E LULA DIZ AONDE VAI
Ontem ouvi ao vivo e hoje tomei a prudência de ler as palavras do líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Lula da Silva. Uma barbaridade. Na cerimônia de um partido que completa 42 anos e se reivindica "dos trabalhadores", pelo menos há uma expectativa de uma afirmação de classe. Nada.
A grande novidade no discurso de Lula da Silva foi decretar que a questão central é a luta de classes? Derrotar o liberalismo e o neoliberalismo? Superar o capitalismo? Realizar a reforma agrária, a reforma tributária, a reforma bancária? Reestatizar a Petrobras? Tocar na questão da propriedade da terra? Retomar a base de Alcântara? Tocar nas contas de capital?
Não, não, a centralidade é o "amor" e que "o PT é o partido do amor". Afirmou o ex-presidente:
"[...] Mostra o poder da solidariedade contra o egoísmo, do amor sobre o ódio. E eu peço licença para dedicar minha fala a esse que é o sentimento mais nobre do ser humano, tão caro a cada um de nós e a cada uma de nós.
Porque, antes de tudo, o PT é o partido do amor. Do amor ao Brasil e ao povo brasileiro."
" [...] Acredito em todas formas de amar. Creio no amor romântico, o amor fraterno, o amor de uma mãe e de um pai pelos filhos, o amor aos nossos amigos, o amor da gente por um animal de estimação, e dele pela gente."
" [...] sempre fui - e serei - acima de todos os ódios, abençoado pelo amor."
Em seu discurso Lula, claro, recorre à fé e religiosidade do povo, diz ele:
"Aprendi na Bíblia que "se eu não tiver amor, eu nada sou"".
"Jesus Cristo, o ser humano mais extraordinário que passou pelo planeta, nos ensinou a maior de todas as lições: Amai-vos uns aos outros".
"O amor está na base de todas as religiões e na maioria das culturas."
"Vi de perto tudo o que de mais belo a humanidade é capaz de construir, se ela tiver amor."
"Minha fé na humanidade é resultante da crença inabalável nesse sentimento [o amor] cantado em verso e prosa."
"O amor e o ódio caminharam lado a lado na história da humanidade. Precisamos, mais do que nunca, fazer com que o amor prevaleça"
"[...] cooperação também pode ser chamada de amor ao próximo. Há milhões de anos, quando nossos antepassados se uniram e passaram a cooperar nas caçadas, eles foram capazes de derrotar as feras mais perigosas. Se unirmos agora, seremos capazes de construir um mundo com mais amor."
E por aí vai.
Sim, sabemos que o PT é um partido político de centro - às vezes com algo de centro-esquerda - porém, por sua base social, surpreende cada vez mais pelo rebaixamento ideológico, político e cultural.
Lula se apresenta messiânico, com um discurso despolitizado, apelando à fé do povo, em meio a citações recheadas de obviedades e platitudes. E promessas, claro. E não etapas de lutas para superação da superexploração do trabalho, da dependência, da derrota do liberalismo/neoliberalismo, da construção de um horizonte socialista.
Aliás, socialismo é palavra que não sai da boca do petista. Enfim, quando de seu aniversário o PT deixa claro sua fase atual, de centro, onde o sentido de esquerda é passado remoto. E ser de esquerda é ser socialista-comunista, o resto é conversa fiada. Para Lula e o PT, para superar as mazelas da sociedade moderna e da exploração capitalista basta "amor", caridade na gestão pública e "políticas públicas" compensatórias. Não toca no capital. Não toca nas questões estruturais de um país na periferia do sistema capitalista.
E o povo brasileiro tem na verdade, para além da alternativa atual representada em Lula e as eleições 2022, o desafio de pensar e construir o pós-Lula, ele sendo eleito ou não. Pois 4 anos passa rápido e a luta de classes segue.
Sem luta de classes, formação política e ideológica do povo e enfrentamento ao capitalismo, um mundo mais justo e igualitário jamais se realizará. De resto, luta que segue.
CONFIRA
Ao vivo: PT faz 42 anos reafirmando compromisso com o país e o povo | Partido dos Trabalhadores
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho