segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Cabanagem derrota a opressão * Guerreiro Cabano Manfredo / PA

CABANAGEM DERROTA A OPRESSÃO

Guerreiro Cabano Manfredo

Já chegaram a classificar os cabanos como uma ralé de malfeitores e bandidos que tomaram de assalto Belém em 1835 para promover a desordem e saquear propriedades.

Na verdade foi um grito de revolta do povo paraense contra as injustiças promovidas pelas elites, principalmente os portugueses.

Os cabanos chegaram a infligir à Marinha brasileira sua maior derrota na história. Os paraenses estavam cansados com a dominação portuguesa. Esses isolaram o Pará do resto do Brasil. Não reconheciam a "independência" de 1822. O povo do Pará lutava politicamente. Em outubro de 1823 quase 300 foram massacrados num navio ancorado na Baía do Guajará, de frente à Igreja das Mecês.

Nos anos seguintes perseguições, prisões e assassinatos eram praxes dos portugueses contra os brasileiros. O padre Batista Campos era contra o governo da Província do Pará e foi perseguido de forma implacável. Nas incursões para pegar esse líder cabano as tropas militares do Pará chegaram na fazenda de Antonio Malcher. Esse é acusado de ajudar Batista Campos na sua fuga na área de Barcarena. No momento que seu filho adolescente chega da mata feliz com uma caça, um soldado dá um tiro na cabeça do jovem, matando-o imediatamente. Na sequência queimam a propriedade de Malcher. O ódio desse contra os portugueses só faz aumentar. Quando essa notícia chega em Belém o clima de revolta cresce. As perseguições a Batista Campos continuam nos arredores de Barcarena até que no dia 31 de dezembro de 1834 o padre líder cabano morre vítima de uma inflamação. Não houve tempo de procurar tratamento médico devido as perseguições das autoridades governamentais. O povo de Belém então gritou de ódio: chega!Então começarem os preparativos para a Revolução Paraense, a Cabanagem.

Na madrugada do dia 6 para o dia 7 de Janeiro de 1835, enquanto as autoridades civis e militares de Belém dormiam cansados, após vários festejos em comemoração ao dia de reis; *os cabanos – índios, tapuios, negros e a elite branca paraense descontente com o Império* – saíam de seus esconderijos e davam inicio a Cabanagem, a revolta popular que, em palavras do historiador Caio Prado Jr., foi "o mais notável movimento popular do Brasil (...) o único em que as camadas mais inferiores da população conseguem o poder de toda uma província com certa estabilidade".
Dominada a cidade de Belém, as demais cidades do interior da enorme Provincia do Grão-Pará, começam a derrubar o governo imperial e aderem ao movimento cabano. Todo o Norte passa a ser cabano. Somente a Ilha de Tatuoca e a cidade de Cametá continuam fiéis ao governo imperial.
Antônio Malcher é indicado como o primeiro presidente cabano da Província do Pará. Era fazendeiro e estava com os cabanos. Porém acaba entrando em acordo com o Império. O povo se vê traído e tira Antonio Malcher do poder executando-o. Divergências entre os irmãos Vinagre e o vacilo de Eduardo Angelim também agir como Antônio Malcher traindo o povo acabaram enfraquecendo a Cabanagem. Isso acaba favorecendo o Governo do Brasil a buscar "manter a ordem" no Pará.
O Império brasileiro, naquele tempo governado pelos regentes, inicia imediatamente a repressão e "pacificação da Amazônia", *dano inicio à uma guerra civil que durou longos cinco anos, na qual as tropas imperiais promoveram um extermínio em massa da população paraense.* Estima-se que em torno de 35.000 a 40.000 pessoas morreram no conflito. O equivalente à 40% da população amazônida daquela época. Tribos indígenas foram extintas, populações ribeirinhas, negras e caboclas dizimadas, Belém tornou-se ruína. O Império não teve misericórdia.
*Esta que é a mais importante revolta popular da história do Brasil, é esquecida por todos - inclusive pelos próprios paraenses* - E o motivo de tal esquecimento é explicitado pelo historiador Júlio Chiavenato: *“A Cabanagem é a única revolução em que o povo chegou ao poder no Brasil. [...] Uma revolução tão perigosa para as classes dominantes que o poder não procurou aplicar nenhuma lição: exterminaram-se os revolucionários, literalmente. Todos os documentos do governo foram destruídos, tribos inteiras foram chacinadas. A própria historiografia ‘esqueceu-se’ dessa revolução.*
É a única revolução em que o povo chegou ao poder no Brasil. E a que mais longa repressão sofreu. Uma guerra civil que causou a morte de quase 40 mil pessoas. Quem foram os líderes populares dessas revolução? Quem foram por exemplo Domingos Onça, Patriota e João do Mato. Nada de homenagens. Nem de estátuas, nome de praças, nome de ruas, muito menos um feriado nesse 07 de janeiro. O carrasco genocida do povo paraense General Soares de Andréa tem um monumento em sua homenagem de frente à Capela do Colégio Santo Antônio no Bairro da Campina. Quanto à revolução do povo paraense: sobrou o monumento isolado e confuso do Memorial da Cabanagem no Entroncamento, entrada da capital do Pará. Esse é o fado das lutas dos povos: esquecimento.
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