quinta-feira, 31 de março de 2022

31 DE MARÇO 58 ANOS DO GOLPE MILITAR DE 1964 * Frente Revolucionária dos Trabalhadores / FRT

31 DE MARÇO 58 ANOS DO GOLPE MILITAR DE 1964

Sobe depressa, Miss Brasil’, dizia o torturador enquanto me empurrava e beliscava minhas nádegas escada acima no Dops. Eu sangrava e não tinha absorvente. Eram os ‘40 dias’ do parto. Na sala do delegado Fleury, num papelão, uma caveira desenhada e, embaixo, as letras EM, de Esquadrão da Morte. Todos deram risada quando entrei. ‘Olha aí a Miss Brasil. Pariu noutro dia e já está magra, mas tem um quadril de vaca’, disse ele. Um outro: ‘Só pode ser uma vaca terrorista’. Mostrou uma página de jornal com a matéria sobre o prêmio da vaca leiteira Miss Brasil numa exposição de gado. Riram mais ainda quando ele veio para cima de mim e abriu meu vestido. Picou a página do jornal e atirou em mim. Segurei os seios, o leite escorreu. Ele ficou olhando um momento e fechou o vestido. Me virou de costas, me pegando pela cintura e começaram os beliscões nas nádegas, nas costas, com o vestido levantado. Um outro segurava meus braços, minha cabeça, me dobrando sobre a mesa. E u chorava, gritava, e eles riam muito, gritavam palavrões. Só pararam quando viram o sangue escorrer nas minhas pernas. Aí me deram muitas palmadas e um empurrão. Passaram-se alguns dias e ‘subi’ de novo. Lá estava ele, esfregando as mãos como se me esperasse. Tirou meu vestido e novamente escondi os seios. Eu sabia que estava com um cheiro de suor, de sangue, de leite azedo. Ele ria, zombava do cheiro horrível e mexia em seu sexo por cima da calça com um olhar de louco. No meio desse terror, levaram-me para a carceragem, onde um enfermeiro preparava uma injeção. Lutei como podia, joguei a latinha da seringa no chão, mas um outro segurou-me e o enfermeiro aplicou a injeção na minha coxa. O torturador zombava: ‘Esse leitinho o nenê não vai ter mais’. ‘E se não melhorar, vai para o barranco, porque aqui ninguém fica doente.’ Esse foi o começo da pior parte. Passaram a ameaçar buscar meu fillho. ‘Vamos quebrar a perna’, dizia um. ‘Queimar com cigarro’, dizia outro.

*ROSE NOGUEIRA, ex-militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), era jornalista quando foi presa em 4 de novembro de 1969, em São Paulo (SP). Hoje, vive na mesma cidade, onde é jornalista e defensora dos direitos humanos.*

Vamos ajudar o presidente a celebrar a ditadura, compartilhando relatos de quem viveu aquela “festa”

REDE GLOBO GOLPISTA
*

D E S A B A F O

D E S A B A F O

Marcelo Mário de Melo

Em memória de Wladimir Herzog e Manoel Fiel Filho (*)


Isto não é uma exposição acadêmica nem um requebro retórico. É um desabafo. 


Talvez muitos preferissem a linguagem das estatísticas.


Esta a coluninha dos torturados.


Aqui os estropiados fisicamente com subdivisões para hematomas cicatrizes fraturas lesões e toda a nomenclatura da medicina torturante de urgência. 


Aqui os mutilados mentalmente com sub-sessões reservadas a psicoses neuroses fobias úlceras gastrites insônias obsessões apatias. 


Neste espaço reservado a Torturas/Mortes computem-se “Suicídios”, “Mortos em Tiroteio” e “Tentativas de Fuga”. 


E nesta linha verde-acinzentada escreva-se com sangue: Distensão/Desaparecidos.


Poderia preencher um gráfico que satisfaria ao esteticismo seco do mais exigente burocrata. Tão imponente e preciso aos espíritos formalistas como as tabelas do imposto de renda e os projetos de reforma administrativa.


Mas os que precisassem disso para avalizar nossas denúncias jamais seriam convencidos de nada porque há muito estariam vacinados contra a verdade ou formados nas filas do lado de lá.


Quem não puder ser convencido hoje pelos exemplos esparsos indícios ruídos abafados da máquina de triturar presos políticos abrirá certamente os olhos só se os abrir quando as verdades vivas de agora passarem à respeitabilidade morta dos museus de amanhã ou se a máquina começar a moer a sua própria carne os próximos.


Nós os presos políticos do Brasil atual nos dirigimos àqueles que sabem pressentir a cascavel pelo sibilo e se dispõem a renegar o seu veneno. 


Mesmo que apenas com o grito de alerta ou o gesto mudo repulsa de quem se associa à dor.


(*) Escrito em outubro de 1975, em cela do Esquadrão Dias Cardoso, Bongi, Recife-PE, no intervalo entre uma greve de fome e outra, depois dos assassinatos sob tortura, em São Paulo, do jornalista Wladimir Herzog e do operário Manoel Fiel Filho.


QUEM O FARÁ?


Purgar os erros.

Lembrar os mortos.

Fecundar os sonhos.

Festejar as vitórias.

Se não fizermos isto

pela nossa história 

Quem o fará?

*

DIRETAS JÁ O GRITO AS RUAS

MARIA MAIA / DF

O Movimento por Memória, Verdade e Justiça do Ceará, por meio da Associação dos Amigos da Casa frei Tito de Alencar, convoca familiares de mortos e desaparecidos políticos do Ceará, comitês, comissões, coletivos, sindicatos, instituições, partidos políticos e parlamentares, para a II Marcha do Silêncio, em consonância com o movimento nacional Vozes do Silêncio e a Marcha do Silêncio do Uruguai, que acontece desde 1966 em memória dos presos políticos desaparecidos no período da ditadura militar daquele país. Nasce, assim, o Movimento Vozes do Silêncio do Ceará.
Nosso movimento se propõe a denunciar as graves violações de direitos humanos cometidas pelo Estado brasileiro no período da Ditadura Civil Militar (1964 - 1985), violações essas que se perpetuam até nossos dias, reivindicar o tombamento definitivo e a conclusão das obras da Casa frei Tito de Alencar e a manutenção e estruturação do Memorial da Resistência - Arquivo das Sombras (antiga sede da polícia federal no Ceará e centro clandestino de torturas).

LEMBRANÇAS E BANDEIRAS

Marcelo Mário de Melo


Tremulam as bandeiras da lembrança.


Os estudantes de direito carregando a bandeira de Demócrito de Souza Filho nas passeatas e a levantando, frente aos pelotões da polícia do governo de Cid Sampaio e das tropas do Exército, quando foram expulsos a coronhadas da Faculdade, por ordem do presidente Jânio Quadros, em 1961, durante o movimento nacional que reivindicava a representação estudantil de 1/3 nos conselhos universitários.


Na tarde de 1º de abril de 1964, depois de uma assembléia na Escola de Engenharia, ainda funcionando na R. do Hospício, seguíamos em passeata para o Palácio das Princesas, no intento de defender o Governo de Miguel Arraes. 


Carregando a bandeira brasileira e cantando o hino nacional, formos atingidos por tiros de fuzil, restando mortos os estudantes comunistas Jonas Barros, do Ginásio Pernambucano, e Ivan Aguiar, aprovado no vestibular para Engenharia, e que não chegou a iniciar o curso. Passando por diversas mãos,  restou caída e manchada de sangue, a bandeira brasileira.


Em 1964, quando os militares quiseram fazer com o governador Miguel Arraes uma negociata política em troca da sua liberdade, ele lhes respondeu que tinha sido eleito pelo povo e não reconhecia neles autoridade para lhes dar ordens de governo, que tinha nove filhos e, um dia, queria poder lhes contar essa história olhando nos olhos. O governador Miguel Arraes foi coerente com as suas bandeiras e fiel aos seus compromissos com o povo. Os militares o levaram para a prisão em Fernando de Noronha.


Quando o Coronel Ibiapina, em 1964, disse na porta da cela do menino David Capistrano Filho, com 16 anos, que a culpa da sua situação era do seu pai, um comunista irresponsável, teve a resposta de que o seu pai era um homem sério e honesto, e ele é que era um golpista. O coronel mandou retirar o colchão de David e o transferiu para o juizado de menores, onde passou três meses, preso entre meninos infratores.


Naquele momento histórico, um homem maduro, governador de estado, pai de dez filhos, e um menino, estudante de colégio, foram fieis às bandeiras do povo. mostrando que coerência não tem idade. E também que as bandeiras podem e devem passar de pai para filho, de avô para neto.


As conjunturas mudam e há necessidade de se atualizarem estratégias, táticas e formas de luta no processo de mobilização por liberdade, democracia e mudança social. Mas é fundamental que isto ocorra sob a base de uma linha de coerência e continuidade histórica em matéria de campos e objetivos centrais.


Acima e além dos interesses de facções e da promoção de grupos ou personalidades, a ampliação dos espaços para as camadas populares, nos dispositivos legais, nas políticas públicas e nas representações políticas formais e informais, deve fundamentar o critério de avaliação. Aí está a substância da simbologia das bandeiras.


AOS QUE CUIDAM DE BANDEIRAS

(Em memória de Miguel Arraes)

Marcelo Mário de Melo


Há aqueles que levantam uma bandeira

e prosseguem.


Aqueles que afrouxam as mãos

e abandonam as bandeiras no caminho.


Aqueles que rasgam queimam

renegam bandeiras e se recolhem.


Aqueles que se bandeiam

e passam a defender 

bandeiras contrárias.


Aqueles que refletem

e escolhem bandeiras melhores.


Aqueles que encerram as bandeiras

em gavetas vitrines e altares.


Aqueles que colocam as bandeiras a venda.


É triste ver bandeiras abandonadas 

vendidas ou sacralizadas no céu distante.


As bandeiras não são entidades

para comércio adoração e arquivo


Expostas ao vento e ao tempo

as bandeiras são coisas simples da vida

que exigem cuidado: 

como uma casa

uma roupa

um filho

uma flor.

&

1964:JONAS E IVAN: 

O SENTIDO SIMBÓLICO

Marcelo Mário de Melo


Em 1964 havia no Colégio Estadual de Pernambuco – CEP, antigo Ginásio Pernambucano, hoje novamente com o velho nome, no Recife, uma base do Partido Comunista Brasileiro com 25 jovens militantes, homens e algumas mulheres. A ação política se desdobrava nas reivindicações locais, nas campanhas pelo diretório estudantil e nas disputas com a direita em torno das entidades municipal e estadual dos secundaristas: a Associação Recifense dos Estudantes Secundários – ARES e o CESP – Centro dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco. 

 

Os estudantes também eram convocados a atuar nas campanhas eleitorais e em mobilizações vinculadas às bandeiras políticas da época. Defendíamos as reformas de base, entre elas a reforma agrária, a reforma urbana, a reforma do ensino. Éramos pelo direito de voto para os analfabetos e soldados e cabos das forças armadas.


Combatíamos o colonialismo e as ditaduras no mundo, com destaque para a libertação das colônias africanas, as ditaduras de Salazar em Portugal, Franco na Espanha e Strossner no Paraguai. Defendíamos ardorosamente a jovem revolução cubana e, muitas vezes, participávamos de atos públicos, panfletagens e pichações em defesa de Cuba, contra as ameaças e as tentativas de invasão comandadas pelo imperialismo norte-americano, então sob a batuta do bonitão John Kennedy.


Na base do CEP havia um grupo de companheiros que participava do Clube Literário Monteiro Lobato, o famoso CLML, que ativava um concurso permanente de crônicas, tinha reuniões sistemáticas, possuía centenas de filiados de diversos colégios e chegou a publicar alguns números do jornal Juvenília, inviabilizado a partir do golpe de abril de 1964.


O CLML tinha uma grande força atrativa entre os secundaristas mais novos. Os seus integrantes comunistas formavam um grupo com identidade própria, inclusive, com uma organização de base específica, vinculada ao Comitê Secundarista. Jonas fazia parte desse grupo, juntamente com David Capistrano Filho, Francisco de Assis Barreto da Rocha, Amaro Quintino, Dmitri, Rogério Jansen e outros companheiros.


Eu não tinha muita aproximação com Jonas. Convivia com ele nas reuniões e o encontrava constantemente nas agitações de rua e em eventos políticos. Via-o muito ao lado de Davizinho, outras vezes com Davizinho e Rosa Barros, que participava da base do Colégio Estadual do Recife, de alunado feminino, e, como ele, morava no bairro de Santo Amaro. Tinha maior aproximação com o seu irmão mais velho, Carlos Augusto, que participava da base do CEP e chegou a disputar a presidência do diretório. 


No dia 1º de abril de 1964, no meio da tarde, saímos em passeata da Escola de Engenharia, na Rua do Hospício, em direção ao Palácio das Princesas, cercado por tropas verde-oliva, para defender o governo de Miguel Arraes. Quando estávamos na altura da Pracinha do Diário, no cruzamento com a Av. Dantas Barreto, em marcha passo de ganso, avançou contra nós um pelotão vindo das imediações do Palácio da Justiça, que começou a disparar, inicialmente, para cima. Depois foi baixando o ângulo até o nível dos manifestantes. 

 

Alguns companheiros gritaram: "é festim"! Mas eu vi os pedaços de reboco caindo do alto de um edifício, sob o efeito das balas, e dei o grito de alarme: "não é festim, não! É bala!” Entre correrias e tiros, avistei o companheiro Oswaldo Coelho, que me havia recrutado para a base do CEP e agora estudava Direito, carregando um corpo masculino com um grande buraco se estendendo pelo pescoço, o queixo arrancado a tiros. Somente depois, voltando para casa, soube que o ferido era Jonas.


Junto a Jonas também tombou o jovem Ivan Aguiar, comunista de nascença, filho de Severino Aguiar, que morreu na década de 90 com mais de noventa anos, ostentando o orgulho de ser o mais antigo comunista vivo do Brasil. Ivan havia sido aprovado no vestibular para engenharia e aguardava o momento de começar a fazer o curso. Já ferido, ele ainda conseguiu disparar um tiro de um revólver 38 que Antônio Florêncio, comunista de Palmares, recolheu e guardava como relíquia. 


A Ivan, um brinde pela iniciativa desse  - lamentavelmente único -  tiro dado em Pernambuco em defesa da democracia e contra os golpistas de 1964. Diz-se que, ao lado de Ivan e Jonas, também tombaram um homem desconhecido e uma funcionária da loja de produtos masculinos - Remilet - colhida por um tiro no seu local de trabalho, na Av. Dantas Barreto.


Aos 16 anos, depois de passar por três meses de prisão, quando perguntado, num inquérito, o que achava da "Revolução de 31 de Março de 1964", Davizinho Capistrano  respondeu que não poderia achar nada de bom, porque o seu pai estava sendo perseguido, ele fora preso e o seu melhor amigo havia sido morto. Em cartas a mim, na década de 1960, David se refere a momentos de profundo sofrimento pela perda de Jonas, denominando-os de "jonismo".


Vim saber mais de Jonas depois da sua morte. Li poemas seus. Apreendi a dimensão da sua amizade grudenta com Davizinho e Rosa, formando um trio inseparável. Um dia, em 1964, acompanhei numa homenagem a Jonas o poeta Albérgio Maia de Farias, também companheiro do PCB e das lutas estudantis. Na Galeria de Arte, da qual Jonas era freqüentador, suspensa na margem do Rio Capibaribe, em frente aos Correios, destruída na cheia de 1965, ele deixou fixado no mural um poema que começava assim: "Na Galeria de Arte/há um banco de saudade/e há gestos de futuro/quebrando a serenidade".


Jonas e Ivan Aguiar tiveram suas vidas interrompidas na juventude. Passaram à condição de referências simbólicas dos jovens que lutaram pela democracia e contra a implantação da ditadura de 1964. Transformaram-se em bandeiras de idealismo e resistência, tremulando em nossos corações e apontando para a coerência dos nossos passos.

quarta-feira, 30 de março de 2022

ENTREVISTA COM NELSON HERRERA, LÍDER DA PCOA * Geraldina Colotti / Venezuela

ENTREVISTA COM NELSON HERRERA,

LÍDER DA PCOA

PLATAFORMA DA CLASSE OPERÁRIA ANTIIMPERIALISTA
 Por Geraldina Colotti, Resumo da América Latina, 28 de março de 2022. 

Nelson J. Herrera Pérez é um jovem líder da revolução bolivariana, mas já tem uma longa carreira política. Secretário Executivo da Vice-Presidência da Classe Trabalhadora do PSUV, Delegado e responsável setorial da Classe Trabalhadora para o V Congresso do PSUV. Vindo da luta sindical, primeiro como Delegado de Prevenção de seu centro de trabalho e depois eleito como chefe do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Grande Missão de Habitação da Venezuela, o que lhe permitiu avançar na Central Operária Bolivariana como Vice-Presidente do Departamento Capital e assumir a Comissão Geral da Plataforma da Classe Trabalhadora Anti-Imperialista (PCOA – espaço internacional da Vice-Presidência da Classe Trabalhadora do PSUV).  

Gentil como sempre, ele nos concedeu esta entrevista na qual apresenta “progressos, lutas e modestas contribuições que fazemos dia a dia para a humanidade. Nosso objetivo – diz ele – é construir um mundo mais justo, especialmente nestes tempos em que os tambores da guerra estão batendo”.

Em que momento está passando a revolução bolivariana do ponto de vista da classe trabalhadora?

É evidente, totalmente impossível esconder o dano que as medidas coercitivas unilaterais nos causaram, causaram uma grande ferida, foram totalmente implacáveis ​​com nosso povo. Os governos que impõem esses bloqueios são verdadeiros genocídios do mundo. Por isso, convido a que de todas as trincheiras revolucionárias repudiemos constantemente os bloqueios que se impõem aos povos. Basta que os mestres das guerras continuem a usar, em nome da paz, métodos de asfixia contra governos e povos soberanos!!

Geraldina, as chamadas sanções aplicadas contra meu país (Venezuela) foram destinadas a atingir nosso principal coração econômico (Indústria do Petróleo), que gerou 95% da renda do país e 70% foi destinado a programas sociais; como Saúde. Educação Habitação, Alimentação, entre outros. Atualmente existem mais de 500 sanções ilegais que afetam diretamente o desenvolvimento e a vida de nosso povo trabalhador e tudo isso em meio à pandemia do COVID 19. No entanto, a resistência dos povos, a firmeza dos revolucionários e a astúcia do nosso Presidente O trabalhador Nicolás Maduro, conseguiu desenvolver novas oportunidades para garantir programas sociais que ajudem a mitigar e superar esta dura situação, sustentando um forte impulso para a diversificação econômica no futuro, onde o trabalhador e suas organizações assumem os principais desafios. Por isso, começo esta entrevista destacando toda a nossa confiança e apoio ao Presidente da República Bolivariana da Venezuela nas decisões macroeconômicas, bem como nos diferentes processos de diálogo que considera necessário realizar para garantir o bem-estar de seu povo.

O congresso da classe trabalhadora, assim como o do PSUV e do JPSUV, durará até novembro. Qual será a tarefa do Pcoa e com que objetivos?

O ano de 2022 é um dos grandes desafios. As expectativas decorrentes da desaceleração da inflação e do desenvolvimento econômico, produtivo e diversificado colocam o desafio de avançar da resistência ao renascimento econômico. Da mesma forma, caminhamos para a recuperação progressiva do poder de compra dos Trabalhadores, severamente atingidos pelas medidas coercitivas unilaterais. Os Congressos que se ativam na República Bolivariana da Venezuela, com destaque para o V Congresso do PSUV, o IV Congresso do JPSUV e o II Congresso da Classe Trabalhadora, vêm em um momento oportuno para a ofensiva política e o desenvolvimento de estratégias agendas para esta nova era da Revolução 2022 – 2030. A Vice-Presidência da Classe Trabalhadora do PSUV chefiada por Dip. Francisco Torrealba; os Órgãos Auxiliares do Congresso do PSUV orientados pela camarada Diva Guzmán e; a Coordenação de Organização do Congresso Operário liderada pelo Dip. Oswaldo Vera, geraram um desdobramento nacional da classe trabalhadora onde temos debatido as questões substantivas de nosso setor, tendo como princípio a consolidação da Pátria Bolivariana para a construção do Socialismo, destinada a acelerar a aplicação da Resistência, a O Renascimento e a Revolução nesta Nova Era de Transição ao Socialismo (3R.Nets), como argumentos essenciais para a implementação de um modelo de gestão socialista nas nossas empresas, onde as organizações operárias e as comunas desempenhem um papel preponderante na sua liderança , para tornar a Revolução irreversível. A este árduo debate que está a decorrer nas fábricas, centros de trabalho e comunas juntam-se as deliberações em relação ao Partido, desenvolvendo questões como a ética dos militantes e a articulação do Partido, do Movimento e do Governo para uma governação eficaz através de uma Agenda de Ação Concreta. Honestamente, todos esses tópicos que temos do setor eu unifico em três pontos que são destinados a enfrentar as diversas formas de exploração capitalista e, assim, alcançar a produção de bens e serviços que garantam nossa independência econômica e satisfaçam as necessidades humanas por meio da distribuição justa da riqueza.

1.- Organização e Treinamento para a Renovação; devemos nos adaptar às exigências destes tempos e evitar a obsolescência. Estamos no momento certo para fazer transformações estruturais e continuar sendo a vanguarda revolucionária. Por isso, esses congressos são oportunos para avançar no renascimento das lutas operárias, populares e anti-imperialistas contra o projeto neoliberal globalizante, através do múltiplo e diverso que é o socialismo.

2. Produção de bens e serviços; principal motor do renascimento económico, que sustenta a satisfação das necessidades humanas através da distribuição justa da riqueza.

3. Atenção dos trabalhadores e trabalhadoras; 10 anos depois que o Comandante Supremo da Revolução, Hugo Chávez Frías, assinou a Lei Orgânica do Trabalho, Trabalhadores e Trabalhadores (LOTTT), somos obrigados a reivindicar os direitos e condições de trabalho da classe trabalhadora e ao mesmo tempo recuperar a renda e benefícios socioeconômicos durante o acometimento das Sanções Ilegais. Portanto, devemos promover a efetividade das instituições habilitadas a garantir o cumprimento dos direitos dos trabalhadores.

A Pcoa também é uma articulação internacional, que possui nós nos diversos continentes. Qual é a sua análise da situação internacional?

A Venezuela e a Revolução caminham para continuar vencendo e superando as adversidades. Por isso, nossa Plataforma Anti-Imperialista da Classe Trabalhadora (PCOA) está envolvida em todo este processo e tem o dever de apoiar a implementação de processos que visem coordenar as lutas voltadas para o renascimento e renovação do movimento dos trabalhadores com alto poder bolivariano. , conteúdo socialista, anti-imperialista, internacionalista, feminista, operário e profundamente chavista. A Plataforma Anti-Imperialista da Classe Trabalhadora (PCOA), participou através de suas Comissões de Ligação Regionais (Núcleos;  América do Sul, América Central, América do Norte, Europa, África e Povos Árabes) na instalação do V Congresso do PSUV e IV Congresso do JPSUV, obtendo conhecimento da prática organizacional da Venezuela.

A Pcoa também está desenvolvendo sua rede de comunicação, em parceria com a Conaicop. Como se articula essa rede e com que finalidades?

Os membros do PCOA devem continuar divulgando as experiências dos povos que lutam contra o modelo capitalista, como fazem Cuba, Nicarágua e Venezuela no continente americano. Especialmente neste momento, quando as redes sociais se tornaram uma arma de fogo onde o imperialismo adora disparar suas mentiras. Diante disso, entra em vigor a aliança estratégica PCOA - CONAICOP com o objetivo de fortalecer os vínculos de comunicação entre as diversas forças de trabalho existentes no mundo. Além disso, atrevo-me a enfatizar que a CONAICOP e o PCOA devem ser vasos comunicantes, pois somos a mesma equipe lutando contra um inimigo comum, por isso não há competição nem interesses opostos. Viva a Aliança Popular dos nossos Povos!!

A OTAN, que prepara a cúpula no final de junho em Madri, é a arma do "multilateralismo de guerra" dos Estados Unidos e de seus vassalos. O eixo europeu do Pcoa organiza uma contra-cimeira e várias atividades contra a guerra imperialista e pela paz com justiça social. Você pode nos falar sobre essa iniciativa, dada a complexidade que existe na Europa em relação ao conflito na Ucrânia?

 Sempre levantaremos nossa voz contra as sanções, desde o PCOA a paz e o multilateralismo são proclamados. Por isso, repudiamos a OTAN, organização criada para consolidar o unilateralismo e promover guerras. Note-se que aqui na Instalação do V Congresso do PSUV e do IV Congresso do JPSUV enfatizamos "Que se um peido acender... Com a Rússia eu fico longe... Em breve, o PCOA estará chamando suas organizações aliadas nos encontrem no México para debater essas questões que transcendem as fronteiras.Todos somos classe trabalhadora!! Viva a Classe Trabalhadora Organizada! A Venezuela continua de pé… Estamos Vencendo!!

FONTE

Venezuela. Entrevista com Nelson Herrera, líder da Plataforma Operária Antiimperialista: "Contra a OTAN, nossa Agenda de Ação concreta" - Resumo Latino-Americano

terça-feira, 29 de março de 2022

É GREVE: RIO DE JANEIRO SEM TRANSPORTES * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

É GREVE: RIO DE JANEIRO SEM TRANSPORTES

RIO — Passageiros dos corredores do BRT não conseguem usar o transporte na manhã desta terça-feira em razão da greve dos rodoviários. Na noite desta segunda-feira, o Sindicato dos Rodoviários do Rio de Janeiro aprovou, em assembleia, uma paralisação por tempo indeterminado de motoristas e cobradores. O Rio Ônibus conseguiu uma liminar judicial, ainda nesta madrugada, para proibir o movimento, sob risco de multa. Apesar da decisão, o BRT não está funcionando, com os três corredores — Transolímpico, Transoeste e Transcarioca — sem circulação.O município tenta colocar veículos alugados para atender parte das estações, disse o prefeito Eduardo Paes em entrevista ao "Bom Dia Rio", da TV Globo. Os coletivos de linhas normais, segundo o Rio Ônibus, está com 50% de circulação.


O Rio Ônibus, sindicato que representa os consórcios do transporte rodoviário na cidade, conseguiu uma liminar judicial no início da madrugada desta terça-feira que proíbe realização da greve decretada por rodoviários na cidade do Rio sob pena de multa diária de R$ 200 mil ao Sindicato dos Rodoviários caso a determinação seja descumprida. Em Campo Grande, na Zona Oeste, às 5h30, era normal a circulação de ônibus no terminal rodoviário. No entanto, a estação do BRT Campo Grande estava fechada. Passageiros dizem que nenhum articulado circula desde a meia-noite.

— Eu trabalho em Paciência e não tenho outra opção de transporte público para chegar lá se não for o BRT. Estou vendo se consigo alguma carona com amigos que vão até lá de carro. Cheguei à estação e me deparei com as portas fechadas — diz Gabriel Fernandes, de 21 anos, morador de Campo Grande que às 5h50 tentava encontrar uma solução para ir trabalhar.

De acordo com o Rio Ônibus, cerca de 50% da frota está em circulação no início da manhã desta terça-feira na cidade. A tendência é que esse número aumente à medida que mais carros forem colocados nas ruas. O sindicato das empresas tem pedido que os rodoviários voltem aos postos de trabalho.

— Nós sabemos do cenário que a categoria atravessa e já estamos em tratativa com a prefeitura do Rio na busca de soluções para resolver os problemas das empresas, dos rodoviários, da própria prefeitura e, principalmente, da população do Rio de Janeiro, que merece um transporte melhor — diz Paulo Valente, porta-voz do Rio Ônibus.
Saga para chegar ao trabalho

Pelas ruas de Campo Grande e também no terminal rodoviário, linhas municipais como 867 (Campo Grande x Estrada da Ilha), 397 (Campo Grande x Candelária), 846 (Campo Grande x Rio da Prata) estão circulando normalmente. O pedreiro José Ailton, de 46 anos, mora em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e não sabe o que fazer para chegar ao trabalho na Barra da Tijuca, já que utiliza três linhas do BRT.

— São três ônibus até eu chegar ao meu trabalho. Já deixei o meu patrão avisado que talvez eu não consiga chegar. Vamos ver se, ao longo da manhã, as estações do BRT abrem. Caso contrário, eu vou ter que voltar para casa. Não tem outra solução.

A empregada doméstica Elisabete Nicácio, de 52 anos, pega quatro conduções para chegar ao trabalho, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste. Ela mora em Seropédica, na Baixada Fluminense, e fez uso de uma linha intermunicipal até Campo Grande, onde embarcou na linha 38 até a estação do BRT Magarça, encontrando-a fechada às 6h. Sem ter como seguir viagem, tirou uma foto e mandou para a patroa como justificativa por não ter ido trabalhar nesta terça-feira.

FONTE

CATADORES DE MATERIAIS RECICLAVEIS * Augusta Pelinski Rather / Editora UEPG

 CATADORES DE MATERIAIS RECICLAVEIS 

E (IN) SEGURANÇA ALIMENTAR: UM OLHAR PARA ALÉM DA TEORIA

 escrito pelas pesquisadoras/ alunas que pertenciam ao Núcleo de Pesquisa Questão Ambiental, Gênero e Condição de Pobreza e publicado pela Editora UEPG.


Nesta obra, discutimos a (in) segurança alimentar dos Catadores de Materiais Reciclados de Ponta Grossa-PR, analisando a sua fragilidade dentro do direito social de se alimentar com qualidade e em quantidade suficiente. Em cada capítulo investigamos a realidade desses trabalhadores, os quais são tão importantes para o processo de desenvolvimento ambiental do nosso país e, ao mesmo tempo, são tão discriminados socialmente pela nossa sociedade. Enfim, trazemos evidências empíricas que desnudam algumas das fragilidades vivenciadas por esse grupo, visando contribuir com o debate em torno de uma sociedade mais justa e igualitária.

Todos são convidados a acessar o e-book no link:
https://www.editora.uepg.br/ebooks/catadores-as-de-materiais-recic 

segunda-feira, 28 de março de 2022

Trabalho e saúde * Morula Editorial

TRABALHO E SAÚDE * MORULA EDITORIAL

Esta coletânea reúne pesquisas e estudos que buscam expressar criticamente a conjuntura do trabalho e das crises econômica, social e política que atravessam historicamente o Brasil. Os textos apresentam e analisam a conjuntura de ataques contra os direitos sociais, especialmente dialogando com o trabalho, a saúde e com o exercício profissional da assistente social.

Em tempos de obscurantismo, violência e fascismo atualizado é uma urgência acadêmica, ética e política a contribuição com a produção de conhecimento crítico, e este é o esforço presente no conjunto desta coletânea.

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GREVE DOS GARIS * Frente Revolucionária dos Trabalhadores / FRT

GREVE DOS GARIS 
Trabalhadores da Comlurb em assembleia na última quarta-feira (23) — Foto: Arquivo pessoal

O Sindicato dos Empregados de Empresas de Asseio e Conservação do Município do Rio, que representa os trabalhadores da Comlurb, decidiu, no início da tarde esta segunda-feira (28), começar uma greve imediatamente.

A paralisação vale para os garis que atuam no Rio de Janeiro e, segundo o sindicato, a legislação será respeitada. Apenas um contingente mínimo continuará trabalhando, visto que a coleta de lixo é um serviço essencial para a cidade. De acordo com a categoria, a coleta em hospitais e escolas também será mantida.

O anúncio foi feito por volta das 13h desta segunda, após mais uma rodada de reuniões entre as lideranças do movimento e os representantes da Comlurb.
Entre as reivindicações dos trabalhadores estão:

reajuste de 25% nos salários;
reajuste de 25% no tíquete alimentação;
conclusão do Plano de Cargos Carreiras e Salários (PCCS);
implantação do Adicional de Insalubridade para os Agentes de Preparo de Alimentos (APAs).

Proposta recusada

Durante a audiência virtual desta segunda-feira, realizada pela Câmara de Dissídios Coletivos da Justiça do Trabalho, os representantes da Comlurb ofereceram aumentar a última proposta de reajuste salarial e de alimentação de 4% para 5%, segundo o sindicato. A proposta não foi aceita pela categoria.

"A Comlurb aumentou de 4 para 5%, também na alimentação. Mas os trabalhadores que estavam aqui embaixo, quando eu falei, ninguém aceitou. Então nós vamos partir para a greve e amanhã, às 14h, nós vamos fazer uma nova avaliação em frente a prefeitura. Até lá, o trabalhador que fique em casa, que não saia para não ter conflitos com os colegas", disse Manoel Meireles, presidente do sindicato.

E completou:

"Nós estamos em greve procurando uma melhora para todos nós. Isso é uma falta de respeito, estão a três anos com inflação de 19,32% e ser oferecido 5% hoje e a procuradora ainda disse que o aumento não era ruim não. Então não podemos deixar furar a greve. Se furar acaba tudo".

Estiveram presentes no encontro virtual os representantes da Comlurb, da Prefeitura do Rio, do sindicato, do Ministério Público e da Justiça do Trabalho.

Greve foi adiada por decisão da Justiça

Na última quarta-feira (23), os trabalhadores da Comlurb decidiram em assembleia que a paralisação da categoria teria início na madrugada desta segunda-feira (28). A decisão tinha como objetivo respeitar o prazo de 72 horas para o início do movimento, obedecendo assim a legislação trabalhista e o direito de greve. Nesse período de tempo, o sindicato esperava que a empresa fizesse uma nova proposta de aumento salarial.

Contudo, a resposta da Comlurb foi através da Justiça. Na sexta-feira (25), o Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região acolheu um pedido da empresa para impedir a greve declarada pelo sindicato, reconhecendo ilegalidades que colocariam em risco o interesse público e a população.

Na decisão liminar, a Justiça determinou que o sindicato se abstivesse de deflagrar a greve sob pena de multa diária de R$ 200 mil, e que o serviço de limpeza não fosse interrompido.

No entendimento do sindicato, a decisão que considerou a greve ilegal tratava apenas da paralisação anunciada na assembleia de quarta-feira e que teria início na madrugada desta segunda. Os advogados do sindicato avaliam que o movimento de greve está respeitando as normas da legislação, visto que foi decidido após uma nova rodada de negociações que terminou sem acordo.

O que diz a Comlurb

Em nota, a Comlurb lamentou a decisão do sindicato e classificou o movimento de greve como "precipitado".

"Durante a reunião de conciliação realizada esta manhã no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) com representantes da Comlurb, do Sindicato e da comissão dos trabalhadores, ficou acordada uma próxima audiência quinta-feira (31/03), às 11h. Durante a reunião, o TRT reforçou a ilegalidade da greve e a necessidade de manter a rotina de trabalho, evitando qualquer ação que impeça os garis de trabalhar, o que configura um crime contra a organização do trabalho", dizia um trecho da nota.
FONTE
MIDIA 1508

sábado, 26 de março de 2022

A ARTE CANTA A VIDA, CANTA O AMOR, CANTA A PAZ, MAS SE PRECISO VAI À GUERRA * Frente Revolucionária dos Trabalhadores / FRT

A ARTE CANTA A VIDA, CANTA O AMOR, CANTA A PAZ, MAS SE PRECISO VAI À GUERRA
Desaparecidos
Mario Benedetti (Tradução: Wilson Coêlho)


Estão em algum lugar / concertados
desconcertados / surdos
buscando-se / buscando-nos
bloqueados pelos sinais e pelas dúvidas
contemplando as grades das praças
as campainhas das portas / as velhas cumeeiras
organizando seus sonhos seus esquecimentos
talvez convalescentes de sua morte privada

ninguém lhes explicou com certeza
se já se foram ou não
se são cartazes ou tremores
sobreviventes ou responsos

vêem passar árvores e pássaros
e ignoram a que sombra pertencem

quando começaram  a desaparecer
faz três cinco sete cerimônias
a desaparecer como sem sangue
como sem rosto e sem motivo
vieram pela janela de sua ausência
o que ficava atrás / esse andaime
de abraços céu e fumaça

quando começaram a desaparecer
como o oásis nos espelhismos
a desaparecer sem últimas palavras
tinham em suas mãos os pedacinhos
de coisas que queriam

estão em algum lugar / nuvem ou tumba
estão em algum lugar / tenho certeza
lá no sul da alma
é possível que hajam extraviado a bússola
e hoje vaguem perguntando perguntando
onde caralho fica o bom amor
porque vêm do ódio.
*

LUTA  DE  CLASSES


 Wilson Coêlho / ES



Os dias roem as páginas do calendário

Como se o tempo fosse uma espécie

De caminhada

Que começa na angústia

De um julgamento injusto

Por um tribunal corrupto

E asfixiado pela subjetividade

Dos que se alimentam 

Da ideologia das culpas

E do ressentimento

Assim meus pés

Cumprem o itinerário

Dessa via crucis

Até o último passo

Destino da guilhotina

Não sei se o tempo me poupará

Mas vislumbro no horizonte

De que a revolução não tardará

Todas as condições estão dadas

Para a implosão desse universo mesquinho e cruel

Do capitalismo

Sei que para muitos é uma esquizofrenia

E que para outros

Uma mera diversão

Para que se sintam no mundo

Atuantes

Atenuantes

Mas quando chegar a hora

Só os verdadeiros

Terão a coragem de enfrentar o inimigo

Comprometidos em não perderem

O medo

Para não perderem a vergonha

Conscientes de um mundo suicida

E assassino

Não é hora

E não sei se um dia já foi

Para acreditarmos que as lutas identitárias

Sejam o alimento medíocre

Dos pequenos burgueses

Que se acreditam

Fazendo a sua parte

A revolução não tardará

E a própria história separará

O joio do trigo

O revolucionário do simpatizante

A diferença entre a corda

E o enforcado

Abaixo a hipocrisia do púlpito

Dos parlamentares

Fora os discursos sem ecos

Que morrem nos megafones

E que se entalam na garganta dos oradores

Ou se resumem aos desabafos

Dos que necessitam falar

Para desopilarem o fígado

Para se sentirem no mundo

Nesse exato momento

Temos milhares de negros assassinados

Mulheres estupradas

Indígenas dizimados

Ideias de liberdade trucidadas

Enquanto muitos pequenos burgueses

Se acreditam fazendo sua parte

Porque não correm nenhum risco

E estão protegidos

Pela própria burguesia

Como se a liberdade fosse uma concessão 

E não um projeto de enfrentamento

A revolução não tardará

Fora dos divãs das psicologias de massas

Adaptando os explorados

Transformados em doentes

Pelos próprios mecanismos que os adoeceram

E não será veiculada pela mídia burguesa

No seu monopólio de uma voz

Autorizada e hegemônica


*
Música e Trabalho: Viola Enluarada (Marcos Valle)