Estão em algum lugar / concertados
desconcertados / surdos
buscando-se / buscando-nos
bloqueados pelos sinais e pelas dúvidas
contemplando as grades das praças
as campainhas das portas / as velhas cumeeiras
organizando seus sonhos seus esquecimentos
talvez convalescentes de sua morte privada
ninguém lhes explicou com certeza
se já se foram ou não
se são cartazes ou tremores
sobreviventes ou responsos
vêem passar árvores e pássaros
e ignoram a que sombra pertencem
quando começaram a desaparecer
faz três cinco sete cerimônias
a desaparecer como sem sangue
como sem rosto e sem motivo
vieram pela janela de sua ausência
o que ficava atrás / esse andaime
de abraços céu e fumaça
quando começaram a desaparecer
como o oásis nos espelhismos
a desaparecer sem últimas palavras
tinham em suas mãos os pedacinhos
de coisas que queriam
estão em algum lugar / nuvem ou tumba
estão em algum lugar / tenho certeza
lá no sul da alma
é possível que hajam extraviado a bússola
e hoje vaguem perguntando perguntando
onde caralho fica o bom amor
porque vêm do ódio.
LUTA DE CLASSES
Wilson Coêlho / ES
Os dias roem as páginas do calendário
Como se o tempo fosse uma espécie
De caminhada
Que começa na angústia
De um julgamento injusto
Por um tribunal corrupto
E asfixiado pela subjetividade
Dos que se alimentam
Da ideologia das culpas
E do ressentimento
Assim meus pés
Cumprem o itinerário
Dessa via crucis
Até o último passo
Destino da guilhotina
Não sei se o tempo me poupará
Mas vislumbro no horizonte
De que a revolução não tardará
Todas as condições estão dadas
Para a implosão desse universo mesquinho e cruel
Do capitalismo
Sei que para muitos é uma esquizofrenia
E que para outros
Uma mera diversão
Para que se sintam no mundo
Atuantes
Atenuantes
Mas quando chegar a hora
Só os verdadeiros
Terão a coragem de enfrentar o inimigo
Comprometidos em não perderem
O medo
Para não perderem a vergonha
Conscientes de um mundo suicida
E assassino
Não é hora
E não sei se um dia já foi
Para acreditarmos que as lutas identitárias
Sejam o alimento medíocre
Dos pequenos burgueses
Que se acreditam
Fazendo a sua parte
A revolução não tardará
E a própria história separará
O joio do trigo
O revolucionário do simpatizante
A diferença entre a corda
E o enforcado
Abaixo a hipocrisia do púlpito
Dos parlamentares
Fora os discursos sem ecos
Que morrem nos megafones
E que se entalam na garganta dos oradores
Ou se resumem aos desabafos
Dos que necessitam falar
Para desopilarem o fígado
Para se sentirem no mundo
Nesse exato momento
Temos milhares de negros assassinados
Mulheres estupradas
Indígenas dizimados
Ideias de liberdade trucidadas
Enquanto muitos pequenos burgueses
Se acreditam fazendo sua parte
Porque não correm nenhum risco
E estão protegidos
Pela própria burguesia
Como se a liberdade fosse uma concessão
E não um projeto de enfrentamento
A revolução não tardará
Fora dos divãs das psicologias de massas
Adaptando os explorados
Transformados em doentes
Pelos próprios mecanismos que os adoeceram
E não será veiculada pela mídia burguesa
No seu monopólio de uma voz
Autorizada e hegemônica
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