Arruaceiros são elles
Tive a ventura de ser atuante na saída da ditadura para a redemocratização. Muitos de nós realmente ajudaram a escrever a história daquela época, fazendo a sociedade se organizar e evoluir: Associações de Bairro, Movimentos dos Desapropriados, Reorganização dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais, Movimento dos Sem-terra. Grãos de democracia, que, tal qual grãos de areia, formaram o areal da redemocratização.
DITADURA NUNCA MAIS
Éramos e ainda carregamos o estigma de “arruaceiros”, pois gritávamos pela liberdade de expressar a necessidade de um pedaço de terra, uma casa para morar, um emprego para sobreviver, a aposentadoria para as agricultoras, e o fim da fila de pedintes que tocavam a campainha de nossa casa pedindo comida.
Por isso éramos, e muitos ainda assim nos consideram, “arruaceiros”.
Claro, entramos à força de pequenos grupos em órgãos públicos, em terras de fazendeiros, e ocupamos ruas das cidades. Organizados, fazíamos com tais gestos apenas atos políticos, reivindicando direitos legítimos, negociando em favor de todos, e progredindo no rumo das conquistas sociais.
Jamais ameaçamos a democracia que ressurgia. Criticamos os poderes, até de modo ácido, mas sem atentar contra eles. Nunca reclamamos a falta de oportunidade de fazer confusão por interesses pessoais, de xingar de forma animalesca, de ofender as minorias. Nem mesmo, no MST, reclamamos por ter apenas foices e forcas para nos depender das forças opressoras.
No dia 7 de setembro os não “arruaceiros” planejam tomar as ruas das grandes cidades. Têm as costas quentes pelo dinheiro dos poderosos, rugem guarnecidos por forças militares clandestinas que afrontam as leis e seus regulamentos, defendem o direito de comprar armas, reivindicam o direito de xingar, de atentar contra os poderes, de vender o Brasil aos americanos, de desmatar e de espoliar os cofres públicos.
Não dizem uma única palavra em favor dos fracos e desprotegidos, nunca defendem os direitos das minorias e das maiorias pobres, ameaçam com a ditadura, não lamentam a crise social e econômica, não se importam com a fome que campeia e com as mortes, não estão nem aí se os pobres têm que escolher entre o almoço ou a janta (ou nenhum deles).
Nós éramos arruaceiros. E eles são o que?
Você, cidadão verdadeiramente de bem, pensa um pouco e não vá às manifestações dos que somente pensam em si e na violência. Pense em seus filhos e netos, e nos ajudem a devolver a paz e o progresso ao Brasil.
Arruaceiros são eles, nós sempre fomos cidadãos de bem e democráticos.
Texto de Iracildo Binicheski / RS - Escritório Binicheski Advogados
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