DE GAZA AO RIO DE JANEIRO, FORA GENOCIDAS!
CAMARADA 1
- Seria o momento de abordar o narco como instrumento do imperialismo. O desgaste que um ataque desse tipo, coordenado em várias cidades de um Estado como o Rio de Janeiro, tomando toda a região metropolitana, com milhões de habitantes, paralisando toda atividade econômica, é exatamente o tipo de evento que interessa às figuras tipo Trump para decretar intervenção militar estrangeira, a título de que o governo local não tem condições para combater o narcotráfico. Ou seja, a acusação de terrorismo que antes era a ferramenta para justificar essas intervenções, agora é um simples "sacode " do crime organizado contra uma população indefesa exposta a todo tipo de violência, desde a inoperância do governo de plantão até a inexistência de articulação das forças militares institucionais.
CAMARADA 2
- Olha, camarada. Esse fortalecimento dos "exércitos" de lumpens desclassados, tem se dado em todo o Brasil praticamente. São Paulo, o centro burguês do Brasil, também está sendo tomado pelo crime.
O narcotráfico e os ganhos com as drogas de tipo mafioso, tem sido uma forma alternativa de acumulação capitalista num contexto marcado pela queda das taxas de lucros na economia real, devido ao que Marx caracterizou como avanço da composição orgânica do capital, ou seja, a sobreposição do trabalho morto sobre o vivo.
No outro lado da moeda estão os contingentes de jovens desempregados estruturalmente, expulsos do mercado formal de trabalho, viraram massas sobrantes na sociedade burguesa tardia, que não pode mais inserir produtivamente enormes quantidades de seres humanos. Esse "dejeto" humano-pela ótica do capital-é a mão de obra não qualificada desse crime "organizado" que cresce em todo o nosso continente, e são os soldados razos, buchas de canhão nessa guerra informal que atinge os centros urbanos nas grandes cidades de nossa América. Expressão clara, objetiva da decomposição mesmo da civilização burguesa.
O que fica claro, é que as políticas de militarização exacerbada e encarceramento sistemático das massas empobrecidas, faliram inapelavelmente. O narcotráfico é um dos grandes negócios no mundo business e fonte de ganhos bilionários no capitalismo em crise estrutural. Portanto, na fase de decomposição geral da civilização burguesa, o mundo do crime é algo que se confunde com a forma de ser da sociedade do capital.
Material e espiritualmente, o narcótico tornou-se algo
que não mais pode ser superado dentro do capitalismo.
CAMARADA 1
....a direita está encurralada tanto pelas políticas internas quanto externas do Lula. A aproximação com Trump fudeu a porra toda, até ao Trump. Com isso, a direita tem que buscar saídas e a pauta segurança é um ponto franco na visão da direita porque o Lula está propondo o uso da inteligência ao invés do ataque frontal ao crime organizado. Esse é  o X da questão. E esse massacre foi pura armação do C. Castro, porque o narco não precisa disso. Ele deu um banho de sangue gratuito até porque o Crime sabe antecipado quando vai ter operação. Quem foi preso ou morto também foi decisão do crime.
Veja que o local escolhido foi só pra fazer mídia, pois esse local - Penha/Complexo do Alemão - é dos mais tranquilos da cidade, não tem disputa com milícia nem concorrente.
Até poderia me estender mas essa cena faz parte do teatro exigido pelo imperialismo pra tentar manter a ofensiva. São atores do segundo e terceiro planos de uma peça que todos sabemos o final: ou Vietnam/Afeganistão ou Líbia/Iraque/Síria.
Mas o ingrediente neste momento inclui Colômbia, onde toda a política "gustavopetrina" não tem sido suficientemente ofensiva pra embananar a direita, o que faz o Trump ficar no ataque o tempo todo. Inclui também a Bolívia, o Peru, Chile, Argentina e todo o cone sul. A exceção é o Brasil. Isso devido as políticas sociais do Lula, que apesar do cerco neoliberal/centrão, tem posto o Lula no topo rumo a 2026. E inclusive Trump com suas taxações esdruxulas, tem concorrido pra isso. 
Nesse caldo todo, o isolamento da direita e o enquadramento do Bolsonarismo pela via judicial, o resultado é o desespero. É isso que estamos vendo no ataque "netanyahuano" de Claudio Castro. Mas tem um detalhe: todas as câmaras corporais dos policiais estavam desligadas durante a operação. Esse dado é o ônus da prova pra incriminar o ainda governador.
Sobre o tema, sugiro os livros:
"Los Narcos Gringos", de Jesus Esquivel;
"As Delícias do Crime ", de Ernest Mandel;
"O Terrorismo de Estado na Colômbia", de Hernando Calvo Ospina
Frente Revolucionária dos Trabalhadores/Partido Comunista dos Trabalhadores Brasileiros
Claudio Castro é o promotor do maior massacre policial da história do Brasil. São 128 mortos contabilizados e o número de corpos não para de aumentar. São números de países em guerra.
Como primeiro resultado, a operação trouxe cenas indescritíveis. Dezenas de corpos enfileirados em praça pública, a população em desespero, com sinais de tortura. Alguns corpos decapitados, inclusive. Crimes hediondos sendo cometidos sob pretexto de combater o crime. O cenário estarrecedor corre o mundo, e mostra a face da política de segurança pública dirigida por um governador fascista.
O crime organizado domina vastos territórios no Rio de Janeiro, tanto na forma de grupos de traficantes de drogas quanto de milícias. Esse domínio, que oprime a população social e economicamente, se espalha com o beneplácito de autoridades governamentais e policiais. O crime organizado elege parlamentares, influencia o poder judiciário e o executivo.
As atividades criminosas se convertem em um dos mais lucrativos meios de acumulação de capital. Recentes operações dos órgãos de controle revelaram vasto esquema de lavagem de dinheiro que envolve instituições financeiras situadas na avenida Faria Lima. Políticos e autoridades são partícipes dos esquemas.
Periodicamente, a secretaria de segurança pública do Rio de Janeiro realiza operações com grande aparato, resultando em dezenas de mortes. Essas operações são comprovadamente ineficazes, gerando medo na população e prejudicando o cotidiano das cidades. As circunstâncias das mortes, e a identificação dos mortos, nunca são esclarecidas. Membros das forças de segurança, inclusive, engrossam o número de vítimas.
A operação é criminosa em todos os sentidos - sem planejamento, colocando em risco a vida da população e dos policiais, criando o caos, violando direitos e procedimentos regulamentares. Grave, também, é a motivação da operação, de caráter político e eleitoral.
O governador Cláudio Castro enviou para o consulado dos EUA no Rio de Janeiro, relatório do setor de inteligência da segurança pública do Estado. Consta que tal relatório corrobora a narrativa de narcoterrorismo do governo Trump, que justifica os ataques à Colômbia e à Venezuela. Castro trabalha, comprovadamente, com serviços de informações estrangeiros, o que configura traição nacional.
A legislação brasileira tipifica o crime de terrorismo por sua motivação político-ideológica. As facções criminosas têm como motivação ganhos financeiros. Aceitar o conceito de narcoterrorismo é expor o país à intervenção militar estadunidense, desejo expresso dos filhos do ex-presidente.
Está claro que o massacre promovido pelo governador fluminense tem motivação desestabilizadora. Enquanto os governos brasileiros e estadunidenses negociam tarifas e sanções, a ações de desestabilização e desgaste acontecem sem limites.
O governador Cláudio Castro tem de ser afastado do cargo e o Rio de Janeiro sofrer intervenção federal. A possibilidade de uma operação de GLO deve ser afastada. A presença das Forças Armadas só agravaria a situação e configuraria uma ingerência militar em uma questão eminentemente civil, que é a segurança pública.
O fascismo nacional, agente do imperialismo estadunidense, é uma ameaça à classe trabalhadora e ao povo. Deve ser combatido e derrotado. Os fascistas não se furtam de lançar mão da força armada para atingir seus objetivos. Os acontecimentos desse 28 de outubro servem de alerta e mostram a necessidade de mobilização para derrotar essa ameaça.
Liga Comunista Brasileira
 Os Estados Unidos vêm exercendo intensa pressão sobre o Brasil na luta contra o narcotráfico desde a posse de Donald Trump. Para intensificar ainda mais essa pressão, Trump aumentou as tarifas de exportação para os Estados Unidos em até 50%. Diante dessa imensa pressão política, o governo Lula resistiu a aceitar essas medidas. Após vários meses de pressão dos EUA e da oligarquia brasileira, o governo brasileiro foi forçado a uma luta completa e implacável contra o narcotráfico, condicionada à normalização do comércio bilateral. O resultado dessa negociação foi uma mega operação nas favelas do Rio de Janeiro, que resultou em um genocídio horrível com mais de 120 mortos, mais de 500 feridos e centenas de detidos. Essa política dos EUA deverá se estender por toda a América Latina.
Gaza é o Rio de Janeiro. Gaza é o mundo inteiro.
Raúl Zibechi
29 de outubro de 2025
Não há palavras suficientes para descrever o horror que sentimos com o massacre de mais de 130 jovens negros pobres mortos pela polícia do Rio de Janeiro, sob o pretexto de combater o tráfico de drogas.
Foi uma operação de guerra urbana na qual o governo estadual mobilizou 2.500 policiais militares fortemente armados, juntamente com veículos blindados e helicópteros, para atacar os complexos de favelas da Penha e do Alemão, na zona norte da cidade, uma área com alta concentração de pessoas pobres. Esses dois complexos de favelas têm mais de 150 habitantes cada, com uma densidade populacional extremamente alta.
O governo do Rio de Janeiro reportou 60 mortes, mas moradores das favelas levaram mais de 50 corpos às praças, que não foram incluídos na contagem oficial, deixando o número real de vítimas incerto. O número de mortos já subiu para mais de 120.
As reações foram imediatas, desde organizações de direitos humanos até as Nações Unidas, que disseram estar "horrorizadas" com o massacre. Além das estatísticas, existem fatos relevantes.
O genocídio palestino em Gaza é o espelho no qual nós, os povos oprimidos do mundo, devemos nos ver refletidos. Para aqueles no poder, começou um período de caça indiscriminada à população "excedente", porque a impunidade é garantida. Agora, mais do que nunca, Gaza somos todos nós. Poderia ser Quito, San Salvador, Rosário ou Tegucigalpa; o Cauca colombiano ou Wallmapu; talvez as montanhas de Guerrero ou as comunidades de Chiapas. Agora, todos estamos na mira de um capitalismo que mata para acumular riqueza mais rapidamente.
Os traficantes de drogas falam com a mesma insensibilidade com que se referem aos palestinos, aos mapuches ou aos maias. São apenas desculpas. Argumentos para a classe média urbana. Mas a história recente nos mostra que eles estão criando laboratórios para o genocídio.
No Equador pacífico, quando o povo os derrotou na revolta de 2019, eles reagiram libertando criminosos de prisões transformadas em espaços de extermínio, onde a mídia mostrou prisioneiros jogando futebol com a cabeça de um homem decapitado.
Em Cauca, a mineração a céu aberto e o cultivo de drogas exacerbaram a violência paramilitar contra as comunidades Nasa e Misak, que resistem e não cedem, transformando a região na mais violenta de um país já violento.
Em território mapuche, tanto no Chile quanto na Argentina, as autoridades decidiram que aqueles que não cumprissem as regras deveriam ser rotulados como "terroristas", resultando em um número maior de prisioneiros mapuches hoje do que durante as ditaduras de Pinochet e Videla.
No México, tudo é transparente, tão transparente que a mídia e o governo não querem que vejamos, mascarando a violência com uma retórica que apenas reconhece sua cumplicidade. A violência sistemática em Guerrero e Chiapas deveria ser motivo de indignação.
No Rio de Janeiro, um sociólogo costuma dizer que o narcotráfico não é um Estado paralelo, mas sim o próprio Estado. Isso inclui todos os governadores das últimas décadas, com sua comitiva de empresários, congressistas e vereadores ligados à máfia, que formam uma estrutura de poder herdada dos esquadrões da morte da ditadura militar.
Gaza nos coloca em uma situação diferente, enfrentando desafios diferentes. O primeiro é entender que a morte é a razão de ser do sistema capitalista. O segundo é entender que esse sistema é composto tanto pela direita quanto pela esquerda, por conservadores e progressistas. O terceiro é que precisamos nos organizar para nos proteger, porque ninguém mais o fará.
O mundo que conhecíamos está desmoronando. Vamos lamentar os jovens assassinados no Rio, aqueles corpos estendidos no asfalto.
Transformemos nossas lágrimas em rios de indignação e torrentes de rebelião.
*NARCO 2025: O QUE REALMENTE ESTÁ ACONTECENDO*
Parte I
Na véspera de uma operação militar americana quase inevitável contra a Venezuela, sob o pretexto do combate às drogas, vale a pena entender: qual era o propósito de tudo isso?
Ontem, os Estados Unidos impuseram sanções contra o atual presidente da Colômbia, Gustavo Petro. Seu crime? Ele disse em voz alta o que todos sabem, mas ninguém deveria dizer:
"Os traficantes de drogas vivem em Miami, Nova York, Paris. Muitos deles têm olhos azuis e são loiros. Eles moram perto da casa de Trump em Miami, não em barcos que estão sendo bombardeados com mísseis."
Lula, o presidente do Brasil, acrescentou: "Os traficantes de drogas são tão vítimas quanto os usuários de drogas, porque a demanda cria a oferta."
Petro agora está na mesma lista de sanções que Putin, Maduro e Assad. Os Estados Unidos estão bombardeando navios no Caribe (aproximadamente 50 mortos em outubro), preparando uma invasão da Venezuela e declararam os presidentes da Colômbia e da Venezuela "narcoterroristas".
*Três Assimetrias Chave na Economia:* O agricultor colombiano que cultiva coca recebe 1% do preço da cocaína nas ruas de Nova York. No entanto, mais de 90% dos lucros permanecem nos EUA, nas etapas de transporte, distribuição, varejo e lavagem de dinheiro.
Violência: dezenas de milhares de mortos no México, Colômbia e América Central. Os americanos, seja em situação de segurança total (se estivermos falando da elite) ou de segurança parcial (se estivermos falando das pessoas comuns), consomem US$ 150 bilhões em drogas por ano. Hunter Biden, um viciado em drogas experiente que já fez de tudo, continua sendo uma "vítima", não um criminoso. Essa perspectiva merece um monumento.
Responsabilidade: Toda a culpa recai sobre os produtores. O papel da demanda americana como força motriz do sistema é completamente ignorado. Os EUA se posicionam como vítimas de agressão externa. A ligação entre a carreira de cocaína no banheiro de um clube de elite e o corpo decapitado de um adolescente em Ciudad Juárez é, em princípio, irreconhecível para a elite.
*A Flórida como capital do narcocapitalismo*
Na década de 1980, entre 7 e 12 bilhões de dólares eram lavados anualmente em Miami, alimentando uma onda de crimes ao estilo Scarface. O Banco da Reserva Federal de Miami detinha o maior excedente de caixa do país. Hoje, o volume de dinheiro nos bancos da Flórida aumentou exponencialmente. Mas tornou-se "sem dinheiro físico", "invisível", "invertido".
Orlando Cicilia, cunhado do senador Marco Rubio, líder da cruzada contra Petro e Maduro, era um dos maiores traficantes de cocaína de Miami. Sua prisão ocorreu na casa de Rubio. A DEA arrombou a porta.
O dinheiro do narcotráfico se transformou ao longo de três gerações: das gangues de rua da década de 1980, passando pelos investimentos imobiliários da década de 1990, até chegar à elite política atual. A terceira geração do dinheiro do narcotráfico agora financia campanhas eleitorais e molda a política externa dos EUA.
 *Quem mais ganha dinheiro além dos "cartéis"?*
Complexo militar-industrial: "Plano Colômbia", mais de 10 bilhões de dólares desde 2000. É o maior, mas não o único. A Iniciativa Mérida, no México, dá continuidade ao modelo.
Indústria prisional: 500.000 presos por crimes relacionados a drogas (em comparação com 40.000 em 1980). Prisões privadas utilizam mão de obra praticamente gratuita.
Setor financeiro: A ONU estima que a lavagem de dinheiro global chegue a US$ 400 bilhões por ano. Grandes bancos foram flagrados e multados, mas ninguém foi preso — "grandes demais para serem presos".
O PARADOXO DA EFICIÊNCIA
Se o objetivo da Drug Enforcement Administration (DEA), criada em 1973, fosse desenvolver a indústria de drogas, e não reprimi-la, ela seria a organização mais eficaz da história da humanidade.
Fonte
InfoDefenseESPAÑOL
OS CAMPEÕES DA LIBERDADE E DA DEMOCRACIA
O narcotráfico é uma consequência do sistema econômico global, com o verdadeiro poder nas mãos das elites financeiras dos Estados Unidos, enquanto as batalhas são travadas contra pequenos chefões. Acusações contra países como Venezuela e Bolívia demonstram que o objetivo é justificar intervenções políticas, não erradicar as drogas. Documentos desclassificados do Arquivo de Segurança Nacional revelaram o envolvimento com o narcotráfico de figuras políticas colombianas de alto escalão, como o ex-presidente Julio César Turbay e Alfonso López Caballero, filho de outro ex-presidente. Ao todo, trinta e seis colombianos, incluindo ministros e oficiais militares, são mencionados. O principal cartel opera no Norte, onde milhares de redes de distribuição e lavagem de dinheiro, operando de terno e gravata e protegidas pelo sistema bancário dos EUA, controlam a maior parte de um mercado que movimenta até US$ 750 bilhões anualmente.
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A farsa do ‘narcoterrorismo’: como o Rio virou laboratório da guerra híbrida contra o Brasil
Rey Aragon

A operação sangrenta desta terça-feira no Rio de Janeiro não é apenas uma ação policial — é parte de uma operação psicológica planejada para fabricar instabilidade, importar a doutrina de segurança dos EUA e enfraquecer o governo Lula em plena disputa de soberania.
Sob o pretexto de combater o crime, o governo do Rio e seus aliados na extrema-direita reeditam a velha cartilha da Guerra Fria: transformar segurança pública em palco de guerra informacional. Ao ecoar o termo “narcoterrorismo”, autoridades fluminenses ajudam Washington a testar uma nova forma de intervenção — agora travestida de “cooperação antiterror”.
O NASCIMENTO DE UMA PSYOP: COMO O “NARCOTERRORISMO” FOI PLANTADO NO RIO DE JANEIRO

Drones sobrevoando o Complexo da Penha, granadas lançadas sobre um território densamente povoado, dezenas de mortos, escolas fechadas, medo generalizado. As imagens correram o mundo antes mesmo que os fatos fossem apurados — e bastou uma frase do governador Cláudio Castro para fixar o enquadramento desejado: “é narcoterrorismo”. Essa palavra, lançada ao espaço informacional com a frieza de quem sabe o que diz, não é apenas um erro semântico. É uma arma.
O episódio desta terça-feira, 28 de outubro de 2025, marca o ápice de uma operação psicológica cuidadosamente calibrada para fabricar a sensação de colapso da segurança pública e, com isso, legitimar uma agenda geopolítica que não nasce no Brasil. O termo “narcoterrorismo” — juridicamente inexistente no direito brasileiro — serve como chave simbólica para importar o vocabulário estratégico de Washington e deslocar o eixo da narrativa nacional: o que era crime organizado se transforma, subitamente, em “ameaça hemisférica”.
Essa manipulação discursiva tem objetivos precisos. Internamente, consolida o projeto de poder da extrema-direita, que precisa do medo como combustível político; externamente, reabre a porta para a doutrina de segurança dos Estados Unidos, que volta a enxergar a América do Sul como um campo de “risco híbrido” a ser contido. O governo do Rio, ao adotar esse léxico, atua como vetor de uma psyop de alcance internacional: produz instabilidade, fragiliza o governo federal e fornece à imprensa estrangeira o argumento pronto de que o Brasil perdeu o controle sobre seu território.
No campo informacional, não há improviso. A sincronização entre a operação militar, o uso do termo “narcoterrorismo” e sua replicação imediata por agências internacionais forma um roteiro já conhecido da guerra híbrida contemporânea: criar o caos, nomeá-lo sob o signo do inimigo global e exigir intervenção sob o pretexto da ordem. O que se passa hoje no Rio de Janeiro é menos sobre segurança e mais sobre soberania. É o ensaio de uma nova ofensiva cognitiva contra o Brasil.
O ESPETÁCULO OPERACIONAL: A GUERRA QUE PRECISA SER VISTA

Nada em uma psyop acontece por acaso — nem o horário da operação, nem os enquadramentos, nem o som das explosões. O que se viu nas ruas do Rio de Janeiro, na manhã de 28 de outubro de 2025, não foi apenas uma ação policial de grande porte: foi a encenação de uma guerra cuidadosamente coreografada para as câmeras. Blindados, helicópteros, drones e rajadas de fuzil compuseram a mise-en-scène perfeita para a criação de uma narrativa de colapso.
A operação “Contenção”, mobilizando mais de 2.500 agentes em uma única manhã, foi vendida como resposta ao avanço das facções criminosas, mas seu resultado real foi outro: gerar imagens de caos controlado, capazes de circular instantaneamente nas redes, nas TVs e nos portais internacionais. A guerra híbrida, afinal, depende da visibilidade — sem imagem, não há medo; sem medo, não há consentimento.
O impacto simbólico foi imediato. As cenas de granadas lançadas por drones e das favelas cobertas por fumaça não apenas criaram pânico, mas legitimaram o discurso de exceção. Em poucas horas, escolas fecharam, ônibus pararam, e a cidade mergulhou em um estado de paralisia emocional. Esse é o objetivo da operação psicológica: gerar percepção de perda de controle, mesmo quando o controle — militar e narrativo — está nas mãos de quem manipula a cena.
Ao transformar a segurança pública em espetáculo bélico, o governo do Rio recriou a estética do medo, fundamento essencial das democracias sitiadas. As câmeras da imprensa, estrategicamente posicionadas, captaram não apenas o confronto, mas o argumento: “o Estado enfrenta terroristas”. O que se transmite ao mundo, no entanto, é outro enredo — o de um país em colapso, incapaz de governar seus próprios territórios.
A guerra híbrida se alimenta desse paradoxo: quanto mais o Estado aparece como forte, mais ele se revela vulnerável; quanto mais promete segurança, mais fabrica insegurança. Essa é a lógica do espetáculo operacional — a guerra que precisa ser vista para cumprir sua função simbólica.
A ENGENHARIA DISCURSIVA: COMO SE FABRICA UM INIMIGO INTERNO

Nenhuma guerra híbrida se sustenta sem narrativa, e nenhuma narrativa se impõe sem engenharia discursiva. No caso do “narcoterrorismo”, o processo foi milimetricamente orquestrado: primeiro a imagem, depois o rótulo, em seguida a viralização, e por fim, a legitimação política.
O ciclo começa nas imagens. Drones, explosões, correria, fumaça — tudo registrado, editado e difundido em tempo real por canais oficiais e perfis aliados ao governo do Rio. O objetivo: criar o clima de guerra. Na sequência, surge a palavra-chave — “narcoterrorismo” — pronunciada por uma autoridade e imediatamente reproduzida por toda a máquina de comunicação bolsonarista. O termo não tem base legal, mas tem valor simbólico. Ele transforma criminosos em “inimigos do Estado” e o Estado em “bastião da civilização”, invertendo completamente a lógica jurídica e democrática.
Essa retórica é amplificada por um ecossistema previsível: portais da extrema-direita, influenciadores que orbitam o bolsonarismo digital e veículos internacionais predispostos a enquadrar o Brasil como “país em colapso”. A palavra é o vetor. Quando o rótulo chega à Reuters, à CNN en Español e ao El País, ele já cumpre sua função — legitimar o medo como verdade global e transferir o eixo do debate do campo policial para o campo geopolítico.
ANEXOS
BANCADA PL.RJ
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho