CONJUNTURA ELEITORAL VIA 22
Dino e Freixo vão para o PSB.
ESQUERDA PRECISA DE PARTIDOS FORTES
NÃO DE PARTIDOS PARA CARREIRAS INDIVIDUAIS
O governador do Maranhão, Flávio Dino, e o deputado federal Marcelo Freixo, do Rio, foram para o PSB. Dino saiu do PCdoB, e Freixo do PSOL.
Tanto PCdoB quanto PSOL apresentam muitos problemas de identidade política e ideológica em relação a uma coerente política de esquerda, democrática e popular.
Mas, certamente, mesmo com suas debilidades, são siglas mais programáticas e menos fisiológicas do que o PSB.
A sigla na qual Dino e Freixo agora desembarcam teve, por exemplo, maioria de deputados federais em apoio ao bolsonarista Arthur Lira (PP-AL), cacique do “Centrão” (Direitão), para a presidência da Câmara.
Muitos dos deputados do PSB votaram a favor do golpe parlamentar do “impeachment” em 2016.
E em Recife, seu candidato eleito à prefeitura, João Campos, recebeu a adesão do MBL na campanha eleitoral. Este grupelho fascista, o MBL, aderiu a Campos numa campanha histérica e extremista de que “o PT não pode voltar, a esquerda não pode voltar, são a desgraça do Brasil”. Não foram repudiados nem sequer desmentidos.
Estes poucos episódios mostram que o “socialismo” do PSB limita-se ao nome da sigla e é um escárnio a qualquer posição efetivamente socialista.
Dino e Freixo vão para o PSB pelo que consideram conveniências eleitorais. Podem se discutir tais “conveniências”. Mas é estranho que se troque de partidos na base de supostos cálculos eleitorais.
Pelo menos é estranho ao que deva ser uma política de esquerda.
A adesão a um partido político, a dedicação de um militante de esquerda a seu partido, são atos centrais desta militância.
Um militante de esquerda sabe – ou deveria saber – que partidos de esquerda, populares, e democráticos, são essenciais à política de esquerda, à democratização profunda da vida nacional, à necessária solução dos gravíssimos problemas sociais que afetam nosso sofrido povo. E isso vale ainda mais para militantes, quadros destacados, em posição de liderança.
Então não se pode pensar em política de esquerda que fique ao sabor do “socialismo” do PSB.
NITIDEZ POLÍTICA E IDEOLÓGICA
É INDISPENSÁVEL À ESQUERDA
Freixo, na sua projetada campanha ao governo do Rio, contratou, segundo noticiado, o marqueteiro Renato Pereira para dirigir sua campanha. Entre outras, Pereira foi o idealizador do pato golpista da Fiesp, e dirigiu campanhas de Eduardo Paes, Pedro Paulo, Cabral, Pezão (todos políticos da direita do estado do Rio).
O ex-deputado do PSOL chamou Raul Jungmann, carreirista com décadas de oportunismo, ex-ministro de Temer, para elaborar seu programa de segurança.
Se tais posições não favorecem uma política democrática e popular, têm um mérito. A quem é consequentemente de esquerda interessam posições as mais claras, tornar nítido qualquer escamoteamento político.
Freixo nunca se propôs ir além de uma carreira parlamentar, ou nos marcos do jogo da política burguesa.
No entanto, tinha (ainda tem em parte para desavisados) uma imagem de ser muito à esquerda, "socialista" - fosse assim, não teria sido apoiado pela Globo contra Crivella quando foi candidato a prefeito do Rio, em 2016.
Sua saída do PSOL tem o mérito de mostrar que ele está longe de ser tão de esquerda.
Pode-se dizer o mesmo da saída de Flávio Dino do PCdoB, uma legenda pretensamente comunista. Dino sempre foi o que os comunistas chamam acertadamente de companheiro de viagem.
Cada macaco no seu galho: vale para Freixo e o PSOL, Dino e o PCdoB.
O BURACO É
MAIS EMBAIXO
Na verdade, o enorme problema da esquerda institucional brasileira é a sua grande precariedade política, ideológica, e orgânica de seus principais partidos, de base democrática e popular, PT, PSOL, e PCdoB.
Isso é obscurecido diante da unidade imperiosa da luta contra Bolsonaro.
Mesmo essa unidade não se dá com poucos percalços, viciados que estão estes partidos na mera política puramente eleitoreira, submersa nos seus mesquinhos interesses particularistas.
O peso dos mandatos governamentais e parlamentares atropela a vida democrática desses partidos.
A vida democrática interna, a ligação com as bases populares, fundamentais a partidos populares, são abandonadas em favor de interesses eleitoreiros.
No PT, por exemplo, um partido "social-democrata tardio", ocorrem fraudes em processos eleitorais internos, sem que tais “eleições” sejam anuladas ou fraudadores punidos. Decisões vitais não são tomadas pelas instâncias de direção, mas por bancadas parlamentares.
No PCdoB há uma política que não tem como centro a unidade popular, fica-se muitas vezes a reboque de um político arrivista burguês como Ciro Gomes (recordista que já passou por uma dezena de siglas partidárias), e prega-se abertamente o abandono da própria identidade comunista.
O PSOL é muito mais uma federação de tendências do radicalismo pequeno-burguês, com peso crescente não apenas da política meramente parlamentar, mas também do identitarismo (que às vezes nem de esquerda é e se contrapõe à luta de classes).
Majoritariamente a esquerda deságua na candidatura Lula, o que é bom, mas, sem resolver seus problemas programáticos, estaremos todos condenados a novas acachapantes derrotas.
Não é à toa que a própria maioria petista – apesar das convulsões permanentes em contrário de setores da esquerda petista - foge como o diabo da cruz da avaliação crítica do período 2003-2016.
Evita-se a todo custo discutir o hábito de Lula chamar patrões de companheiros, o “companheiro” Meirelles (do Bank of Boston); aberrações como Palocci (que foi pioneiro em propor o “ajuste fiscal” como emenda constitucional), o Chicago boy Joaquim Levy como ministro de Dilma (gasolina na fogueira golpista), ou os cerca de R$ 700 milhões dados pelos “governos de esquerda” à Globo.
Precisamos mais do que nunca de partidos de esquerda fortes, ideológicos, consistentes politicamente, programáticos.
Sem isso não afirmaremos o Brasil como nação, não conseguiremos uma vida digna para o nosso povo; não faremos a necessária Revolução nem alcançaremos a libertação nacional e social. A luta pelo socialismo se limitará a palhaçada retórica sem qualquer efetividade, apenas servirá à demagogia de oportunistas.
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