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terça-feira, 8 de outubro de 2024

Os partidos brasileiros em 24 * Mário Medina/SP

Os partidos brasileiros em 24

Algumas notas sobre os partidos na eleição de domingo. Pequenos comentários. Apenas uma síntese.

PT

O PT tá se recuperando aos poucos do tranco do golpe de 2016. Mas se engana ao achar que vai reaver seu posto de maior força política no país. A direita tá hegemônica na sociedade, e o PT amarga a ressaca depois de um tempo inaudito, que ficou marcado pelos dois primeiros mandatos de Lula como presidente. Aquele tempo passou e o PT espera ingenuamente que volte. Não vai voltar. A tendência não é essa. O PT fica agora identificado pelos lunáticos direitistas como se fosse um partido de esquerda. Enquanto isso, toca uma política de direita, de frente ampla, e sem eliminar as medidas de ajuste de Temer e Bolsonaro. Ou seja, o PT é um caso sério. É como aquele tipo de pessoa que a gente diz que não se ajuda. Para usar uma linguagem gramciana, o PT deveria optar por uma guerra de movimento. Foi atacado torpemente, semi-esmagado. Precisaria de um movimento contrário em igual medida para reaver terreno. Ao invés disso opta por uma batalha em firmar posições no interior da institucionalidade burguesa. Inutilmente. O partido agora começa a perder base eleitoral no nordeste, o que era considerado impossível de acontecer.

Psol

O Psol já era. O Psol virou o partido identitário. Ideologia aguada, fim de carreira, a cara de uma esquerda oportunista, eleitoreira, que não consegue se sustentar em tempos de crise do capital. Vai desmoronar numericamente. Politicamente já se perdeu. É, na verdade, um balaio de gatos desencontrados, sem rumo teórico, sem identidade de classe. Agora sem um programa mínimo de ruptura com o sistema. O neoliberalismo tragou a esquerda também. O Psol é uma expressão inequívoca de tudo isso.

PSDB

O PSDB acabou, né. Game over. Perdeu os prefeitos e perdeu os vereadores. Ou seja, perdeu tudo o que tinha. O PSDB é um partido sem militância. Seu militante número 1 era o empresário, mas o empresário se bolsonarizou. A sociedade se bolsonarizou, não sobrou espaço pra terceira via. Eles esperam que esse movimento retroceda. Muito difícil de acontecer isso. O que guia a política são as movimentações da economia e da geopolítica. O PSDB é carta fora do baralho.

PSB

O PSB é um partido que opera como um PSDB. Mas o fenômeno da acirrada polarização ideológica joga contra a legenda. Por incrível que pareça, o nome do partido, com "socialismo" no meio, é o suficiente pra limar a agremiação do jogo político que é jogado pra valer.

PDT

O brizolismo manda lembranças. Há muito tempo que não dá pra esperar nada do PDT. É outro partido significativo da redemocratização que vai sumindo aos poucos, vítima de si mesmo, de sua inaptidão política e da diluição de identidade das esquerdas.

PL

O partido de Bolsonaro não conseguiu operar a manobra política que estava pronta em suas mãos. Maior fundo partidário (que é capaz de ter sido drenado em grande parte por corrupção) e sem o aumento de prefeituras que esperava ter, o PL perdeu o pique e foi superado por outros partidos de direita do dito Centrão. Mesmo assim o PL cresceu, fazendo um número impressionante de vereadores. O fator "gado político" de seu público ajuda muito nisso. Os caras são fanatizados, o pastor manda votar, eles vão lá e votam... Enfim, é fácil pra eles a tarefa de fazer vereador. É um fenômeno alucinante de movimento fascista de massas que ainda vai aterrorizar muito o cenário político.

Centrão
 (PMDB, PSD, União Brasil, PP, Republicanos, Podemos, Cidadania, etc)

O lixo se prolifera a uma velocidade assustadora. O brasileiro é enganado com muita facilidade por partidos fisiológicos e sem caracterização política de classe ou ideologia. Já vi muita gente aparentemente ilustrada que vota nos caras, que trata como se fossem gente normal. Esses partidos são a imagem política mais acabada da alienação e da ignorância; são símbolos de um mundo sem razão de ser, um caos, uma fantasia grotesca. Em suma, são o fruto do atraso e do depauparamento cultural. E fazem qualquer negócio por dinheiro. São marionetados com muito êxito pelo poder econômico.

Ou seja...

O quadro geral da política brasileira inspira preocupação. Nada de muito novo no entanto. Tá a mesma merda da eleição passada, com pequenos novos detalhes.

Obs: Falo em perspectiva com o número de políticos eleitos na eleição passada e nessa, conforme o índice de desempenho; e também com relação ao peso dos partidos no debate público.

Tem no UOL um bom gráfico sobre o crescimento ou diminuição dos partidos. O PT aumentou as prefeituras. O PSDB diminuiu drasticamente, além de ter saído apagado no congresso e nas deliberações de relevância da política nacional.

FONTE
&
ANEXO
Entre as oscilações, 4 movimentos muito significativos:

_*1- subida forte e consistente do PSD*_ de Kassab

(_um bom tanto combinada com...)_

_*2- queda brutal do PSDB*_

_*3- subida fortíssima do Republicanos !*_
Mais que Dobrou !!
(Seguido pelo PL, proporcionalmente)

_*4- queda avassaladora do PDT !*_
(Inclusive tomou uma fubecada imensa no Ceará.... Fortaleza e Sobral como exemplos....)

Mesmo em queda total, com a vampirização do PSD e dos demais das Direitas,  o PSDB elegeu mais que PT.

No mais, Direitonas muito fortes, inclusive as *travestidas  de  "Centrão"*....
*
MOVIMENTO ANTIFASCISTA NO MUNDO

terça-feira, 2 de agosto de 2022

COMO DIREITIZAR UM ESQUERDISTA * Frei Betto / SP

 COMO DIREITIZAR UM ESQUERDISTA

Frei Betto / SP

Neste artigo: Ernesto Che Guevara, Frei Betto, Esquerda, Revolução Francesa, Vladimir Ilich Lenin etc.


Ser de esquerda é, desde que essa classificação surgiu com a Revolução Francesa, optar por os pobres, indignar-se com a exclusão social, estar insatisfeito com todas as formas de injustiça ou, como dizia Bobbio, considerar a desigualdade social uma aberração.


Estar na direita é tolerar a injustiça, considerar os imperativos do mercado acima dos direitos humanos, encarar a pobreza como uma mancha incurável, acreditar que existem pessoas e povos intrinsecamente superiores aos demais.


Ser esquerdista - patologia diagnosticada por Lenin como 'doença infantil do comunismo' - é enfrentar o poder burguês até se tornar parte dele. O canhoto é S fundamentalis por conta própria. Ela incorpora todos os esquemas religiosos típicos dos fundamentalistas da fé. Ele enche a boca de dogmas e adora um líder. Se o líder espirrar, ele bate palmas; se chora, fica triste; se muda de ideia, analisa rapidamente a situação para tentar mostrar que na atual correlação de forças...


O esquerdista ama as categorias acadêmicas da esquerda, mas se iguala ao general Figueiredo em um ponto: não pode aguentar o fedor do povo. Para ele, povo é aquele substantivo abstrato que só parece concreto quando se trata de acumular votos. Assim, o esquerdista alcança os pobres, não por preocupação com sua situação, mas com o único propósito de angariar votos para si mesmo e/ou sua camarilha. Depois das eleições, adeus te vi e até o próximo concurso!


Como o esquerdista não tem princípios, mas interesses, nada mais fácil do que girá-lo para a direita. Dê-lhe um bom trabalho. Mas que não seja o trabalho, aquele que obriga os mortais comuns a ganhar o pão com sangue, suor e lágrimas. Tem que ser um daqueles trabalhos em que pagam um bom salário e concedem mais direitos do que deveres que exigem. Principalmente quando se trata da esfera pública. Embora também possa ser na iniciativa privada. O importante é que o esquerdista sente que merece um aumento significativo em sua bolsa particular.


É o caso quando ele é eleito ou nomeado para um cargo público ou assume cargo de direção em determinada empresa. Ele imediatamente baixa a guarda. Ele não se critica. Simplesmente o cheiro do dinheiro, combinado com a função do poder, produz a alquimia irresistível capaz de fazer o mais retórico dos revolucionários torcer os braços.


Bom salário, cargos de chefia, royalties, estes são os ingredientes capazes de embriagar um esquerdista em seu itinerário em direção à vergonhosa direita, que age como tal, mas sem assumi-la. Aí o esquerdista muda de amizades e caprichos. Troque aguardente por vinho importado, cerveja por uísque escocês, apartamento para condomínio fechado, rodadas no bar para recepções e festas suntuosas.


Se um colega de outrora o procura, ele engana, não comparece, delega o caso ao secretário, reclama disfarçadamente do 'incomodador'. Agora todos os seus passos se movem, com precisão cirúrgica, no caminho do poder. Ele adora sair com pessoas importantes: empresários, ricos, proprietários de terras. Ele se encanta com presentes e presentes. Sua maior infelicidade seria voltar a ser o que era, desprovido de lisonjas e palavrões, um cidadão comum lutando pela sobrevivência.


Adeus ideais, utopias, sonhos! Viva o pragmatismo, a política de resultados, o conluio, as artimanhas feitas com mão de especialista (mesmo que aconteçam percalços pelo caminho. Nesse caso, o esquerdista conta com a ajuda rápida de seus pares: silêncio obsequioso, fingindo que não acontecer nada, hoje para você, amanhã para mim...).


Lembrei-me dessa caracterização porque, há poucos dias, encontrei em uma reunião um velho camarada dos movimentos populares, cúmplice da luta contra a ditadura. Ele me perguntou se eu ainda andava com aquelas 'pessoas da periferia'. E pontificou: "Que estupidez você deixou o governo. Lá você poderia ter feito mais por aquela cidade."


Deu vontade de rir na frente daquele camarada que, antes, teria feito Che Guevara se sentir um pequeno burguês, tão grande era seu fervor revolucionário. Contive-me para não ser indelicada com aquele personagem ridículo, de cabelo penteado para trás, terno fino e sapatos de anjo. Respondi apenas: "Tornei-me um reacionário, fiel aos meus velhos princípios. Prefiro correr o risco de errar com os pobres do que ter a pretensão de ter razão sem eles".


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