RAPADURA
O bolsonarismo é o triunfo dos medíocres, dos incapazes, dos frustrados, dos capitãezinhos do mato. O bolsonarismo decorre de um grande ressentimento com ostracismo que a abertura democrática e a Constituição de 1988 legou a esses seres das sombras. O bolsonarismo é uma insurgência contra a PEC das domésticas ou o PNE, tomados como ofensa moral ao arraigado sentimento colonialista, escravocrata do brasileiro médio. O bolsonarismo é uma imensa mágoa com a felicidade. O bolsonarismo já existia, portanto, bem antes do capitão Cloroquina.
E o bolsonarista não é quem apoia o atual presidente. O bolsonarista é esse herdeiro natural do Integralismo, do fascismo brasileiro, rastejante, intolerante, burro. Com Bolsonaro no poder, essa laia egoísta e sem freio está em êxtase. E não é porque Bolsonaro é um grande líder e vai implantar reformas. Não. O bolsonarista está em mania, brincando de Polícia Rodoviária numa moto, esfuziante por saber que alguém tão destituído de qualidade humana alçou alguma notoriedade. Em suma, o bolsonarista está feliz porque é um infeliz.
Funciona assim: o bolsonarista vê a atual equipe de governo sem uma só pessoa que tenha talento, informação ou brilho. Então sente que faz parte daquilo, e acolhe seus iguais. Trata-se de uma confraria de ernegúmenos, um sindicato de estúpidos obscurantistas. Um covil de milicianos, como prova a cidade do Rio, talvez o seu ninho mais violento.
O bolsonarismo funciona como uma seita fundamentalista cujo mantra é odiar quem pensa, quem usa a lógica ou a inteligência. O bolsonarista, assumido ou não, sempre foi um sujeito reativo a arte, a cultura, aos estudos, ao estado democrático de direito. Miseravelmente egoísta, o bolsonarista sempre se sentiu à margem do mundo exatamente por ausência total de empatia. Agora que o mundo virou só truculência e escrotidão, ele se vê ali, realizado enfim. E faz arminha, grita mito, muito esquisito, masturba-se com as fotografias de Ulstra, Pinochet, Hitler e Mussolini, machos que o sodomizam em suas fantasias.
O que impressiona é a quantidade desses pobres diabos, surgindo dos esgotos, geralmente do nosso passado de assédios violentos tornados vingança. O bolsonarismo é o resultado do acúmulo de nossos graves erros históricos, um painel das covardias nacionais ao longo dos séculos. Por isso, combater o bolsonarismo é combater toda forma de injustiça. Do contrário, com uma cara nova, ele voltará. Na Alemanha há uma série de dispositivos técnicos legais e sociais para matar toda e qualquer manifestação hitlerista em seu nascedouro.
Aqui, o show diário de horrores, à cavalo, ema, jetski ou motocicleta, tais como invadir hospitais, humilhar motoboys, agredir mulheres, negros, lgbts e adversários políticos, aglomerar, enfiar veneno nas pessoas e nas lavouras, assim como plantar fakenews, não vai cessar, mesmo numa possível derrota eleitoral. O bolsonarismo tirou suas máscaras: assumiu-se como uma ração diária de ódio dada a esses tiozões do pavê-Sukita que estavam órfãos de uma ditadura pra chamar de sua. A internet facilita, viabiliza tudo isso. Steve Bannon é a mistura do Joseph Goebbels com a Leni Riefenstahl.
Passivos, indevidamente pacíficos, alienados, deixamos que fosse chocado o ovo da serpente, e o monstro de muitas cabeças hoje está aí, dando de comer aos corvos que comerão os cadáveres de nossos filhos com os nossos devidos impostos, se nada for feito imediatamente. A não ser, claro, que viajemos todos para Paris.
Apertem os cintos, para usar uma expressão de Brecht, referindo-se ao fascismo, a "besta imunda" vai destruir o Brasil e deixá-lo como o fim de todos os regimes autoritários de que temos notícias. O palhaço-demônio não entregará essa rapadura de volta pra gente tão fácil assim, não. "Vai ter que morrer uns 30 milhões, tu sabe disso!"
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho