visão revolucionária da CNBB, que seria um braço comunista dentro da Igreja. Nestas proposições que sustentam os ataques aos bispos, à CNBB e às Campanhas da Fraternidade, há teorias conspiratórias e distorções da realidade, demonização do outro, incitação de pânico moral, divulgados à exaustão durante mais de uma década por esses mesmos grupos e seus influenciadores nas redes sociais.

No centro da polêmica sobre as Campanhas da Fraternidade, en contra-se a questão do individual versus o social; da interpretação bíbli ca; da definição de quaresma, que é, na verdade, a definição do que é ser católico e, consequentemente, do sentido da fraternidade, dos ritos e do poder.

O ideal de fraternidade do Papa Francisco, como vimos anterior mente, é o de uma sociedade fraterna, tolerante com o diferente, na qual nenhuma instituição se arvore na autoridade máxima para impor doutrinas ao Outro. Observa-se que a concepção de fraternidade dos grupos da nova extrema direita católica é radicalmente diferente do que propõe o Papa.

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Artigo recebido em: 27 ago. 2023
Aprovado em:17 nov. 2023
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