Perdemos mais um ser humano eterno:
nosso resistente bispo Pedro Casaldáglia
(16/02/1928- 08/08/2020)
Dentro de minha crença de que é preciso
levar adiante o nome daqueles que acreditaram e lutaram por justiça social,
rememoro agora uma das grandes batalhas do grande bispo Pedro
Casaldáglia, presente no meu livro “De Realidade a Caros Amigos: a Turma
do Ex-, imprensa alternativa e seu legado (Letramento, 2018)”.
(Deixo aqui, também, em destaque, um
trecho do texto, convite a uma reflexão para os que acreditam, sem
fazer uma minuciosa pesquisa, que a época da ditadura a política era diferente
e a vida do brasileiro era melhor: “nosso conflito inicialmente se
configurou com o latifúndio capitalista, que esmagava o nosso povo e impossibilitava
o futuro do nosso povo”.
Dalva Silveira
A ditadura militar também perseguiu
célebres inimigos no campo religioso e o Ex- denunciou esse fato. Exemplo disso
foi a matéria “Deus é grande, a mata é maior”, com fotos e texto do jornalista
Alex Solnik. Nela, veem-se relatos do espanhol Pedro Casaldáglia, bispo de São
Félix, região do Araguaia, ao norte do Mato Grosso. O texto revela que o título
da reportagem foi emprestado dos sertanejos, que começaram a utilizar a
expressão depois que o local foi destinado “à criação extensiva de gado, com
incentivos da Sudam, em
De acordo com a reportagem, dom Pedro
Casaldáglia, que era o pastor de 70 mil almas da região, era “o primeiro bispo
ameaçado de ser expulso do país” Ex-, n. 16, p. 12, nov. 1975. E isso estava acontecendo
porque, frente às várias reclamações dos posseiros que estavam sendo expulsos
da terra, ele e sua equipe resolveram, inicialmente, registrar os
acontecimentos: “[...] começamos a tomar dados, a arquivar, a escrever. Os
problemas, as situações semelhantes, iam se multiplicando” (Ex-, n. 16, p. 14,
nov. 1975). Frente a essa constatação, tomaram uma atitude que incomodou os
latifundiários capitalistas, que puderam contar com o apoio do governo na
tentativa de expulsão do bispo, como pode ser visto neste seu relato:
Começamos a
mandar cartas, documentos, relatórios, pedidos, reclamações, às diferentes
autoridades estaduais e federais. Nosso conflito não foi diretamente nunca com
o Exército ou Polícia, [...]. Nosso conflito inicialmente se configurou com o
latifúndio capitalista, que esmagava o nosso povo e impossibilitava o futuro do
nosso povo. É uma questão de vida e morte que nós tentamos resolver.
Automaticamente, como esse latifúndio capitalista vinha acobertado por um
sistema, por um governo, por uns órgãos de segurança, da Polícia, nosso
conflito foi se globalizando, não de nossa parte, mas da parte deles Ex-, n.
16, p. 14, nov. 1975.
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