Bolsonaro e o acirramento da crise militar
O Ministério da Defesa anunciou hoje (30/3), a saída coletiva dos comandantes das três Forças Armadas, num clima de crise aberta entre o Palácio do Planalto e setores do generalato, após o presidente Jair Bolsonaro afastar ontem (29), do comando da pasta, o general Fernando Azevedo e Silva. Os comandantes militares afastados foram, Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Moretti Bermudez (Aeronaútica).
Segundo noticiou os veículos da imprensa burguesa, o anúncio da substituição dos militares foi articulado pelo general e novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto, após reunião que contou com a presença de seu antecessor Fernando Azevedo e Silva, como forma de costurar uma espécie de “acordo” entre os fardados, evitando assim o contágio da crise nos quartéis.
Para além da notícia oficial do ministério da Defesa, o que ocorreu de fato foi a entrega dos cargos por parte dos generais das Armadas, como forma de protesto diante do afastamento de Azevedo e Silva, e uma clara ruptura de setores das Forças Armadas com Jair Bolsonaro.
Segundo a cobertura praticamente unanime da imprensa capitalista, a demissão de Azevedo e Silva do ministério da Defesa, foi motivada pelo fato de que o general teria divergências em relação as tentativas de Bolsonaro instrumentalizar as Forças Armadas para uma finalidade golpista. O jornal Correio Braziliense, publicou hoje uma matéria onde trás declaração de um general do Exército que anonimamente, teria afirmado acerca das tentativas golpistas de Bolsonaro e do afastamento de parte das cúpulas Militares com o presidente miliciano.
Por outro lado, o escolhido para assumir a pasta é Braga Netto, interventor no Rio de Janeiro em 2018, na época do assassinato da vereadora Marielle Franco e Anderson Gomes. Braga Netto, um típico oportunista e fiel bolsonarista, com prováveis relações com as milicias cariocas, cai como uma luva para Bolsonaro, por ser facilmente manipulável pela famiglia do capitão.
O avanço avassalador da crise pandêmica no Brasil que matou mais de 300 mil pessoas, sob total responsabilidade genocida de Jair Bolsonaro, tem trazido profundo desgaste e isolamento internacional do capitão miliciano e comprometido diretamente a imagem das Forças Armadas. Dessa forma, é provável que o alto generalato planeja abandonar o barco bolsonarista que navega rumo ao precipício, evitando estarem vinculados, juntamente das Forças Armadas, a um genocídio sem paralelos na história do país, do qual os militares possuem total cumplicidade, por serem os responsáveis e sustentáculos até o momento, do governo criminoso e entreguista de Bolsonaro.
Responsável por uma total anarquia no país, o governo Bolsonaro afunda cada vez mais e já começa a sentir o isolamento por parte de setores da burguesia e das classes médias, até ontem importante base do bolsonarismo. O aprofundamento da crise econômica, política, social e sanitária, num quadro de inabilidade política marcante de Bolsonaro, faz seu governo dar os primeiros sinais de que está ficando suspenso no ar, sobretudo pelo fato de o proto-fascista ser um elemento fomentador de permanentes crises inaceitáveis para a burguesia. Após entregar aquilo que os patrões o encomendaram e praticamente ter desestruturado quase que por completo o Estado brasileiro, Jair Bolsonaro pode estar tendo o prazo de validade vencido para as classes dominantes, que já articulam o processo de descarte dessa figura bestial e tacanha, que porém deixou escancarado a profunda crise política no interior da burguesia; carente de um quadro mais qualificado e refinado, recorreu a um verdadeiro marginal barato, produto dos bueiros do submundo miliciano para gerenciar o Estado capitalista em crise.
Bolsonaro resiste, busca uma via bonapartista, provavelmente sabendo dos sérios riscos que corre de ter que encarar um tribunal internacional por crimes contra a humanidade, apesar do caráter de classe da justiça burguesa. Para salvar o capitão de seu isolamento, o líder do PSL na Câmara, Major Vitor Hugo (GO), tentou emplacar ontem, em regime de urgência, um Projeto de Lei (1074/2021) vetado, mas que se aprovado, daria plenos poderes a Bolsonaro, sobretudo o de mobilizar e instrumentalizar diretamente a seu bel prazer, as Policias Militares em todo o país, fato que sem duvida nenhuma fortaleceria os intentos golpistas de Bolsonaro.
Diante de tal crise profunda que atinge todas as instituições do Estado burguês, as direções de cúpula das centrais sindicais e da esquerda liberal, tem se mostrado os grande garantidores do regime bolsonarista ao sabotar um plano nacional de mobilização contra o governo genocida de Bolsonaro. A classe trabalhadora brasileira precisa sair da atual apatia e intervir conscientemente na atribulada conjuntura com seu programa próprio de reconstrução do país, sob as bases socialistas.
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho