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domingo, 25 de dezembro de 2022

Relatos Selvagens * Ricardo Darin - AR

 Relatos Selvagens

Impulsos da modernidade por Lucas Salgado

Você provavelmente vai ouvir muito falar de Relatos Selvagens como o mais novo filme com Ricardo Darín, o que está longe de estar incorreto. Afinal, o ator está na produção e é o principal nome do cinema latino-americano nos dias de hoje, fazendo muito sucesso no Brasil. Mas a verdade é que o longa é muito mais que isso.


Dirigido por Damián Szifron, o filme é dividido em seis episódios. Todos (sim, todos) são bons. E alguns (pelo menos três) são excepcionais. O longa começa de forma brilhante e empolgante, com um curto episódio passado em um avião. Sobre este não dá para revelar muita coisa sem contar demais, então cabe apenas dizer que é uma história rápida, inteligente, envolvente e com um final extraordinário. Na sequência, nos deparamos com uma jovem funcionária de uma lanchonete de beira de estrada. Ela recebe a visita de um homem que acabou com sua família, mas que não lembra da garota. Temos ainda um episódio sobre dois sujeitos que se encontram no meio da estrada e se desentendem por causa de uma ultrapassagem e outro sobre um pai rico que tenta livrar o filho de ser preso pelo atropelamento de uma mulher grávida.

Darín estrela o conto que possui a pegada mais social, como é costume em sua filmografia. Ele interpreta um cara comum que tem o carro rebocado no dia do aniversário da filha. Ele é obrigado a ir no departamento de trânsito para apanha o veículo e tem que pagar uma taxa. Isso sem falar na multa que chega depois. O episódio lembra bastante Um Dia de Fúria, com Michael Douglas, com o personagem de Darín se revoltando com a burocracia do sistema e sendo levado a um impulso de violência.


Um dos principais méritos de Relatos Selvagens está no fato de não possuir momentos de grandes irregularidades. É difícil um filme com vários episódios não pecar com um ou outro momento mais fraco, mas é o que acontece aqui. Destaca-se ainda a montagem, que foi esperta ao colocar um grande episódio para abrir (o do avião), um ótimo no meio (do Darín) e o melhor de todos no final. O último conto gira em torno de uma festa de casamento, que é muito bem filmada e que conta com uma atuação espetacular de Erica Rivas, que nos remete às mulheres de Pedro Almodóvar. Também é melhor não falar muita coisa deste episódio, mas é brilhante como reúne cenas de drama, romance, tensão, suspense e até gore. Depois de tanta tragédia (embora sempre divertida), o longa termina de forma épica e até mesmo otimista.

Damián Szifron se mostra uma espécie de "Quentin Tarantino argentino". Não só por utilizar a violência, muitas vezes gráfica, em prol do humor, mas também pelo uso preciso da trilha sonora e do rock na construção do clima. Por sinal, o trabalho do compositor Gustavo Santaolalla é genial. Um filme para rir e se divertir. Muito.

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quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Toffoli viu o filme errado * Bernardo Mello Franco /O Globo

Toffoli viu o filme errado

Bernardo Mello Franco /O Globo  


Depois de chamar o golpe de 1964 de “movimento”, Dias Toffoli resolveu criticar a Argentina por julgar e punir os carrascos da ditadura militar. 


Na segunda-feira, o ministro do Supremo disse que o país vizinho “ficou preso no passado, na vingança, no ódio e olhando para trás, no retrovisor, sem conseguir se superar”. 


“Nós não podemos nos deixar levar pelo que aconteceu na Argentina”, pontificou, em palestra a empresários brasileiros em Nova York. “Não vamos cair nessa situação em que infelizmente alguns vizinhos nossos caíram”, prosseguiu. 


Para além da ofensa aos argentinos, que já condenaram 1.088 responsáveis por crimes contra a humanidade, as declarações revelam desconhecimento sobre a História e o papel da justiça de transição.


“O passado não precisa ser superado. Precisa ser conhecido para que não se repita”, ensina a procuradora Eugênia Gonzaga, ex-presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. 


Ela foi afastada no início do governo Jair Bolsonaro, quando Toffoli comandava o Supremo e se empenhava em agradar o capitão.


Indicado por Lula, o ministro começou a se aproximar do bolsonarismo na campanha de 2018. 


Antes de assumir a chefia da Corte, foi ao Quartel-General do Exército pedir a bênção do general Villas Bôas. 


Segundo a revista piauí, Toffoli prometeu que a Corte manteria o petista preso até a eleição. 


Ao questioná-lo sobre o episódio, as repórteres ouviram uma resposta lacônica: “Nunca tratei de pauta com ele, nem ele comigo”. 


Na mesma época, o ministro surpreendeu os colegas ao nomear dois generais como assessores: Fernando de Azevedo e Silva, que viraria ministro de Bolsonaro, e Ajax Pinheiro, que havia pedido votos para o capitão. 


A atitude foi interpretada como mais um gesto de subserviência aos militares. 


Toffoli tinha um motivo adicional para não dizer o que disse. Ele é relator da ação que questiona a validade da Lei da Anistia para agentes que mataram e torturaram na ditadura. 


“A fala foi inadequada e extemporânea”, resume o historiador Rogério Sottilli, diretor do Instituto Vladimir Herzog.


Ao emitir o palpite infeliz, o ministro citou o thriller “O segredo dos seus olhos”, estrelado por Ricardo Darín. 


Na volta de Nova York, ele deveria assistir ao recém-lançado “Argentina, 1985”, com o mesmo ator. O filme conta a história de procuradores e juízes que não se acovardaram diante de criminosos que usavam farda.


Colaboração: Eduardo Homem Da Costa