A história nos ensina o caminho para o futuro
O desemprego, a carestia e a fome seguem como tormentos na vida do povo brasileiro. Aliado a isso, vivenciamos um tempo de luto de mais de 600 mil vidas perdidas as quais, em grande parte poderiam ser sidos evitadas, se o governo brasileiro não fosse diretamente um dos principais responsáveis pela propagação da covid-19.
Quero lembrar o ano de 1983, no Brasil. A ditadura vivia seus estertores, dentro do programa de uma abertura lenta, gradual e segura, programada pelos golpistas de 1964. Em 1979, foi aprovada uma anistia que assegurou a impunidade de assassinos e torturadores, em seguida uma reforma partidária que levou a divisão das forças de oposição, com duas maiores organizações de esquerdas, lideradas por Leonel Brizola e Luís Inácio Lula da Silva. Nesse ano, 1983, a taxa de desemprego era de 6,7%, a inflação batia a casa de 160% e a fome era crescente, o que provocou dezenas de saques a supermercados nas grandes cidades do país. O povo se revoltava e buscava alimento. Um fato inesquecível foram os assaltos a caminhões que transportavam alimentos, ocorridos nas margens da Rodovia Dutra, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, e que eram levados pelos assaltantes para as favelas onde a comida era distribuída aos necessitados.
Com as mobilizações da campanha por eleições diretas para presidente (84), a eleição nas capitais e cidades consideradas de segurança nacional (85), retoma-se o processo democrático. Em 1989, ocorreu a primeira eleição presidencial após 1961, com a Rede Globo desconstruindo Brizola, manipula a eleição, impede a vitória de Lula e assegura a vitória de Collor, cassado menos de dois anos após a sua posse. O tempo passou. Os militares seguiram das casernas, acompanhando e monitorando tudo. Itamar, FHC e depois Lula, que garantiu a eleição de Dilma. Rousseff e o PT, mais uma vez, sofrem com as mentiras e conspirações da Rede Globo que, em aliança com os EUA, os militares, latifundiários e a burguesia nacional, consegue colocar Temer na Presidência. Inicia-se a “ponte para o futuro”: retirada de direitos, desarticulação dos sindicatos, privatizações do patrimônio público e, “com Supremo com tudo”, consolidar uma política neoliberal, desumana e cruel, contra os mais pobres.
Depois de quase três de um governo fascista, fruto do golpe de 2016, chegamos a uma taxa de 14,1% de desemprego, uma inflação que ultrapassa 40%, mais de 20 milhões de miseráveis, cerca de 100 milhões vivem sem a certeza de se alimentar, ao mesmo tempo, o Congresso Nacional da sustentação a um presidente que tem mais de 115 pedidos de impeachment, todos devidamente guardados pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que tinha, junto com o chefe do governo, o controle de um orçamento de mais de 20 bilhões de reais para bancar a corrupção e atender os interesses de parlamentares que estão de costas para as necessidades da maioria do povo brasileiro.
Entretanto, observo que, a situação atual é semelhante a de 1983, mas não há saques, não há mobilizações de massa contra a carestia, pelo direito ao trabalho e menos ainda contra o presidente genocida, propagador da covid, ladrão e miliciano, que tem no Ministério da Economia e no Banco Central dois especuladores, que ganham milhões diariamente com a alta do dólar, que faz a população brasileira pagar um litro de óleo de soja a 10 reais, o litro de gasolina a 8 reais e faz com que milhões de pessoas vivam dos restos de alimentos recolhidos em lixeiras, dos ossos de gado ou sofrerem a inanição crescente.
Durante os 21 anos após 1964, a resistência popular, revolucionária e democrática não desistiu de enfrentar a violência da ditadura, não abandonou a utopia de construir um mundo de justiça e digno para a classe trabalhadora. Depois da ditadura, passaram-se 36 anos, decorridos 33 anos desde a promulgação da Constituição de 1988, tempo que levou a um nível de consciência social e humana que lembra um estágio pré-capitalista, em um verdadeiro salve-se quem puder, a consolidação do pensamento meritocrático, a defesa do fim do Estado, desesperança e crescimento do lumpesinato. Bolsonaro é a síntese dessa barbárie, obscurantismo e desumanidade, mantida por alguns bilionários, que se aproveitam para ficarem mais ricos e propagarem a insensibilidade e o oportunismo, em que é cada um por si, por meio dos algoritmos nas redes e da propaganda de massa nos meios de comunicação tradicionais.
Como romper esse tempo? Hoje completam-se 104 anos que, em 1917, alguns milhões de mulheres e homens mostraram ao mundo que é possível conquistar uma nova sociedade, em que o Estado sirva aos interesses reais da grande maioria da população, que as riquezas estejam sob controle e sirvam a seus produtores, a classe trabalhadora, que o conhecimento, a arte, educação e cultura sirvam a plena emancipação humana. A Rússia, então, era considerada um dos países mais atrasados do mundo, com milhões de miseráveis, um sistema feudal, desumano e imperial. A diferença se deu graças a uma organização revolucionária, capaz de educar, organizar e unir os melhores quadros da classe trabalhadora, sob a liderança de Lênin e dos bolcheviques, que assaltaram o poder e mostraram que a utopia pode ser efetivada.
Não vivemos em 1917, nem 1983, mas em 2021, período que nos permite analisar a grande revolução de outubro, as mobilizações de massa no Brasil na luta contra a ditadura e entender que não basta a miséria, nem a vontade de mudar, é preciso consciência e organização, forjar uma unidade capaz de mobilizar os deserdados, famintos, desempregados, mulheres e homens, que sofrem a exploração da burguesia nacional e imperialista, garantidora dos crimes, sadismo e maldades do neoliberalismo, imposto por Bolsonaro e seu governo genocida.
PEDRO CESAR BATISTA
é jornalista, escritor, poeta, criador e apresentador do Programa Cultural LETRAS E LIVROS, pela TV COMUNITÁRIA DO DISTRITO FEDERAL.
Letras & Livros de com Pedro César Batista entrevista o Dr. Fábio Libório - YouTube
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O capitalismo está podre. Todos sabemos disso. Mas ele não cai sozinho