DO CAPITALISMO UTÓPICO AO SOCIALISMO CIENTÍFICO
Ao
lançarem mão da ciência, Engels e Marx deram-se conta que o processo de
superação do feudalismo ocorreu fundamentado no avanço das forças produtivas e
na inovação das relações sociais, principalmente aquelas produzidas pelo
sistema mercantil que não poderiam acontecer sem que houvesse uma classe
apaixonada pela transformação radical da velha sociedade. A constatação de que,
quando a Europa saiu da Idade Média, a classe média urbana era a força
revolucionária existente. Ela vinha sendo criada ao logo do tempo e, aos
poucos, a sua existência foi ficando incompatível com o regime feudal.
Junto
com a ascensão da burguesia, na modernidade, pelo menos a trezentos anos antes
da revolução francesa de 1789, ressurgiu a ciência, a filosofia, a arte e a
literatura que, cada uma a seu modo encarregaram-se de realizar o
esclarecimento das visões ingênuas que vinham ainda dominadas pelos mitos do
passado.
O
que a burguesia fez na Europa no período da transição, faz inveja a quem
procura soluções para a apatia revolucionária dos tempos atuais. Sem deixar de
fazer a disputa, no campo econômico contra a nobreza feudal, impondo, em meio à
repressão militar e política as relações mercantis, Engels identificou três
grandes batalhas que foram decisivas para enraizar o processo de avanço
revolucionário: a reforma protestante incitada por Lutero que motivou duas
grandes insurreições na Alemanha, em 1523 e em 1525; a segunda também como
reforma protestante, foi liderada pelo francês João Calvino, que influenciou a
partir de
Isso
parece pouco, mas impulsionou a formação de uma base intelectual que
influenciou o surgimento de pensadores na política, para citar apenas alguns,
como na política, Maquiavel e posteriormente os diversos “socialistas
utópicos”, na ciência como Francis Bacon; na filosofia, entre outros, Renné
Descartes, John Locke, Rousseau, Kant; na economia Adam Smith; u seja, em
todas as áreas do conhecimento foram inovadas.
A
culminância do processo de transição dar-se-á, simbolicamente na Revolução
Francesa, que será complementada pelas revoluções liberais ocorridas na grande
maioria dos países europeus a partir de 1830 até 1852.
Se
voltarmos no início da Idade Média, iremos perceber que a nobreza feudal,
formara-se dentro do modo de produção escravista e que, desde o século
primeiro, d.C. começara o deslocamento para a agricultura, organizando os
feudos e transformando os escravos em novos servos, a classe auxiliar de sua
sustentação. Quando Império Romano caiu no século V, não havia praticamente
mais poder algum centralizado em Roma; ele já estava distribuído pelos
diferentes reinados.
Isso
tudo nos instiga a pensarmos na superação do capitalismo por meio da indicação
de que deveremos construir o período de transição denominado de “socialismo
científico”, tendo como fundamento, o próprio avanço do capitalismo.
Como
indicações para o estudo, devemos pensar que, embora os acontecimentos
históricos e os processos revolucionários não se repetem, mas servem de lições
e indicações do caminho a seguir. Em primeiro lugar, devemos perceber que a
superação de um modo de produção por outro, se dá porque, o primeiro entra em
decadência; não responde mais as necessidades de todas as sociedades, como foi
o caso do escravismo e do feudalismo e já está sendo o capitalismo. No entanto,
pela visão histórica, na infra-estrutura do sistema anterior forma-se uma base
material que como substância física precisa de um lugar, e, como dois corpos
físicos não podem estar no mesmo lugar ao mesmo tempo, ela se impõe sobre a
base econômica anterior.
Em
segundo lugar, formaram-se bases intelectuais de análise e proposições que
atacaram todas as posições que já davam sinais de insuficiência gnosiológica,
ou seja, teórica, como também àquelas que se aparelhavam para proceder a
produção ideológica que falseava à visão da realidade como, as religiões, as
concepções educacionais, as compreensões dos verdadeiros problemas filosóficos
e sociológicos das identificações e as proposições econômicas e políticas sem
alcance de superação.
Não
podemos negar de que muitas confusões e limitações que ainda existem estão no
modo de compreensão das relações atuais, em que, grande parte das forças de
“esquerda” possuem na cabeça a superação do capitalismo real, pelo “capitalismo
utópico”, e visam inserirem-se por meio dos governos na estrutura do Estado
para realizarem as melhoria ordenadas pela Constituição Federal. E, por outro
lado, atuam atreladas às religiões por motivos óbvios, de que são os espaços de
aglutinação popular e também, por outro lado, temem o desgaste pelos ataques da
velha moral conservadora.
No
aspecto econômico, falta-nos uma interpretação adequada ao processo de
sustentação do movimento revolucionário, como os procedidos no passado,
dirigidos pela nobreza feudal e pela burguesia moderna. O que tivemos em comum
nesses dois processos, foi a criação de uma base econômica que impôs novas
relações de produção. No caso dos feudos a substituição natural do escravo pelo
servo, levou a afirmar a forma de produção feudal, baseada na “Corveia”
(pagamento em dias de trabalho) ou a “Talha” (pagamento em produto).
Para
superar o feudalismo a burguesia agarrou-se à forma mercadoria e, com ela criou
algo que a antecede, que é a indústria, e algo que a sucede, que é o mercado.
Para produzi-la e comercializá-la criou o proprietário da força de trabalho que
pode vendê-la como uma mercadoria, porque, não sendo proprietário dos meios de
produção, se quiser viver, terá que trocar a força de trabalho pelo salário.
A
pergunta que as forças de esquerda e intelectuais com ela ou não envolvidos,
não conseguem responder é: se a nobreza, para superar o escravismo, criou a sua
base econômica nos feudos, e, se a burguesia, para superar o feudalismo criou a
indústria e o comércio, qual será a base econômica a ser criada pelos
trabalhadores para superar o capitalismo?
Parece
uma pergunta sem resposta, isto porque, se o trabalhador é proprietário da
força de trabalho ele depende do mercado para encontrar um comprador para
vendê-la, que é o mesmo sujeito burguês, dono da indústria e do comércio. Os
próprios trabalhadores que trabalham em cooperativa ou agricultores que não
vendem força de trabalho dependem do comércio para distribuírem os seus
produtos.
Por
outro lado, a resposta à mesma pergunta é bastante simples, se aplicarmos o
paradoxo da vida e morte. Ou seja, quando os burgueses lutaram para implementar
o modo de produção capitalista, aceitaram e submeteram-se às leis da própria
formação da riqueza que se resume em três formas: mercadoria, dinheiro e
capital. Nesse sentido, para ser rico, um burguês precisa ter uma ou as três
formas de riqueza e obedecer as leis econômicas que se localização na produção,
concentração, centralização e expansão do capital.
No
entanto, como burguês não produzia a sua riqueza, sozinho, ele teve de
transformar o antigo servo em proprietário de sua força de trabalho para
comprá-la. Foi, portanto, essa força de trabalho que produz a riqueza
historicamente, mas, devido uma lei da produção, que denominada como
“mais-valia” ao explorar a força de trabalho, retira do trabalhador o salário
que ele recebe e mais a parte que ficará acumulada como excedente e que,
anexado ao valor investido, faz crescer o capital e a riqueza.
Se
a nobreza feudal criou o feudalismo, ela não poderia ser a força discordante
para vir a criar o capitalismo. Da mesma forma, se a burguesia criou o
capitalismo, não será ela que se interessará por destruí-lo. Logo, como lemos
na teoria do “Socialismo científico”, o socialismo virá pela luta dos
trabalhadores. Mas qual seria a base econômica destes para implodirem o
capitalismo? A mesma que sustenta os capitalistas.
Não
há outra alternativa. Toda riqueza, seja ela vinculada à mercadoria, na
acumulação do capital e o dinheiro, tem a sua origem na extração da mais-valia,
ou se quisermos, no trabalho não pago aos trabalhadores. De modo que, ao longo
da História do capitalismo, os trabalhadores ao produzirem a riqueza para os
burgueses, produziram também a sua base material, para superarem o modo de
produção capitalista. Falta criar as condições para apossar-se desta riqueza e
distribuí-la. Isto não pode ocorrer no capitalismo, precisa ir além.
Os
capitalistas utópicos de esquerda que desejam “humanizar” o capitalismo fazem
um grande mal aos trabalhadores e as massas desvalidas, porque, prolongam a
agonia dos sofredores que depositam esperanças em processos falseadores, como
as disputas eleitorais; as políticas públicas; as ajudas emergenciais etc.,
fazendo com que, as revoltas semelhantemente as que a burguesia fez para
implantar o capitalismo, sejam adiadas e o capitalismo decadente continua a
fazer vítimas.
Tudo
depende de atitudes. Elas precisam marcar posição em todos os sentidos, mas,
principalmente na política, que remete a ter que fazer escolhas e tomar
decisões. Enquanto os representantes dos trabalhadores acreditarem em soluções
capitalistas, a burguesia continuará sendo classe dominante.
Ademar Bogo
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho