sexta-feira, 30 de junho de 2023

O QUE É QUE BAHIA TEM * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT

O QUE É QUE A BAHIA TEM

A INDEPENDÊNCIA DA BAHIA, 

EM BAIANÊS

POR LOUTI BAHIA 

Oxe! Colé de mermo? Você fila aula e eu tenho que contar tudo de novo? Mas é niuma. Se ligue que você não sabe da terça-metade. Tá ligado que a Família Real partiu a mil de Portugal pra cá em 1808? Vazou com medo de Napoleão e quando chegou, deu uma de porreta e chamou a gente de Reino Unido.


Ficou todo mundo de boa e a gente comeu essa pilha. Tempo vai, tempo vem, rolou a crocodilagem: D. João VI e a Família Real partiram a mil de volta pra Portugal e ainda queriam que o Brasil voltasse a ser colônia. Aoooooooonde! Quem anda pra trás é caranguejo, mô pai. O povo se retô, pegô ar e o pau comeu. 


Aí, D. Pedro I deu o zig na família e disse assim pra Portugal: “Quem vai é o coelho. Diga ao povo que fico!” Pô, véio, D. Pedro brocô. Mas aí, o bicho pegô. Portugal ficou virado no estopô e a gente recebeu a galinha pulano: as tropas de Madeira de Melo armaram uma bocada nas ruas de Salvador e foi aquela muvuca. 


Nosso povo lutou, mas ximbou e se lenhou: o exército português tomou a cidade na tora. O povo ficou injuriado e fugiu picado para o Recôncavo junto com nossos soldados. Lá, eles usaram o tutano pra organizar a reação: tiveram uma ideia massa e criaram o Exército Libertador. Tinha poucos soldados e muita gente do povo: pobres, negros libertos, negros escravizados, índios, agricultores, etc. Só tinha uma mulher que se alistou na cocó dizendo que era homem: Maria Quitéria. 


Já tinha pra mais de 10 mil pessoas, mas era tudo feito a migué: tinha poucas armas, ninguém sabia lutar, um mangue da porra. E eu falo mesmo que eu não sou baú: o exército de Portugal virado no diabo e a gente ia lutar de badogue e barandão? Aí é barril dobrado. Mas o povo tava na pilha e o couro comeu. 


Um barco português chegou em Cachoeira atirando e os baianos renderam eles a bordo de canoas. Ô povo retado! Ô povo virado no estopô. Enquanto isso, em Salvador, o exército português tava bagunçando, mandando e desmandando: uma esculhambação da porra. Foi então que eles invadiram o Convento da Lapa e mataram a Sóror Joana Angélica. Aí fedeu. Aí escancarou tudo. Eles foram fuleiro. 


A notícia deixou o povo agoniado e o Exército Libertador decidiu que ia arrodear Salvador. Lá em Itaparica, o povo também deu testa ao exército português e não deixou invadir a ilha. Maria Felipa, uma negra retada, se juntou com mais 40 marisqueiras: elas ficaram de butuca e, na calada da noite, foram chavecar os vigias dos barcos. 


Levaram os donzelos pro mato e quando eles acharam que iam fazer ozadia, receberam foi uma surra de cansanção. Arde coma porra! É pior que tomar zunhada. Enquanto os vigias tavam nuzinhos, se coçando e se bulino, as mulheres colocaram fogo em mais de 40 barcos dos portugas. Receba, sinha miséra!


Já nas águas da Baía de Todos os Santos e no Rio Paraguaçu, foi João das Botas que lutou contra mais de 40 barcos portugueses com sua “Flotilha Itaparicana” que só tinha barco de pescador. É brincadeira um esparro desse? Mas ele tirou onda e segurou os portugueses. 


Até então, a briga era essa: o povo baiano contra Portugal. Mas aí, D. Pedro entrou na dança e mandou reforço. Pra terra, ele contratou o general francês “Labativs” (se falar Labatut, use o “lá ele” porque Labatut tem rima). Ele chegou com mais soldados do resto do Brasil e deu um trato no nosso Exército Libertador. Um tapinha aqui, outro ali, mas tudo continuou meio nas coxas, feito a facão. 


Mas como a guerra já era daqui pra li, e como baiano é baiano: se não guenta vara, peça cacetinho. Só tem tu, vai tu mesmo: imagine a paletada de Cachoeira até Salvador. Já para o mar, D. Pedro contratou o Lord Cochrane (mas pode chamar de “Croquete” que é niuma). O cara era escocês e já tinha fama de mau lá nas Europa. Isso já assustou a marinha portuguesa: ponto pra D. Pedro. 


O Exército Libertador tinha muita garra mas pouca experiência. Chegou e cercou a cidade mas levou um baculejo daqueles do exército português. Foi na Batalha de Pirajá: os caras bagunharam a gente. Foi barril de mil. Nem dava pra brincar de esconde-esconde ou gritar “um, dois, três, salve todos”. Já era, pai! 


Só que o nosso Corneteiro Lopes recebeu uma ordem pra tocar “borimbora” (Tradução: recuar), deu revertério e tocou “se joga” (Tradução: Cavalaria avançar e degolar). Oxe! Aí, esculhambou tudo. O nosso exército sacudiu a poeira e pra se amostrar, deu-lhe uma carreira e passou a porra nos portuga que não entenderam nada. Os portuga vazaram quando ouviram o toque de “se pique” e a galera do mau correndo pra dentro. 


Foi o maior migué da história da Bahia, do Brasil e do mundo porque a gente não tinha nem um cavalo pra contar história, que dirá uma cavalaria inteira. Só mesmo baiano pra ganhar uma guerra no grito. Isso né culhuda não, véio: foi assim mermo. O Corneteiro Lopes se armou porque deu certo, mas se desse merda, uzoto ia dizer que foi ideia de jerico. 


Com isso, isolamos os portugueses dentro de Salvador e aí deixamos eles sem água e sem comida: não entrava nem geladinho, nem bolinho-de-estudante, nem um real de big big.


Aí, quando a esquadra de Lord “Croquete” (Lord Cockrane) chegou e se juntou à flotinha de João das Botas, o sacrista do Madeira de Melo viu que já tava com a moral de jegue, chamou o rebanho de soldado dele na surdina e se picou de madrugada. 


Saiu no lixo mas João das Botas foi na cola deles até alto-mar e uns e oto “me disseram” que ele largou o doce assim, ó: Se plante, vú, seu Madeira! Não se abra não que eu não sou cupim. E nem volte aqui paroano! Na moral, véio, o nosso povo tirou onda: Salvador fiou livre e o Brasil consolidou sua independência. 


E quem não lutou com armas, lutou cuidando dos feridos, conseguindo comida para os soldados, doando dinheiro para as batalhas. Eita povo guerreiro! Eita povo boca de zero nove. E aí, painho, foi um arerê nas ruas de Salvador: o Exército Libertador entrou triunfante: todo mundo solto na buraqueira indo cumê água. A rua chega ficou apertada e assim nasceu o desfile do 2 de Julho. Né não é? 


Tá rebocado que você não sabia dessa história. Agora, tá ligado porque a tocha vem do Recôncavo, passa por Pirajá e chega na Lapinha, né? Tá ligado porque a festa é do povo, né? E tá ligado porque tem o Caboclo e a Cabocla, né? Ó paí! Não tá ligado não, seu leso. Me faça uma garapa! É porque eles representam a mistura popular que nos deu força pra lutar pela independência. Tá vendo aí? Fiz um texto grande pra apertar sua mente, mas a história é de lenhar, né não?


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Texto de Louti Bahia 

autor da página @amoahistoriadesalvador, pesquisador de cidades, especialista em Desenvolvimento Urbano, em Desenvolvimento Regional e em Planejamento Ambiental.

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DOIS DE JULHO, A VERDADEIRA DATA DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL


Hoje, dia 2 de julho de 2023, celebra-se na Bahia o verdadeiro bicentenário da independência do Brasil. Não foi no dia 7 de setembro de 1822, uma data de opereta, que a independência aconteceu de fato. Nada disso. A história é bem outra e por isso mesmo é pouco conhecida no país.


A coroa portuguesa não se importou muito em perder terras nas hoje conhecidas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Outra coisa era perder a rapadura, o açúcar, minérios, cachaça etc. no Nordeste. Não mesmo. Os nordestinos, especialmente pernambucanos e baianos, foram pro pau. Houve guerra, muitas lutas e mortes até que no dia dois de julho de 1823, os portugueses foram derrotados e a independência do país se concretizou. Pronto...


Então, apesar de todo preconceito ainda existente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil contra nordestinos, vê-se que o Nordeste tem uma grande tradição histórica de salvar o país. Não foi só nas eleições elegendo o Lula. Aqui, especialmente na Bahia, há um forte sentimento de pertencimento, de brasilidade acima de tudo. E não é gratuito, afinal foi no litoral sul baiano, especificamente em Porto Seguro, onde tudo começou em 1500.


Não se avexe em desconhecer esta história. A Historiografia oficial privilegia o 7 de setembro de 1822, o "Independência ou Morte", aquele lorota de que não houve lutas pela independência, de que foi tudo "civilizado". Nada disso. Não fosse a luta que nordestinos travaram por 10 meses, talvez o Brasil não tivesse se separado da coroa portuguesa tão cedo. Na realidade, hoje festeja-se na Bahia, com muita festa e alegria, os 200 anos da independência verdadeira do Brasil. Venha, essa gente é arretada, lutadora, aguerrida.


"Um baiano, um coco. Dois baianos, dois cocos. Três baianos, uma cocada. Quatro baianos, uma baianada"... 


CEP MAGALHAES.SP

*
ODE AO 02 DE JULHO
(Castro Alves, São Paulo, junho de 1868)

Era no Dous de Julho
A pugna imensa
Travava-se nos cerros da Bahia…
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
“Neste lençol tão largo, tão extenso,
“Como um pedaço roto do infinito …
O mundo perguntava erguendo um grito:
“Qual dos gigantes morto rolará?! …

Debruçados do céu. . . a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado…
Era tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!

Não! Não eram dous povos os que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado…
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão! …

No entanto a luta recrescia indômita
As bandeiras – como águias eriçadas —
“Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz…
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava…
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!

Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do Sol!…

Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia Terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!. ..

CASTRO ALVES - BA

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