sábado, 26 de março de 2022

A ARTE CANTA A VIDA, CANTA O AMOR, CANTA A PAZ, MAS SE PRECISO VAI À GUERRA * Frente Revolucionária dos Trabalhadores / FRT

A ARTE CANTA A VIDA, CANTA O AMOR, CANTA A PAZ, MAS SE PRECISO VAI À GUERRA
Desaparecidos
Mario Benedetti (Tradução: Wilson Coêlho)


Estão em algum lugar / concertados
desconcertados / surdos
buscando-se / buscando-nos
bloqueados pelos sinais e pelas dúvidas
contemplando as grades das praças
as campainhas das portas / as velhas cumeeiras
organizando seus sonhos seus esquecimentos
talvez convalescentes de sua morte privada

ninguém lhes explicou com certeza
se já se foram ou não
se são cartazes ou tremores
sobreviventes ou responsos

vêem passar árvores e pássaros
e ignoram a que sombra pertencem

quando começaram  a desaparecer
faz três cinco sete cerimônias
a desaparecer como sem sangue
como sem rosto e sem motivo
vieram pela janela de sua ausência
o que ficava atrás / esse andaime
de abraços céu e fumaça

quando começaram a desaparecer
como o oásis nos espelhismos
a desaparecer sem últimas palavras
tinham em suas mãos os pedacinhos
de coisas que queriam

estão em algum lugar / nuvem ou tumba
estão em algum lugar / tenho certeza
lá no sul da alma
é possível que hajam extraviado a bússola
e hoje vaguem perguntando perguntando
onde caralho fica o bom amor
porque vêm do ódio.
*

LUTA  DE  CLASSES


 Wilson Coêlho / ES



Os dias roem as páginas do calendário

Como se o tempo fosse uma espécie

De caminhada

Que começa na angústia

De um julgamento injusto

Por um tribunal corrupto

E asfixiado pela subjetividade

Dos que se alimentam 

Da ideologia das culpas

E do ressentimento

Assim meus pés

Cumprem o itinerário

Dessa via crucis

Até o último passo

Destino da guilhotina

Não sei se o tempo me poupará

Mas vislumbro no horizonte

De que a revolução não tardará

Todas as condições estão dadas

Para a implosão desse universo mesquinho e cruel

Do capitalismo

Sei que para muitos é uma esquizofrenia

E que para outros

Uma mera diversão

Para que se sintam no mundo

Atuantes

Atenuantes

Mas quando chegar a hora

Só os verdadeiros

Terão a coragem de enfrentar o inimigo

Comprometidos em não perderem

O medo

Para não perderem a vergonha

Conscientes de um mundo suicida

E assassino

Não é hora

E não sei se um dia já foi

Para acreditarmos que as lutas identitárias

Sejam o alimento medíocre

Dos pequenos burgueses

Que se acreditam

Fazendo a sua parte

A revolução não tardará

E a própria história separará

O joio do trigo

O revolucionário do simpatizante

A diferença entre a corda

E o enforcado

Abaixo a hipocrisia do púlpito

Dos parlamentares

Fora os discursos sem ecos

Que morrem nos megafones

E que se entalam na garganta dos oradores

Ou se resumem aos desabafos

Dos que necessitam falar

Para desopilarem o fígado

Para se sentirem no mundo

Nesse exato momento

Temos milhares de negros assassinados

Mulheres estupradas

Indígenas dizimados

Ideias de liberdade trucidadas

Enquanto muitos pequenos burgueses

Se acreditam fazendo sua parte

Porque não correm nenhum risco

E estão protegidos

Pela própria burguesia

Como se a liberdade fosse uma concessão 

E não um projeto de enfrentamento

A revolução não tardará

Fora dos divãs das psicologias de massas

Adaptando os explorados

Transformados em doentes

Pelos próprios mecanismos que os adoeceram

E não será veiculada pela mídia burguesa

No seu monopólio de uma voz

Autorizada e hegemônica


*
Música e Trabalho: Viola Enluarada (Marcos Valle)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho