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quinta-feira, 13 de junho de 2024

MILEI ACOBERTA GOLPISTAS? * Dario Pignotti/Página 12

MILEI ACOBERTA GOLPISTAS? 

Falando em português, um Bolsonaro que participou, junto com milhares de outros, da tentativa de golpe contra Lula, diz: “Viva a porra da liberdade”. Ele está na Praça de Maio dando uma entrevista que foi amplamente comentada neste final de semana no Brasil. A poucos metros do brasileiro de boné e lenço, dois soldados argentinos aparecem ao fundo, prestando suas homenagens enquanto a bandeira é hasteada no centro da praça.

O entrevistado afirma ser paulista e é um dos cerca de 65 refugiados sediciosos em Buenos Aires e possivelmente em outras cidades, cujas repatriações devem ser solicitadas por Brasília.

Junto com o homem de 50 anos, chamado Luiz Fernándes Venáncio, está outro homem mais jovem, Marco Siman Oliveira, também golpista. Ambos afirmam ser vítimas de suposta perseguição política por parte da esquerda.

Todos os envolvidos no motim de 8 de janeiro de 2023, desde Jair Bolsonaro, os generais ao seu redor e os militantes que saquearam os palácios do Executivo, do Legislativo e do Supremo Tribunal Federal, sustentam que o que aconteceu não foi uma tentativa de golpe, mas uma agitação causada por suspeita de fraude nas eleições de outubro de 2022.

Esse mesmo argumento foi usado na semana passada para redobrar a pressão sobre o Congresso, pela aprovação de uma lei de anistia que atingiria os fugitivos filmados na Praça de Maio, mas sobretudo para dar impunidade ao verdadeiro responsável pela conspiração: Bolsonaro.

A reportagem do portal de notícias ligado ao jornal Folha de São Paulo sobre os foragidos foi realizada em plena luz do dia, tendo como pano de fundo a Casa Rosada. Depois de recitar o slogan mileista terminado em “maldito” em português, Fernándes Venáncio voltou ao português para dizer que ninguém o controlava na passagem da fronteira.

O homem se declara um ferrenho defensor da liberdade. Tanto é verdade que ele afirma estar disposto a morrer ou atravessar o oceano a nado antes de perdê-la (para a liberdade, é claro).

E garante que foi em busca de liberdade que quebrou a tornozeleira eletrônica que usava por ordem judicial ao sair da prisão para poder fugir para a Argentina, onde espera viver por muito tempo como “empreendedor”.

Lula, Milei e o G7

A fuga de dezenas de condenados ou acusados ​​de crimes como Golpe de Estado, Abolição do Estado Democrático de Direito e Organização Ilícita, foi instalada na agenda brasileira.

A onda de choque do escândalo deve durar até a próxima quinta-feira, quando Lula e Milei devem chegar à Apúlia, no sul da Itália, onde será realizada a cúpula dos presidentes do G7, organização da qual fazem parte as principais economias ocidentais. .

Lula foi convidado para todas as cúpulas do G7 enquanto ocupava a presidência de seu país (seu terceiro mandato começou há um ano e meio). O brasileiro é reconhecido como um dos líderes do Sul Global além de estar à frente de uma das principais economias do mundo, que este ano deve subir para o oitavo lugar no ranking global segundo previsão recente do FMI.

A estatura do líder do Partido dos Trabalhadores pode ser medida pela sua projeção internacional: até agora em 2024 recebeu líderes ocidentais como o francês Emmanuel Macron e o espanhol Pedro Sánchez, enquanto o seu vice-presidente, Geraldo Alckmin, acaba de se reunir com o presidente chinês Xi Jinping em Pequim. E seu assessor internacional, Celso Amorim, viajou para a Rússia onde conversou sobre a guerra na Ucrânia com o chanceler Sergei Lavrov.

Por outro lado, a presença do argentino na Apúlia não parece dever-se à sua estatura de estadista (a sua agenda internacional tem-se centrado em encontros com magnatas das plataformas digitais e representantes da extrema direita, como a sua viagem a Madrid para um evento organizado pela Vox), mas pela afinidade que tem com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, anfitriã da reunião do G7.

Lula deverá ter algumas reuniões bilaterais entre a próxima quinta e sexta-feira e não está descartada uma reunião com o colega argentino, com quem nunca conversou desde que assumiu a presidência em 10 de dezembro do ano passado, numa cerimônia onde Bolsonaro e seu filho estiveram presentes , Deputado Eduardo.

Se essa reunião ocorrer, embora nada nos permita tomá-la como certa, a situação dos refugiados Bolsonaro na Argentina será uma questão provável , senão obrigatória, porque prendê-los é uma questão de Estado do Brasil , na qual o Supremo A Justiça Federal é responsável pela investigação dos acontecimentos de 2023.

Megaoperacional

O Supremo Tribunal Federal ordenou a prisão e batidas nas casas de mais de 150 pessoas condenadas pelo motim de janeiro de 2023 na megaoperação batizada de “Lesa Pátria” realizada na última quinta-feira pela Polícia Federal em 19 estados do país.

Foi uma das ações mais importantes contra a organização que organizou e executou o plano de derrubada de Lula realizado até hoje.

O próximo passo desta ofensiva deverá ser a repatriação – ou a tentativa de realizá-la – daqueles que fugiram para a Argentina, bem como daqueles que ficariam escondidos no Uruguai e no Paraguai.


Os investigadores revelaram que uma das questões ainda não reveladas é se personagens como Fernándes Venáncio e Siman Oliveira, confortavelmente instalados em Buenos Aires, tiveram apoio financeiro e logístico para escapar.

E se esse apoio existisse, saiba quem está por trás dele.

Indicações

Ainda é sugestivo que uma semana antes dos golpistas brasileiros concordarem em enfrentar a imprensa na Praça de Maio, Eduardo Bolsonaro, acompanhado por vários legisladores de extrema direita, todos eles defensores do levante de 2023, foi recebido em Buenos Aires pelo deputado. Maria Celeste Ponce, de La Libertad Avanza.

Durante uma audiência no Congresso argentino, o filho de Jair Bolsonaro denunciou a “censura” e a “perseguição política” de que seriam vítimas os adversários de Lula e defendeu a concessão de asilo.

O legislador atua como “chanceler” do pai – cujo passaporte foi retirado pelo Supremo e não pode sair do Brasil por medo de buscar asilo em outro país – e interlocutor direto de Milei, o ex-presidente e provável candidato dos EUA Donald Trump , o primeiro-ministro húngaro, Víktor Orbán e o deputado espanhol Santiago Abascal, representante do Vox.

Também na lista de interlocutores de Bolsonaro Jr. estão os neonazis alemães do partido AfD e os ultras portugueses do Chega.


Agora, o vínculo entre Eduardo Bolsonaro e Milei seria marcado pela afinidade política acompanhada de uma amizade que foi forjada nos últimos anos, quando o parlamentar viajava frequentemente a Buenos Aires para apoiar a candidatura do libertário.

Se as investigações em curso demonstrassem que o desembarque de Eduardo no Parlamento argentino fazia parte de uma manobra para garantir abrigo aos golpistas e que essa estratégia contaria com o consentimento de Milei, isso acrescentaria um novo obstáculo à relação entre os dois governos.

Porque se assim fosse, o argentino não seria apenas amigo do principal inimigo de Lula, mas também um potencial cúmplice do esquema tramado para garantir a impunidade aos envolvidos no levante que estava prestes a derrubá-lo e instalar uma ditadura.

Essas são as suspeitas com as quais o brasileiro desembarcará na Itália e poderá condicionar seu encontro ou novo desentendimento com Milei.

FONTE

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sábado, 3 de junho de 2023

CARTA AOS PRESIDENTES DA AMÉRICA DO SUL * VÁRIOS AUTORES

CARTA AOS PRESIDENTES DA AMÉRICA DO SUL
Manifesto assinado por lideranças políticas do Continente, 15/11/2022.

Estimados,

Alberto Fernández, Luis Arce, Luiz Inácio Lula da Silva, Guillermo Lasso, Gabriel Boric, Gustavo Petro, Irfaan Ali, Mario Abdo Benítez, Pedro Castillo, Luis Lacalle Pou, Chan Santokhi, Nicolás Maduro.

Somos um grupo de ex-presidentes, chanceleres, ministros, parlamentares e intelectuais sul-americanos que buscam contribuir com os desafios do tempo presente. Nos anima a necessidade de deixar para trás uma história de sonhos desfeitos, promessas quebradas e oportunidades perdidas. Uma pandemia que açoita o mundo há quase três anos, a guerra de Rússia com Ucrânia e a aprofundamento da disputa entre China e Estados Unidos criaram um novo cenário internacional.

A globalização tal qual se organizou até os dias de hoje está em dúvida. Assim também estão as velhas formas de integração assimétricas entre os países centrais e periféricos. O novo mundo que emerge carrega ameaças, mas também oportunidades que não podem voltar a ser desperdiçadas. Uma crise climática que não para de se agravar e uma anomalia relativa ao respeito do direito internacional gera uma espécie de caos global no qual até o risco de uma tragédia causada por armamentos nucleares cresce. Se requer uma intervenção urgente dos organismos multilaterais que hoje estão desgraçadamente debilitados e são muitas vezes impotentes.

A hegemonia norte-americana está desafiada pela emergência da China, nação milenar governada de maneira centralizada. Por sua vez, a União Europeia procura defender seu modelo de coesão social e abrir, sem ter conseguido por ora, espaços que permitam conquistar sua autonomia estratégica. Ao mesmo tempo, o chamado Sul Global, com novas potências emergentes, busca abrir espaço e influenciar no desenho de uma nova forma de governança para o planeta.

Uma característica essencial do novo cenário é a fragmentação do espaço mundial que tende a reorganizar-se em torno de grandes blocos regionais, nos quais na medida em que se fecham, podem se tornar verdadeiras fortalezas. A geopolítica tende a deslocar a questão econômica do centro de gravidade das decisões. Neste novo contexto, noções como autonomia sanitária, alimentar e energética estão ganhando nova relevância. Neste mundo de blocos regionais, nossa América Latina aparece como uma região marginal e irrelevante. É de longe a região mais atingida pela crise econômico e social que s seguiu.

Com somente 8% da população mundial, América Latina registra mais de um quarto das vítimas de COVID-19, vive uma recessão duplamente mais profunda que da economia mundial, e viu aumentar em cerca de 50 milhões o número de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza. Primam na região a fragilidade das estruturas produtivas, a acentuação da dependência em um número reduzido de produtos primários, o enfraquecimento das instituições democráticas e a fragmentação política que impede de levantar uma voz comum frente aos assuntos globais. A recente ‘Cúpula das Américas’ mostrou de forma crua a ausência de uma posição comum de nossos governantes, a ponto de que o centro da discussão foi ocupado por exclusões e ausências.

Prezado Presidente,

Estamos convencidos de que este quadro sombrio não é inevitável. Nossa região pode fazer mais. Pouco a pouco, o processo de integração está revivendo. A iniciativa do presidente mexicano Andrés Manuel López Obrador permitiu a reativação da Comunidade dos Estados da América Latina e Caribe (CELAC) criada em 2010, que estava paralisada desde 2017. A Cúpula realizada em setembro de 2021 tornou possível a reunião e a adoção de um importante plano de ação sobre autossuficiência em saúde, visando fortalecer a produção e distribuição de medicamentos, especialmente vacinas, com o objetivo de reduzir nossa dependência externa. Atualmente, a Presidência Pro Tempore assumida pelo Presidente da Argentina, Alberto Fernández, procura dar continuidade a este esforço, aprofundando a “unidade na diversidade” como um imperativo ético para crescer com mais igualdade e justiça.

A integração é hoje mais necessária do que nunca. Um esforço significativo nesta direção alimentaria um círculo virtuoso que fortaleceria os organismos multilaterais e contribuiria para um bem maior que está atualmente em perigo: a paz. Ao contrário de outras regiões, a América Latina e o Caribe erradicaram há muito tempo as guerras entre países e podem se apresentar ao mundo como uma Zona de Paz. Também pode ser uma região que contribui para a paz, praticando uma rigorosa política de autonomia em relação às grandes potências. Uma América Latina integrada, não-alinhada e pacífica recuperará o prestígio internacional e será capaz de superar a irrelevância em que nos encontramos. Estaremos então em melhor posição para enfrentar as quatro principais ameaças que a região enfrenta: mudança climática, pandemias, desigualdades sociais e regressão autoritária.

Processos eleitorais recentes permitiram o triunfo de governos e coalizões políticas favoráveis ao renascimento da integração regional. A partir de janeiro de 2023, todos os países maiores, sem exceção, terão governos a favor da retomada e do fortalecimento dos processos de integração. Esta é uma oportunidade que não pode ser perdida. Juntos podemos fazer ouvir nossa voz. Divididos, nos tornamos invisíveis e não somos ouvidos. Os esforços de integração são antigos e seus resultados até agora modestos. As diferenças com outros esquemas, como a União Europeia (UE) ou a Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), entre outros, são abissais. Assim, por exemplo, enquanto na UE o comércio inter-regional representa mais de 70% do total, na América Latina, após sucessivas quedas, atualmente não chega a mais de 13%.

A nobre ideia de integração tornou-se para muitos uma tarefa impossível. Décadas de frustração corroeram o prestígio da própria ideia de integração e enfraqueceram o campo das forças sociais e políticas chamadas a sustentá-la. Para avançar, a substância deve vencer a retórica, e as conquistas devem ter precedência sobre o discurso.

A diversidade da região da América Latina e Caribe torna necessário entender a integração como um processo que necessariamente adota uma geometria variável composta de vários planos que se expandem em diferentes velocidades. Cada uma das sub-regiões tem particularidades que, se não forem levadas em conta, acabam desacelerando o processo como um todo. O México na América do Norte, América Central, Caribe e América do Sul têm objetivos e exigências em comum com relação ao mundo, mas ao mesmo tempo têm suas próprias especificidades.

É evidente que uma grande nação como o México é uma realidade muito diferente da América do Sul, dado que seu comércio está fortemente orientado para o mercado norte-americano, concentrado em produtos manufaturados e com muito menos influência da China. A natureza excepcional do México não tem que se transformar em rivalidade. Se alguma vez houve uma, é hora de ir além dela. Profundos laços históricos, culturais e linguísticos nos ligam ao México. No novo cenário internacional, organizado em torno de grandes blocos, uma estreita relação entre México, América Central, Caribe e América do Sul representa uma grande vantagem para o conjunto.

A América do Sul é uma entidade de direito próprio com 18 milhões de quilômetros quadrados e 422 milhões de habitantes, representando dois terços da população total da América Latina. Com suas costas do Atlântico e do Pacífico, tem um enorme potencial de integração física e processos de comunicação que devem ser implementados com estrito respeito aos altos padrões ambientais, à organização das cadeias produtivas e ao desenvolvimento de um mercado comum. A América do Sul também tem amplo espaço para cooperação nos campos político, cultural, financeiro, militar e científico-técnico.

Além disso, mudanças políticas muito recentes, como as que ocorreram no Chile, Colômbia e Brasil, estão gerando um novo impulso transformador nesta sub-região. O potencial da América do Sul só pode ser realizado na medida em que os países que compõem a sub-região criem um espaço no qual possam se reunir, identificar projetos comuns e desenvolver iniciativas conjuntas. Esta necessidade foi bem visualizada na época e levou à criação da União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) através do Tratado Constitutivo assinado em Brasília em 2008, que entrou em vigor em 2011.

Durante seus sete anos de operação, a UNASUL desenvolveu múltiplas iniciativas de interesse. Seus esforços na área da gestão de crises político-institucionais são particularmente valorizados, e o funcionamento do Conselho de Defesa, que fez notáveis progressos nesta delicada área, se destaca.

Também foram feitos progressos no campo da saúde e no desenvolvimento de uma ampla carteira de projetos de infraestrutura física. Entretanto, sua fraca capacidade de implementação, a ausência de uma dimensão econômica, comercial e produtiva e o abuso do veto implícito na regra do consenso nos processos decisórios, inclusive para a nomeação do secretário geral, facilitaram a paralisação da UNASUL e a tentativa de substituí-la pelo chamado Fórum para o Progresso da América do Sul (PROSUR) em 2019.

Entretanto, na prática, a PROSUR não passava de um empreendimento improvisado e precário, com capacidade operacional zero, como demonstrado por sua total inoperância durante a pandemia, uma época em que a ação concertada era especialmente necessária. A PROSUR é agora um todo vazio, uma instituição fantasma.

A reconstrução de um espaço efetivo de coordenação sul-americana é, portanto, urgentemente necessária. Como documentado no estudo detalhado do Centro de Pesquisa Econômica e Política (CEPR), o Tratado Constitutivo da UNASUL de 2008 continua em vigor para todos os países que não o denunciaram, e a organização continua a existir em nível internacional. Pelo menos cinco países não denunciaram o Tratado e entre aqueles que o fizeram, pelo menos dois, Argentina e Brasil, o fizeram de forma irregular, razão pela qual puderam optar por anular suas denúncias. Além disso, como foi demonstrado no estudo acima mencionado, nenhum dos sete países que se retiraram cumpriram as disposições do Tratado Constitutivo relativas à busca do diálogo político (artigo 14) para a resolução de disputas ou o procedimento de emenda previsto no artigo 25.

Entretanto, esta não é uma reconstituição puramente nostálgica de um passado que já não existe. Uma nova UNASUL deve assumir a responsabilidade autocrítica pelas deficiências do processo anterior.

Especificamente, deve:

(i) Garantir o pluralismo e sua projeção além das afinidades ideológicas e políticas dos governos em exercício. Neste sentido, há muito a aprender com esquemas como a UE ou a ASEAN, nos quais países com governos e mesmo regimes de convicções políticas muito diferentes coexistem.

(ii) Substituir a regra do consenso, que acaba tendo um efeito paralisante, por um sistema de tomada de decisão com quóruns diferentes, dependendo das questões a serem resolvidas. Em particular, a eleição do Secretário Geral não pode estar sujeita ao direito de veto de um país.

(iii) Incorporar novos atores para complementar os esforços dos governos e parlamentos. Universidades, institutos tecnológicos, centros culturais, representantes sindicais, grandes, pequenas e médias empresas devem ser incorporados ao processo. Em sua ausência, a integração perde vitalidade e tende a se tornar burocrática.

(iv) Priorizar a implementação de uma agenda de questões prioritárias. A institucionalidade deve ser construída com base na agenda, garantindo sua viabilidade e não o contrário, como tem sido muitas vezes a tradição latino-americana.

A agenda prioritária deve incluir pelo menos o seguinte: Um plano de autossuficiência sanitária voltado especialmente para a produção e compra conjunta de vacinas e insumos essenciais à saúde; acordos para facilitar uma imigração ordenada; um programa integrado para enfrentar a mudança climática em conformidade com os Acordos de Paris; obras prioritárias de conectividade rodoviária, ferroviária e energética; a recuperação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a região e o fortalecimento do Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF); medidas que favoreçam a cooperação entre empresas da região, tais como contratos públicos conjuntos e harmonização regulatória; a construção de uma abordagem regional comum aos principais desafios globais a serem apresentados ao G20 pelos três países latino-americanos participantes do G20: Argentina, Brasil e México; a criação de um grupo de trabalho para avançar em direção a um sistema financeiro comercial com vistas à futura integração monetária, quando as condições macroeconômicas o permitirem; uma abordagem comum da dívida externa e do financiamento internacional para os países de renda média que constituem a maioria dos países da região; mecanismos para facilitar a colaboração em questões de segurança pública e de segurança pública; acordos para promover programas de aprendizagem e treinamento ao longo da vida, especialmente para que o mundo do trabalho possa enfrentar o desafio da digitalização; políticas conjuntas para regular a ação dos grandes monopólios tecnológicos.

A reconstituição de um espaço regional sul-americano não é contraditória com o avanço da integração latino-americana em um sentido mais amplo. Uma Nova UNASUL pode ser perfeitamente funcional para a projeção do CELAC. Além disso, não se deve esquecer que a antiga UNASUL foi decisiva para a criação do CELAC. A Nova UNASUL pode, portanto, ser uma força que fortalece a CELAC, já que foi reconstituída a partir de 2021.

Com base no princípio da geometria variável, é possível identificar uma divisão de papéis pela qual o CELAC é chamado a tornar-se o espaço privilegiado para definir uma posição comum para a região sobre as questões da agenda multilateral: mudança climática, transição energética, comércio, investimento, finanças internacionais, direitos humanos, desarmamento, paz e segurança, migração, tráfico de drogas e crime organizado. Para isso, a CELAC precisa estar equipada com uma estrutura institucional mínima e uma secretaria técnica com capacidade executiva.

Prezado Presidente,

É em tempos de crise e adversidade que a experiência e a sabedoria daqueles que governam são particularmente necessárias. No cenário atual, os ganhos democráticos tão duramente conquistados na América Latina após a sequência de ditaduras que varreram a região nos anos 1970 estão em risco. Temos grandes expectativas quanto à liderança que você está exercendo em seus países. Confiamos em sua visão para fazer de nossa América do Sul uma força motriz para um novo nível de unidade e integração latino-americana, ancorada na solidariedade continental e nos valores permanentes da paz e da democracia.


Assinam a Carta

Ex-Presidentes: Michelle Bachelet, Chile; Rafael Correa, Equador; Eduardo Duhalde, Argentina; Ricardo Lagos, Chile; José Mujica, Uruguai;

Dilma Rousseff, Brasil; Ernesto Samper, Colombia.

Ex-Chanceleres: Celso Amorim, Brasil; Rafael Bielsa, Argentina; José Miguel Insulza, Chile; Jorge Lara, Paraguai; Guillaume Long, Equador; Heraldo Muñoz, Chile; Rodolfo Nin, Uruguai; Aloizio Nunez, Brasil; Felipe Solá, Argentina; Jorge Taiana, Argentina; Allan Wagner, Peru

Ex-Ministros: Luiz Carlos Bresser Pereira, Brasil; Manuel Canelas, Bolivia; Adriana Delpiano, Chile; José Dirceu, Brasil; Maria Do Rosário, Brasil; Daniel Filmus, Argentina; Tarso Genro, Brasil; Fernando Haddad, Brasil; Jorge Heine, Chile; Salomón Lerner, Peru; Luis Maira, Chile; Aloizio Mercadante, Brasil; Carlos Ominami, Chile; Paulo Sérgio Pinheiro, Brasil; Mariana Prado, Bolívia.

Parlamentares (ex e atuais): José Octavio Bordón, Argentina; Iván Cepeda, Senador, Colombia; Flavio Dino, Senador eleito Brasil; Guilherme Boulos, Deputado eleito, Brasil; Marco Enríquez-Ominami, ex-deputado, Chile; Gloria Florez Schneider, senadora, Colômbia; Jaime Gazmuri, ex-senador, Chile; Vilma Ibarra, ex-senadora, Argentina; Esperanza Martínez, Senadora, Paraguai; Veronika Mendoza, ex-deputada, Peru; Constanza Moreira, ex-senadora, Uruguai; María José Pizarro, Senadora, Colômbia; David Racero, Presidente Cámara, Colômbia; Mónica Xavier, ex-senadora, Uruguai.

Docentes: Humberto Campodónico, Peru; Evandro Menezes, Brasil; Javier Miranda, Uruguai; Juan Gabriel Tokatlian, Argentina; Vicente Trevas, Brasil.

Diretores de organismos internacionais: Paulo Abrão, Brasil, ex-secretário executivo da CIDH; Carlos Fortín, Chile, ex-subsecretário Geral UNCTAD; Enrique García Rodríguez, ex-Presidente CAF; Enrique Iglesias, ex Presidente BID, ex-Secretário Executivo CEPAL e SEGIB; Marta Mauras, Chile, ex-diretora regional da UNICEF para América Latina e Caribe; Juan Somavía, Chile, ex-Diretor Geral da OIT.