domingo, 9 de agosto de 2020

Dom Pedro Casaldáliga * Dalva Silveira / MG

Perdemos mais um ser humano eterno:

nosso resistente bispo Pedro Casaldáglia

 

(16/02/1928- 08/08/2020)

 

Dentro de minha crença de que é preciso levar adiante o nome daqueles que acreditaram e lutaram por justiça social, rememoro agora uma das grandes  batalhas do grande bispo  Pedro Casaldáglia,  presente no meu livro “De Realidade a Caros Amigos: a Turma do Ex-, imprensa alternativa e seu legado (Letramento, 2018)”.

 

(Deixo aqui, também, em destaque,  um trecho do texto, convite a  uma reflexão para os que  acreditam, sem fazer uma minuciosa pesquisa, que a época da ditadura a política era diferente e a   vida do brasileiro era melhor: “nosso conflito inicialmente se configurou com o latifúndio capitalista, que esmagava o nosso povo e impossibilitava o futuro do nosso povo”.

Dalva Silveira

 

A ditadura militar também perseguiu célebres inimigos no campo religioso e o Ex- denunciou esse fato. Exemplo disso foi a matéria “Deus é grande, a mata é maior”, com fotos e texto do jornalista Alex Solnik. Nela, veem-se relatos do espanhol Pedro Casaldáglia, bispo de São Félix, região do Araguaia, ao norte do Mato Grosso. O texto revela que o título da reportagem foi emprestado dos sertanejos, que começaram a utilizar a expressão depois que o local foi destinado “à criação extensiva de gado, com incentivos da Sudam, em 1966” (Ex-, n. 16, p. 12, nov. 1975). A região, que possuía 150 mil km², agora estava dividida em apenas 73 propriedades, com tamanhos que variavam de 100 a 2.000 km². Porém, uma delas, a Suiá-Missu, do grupo Liquigás, era considerada a maior fazenda de gado do mundo, com 5.000 km². Os conflitos já se iniciaram em 1966, quando “grandes proprietários, que haviam comprado as fazendas ‘no mapa’ passaram a expulsar quem encontrassem em suas terras: índios ou posseiros de até 25 anos atrás” (Ex-, n. 16, p. 12, nov. 1975).

 

De acordo com a reportagem, dom Pedro Casaldáglia, que era o pastor de 70 mil almas da região, era “o primeiro bispo ameaçado de ser expulso do país” Ex-, n. 16, p. 12, nov. 1975. E isso estava acontecendo porque, frente às várias reclamações dos posseiros que estavam sendo expulsos da terra, ele e sua equipe resolveram, inicialmente, registrar os acontecimentos: “[...] começamos a tomar dados, a arquivar, a escrever. Os problemas, as situações semelhantes, iam se multiplicando” (Ex-, n. 16, p. 14, nov. 1975). Frente a essa constatação, tomaram uma atitude que incomodou os latifundiários capitalistas, que puderam contar com o apoio do governo na tentativa de expulsão do bispo, como pode ser visto neste seu relato:

Começamos a mandar cartas, documentos, relatórios, pedidos, reclamações, às diferentes autoridades estaduais e federais. Nosso conflito não foi diretamente nunca com o Exército ou Polícia, [...]. Nosso conflito inicialmente se configurou com o latifúndio capitalista, que esmagava o nosso povo e impossibilitava o futuro do nosso povo. É uma questão de vida e morte que nós tentamos resolver. Automaticamente, como esse latifúndio capitalista vinha acobertado por um sistema, por um governo, por uns órgãos de segurança, da Polícia, nosso conflito foi se globalizando, não de nossa parte, mas da parte deles Ex-, n. 16, p. 14, nov. 1975.


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