quarta-feira, 20 de março de 2024

19 DE MARÇO DE 1964 INÍCIO DO GOLPE DE 1964 * Ernesto Germano Parés/RJ

PARA NÃO ESQUECER – 19 DE MARÇO DE 1964
INÍCIO DO GOLPE DE 1964 – MARCHA DA FAMÍLIA COM DEUS PELA LIBERDADE
(Ernesto Germano Parés)

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Esta é uma referência para os mais novos, que não conheceram os antecedentes do Golpe de 1964, e para muitos que viveram aqueles dias, mas esqueceram esse acontecimento.

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Na verdade, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade não foi um único acontecimento, como muitos pensam. A Marcha do dia 19 de março foi apenas a primeira de uma série de manifestações da direita, em várias cidades, ocorridas até 8 de junho (depois do golpe consolidado). As 49 marchas foram, pelo que consta em documentos e livros, idealizada e concretizada por militares e setores conservadores da sociedade que falava de uma “ameaça comunista” representada pelo discurso em comício realizado pelo então presidente João Goulart em 13 de março daquele mesmo ano.

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Poucos dias antes da Marcha, Jango havia assinado dois decretos permitindo a desapropriação de terras numa faixa de dez quilômetros às margens de rodovias, ferrovias e barragens e transferindo para a União o controle de cinco refinarias de petróleo que operavam no país. E, como era de se esperar, causou furor da direita e dos setores latifundiários e empresariais. E, como se não bastasse, prometeu que iria iniciar as chamadas reformas de base, uma série de reformas administrativas, agrárias, financeiras e tributárias. Jango chamava isso de justiça social, porque tinha como base a função social da terra e de empreendimentos urbanos.

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A primeira dessas marchas aconteceu em São Paulo, no dia 19 de março. O dia foi escolhido pelo setor reacionário do clero porque é o dia de São José, segundo a Igreja, padroeiro das famílias. Os jornais da época falam da participação de 300 ou 500 mil pessoas (há várias versões). Esta primeira marcha teve como principais organizadores a Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE), União Cívica Feminina (UCF), Fraterna Amizade Urbana e Rural, Sociedade Rural Brasileira, dentre outros grupos. Tiveram apoio logístico e financeiro da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e do nosso conhecido Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES), berço do pensamento da direita.

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Vamos registrar que, durante a primeira marcha, foi distribuído um panfleto intitulado “Manifesto ao povo do Brasil” pedindo aos militares que afastassem o presidente João Goulart. Curioso é observar que todas as marchas realizadas depois do dia 1 de abril (data do Golpe), passaram a ser chamadas de “Marchas da Vitória”. A primeira delas, no dia 2 de abril, aconteceu no Rio de Janeiro e, segundo a imprensa da época, teria levado mais de um milhão de pessoas às ruas.

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O idealizador da primeira marcha, em São Paulo, foi o deputado federal Antônio Sílvio Cunha Bueno, do PSD de São Paulo. Ao seu lado estava o padre irlandês Patrick Peyton, fundador do movimento Cruzada do Rosário pela Família.

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Juntos, procuraram os setores empresariais em busca de financiamento e conversaram com então vice-governador de São Paulo, Laudo Natel, em busca de apoio político. Enquanto isso, o governador paulista, Ademar de Barros, arrecadava dinheiro para comprar caminhões para a Força Pública de São Paulo (agora Polícia Militar), desse total apoio e garantisse a segurança da passeata. E contaram, ainda, com a ajuda e total envolvimento da freira Ana de Lourdes, neta de Ruy Barbosa, que tratou de buscar o apoio das lideranças femininas.

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Uma das figuras centrais na organização da marcha e que estava no chamado “cordão de frente” da passeata foi a mulher do governador Ademar de Barros, Leonor Mendes de Barros. E trinta associações de empresários assinaram o manifesto de convocação à Marcha, publicado no jornal O Estado de S. Paulo. Alunos do Instituto Presbiteriano Mackenzie e representantes da FIESP formaram delegações de simpatizantes à causa para comparecerem à Marcha.

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Tudo muito organizado, foram distribuídos panfletos para a população paulista e o clero publicava mensagens mais ou menos ameaçadoras para o Presidente Goulart.

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E um detalhe curioso: o publicitário José Carlos Pereira de Sousa criou palavras de ordem, faixas e cartazes para o evento, com os dizeres “Vermelho bom, só o batom”! Uma semelhança muito grande com os dias atuais foi o lema “Verde e amarelo, sem a foice e o martelo”!

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Além do IPES e da ajuda de políticos que já citamos, deram apoio material e logístico para a Marcha as seguintes entidades:

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Femininas

- Campanha da Mulher pela Democracia (CAMDE) (Rio de Janeiro)

- Liga da Mulher pela Democracia (LIMDE) (Belo Horizonte)

- União Cívica Feminina (UCF) (São Paulo)

- Movimento de Arregimentação Feminina

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Religiosas

- Fraterna Amizade Cristã Urbana e Rural

- Círculos Operários Católicos

- Associações Cristãs de Moços

- Associações civis e de classe

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Patronais

- Associação Comercial de São Paulo

- Sociedade Rural Brasileira

- Clube dos Diretores Lojistas

- Conselho de Entidades Democráticas

- Campanha para Educação Cívica

- Sindicatos patronais

- Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

- Centro das Indústrias do Estado de São Paulo

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FORA DIREITA GOLPISTA!

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NÓS NÃO VAMOS ESQUECER!
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Para não dar muita publicidade para golpistas, apenas uma foto da Marcha!
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