sábado, 10 de abril de 2021

QUE VIVA ZAPATA * (FRT/BR)

QUE VIVA ZAPATA 


Há 102 anos, em 10 de abril de 1919, o revolucionário mexicano Emiliano Zapata era assassinado durante uma emboscada em Chinameca.

Emiliano Zapata nasceu em 8 de agosto de 1879 no vilarejo de San Miguel Anenecuilco, no estado mexicano de Morelos. À época, o México era governado pelo ditador Porfirio Díaz, que havia estabelecido um governo autoritário e repressivo, marcado por abusos frequentes contra os povos indígenas, corrupção, práticas clientelistas e deterioração das condições de vida da população. Originário de uma família mestiça, Zapata se interessou desde cedo pelas lutas indígenas, apoiando a reforma agrária e os esforços dos nativos pela recuperação de territórios indígenas roubados.


Desanimado com a imobilidade do governo mexicano e indignado pelos privilégios econômicos e políticos dos grandes latifundiários, Zapata partiu para a ação armada, coordenando grupos que invadiam as terras em disputa. A ação política de Zapata foi fortemente influenciado pelo ideário anarquista, ao qual fora apresentado pelo professor Otilio Montano, que lhe indicou as obras de Peter Kropotkin e Ricardo Flores Magón.


Em 1910, Porfirio Díaz foi reeleito em um pleito marcado por irregularidades, motivando grandes manifestações de repúdio da população. O liberal Francisco Ignacio Madero, derrotado no pleito, anunciou que a eleição fora fraudada e conclamou-o a sublevar-se contra o governo de Díaz. Para angariar o apoio da população, Madero prometeu implementar a reforma agrária e outros programas de combate à injustiça social. Com isso, obteve a adesão imediata de Emiliano Zapata, que formou um exército revolucionário em Morelos para depor Díaz - o Exército Libertador do Sul. Também atraído pelas promessas de Madero, Pancho Villa ajudou a formar outra força paramilitar ao norte. Teve início então a Revolução Mexicana.


Zapata liderou seus exércitos até a Cidade do México, depondo Díaz e instituindo Madero no poder. Mas, tão logo assumiu a presidência, Madero traiu seus apoiadores, excluindo as demandas dos campesinos e dos povos indígenas e aproximando-se dos grandes latifundiários e da elite mexicana. As reivindicações de Zapata em favor de uma reforma agrária pautada nos ejidos (terras comunais) e no respeito às tradições indígenas foram ignoradas em favor de um projeto de integração das populações nativas ao modo de produção capitalista. Em seguida, o governo mexicano começou a perseguir os exércitos zapatistas e estimular o desarmamento dos indígenas. Assim, Zapata rompeu com Madero, retirando seu apoio ao novo governo, passando a defender a implantação do Plano de Ayala, que visava distribuir um terço das terras agricultáveis do México aos camponeses.


Madero foi deposto e assassinado durante um golpe de Estado coordenado pelos militares e pelas forças conservadoras e contrarrevolucionários em 1913. O general porfirista Victoriano Huerta assumiu a presidência e tentou instituir um governo de cariz reacionário e ditatorial, concedendo anistia a Porfirio Díaz e passando a reprimir brutalmente as frentes indígenas. Zapata e Villa voltaram então a organizar suas forças paramilitares, agora para derrubar o governo de Huerta. Contaram também com a adesão de Venustiano Carranza, governador de Coahuila, líder do Exército Constitucionalista. As forças zapatistas, villistas e constitucionalistas conseguiram obter sucessivas vitórias sobre as tropas de Huerta - cuja situação se complicou com a tomada do Porto de Vera Cruz pelos fuzileiros navais dos Estados Unidos. Em julho de 1914, Huerta foi deposto e Carranza assumiu o governo.


Não tardou para que Carranza também traísse seus aliados. O novo mandatário aliou-se ao comandante militar Álvaro Obregón para consolidar um regime autoritário e passou a perseguir as guerrilhas zapatistas e villistas. A princípio, Zapata conseguiu manter suas tropas mobilizadas, mas passou a enfrentar sucessivos problemas com o recrudescimento da repressão governamental. Em 10 de abril de 1919, Zapata foi atraído para uma reunião com o general Jesús Guajardo, um partidário de Carranza que se passava por simpatizante da causa zapatista. Quando se encontraram, Guajardo alvejou Zapata com vários tiros. Pancho Villa também foi assassinado quatro anos depois, durante uma emboscada organizada pela polícia secreta mexicana.


Os assassinatos de Zapata e Villa e a desmobilização de suas tropas enfraqueceram a Revolução Mexicana, permitindo que as oligarquias logo retomassem o domínio político pleno sobre o país e destruíssem o legado zapatista em Morelos. Zapata, entretanto, segue como uma importante referência e inspiração para as lutas populares do México. É herói nacional do país e patrono de organizações como o Movimento Zapatista e o Exército Zapatista de Libertação Nacional.

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