Mostrando postagens com marcador xenofobia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador xenofobia. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 3 de abril de 2023

RADIOGRAFIA DO NEONAZISMO * LEONARDO SACRAMENTO / SP

RADIOGRAFIA DO NEONAZISMO


LEONARDO SACRAMENTO

Grupos neonazistas trabalham com jovens em darkweb, deepweb, mundo gamers e em redes sociais.

O assassino que esfaqueou a professora em São Paulo brigou na semana anterior e apanhou dos alunos porque havia chamado um deles de macaco. Algo para ser mais bem elucidado, se a mídia e a polícia permitirem, pois sempre tratam esses ataques como se fossem suicídio. Reina a lógica do silêncio para enfatizar aspectos psicologizantes, deslocando o debate para um mero casuísmo da psiquê.

Em seu celular, foram encontrados exemplos de invasão e chacina em escolas. A estética de suas vestimentas segue padrão dos ataques anteriores, com referências explícitas.[i] O twitter trouxe, minutos depois, informações valiosas, como a existência de um subgrupo neonazista no qual fazia parte, cujo nome escolhido foi o mesmo do terrorista de Suzano (SP). Ali, foi encorajado e sugestionado a se vingar da sociedade que o teria retirado de seu devido e histórico lugar. Com essa narrativa, grupos neonazistas trabalham com jovens em darkweb, deepweb, mundo gamers e, agora e inclusive, em redes sociais, indicando a existência de uma considerável aceitação social.

As instituições e principalmente a esquerda não entenderam o que está acontecendo entre os jovens. Desenhemos o processo em 10 fatos geralmente silenciados, os quais, por óbvio, não excluem mais minudências: (i) Esses ataques têm sugestionamento e direção de grupos neonazistas na web, inclusive em redes sociais abertas. Isso indica que o trabalho realizado por anos a fios em sítios e jogos que ocultavam paradeiros e emissários deu certo; (ii) Os grupos prioritários são jovens brancos empobrecidos que pertenceriam a uma espécie de classe média baixa – há exceções, como o terrorista de Realengo, que matou dez mulheres em um total de doze jovens, quase todos negros.[ii] Esses jovens se transformam em guardiões do Tradicionalismo por terem, segundo narrativa conservadora, perdido espaços em frentes outrora monopolizados em um mundo mais reto e tranquilo. Agora, disputariam de vaga em ensino superior a vaga de trabalho, inclusive a própria representação estética, com negros, indígenas, mulheres e LGBTQIA+;

(iii) O ataque ocorrido em Barreiras, na Bahia, por um branco de Brasília, filho de policial (o maior salário de polícias do Brasil), é o caso mais exemplar. Chamava os habitantes de inferiores.[iii] Matou uma cadeirante, também negra. Ele tinha contato com o assassino de Aracruz (ES), que matou quatro mulheres (apenas mulheres);[iv] (iv) O celular do assassino de Saudades (Santa Catarina), aquele que matou bebês e professoras (mulheres), ligou-o a grupos neonazistas do Rio de Janeiro.[v] Talvez tenha sido o caso tratado de forma mais absurda, pois a hipótese inicial foi a de bullying. O que os bebês fizeram ao terrorista é um mistério.[vi]

(v) Os dados desse grupo do Rio de Janeiro ligaram-no ao assassino de Suzano (São Paulo). Logo, é uma rede sem medo de aparecer. Quem faz questão de escondê-la é a polícia, a mídia, os governos, a burguesia e a classe média, inclusive a autoproclamada progressista. Em Monte Mor, a bomba falhou e o terrorista foi preso com machadinha. Em Suzano um tinha arma de fogo, outro uma machadinha. Outros ataques são a faca. Priorizam arma de fogo, mas quando não conseguem, existe um roteiro com inspiração em certos jogos com facas e machadinhas.

(vi) Os grupos neonazistas procuram jovens que já ganham ou ganharão menos que os pais, sem perspectiva de qualquer sorte diferente. Culpam as mulheres por entrarem no mercado de trabalho e não se resumirem ao exercício do papel de mães e esposas, imigrantes (nordestinos no Sul e Sudeste, latinos nos EUA e africanos e árabes na Europa) e negros (entrada no mercado de trabalho e cotas). Esses jovens são, sem exceção, supremacistas, mesmo que não militem formalmente em uma célula neonazista.

(vii) No caso das mulheres, defendem, ao lado das Igrejas Neopentecostais, a mulher tradicional e submissa. Entendem que a nova mulher é fruto de uma espécie de confusão sexual da modernidade, cujas sexualidades são atacadas como quebra do Tradicionalismo no qual o homem branco é a ponta da pirâmide. Portanto, defendem um retorno ao que era seguro aos homens brancos. Redpills e incels são expressões e objetos de interesse de grupos neonazistas na deepweb, darkweb, gamers e plataformas e redes sociais, como Youtube, Telegram e Twitter. Basta acompanhar subgrupos e comentários em canais vinculados à direita e ao universo jovem.

(viii) Bullying não provoca os ataques. Quem acha isso, é porque se identifica com os autores, identificando-se socialmente e racialmente – uma espécie de supremacismo velado. Não ocorre o mesmo com os jovens pretos em comunidades ou com as mães que roubam comida; (ix) essa geração é mais afeita ao neonazismo porque ela é o produto mais bem acabado do neoliberalismo. Fragmentada, é a geração sem trabalho porque o trabalho foi destruído pelo neoliberalismo. A garantia social que possuía para reproduzir o status quo familiar foi junto. Como resposta, essa geração volta-se contra as famigeradas minorias, que estariam ocupando o lugar que tradicionalmente lhe seria cativa. Ou seja, o neoliberalismo destrói a realização da expectativa de reprodução de classe e raça, mas fomenta o sectarismo neonazista para preservar a fragmentação na classe por meio da reafirmação da superioridade racial. Por isso não é possível separar fascismo de neoliberalismo. São siameses.

(x) Por que apenas escolas públicas? Porque os intrusos estão lá. Porque os escolhidos, os brancos empobrecidos de classe média baixa também estão lá, sendo contaminados, como lembrou o assassino de Barreiras (BA). O assassino de Suzano atacou apenas negros. Estamos sob ataque! Trabalhadoras e trabalhadores negros precisam aprender a se defender e reagir preventivamente a grupos neonazistas, de forma organizada e violenta.

Parece que tanto a institucionalidade quanto a esquerda não entenderam o fenômeno, mais ou menos quando da ascensão do neofascismo nas Igrejas Evangélicas a partir de 2013 – não percamos tempo com a direita. Em essência, não é problema de estrutura escolar (embora não tenha investimento e precise ser feito), bullying e falta de cultura de paz. É fascismo e neonazismo.

Não há relação de causa e efeito entre estrutura escolar, bullying e ausência de cultura da paz. Não foi mero racismo, em que o pobre jovem branco seria vítima do famigerado “racismo estrutural”, conceito que foi transformado em pó de pirlimpimpim na mídia e grupos voltados a oferta de uma “educação antirracista”. Foi neonazismo, com forte, evidente e explícita atuação de grupos neonazistas. Todos os ataques em escolas nos últimos anos têm assinatura de grupos neonazistas. Se Umberto Eco atentava que “o fascismo eterno ainda está ao nosso redor, às vezes em trajes civis”, os ataques em escolas públicas mostram que os trajes civis foram abandonados. Os trajes são militares. É preciso “golpear de morte a besta fascista em seu próprio covil”.

O ataque a escolas por neonazistas,[vii] independentemente da idade, deve ser tipificado como terrorismo. As investigações devem ser federalizadas com a formação de um grupo de combate ao neonazismo, incluindo Polícia Federal e Ministério Público Federal. Deixar para as polícias estaduais, sem compreender a concatenação de todos os ataques, é contribuir para a profusão do neonazismo e naturalizar os ataques coordenados e planejados em escolas.

Quanto aos jovens objetos dos ataques, é prudente se formarem para agir preventivamente, de forma violenta e organizada. Vai ter que ter ação preventiva e reação justa de movimentos populares, sobretudo negros e mulheres (a grandíssima maioria das vítimas é a mulher negra e pobre). Não vai dar para terceirizar tudo para o governo. Ele tem a sua cota, mas sem movimento popular conscientemente violento, como indica Fanon em Os Condenados da Terra, chegará o dia em que naturalizaremos os grupos neonazistas como fizemos com o bolsonarismo. Fora disto, é só confete.

Assim, é inadmissível a defesa de cursinhos antirracistas para neonazistas (sic!) porque seriam vítimas do discurso de ódio. A questão é: materialmente, por que o discurso neonazista tem aderência a esses jovens brancos pertencentes a uma espécie de classe média empobrecida? A resposta é desconfortante para quem acredita que os problemas brasileiros poderão ser resolvidos com diálogo. Perguntar abstratamente o que aconteceu a esses jovens neonazistas e relacioná-los a meras vítimas do “discurso do ódio” é inverter quem é a vítima. O padrão é ataque a escolas públicas para matar negros, cadeirantes, mulheres e pobres. Matar professoras é outra constante de todos os ataques. Eis o busílis.

*Leonardo Sacramento é pedagogo no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo. Autor do livro A Universidade mercantil: um estudo sobre a Universidade pública e o capital privado (Appris).

Notas


[i] Em seguida ao assassinato, o terrorista publicou carta aos familiares, com evidente objetivo vitimizante. Disponível em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2023/03/29/autor-de-ataque-a-escola-ameacou-adolescente-por-mensagem.htm. Desconhece-se casos de assassinatos em que o assassino se autopsicologiza logo em seguida, salvo para intenções penais, o que demonstra um planejamento que englobou, inclusive, uma justificativa para a sociedade com um discurso pronto, notadamente para grupos sociais no qual esse discurso psicologizante tem forte apelo.





[vi] Para uma análise da vinculação entre o ataque à creche e o neonazismo, ver https://aterraeredonda.com.br/as-motivacoes-do-ataque/.[vii] Agradeço a leitura, crítica e a proposição da inclusão de fotos ao Prof. Jefferson Nascimento (IFSP).

domingo, 6 de fevereiro de 2022

POR MOISE MUGENYI, TODAS AS VIDAS IMPORTAM * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT - BR

POR MOISE MUGENYI, TODAS AS VIDAS IMPORTAM 


O HORROR, O HORROR, O HORROR! - Marcos Bagno

É no Congo que se desenvolve a trama do romance “The Heart of Darkness” ("O Coração das Trevas", 1899), de Joseph Conrad (1857-1924), no qual aparece a exclamação tantas vezes citada: “O horror, o horror, o horror!”. Entre 1885 e 1908, o que é hoje a República Democrática do Congo (RDC) foi propriedade pessoal do rei Leopoldo II da Bélgica (1835-1909). Durante esse período, e para explorar ao máximo as enormes riquezas do país, especialmente o marfim e a borracha, os belgas (e outros europeus) cometeram atrocidades que deixariam com inveja muitos carrascos nazistas: trabalhos forçados, tortura, amputação de membros de crianças, mulheres e homens que não alcançassem as impossíveis cotas estabelecidas pelos exploradores, envenenamento, assassinatos em massa. As cifras variam, mas os cálculos de historiadores atuais giram em torno dos 10.000.000 de pessoas mortas naquele período. O horror! O horror! O horror! Em 1960, a RDC se tornou independente, mas a manipulação da política local pelos belgas não se interrompeu: o primeiro chefe de governo do país, Patrice Lumumba (1925-1961), de ideias progressistas e nacionalistas, foi deposto e assassinado sob supervisão belga e com o patrocínio dos Estados Unidos. O controle do país foi parar nas mãos de Mobutu Sese Seko (1930-1997), que mudou o nome do país para Zaire e implantou uma ditadura que durou de 1965 a 1997, durante a qual acumulou uma fortuna de dezenas de bilhões de dólares (devidamente depositados na "neutra" Suíça). A RDC abriga imensas reservas minerais: tem a maior reserva mundial de cobalto, além de grandes jazidas de cobre e diamantes. A exploração dessas riquezas tem sido, desde sempre, a causa principal do horror, horror, horror de que a população congolesa é vítima há séculos (foi do Congo que vieram muitos milhares das pessoas escravizadas que os portugueses trouxeram para o Brasil). Um país riquíssimo, mas que ocupa a posição 175 de 189 no índice de desenvolvimento humano. Diversos conflitos ocorridos desde 1997 já provocaram a morte de mais de 5.000.000 de pessoas, numa guerra em que o estupro das mulheres tem sido uma das principais armas empregadas. Na RDC existe um exército de crianças-soldados, algo como 30.000. Nossos telefones celulares e outos aparelhos ultramodernos têm componentes que são frutos diretos dessa imensa tragédia humanitária, um holocausto ininterrupto, sobre o qual Hollywood até o momento não produziu nenhum filme, já que nenhum congolês é dono de estúdio e a exploração dos minerais é de primordial interesse das maiores empresas do mundo, que produzem alta tecnologia ao custo de vidas humanas. Se tem sido possível falar de “diamantes de sangue” quando as pedras preciosas são extraídas de países em guerra (Angola, Serra Leoa, Libéria etc.), também é possível falar dos “chips de sangue”, produzidos pela máquina de guerra congolesa, posta em marcha pelo capitalismo globalizado (50% das exportações de minério da RDC vão para a China). Leia-se o livro “Les minerais de sang: les esclaves du monde moderne” ("Os minerais de sangue: os escravos do mundo moderno, 2014) de Christopher Boltanski, um relato sobre a exploração da cassiterita, indispensável para a produção de telefones, rádios, televisores etc. É desse cenário de horror que centenas de milhares de pessoas como Moïse Mungenyi Kabamgabe e sua família têm fugido. Mas como encontrar abrigo num país igualmente trágico, marcado por séculos de atrocidades e genocídios, uma sociedade entranhadamente racista, em que 77% das pessoas assassinadas em 2021 são negras, assim como 67% das mulheres mortas também são negras? O quinto país em número de feminicídios, o primeiro em número de assassinatos de homossexuais e pessoas trans? Num país desgovernado pelo que pode haver de mais abjeto, corrupto, desprezível, ignorante e brutal na espécie humana? Que tipo de refúgio pode oferecer o Brasil, especialmente a Barra da Tijuca, a pessoas negras que tentam escapar da guerra e da violência? O horror, o horror, o horror!


sexta-feira, 9 de abril de 2021

TODO REPÚDIO À DECISÃO DO BARROSO * Frente Revolucionária dos Trabalhadores/FRT-BR

TODO REPÚDIO À DECISÃO DO BARROSO

Camaradas, estamos convidando ao fortalecimento de comitês, movimentos, partidos, personalidades e todas as pessoas solidárias,  em apoiar o repúdio à decisão do ministro do STF, Luís Barroso.

Confirme em seu comitê ou para a Rede de Solidariedade ao Povo venezuelano. Acesse https://www.facebook.com/comiteabreuelima


Barroso rejeita a solidariedade e abraça o autoritarismo

 

A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal – STF, Luís Barroso, em não renovar o HC 184828, impetrado pelo deputado Paulo Pimenta, em maio de 2020, que impediu a expulsão do legítimo corpo diplomático e consular da República Bolivariana da Venezuela do Brasil, ao dar o prazo de 48 horas para que que os diplomatas, cônsules e demais servidores da Chancelaria venezuelana procurem a Polícia Federal e se registrem como estrangeiros no Brasil, tem o nosso mais duro repúdio.


Ao mesmo tempo que o governo do presidente Nicolás Maduro envia mais oxigênio para salvar vidas no Brasil, auxiliando a Rede de Saúde no Amapá, Pará, Roraima e Acre, depois de ter sido fundamental no Amazonas, o Estado brasileiro segue negando o reconhecimento aos verdadeiros representantes da Venezuela, seja do governo Constitucional ou de seus representantes no Brasil.

No momento em que mais de 4 mil brasileiros morrem em um dia devido a Covid-19, em face da falta de uma política sanitária séria e que respeite a ciência, a decisão do ministro Barroso trai a história da política exterior brasileira, reforçando o comportamento de provocador desenvolvido pelo governo brasileiro na região ao agir como verdadeiro inimigo da paz, do respeito à soberania de outros povos e ao incentivar a discórdia e a inimizade entre povos tradicionalmente soberanos e amigos.


Pedimos ao STF que reveja a posição tomada mantendo o corpo diplomático e consular da Venezuela no Brasil, especialmente diante da devastadora pandemia que tem causado perdas de centenas de milhares de vidas. 


Pedimos ao STF que faça cumprir a Convenção de Viena dando o direito a nação irmã de ter um corpo de funcionários no Brasil, independentemente da posição política do governo brasileiro, para manter as relações comerciais entre os dois países e realizar o atendimento aos venezuelanos residentes no país.


Pedimos que o STF não se torne cúmplice da política genocida em curso no Brasil, nem incentive a inimizade entre as nações vizinhas, o objetivo do governo federal.


Brasília – DF, 08 de abril de 2021


*#STFrespeiteAsolidariedade* 

*#BarrosoProvocador* 

*#VenezuelaFica*