segunda-feira, 28 de junho de 2021

Esquerda: que isso companheiro? * Antonio Cabral Filho/RJ

ESQUERDA: QUE ISSO COMPANHEIRO?

Precisamos de uma nova concepção de esquerda. Melhor, precisamos desmistificar o que venha a ser esquerda nesse espectro de partidos burgueses que dão sustentação ao sistema capitalista, e, no entanto, se fazem passar por esquerda. Para tanto, contam com o beneplácito da imprensa “dita cuja”, que recebe muito bem para isso, ou seja, manter desinformada aquela camada de mentes massificadas necessária para o uso oportuno em benefício da dominação.

SER ESQUERDA


Essa esquerda vem contando ao longo da história, desde que Marx e Engels publicaram o Manifesto Comunista, com a vaga ideia de que pelo fato de se denominar como tal, é o suficiente para desfrutar da credibilidade necessária na hora de manipular os oprimidos.

Lá no Manifesto Comunista está escrito que os comunistas participarão das eleições burguesas. Até aí... Mas esquerda é sinônimo de comunista? Claro que não. Para resolver isso, propagaram a palavra socialista. E em nome de uma denominação vaga, todo oportunismo tem castigado os oprimidos, os trabalhadores e demais camadas da sociedade capitalista.

A pilantragem reside aí. Todo oportunista se faz passar por socialista. Se formos puxar pela história, vamos gastar muito fosfato para passarmos isso a limpo. Mas vamos limpar o campo. Basta diferenciarmos socialismo de comunismo. E o que é SOCIALISMO?


Bom, vamos historiar a nossa resposta, senão vão nos acusar de reducionismo. Vejamos a primeira revolução feita no mundo sob a marca do comunismo: A REVOLUÇÃO RUSSA. Ela foi comunista ou socialista? A bem da verdade, nem uma coisa nem a outra. Porque a simples tentativa de democratização das relações de poder após a tomada do aparato estatal em 1917, foi totalmente travada pela direção do POSDR – Partido Operário Social Democrata Russo, com a intervenção nos Conselhos Operários e Populares, os SOVIETS, decidindo quem poderia ou não fazer parte dos seus quadros. Esse foi o primeiro e primordial problema ocorrido na tenra revolução. O segundo foi quanto à gestão administrativa. Os SOVIETS não mandaram em nada. Todas as decisões saiam da cúpula montada pelo partido para cuidar disso. Esse foi o terreno fértil do qual saiu a NEP – Nova Política Econômica,
que deu rumos capitalistas à economia soviética, acusada em larga escala pela mídia burguesa de burocrática e estatal. E essa foi a grande contribuição do “estado soviético” para a caracterização do seu modus operandi como CAPITALISMO DE ESTADO.

A segunda experiência foi a China. Alguém tem dúvida de que é o mesmo modelo? Eu não tenho, até porque Mao foi beber na mão de Stálin.

A terceira experiência foi o Vietnam e a seguir, Cuba. Esta, desde a “crise dos mísseis”, ainda depende da ajuda externa. Não desenvolveu nada próprio. Sequer no campo militar e ainda agora não passa de uma feira de produtos de quinta vindos da China, que substituiu a URSS, em aliança com a Rússia.

Quer mais exemplos? Eu acho que basta. Em nenhum desses países, o povo decide coisa alguma, até porque o “cerco do imperialismo” existe sim funciona como espantalho para justificar a presença e repressão do “estado” a tudo que se imagina.

E aí, será que podemos perguntar: é socialismo ou comunismo? Nem uma coisa nem outra. Simplesmente capitalismo.

No entanto, uma certa “esquerda” propaga uma carreta de valores sobre esses países. O poderio militar russo, o avanço tecnológico chinês, a saúde e a educação cubanas, justificam suas posturas pseudo-esquerdistas. Só que nada disso sustenta suas políticas de conciliação de classes nos países massacrados pelo imperialismo. Ser social-democrata lá na Europa, com os altos padrões de vida sustentados às custas das colônias, é fácil. Dizer-se socialista lá na França nas rodas intelectuais do Quartier Latin, é lindo. Dizer-se de esquerda por ser persona non grata nos EUA, dá voto. Mas tudo isso não vai além de um “aval” nas altas camadas gestoras do capital para ser nomeado gerente setorial das multinacionais em algum continente cheio de cobiças. A América Latina que o diga. Todos os dirigentes de esquerda dessa região são abonados por algum “Tio” europeu ou norte-americano.

Então? O que é socialismo? O que é comunismo? Para responder a isso, podemos ir aos livros, inclusive os manuais. Porque nem um nem o outro existiram até agora entre os viventes. O que chamam de socialismo, não passa de política de compensação, ou seja, o estado reduz a carga de impostos contanto que o empresariado invista em melhores condições de vida para a sociedade. Ora veja, ninguém precisa de Marx para resolver isso. Basta um Keynes. Políticas sociais sustentadas com os impostos arrecadados do setor privado só geram mais riqueza para o setor privado. E não vai além de um círculo vicioso. Ninguém precisa ser socialista nem comunista por causa disso. Qualquer populista de direita faz isso muito bem...e ainda chama patrão de companheiro.

Ao longo de toda a história política ocidental existem centenas de entidades, denominadas atualmente como ONGs, que são disfarces de partidos políticos, em sua maioria de direita. Mas a social-democracia não fica para trás. Sempre que um partido social-democrata chega ao governo, terceiriza um conjunto de serviços para suas entidades a fim de fazer caixa. Aí entram seus apaniguados, todos credenciados como “socialistas”, ou de “esquerda”. Há inclusive uns tipos que se empinam todos em posição de sentido com a mãozinha direita sobre o lado esquerdo do peito para cantar a Internacional e arrotam: “Sou comunista!”

Mas, e aí? Já podemos diferenciar quem é ESQUERDA de quem é COMUNISTA?

Vamos lá. Primeiro, o que conhecemos como ESQUERDA tem até folclore, e originado lá na França. E aconteceu porque no período da França revolucionária, os monarquistas e seus asseclas sentaram-se do lado direito do parlamento, arrastando consigo todos os estratos elitistas. Do outro lado, sentaram-se os restantes. Esses, reuniam diversos segmentos sócio-econômicos, tais como burgueses descontentes com os impostos, urbanos e rurais, pequenos ofícios e as camadas operárias. Ou seja, a ralé. Só que dentre ela tinha uma parte revolucionária, gente organizada e dirigida politicamente, pelo menos para aquele contexto: eram os Jacobinos. E assim, aquele lado em que se sentavam, ficou conhecido como uma posição política. Por isso, hoje, um bando de calça frouxa, fundilhos surrados, mãos-leves de todo tipo, se diz ESQUERDA, e até se ilustra com a palavra SOCIALISTA.

Quem não presenciou ainda um burguês gordo, corrupto e “flatolento”, gritando vivas ao socialismo? No Brasil, temos até o termo “socialaite” para se referir às burguesas mais boêmias. Mas e o que isso tudo chamado de ESQUERDA, SOCIALISMO tem a ver com ideologia? O socialismo seria uma caracterização ideológica? Será que as experiências denominadas socialistas são caracterizações ideológicas?

Vejamos: existem duas ideologias historicamente comprovadas, a capitalista e a comunista. Ambas se opõem em tudo que diz respeito à propriedade privada capitalista. Enquanto a ideologia capitalista defende a apropriação unilateral dos frutos do trabalha coletivo, a ideologia comunista propõe a distribuição desse resultado equitativamente. Daí resulta a grande questão, aonde entra o socialismo? Qual sua posição sobre a propriedade privada capitalista? Sabemos que o conceito comunista de revolução implica na expropriação da propriedade privada capitalista, e nas experiências “socialistas” conhecidas até agora tem havido, no máximo, somente uma troca de patrões. Então, qual é a essência de tais caracterizações?

E A ESQUERDA...

E em relação à esquerda nem vale a pena discutir, uma vez que a mesma se caracteriza, apenas, por fazer oposição dentro da ordem. A esquerda não existe fora da ordem burguesa, até porque isso não lhe interessa, senão ela deixaria de ser uma esquerda do sistema, dócil, adestrada, parlamentar, eleitoreira, e passaria a ser um instrumento de ruptura com o sistema capitalista, o que a transformaria numa força revolucionária a serviço do comunismo. Por isso, ninguém vai encontrar os ditos partidos de esquerda combatendo no campo da revolução proletária. Por isso, ser de esquerda virou moda, moda dos oportunistas, ludibriadores da massa explorada e oprimida, para arrumar mandatos às custas dela e nunca mais baterem cartão de ponto, nunca mais comerem marmita requentada ou viajarem de trem ou ônibus lotados, muito menos suarem suas camisas importadas às custas da peãozada. Dentre esses tipos há os que se dizem socialistas, diferenciando-se dos simplesmente de esquerda só para justificarem seus diplomas lá das universidades públicas bancadas com o suor do povo.

MAS DIZER-SE COMUNISTA...

Comunista, é coisa séria. É opor-se ao capitalismo, à propriedade privada capitalista, ao roubo da força de trabalho do operário, ao lucro fruto do roubo, enfim, opor-se à exploração do trabalho alheio. E no contexto atual de esgotamento das forças vitais do capital, não há sentido em dizer-se comunista sem se comprometer com a revolução. Findou-se o território do reformismo.
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