sábado, 17 de fevereiro de 2024

A propósito da crítica da VAI-VAI à violência da polícia brasileira *João Batista*SP

A propósito da crítica da VAI-VAI à violência da polícia brasileira
*João Batista*


Sou professor de Direito e também policial civil. Enquanto servidor público (trinta anos já se foram), sempre tive a exata noção do meu papel e dos meus deveres como membro de uma das forças da segurança pública nacional.

Um debate interessante veio à tona por ocasião do desfile da Escola de samba VAI-VAI, de São Paulo, onde uma crítica contundente foi feita à atuação da polícia brasileira. O contexto era o da violência policial praticada contra a população pobre e negra das periferias do país.

A meu ver, a crítica é pertinente, adequada e não atinge de forma alguma a honra das instituições policiais. Ao contrário. Pensar dessa forma é ignorar as atrocidades e ilegalidades praticadas historicamente contra a população - POBRE, OBVIAMENTE -, país afora.

Há atos em excesso que justificam a crítica à atuação da polícia brasileira: policiais matando cidadão em câmara de gás improvisada em viatura; policial torturando suspeito com saco plástico na cabeça, tapas na cara de pessoas indefesas, prisões arbitrárias e operações em favela com dezenas de pobres mortos. Há violência para todos os gostos.

Gostaria de entender de onde saiu essa ideia de que não se pode criticar as ações policiais notadamente ilegais. É como se o policial brasileiro fosse uma espécie de ídolo, um mártir intocável, inatacável.

Ora, que diferença há entre um policial e um professor da rede pública? E entre o policial e um técnico da secretaria da Fazenda? Respondo: NENHUMA!!! Todos são servidores públicos e têm o mesmo patrão: A SOCIEDADE BRASILEIRA!

Todos nós, que somos agentes públicos, estamos sujeitos às mesmas normas administrativas e às mesmas leis. Temos direitos e deveres e devemos agir estritamente dentro dos princípios que norteiam a administração pública.

Por fim, uma pergunta àqueles que criticam a crítica da VAI-VAI à atuação da polícia brasileira: ONDE vocês estavam quando o bolsonarista Roberto Jefferson atirou de fuzil contra policiais federais que cumpriam com suas funções, sendo uma policial ferida a tiros?

Mais uma: ONDE vocês estavam quando criminosos golpistas destruíram as sedes dos 3 Poderes em Brasília e atacaram dezenas de policiais que defenderam as sedes das instituições democráticas? Vários policiais quase foram mortos naquela ocasião.

Em ambas as situações, policiais foram atacados por bandidos e não lembro de ter visto uma única manifestação de apoio aos policiais ou crítica dessa gente que agora finge estar indignada com a mensagem legítima e pertinente da escola de samba paulista.

Um recado a essa gente que usa de dois pesos e duas medidas em suas avaliações: vocês não defendem a polícia enquanto instituição.

Defendem as ilegalidades praticadas por certos membros das forças policiais contra a parte mais pobre e vulnerável do nosso povo.

HIPÓCRITAS é o que vocês são.


*João Batista* é Especialista em Direito Penal e Processo Penal, Mestre em Ciências Jurídicas, professor universitário de Direito Penal, Processo Penal e Direitos Humanos, Cientista Jurídico e Escritor.

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